quinta-feira, 20 de outubro de 2016

Cidades de Peregrinações

Sempre existiram locais sagrados onde o peregrino acredita estejam concentradas energias divinas. Geralmente foram locais onde viveram iluminados, homens santos, onde se realizavam cultos para se homenagear deuses, onde a fé foi demonstrada com fervor. Alguns destes lugares aqui serão lembrados.
                 
Paimpont, a Floresta Encantada

No coração da Bretanha francesa está um ponto emocionante de uma peregrinação.
Paimpont foi a floresta preferida pelos cavaleiros do rei Arthur. Ali, o sagrado Graal, perdido por José de Arimatea, o seguidor do Cristo, era buscado. Ali-contam- era o refúgio dos amores da feiticeira Viviane, a Dama do Lago, e de Merlin o maior dos magos druidas.
 Tendo perdido sua iniciação esotérica pela paixão à Viviane, que o prendeu numa círculo mágico na própria floresta, nos afirma as lendas francesas que Merlin veio a morrer ali, deixando, para todos os místicos que chegam o testemunho deste episódio numa pedra que cobre o seu túmulo. Surpreendentemente, ainda hoje, Paimpont recebe ininterruptas manifestações devocionais dos franceses modernos.
  Paimpont conta com 7.000 hectares de plantios de carvalho, a árvore sagrada dos antigos Celtas. Para esta árvore todas as homenagens eram poucas. Foi ela o grande objeto de cultos dirigidos à natureza, local das fogueiras de Beltame acesas em honra ao deus Bellenos e do recolhimento do Gy, a mais energética seiva do carvalho. Para um Druida, Paimpont era a transcendente morada dos deuses.
 Quando Carlos Magno tomou o poder, representando a Igreja, mandou por fogo às florestas de carvalho, por serem locais de cultos pagãos. Só bem mais tarde foram então replantadas.
 Em Paimpont existe um local chamado “O Vale Sem Retorno”. Se você é um amante infiel não se aproxime dele. Nele se perdem os infiéis. Quem os faz se perderem nele é a alma de Morgane, a fada, que traída por seu amado, vinga-se de todos os amantes que traem, jogando-os num despenhadeiro para uma morte certa. Assim nos afirmaram sempre as lendas locais, e ainda na Idade Média muitos traidores temerosos evitavam passar pelo “Vale Sem Retorno”.
 Contatar estas lendas e sentir a força de um lugar energizado por tantos cultos e devoções ali feitos, transformou Paimpont num grande centro de peregrinações.

              Jerusalém, a Cidade Santa

  Antiga Canaã, a terra prometida dos judeus, é hoje o grande centro de peregrinações de três importantes religiões: Cristianismo, Islamismo e Judaísmo. Cada um de seus fieis buscando ali os seus lugares sagrados.
  Judeus fazem seus cultos ante o Muro das Lamentações, único vestígio sobrado do magnífico templo de Salomão, seu rei sábio, construído mil anos antes de Jesus.
  Muçulmanos buscam ali a grande mesquita da Cúpula da Rocha, construída por Omar, o maior califa do Islã, o São Paulo do Islamismo.
 Cristãos procuram em Jerusalém a Igreja do Santo Sepulcro (túmulo de Jesus). Então, podemos ouvir das profundezas deste local santo, a voz de um padre dizer; “Cristo morreu, Cristo ressuscitou, Cristo voltará”.
  Perto dali o rabino estará proferindo as palavras do livro de Moisés: Ouve Ó Israel, o senhor nosso Deus Adonai; O senhor é um só!
 Enquanto isso, próximo ao Muro, no alto do minarete da mesquita de Omar, o Muezin estará clamando: Alá é grande, o único Deus é Alá!
  Isto tudo, esta grande energia devocional trina, faz de Jerusalém, a cidade de peregrinações por excelência.

                             Stonehenge (Inglaterra)

Excelente ponto de peregrinações, as datações arqueológicas fazem remontar a construção de Stonehenge há quase 4 mil anos. Alguns de seus blocos de pedras pesam mais de 120 toneladas e estima-se que foram trazidas de um local há 320 km de lá, no Pais de Gales. Mistério de transporte e locomoção até hoje conservado.
  A maioria dos seus estudiosos acha que tal local teria servido de templo a Druidas, onde se praticavam cultos, sendo sua inusitada formação circular aproveitada como observatório astronômico.
 Local que deveria servir para o estudo dos movimentos celestes, para fins religiosos. Demonstrou-se que a posição de suas pedras previam os eclipses solares e lunares a fim de serem ritualisticamente celebrados. Também no solstício de verão o sol se eleva justamente entre as duas principais pedras que serviam de entrada à sua formação circular.
 A tradição conta que o mago Merlin teria dado a estas pedras o poder curativo para muitas doenças, desde que se deixasse escorrer agua sobre elas e a bebesse.
  Desde o século XIX até hoje, muitos ritos passaram a ser feitos em Stonehenge por modernos adeptos do antigo Druismo, que ali se reúnem em grupo sempre vestidos de branco, numa réplica as antigas vestimentas dos Druidas.
  Muitas peregrinações continuam a acontecer neste local considerado sagrado.

                 Monte Saint Michel (França)

  Conhecido na Europa como “A Maravilha do Ocidente”, a partir da mais remota antiguidade ele é um local sagrado. Os antigos o chamavam Monte Tombe, ou da Tumba, porque acreditavam que as almas dos mortos iam ali repousar. Foi também um local onde as sacerdotisas druidas faziam seus oráculos. Toda a região era energizada por Lug , o grande deus celta do poder.
  Pelo ano 500, já destruído o paganismo, transformou-se em refúgio de eremitas cristãos. E, a Igreja lhe pôs o nome do arcanjo do poder, Miguel, para preservar o mesmo tipo de energia devocional ali cultuada. Desta época, surgiu uma das mais caras lendas dos antigos normandos.
  Entre os matagais que circundavam o monte, vivia um lobo feroz que assustava com seus uivos ameaçadores aqueles santos eremitas. Um dia o lobo comeu um asno que levava da vila próxima a alimentação que abastecia os ascetas retirados no monte. Como o asno sempre convivera com aqueles homens santos e transitava muito por aquele local sagrado, ao comê-lo, o lobo, de feroz passou a ser pacífico, dócil e fiel ajudante dos eremitas. Um milagre-diziam os gauleses, a transformação deste lobo, que só num monte tão abençoado como aquele aconteceria.
 Quando hoje, contritos, cheios de fé, subimos as suas imensas escadarias para chegar até a sua esplêndida abadia, cada degrau vencido nos parece um passo ganho em nossa própria evolução. Visitar Saint Michel é, sem dúvida, uma das mais gratificantes experiências que pode acontecer a um místico.

                         Palenque (México)

Foi este um grande centro político religioso da civilização Maia, florescendo a mais de mil anos. Desde o século VII tornou-se um centro de peregrinação, pois ali viveu o maior dos sacerdotes mais: Pacal Votan.
   Pacal transformou Palenque em um núcleo de cerimônias ritualísticas muito prestigiado. Hoje, encontramos ali uma pirâmide em cujo ápice está o chamado “Templo das Inscrições." Lembremos que as pirâmides maias são truncadas, isto é, não têm ponta. São cortadas acima por uma plataforma onde se edificava um templo.
   Em 1952 foi descoberto um túnel que saia de dentro do seu templo e descia o interior da pirâmide até o nível de sua base. Conduzia a um túmulo que continha o corpo de Pacal Votan, usando uma máscara de jade. A lápide trabalhada de seu túmulo deu o nome ao templo “Das Inscrições”, pois mostrava um desenho que, sendo estudado, já levantou diversas hipóteses sobre o seu significado.
   Espiritualistas afirmam que a tumba de Pacal na base interna da pirâmide, representa a colocação de um desencarnado nos níveis mais profundos do mundo dos mortos, de onde sua alma ascensionária até o ápice externo da pirâmide, para encontrar a divindade que está no templo acima.
  Pacal Votan completaria enfim a apoteose da subida aos céus de um dos mais cultuados chefe religioso e administrativo dos Maias. Palenque constitui-se por isso, num dos grandes centros místicos de peregrinações da América.

                           Carnac (França)

Quando os sábios Druidas tinham já estabelecido sua cultura na Gália (nome da antiga França) que uma leva de invasores romanos aportou na região da Bretanha francesa. Pressionados, aqueles sábios foram se esconder em Carnac onde encontram as pedras milenares que até hoje têm sua origem desconhecida. Datações modernas atribuem a elas ima idade de 4.000 a 3.000 AC.
   Ali, entre aqueles alinhamentos que contam com cerca de 3.000 dolmens e menhires, os líderes Druidas fizeram centros de cultos e os imantaram com seus ritos pagãos.
   Os Druidas tinham nos Dolmens a representação de falos e os veneravam como a própria potência masculina do universo.  Já os Menhires, que são em forma de portais, eram o símbolo do útero feminino, de karentz, a nossa origem cósmica materna. Nestes, eram feitos ritos de passagem, onde o postulante à iniciação druídica cruzavam estas pedras portais fazendo neles o rito do “Segundo Nascimento”.
   Os esotéricos usam até hoje esta região com a mesma finalidade: Fazer com que o simbolismo do “Segundo Nascimento” lhes desperte o desejo de evolução consciente.
  Sendo um local onde se homenageava a força feminina, quando o Cristianismo entrou na Bretanha o culto pagão que mais encontrou ali foi o da fertilidade. Contudo, passou-se séculos antes que as peregrinações pagãs de mulheres estéreis ao local diminuísse.  Mas não é raro, ainda hoje mulheres se encostarem nas pedras dos Menhires de Carnac com a intenção de engravidarem.
   Carnac é também visto como um dos centros de forças elementais mais poderosas com que conta o Velho Mundo. Lendas afirmam que algumas pessoas sensitivas vêm seres elementais, tais como gnomos, saírem à noite das proximidades destes megalitos, para banharem-se no mar próximo e retornarem a eles, conservando assim fortes e indestrutíveis suas forças elementais através dos tempos.
  Carnac é um os locais mais procurados por turistas místicos que chegam à França.

             Compostela ( Espanha)

O Caminho de peregrinações à Compostela sempre foi considerado sagrado, muito antes que o culto ao apóstolo Tiago tivesse início. Ao contrário dos redutos de peregrinação de teor exclusivamente católico, como é o caso de Lourdes ou Fátima, este Caminho une ao seu grande peso católico, também a mística profundamente esotérica vinda do Paganismo e de organizações ocultistas que ali habitaram.
   O norte da Espanha sempre contou com cultos pagãos muito fortes, neste trecho de quase 900 km que liga os Pirineus até a ponta da Galícia. È compreensível que cultos pagãos tivessem sido e perseverem até hoje ali fortes, porque o subsolo neste trecho é rico em telúrio, e é afirmado que este minério irradiando na face da terra a energia telúrica, atua na sensibilidades e emoções de que por ali passa ou habita.
  Esta crença foi muito aproveitada pelos pagãos celtas, por grupos de antigos Druidas que achavam que a força da mãe terra provinha de minérios do subsolo.  Tinham nela a sua maior devoção, pois eram povos que descendiam - segundo eles - da grande deusa Ana e se intitulavam mesmo de “Povo de Ana”. Também vemos os antigos gauleses darem as suas chamadas “Virgens Negras”, a coloração negra dos minérios da terra.  Com suas moradas no subsolo, seriam elas com sua força telúrica que emprestariam energias femininas sentidas por peregrinos que passavam pelo caminho.
   Também os Visigodos, conquistadores da Espanha, contavam com mestres de sabedoria que levavam discípulos a fazerem ascetismos nas costas da Galícia, onde mais tarde se situaria Compostela, cujo nome provem de visões posteriores, já cristãs.
  O culto ao apóstolo Tiago, atual grande patrono do Caminho, surgiu na Idade Média, no século IX. Contou para a sua difusão paradoxalmente com a ajuda de grupos pagãos que desejavam ver voltar as iniciações devocionais do Caminho, após o longo tempo que estiveram abafadas pela perseguição do Cristianismo ao Paganismo. A origem da peregrinação de teor cristão ao caminho de Compostela nos remonta a evangelização feita nos primeiros anos após a morte do Cristo Jesus.
  Conta-se que Tiago Maior, irmão de João Evangelista, teria vindo de Jerusalém para evangelizar o norte da Espanha. Investido de uma modesta pelerine, um chapéu e um cajado, e teria percorrido o Caminho em sua missão durante sete anos. Retornou depois á Judéia onde foi então decapitado por Herodes. Discípulos seus teriam embalsamado o seu corpo e o teriam trazido em barco até Iria Flavia, atual cidade de Compostela, região que tanto amava. Ali, ficou escondido dos romanos, perseguidores do novo credo cristão, e acabou esquecido.
  No século IX com o Cristianismo já estabelecido na península Ibérica, ascetas teriam avistado uma chuva de estrelas sobre um montículo da praia. Tal chuva deu então um novo nome ao local: “Campo de estrelas”, mais tarde resumido para Compostela. Verificado que ali estava o túmulo do apóstolo, desde então o Caminho passou a ser uma rota de peregrinos, agora cristãos, que de todas as partes da Europa, cruzando os Pirineus, buscavam atingir o túmulo do santo.
   O século XII veio enriquecer tal rota com a chegada dos Templários, Ordem da Igreja, mas depositária da Ciência Oculta, que se espalharam construindo albergues, hospitais e igrejas que atendiam os peregrinos. Mais tarde, o Estado francês e a Inquisição exterminariam a ordem que devido as suas pesquisas esotéricas foi acusada de heresia. Porém, até hoje, os místicos que passam pelo Caminho acham nos antigos redutos templários uma forte energia deixada pelos cultos mágicos e uma simbologia rica de significados esotéricos nas magníficas catedrais góticas que ajudaram a construir. Por sua longa extensão o trajeto todo foi tombado pela UNESCO como Patrimônio Cultural da Humanidade.

             Machu Picchu (Peru)

     Situa-se numa soberba paisagem do Peru em 2,050 metros de altura. Sua maior força mística é jamais ter sido uma cidade profana. Foi projetada durante o Império Inca para servir de santuário. Acrescenta-se a isso o fato de Machu Picchu ter sido abandonada ao mato por seus habitantes, após o grande receio que tiveram de que o deus do raio viesse queimar a cidade para castiga-los por seus erros. Assim, entregue ao matagal, escondida, jamais foi achada e profanada pelo invasor espanhol.   Esta cidade nunca viu os horrores da conquista, conservando intacta a sua energia devocional de paz.
   Sendo projetada por urbanistas que professavam as crenças incaicas, Machu Picchu era uma réplica perfeita do universo tal como o concebiam os incas: Dividia-se em três mundos. Ali estava o mundo de baixo, manifestado no rio que cerca a cidade. O mundo do meio, o local a ser habitado e o mundo de cima, os altos cerros da montanha de Wyana Picchu. Os Incas acreditavam em duas serpentes míticas, invisíveis e gigantescas que, levantando-se das profundezas do rio, interligavam os três mundos. A primeira, ao levantar-se, encontra no céu o deus raio e retorna como chuva, fertilizando o solo da cidade. A segunda tocando o mundo de cima transforma-se em Arco Iris colorindo tudo o que tem vida em Machu Picchu: Pássaros, flores e frutos.
   Tudo ali tendo origem nas serpentes sagradas está, portanto, impregnado de um poder divino. Por isso, no esplendor da paisagem de Machu Picchu em uma peregrinação mística onde se busca ali o sagrado, sentimos uma energia que é um misto de beleza, fortaleza e paz.

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