sexta-feira, 15 de novembro de 2019

A Bruxaria Feminina


A lenda bíblica cita Lilith como a primeira companheira de Adão, antecedendo, portanto à Eva. Atribui a ela uma divergência com Deus que a fez ser expulsa do paraíso. Há referências a ela tanto na Torá como no Talmud, livros sagrados do Judaísmo. Teria ela então ido conviver com o demônio. Tais ideias deu início ao pensamento que fez da mulher o centro das práticas bruxescas, dando à bruxaria uma conotação eminentemente feminina. Bruxaria significa então práticas e magias demoníacas induzidas a fazer o mal.
Lilith, a primeira
mulher de Adão.
   Lilith teria uma aparência dupla enganadora, uma face bela e jovem, mas pés de coruja e asas de morcego. Era de natureza arrogante, pois, segundo as escrituras sagradas judaicas, enquanto Eva foi feita de uma costela de Adão, portanto submissa a ele, ela, Lilith, teria sido feita do mesmo barro que ele, por isso igual a ele. Foi então a primeira mulher a rebelar-se contra o sistema patriarcal.
    Numa antiguidade muito remota lá pelo 3° milênio A.C. na região da Suméria, apareceu a primeira mulher bruxa de nome Lilake. Então os sumerianos passaram a crer numa deusa de nome Inana que protegia os homens de manifestações demoníacas femininas. Esta deusa prendia esta mulher maligna dentro de um grosso e imenso pé de Salgueiro para que ela não perturbasse os inocentes homens.
   Séculos depois, a Grécia nos deu a crença em Hécate. Era uma deusa encontrada nas encruzilhadas. Uma encruzilhada é, como bem sabemos através dos cultos Afro, o lugar onde vivos e mortos se encontram. Nelas os mortos recebendo dos vivos oferendas. Então, Hécate tinha o poder de afastar dali espíritos malignos e era por isso muito homenageada. Possuía um séquito de cães que habitavam as margens do rio Estingue ,o rio que leva ao mundo dos mortos. Tais cães latiam para chamar os moribundos a morrer, então os doentes temiam muito a figura de Hécate. Era por outro lado protetora das mulheres grávidas sendo chamada então de “parteira celestial”. Hécate era assim detestada por uns e amada por outros.
   Na Idade Média ,lá pelo século XV a vida feminina estava um caos. A nada a mulher tinha direito. E ao mesmo tempo os Sabás (encontros bruxescos) proliferavam. Provavelmente seus maiores frequentadores eram mesmo as mulheres. Podia-se bem compreender o porquê: Casavam se muito meninas ,entre 12 e 13 anos, com homens bastante mais velhos do que elas. Estes, seguidamente as deixavam durante meses para irem guerrear em feudos distantes. Elas então fugiam de casa para irem à Sabás levando no coração esta esperança: Livrarem-se através de magias desses maridos que viam como opressores. Vê-los ,quem sabe, transformarem-se em lobos que vagariam perdidos pelas florestas sem possibilidade de um retorno. Para o recurso de saciarem desejos sensuais e românticos juvenis tinham sempre à mão pajens guardiões jovens que habitavam mansões e castelos e que as vezes muito providencialmente ficavam encarregados de cuida-las.
Cerridwen e seu caldeirão.
   Numa reação da Igreja ao comportamento destas esposas meninas, em 1484 foi escrito o livro “Malleus Maleficarum” (O Martelo das Feiticeiras) por dois inquisidores. Este foi o documento fundamental que desencadeou a maior onda de perseguições e horrores ao feminino nas sociedades europeias pelos séculos que se seguiram. Fala-se que em Saragoza, na Espanha, teria sido queimada a primeira vítima na fogueira uma mulher de nome Gracia la Valle.
   Quando hoje passamos pelo Caminho de Compostela ouvimos falar das bruxas de Zugarramurdi o mais famoso caso na região de Navarra. Tal caso gerou um filme muito premiado em 2013 do mesmo nome. “As Bruxas de Zugarramurdi” onde, segundo o enredo, foram queimadas na fogueira perto de trezentas mulheres, entre elas crianças. Foram acusadas de terem atos sexuais com bodes, tomarem caldo de sapo, e conviverem com animais como gatos negros, e corujas.
   Havia porém desde a Antiguidade uma diferença entre bruxas e feiticeiras. As primeiras dedicavam-se a magias maléficas, as segundas possuíam poderes paranormais de adivinhações, poderes extraordinários com os quais se vingavam apenas de magias feitas para o mal. Assim, segundo a lenda, tivemos feiticeiras instruídas nas cortes do rei Arthur na região de Avalon que era encoberta ao mundo por grandes nevoeiros. Resultou deste culto de Avalon a crença francesa em sua principal feiticeira (la sorcière): Morgane. Na floresta de Paimpont situada no norte francês, ela é lembrada até hoje. Lá existe um vale chamado “O vale sem retorno,” porque ali o espírito de Morgane espera os homens infiéis e vinga-se de infidelidades que recebeu de seu homem amado, jogando-os a cair de um penhasco, levando-os à morte. Na Idade Média, época de grande crença em magias, muitos homens infiéis não entravam naquela floresta, temerosos do espírito de Morgane.

Casa onde viveram as bruxas de Salém.

Votamos aos bruxedos lembrando o famoso caso das Bruxas de Salém, acontecido em Massachusetts no final do séc. XVII. Tudo começou quando mulheres simpatizantes do ocultismo tiveram pesadelos e foram examinadas por médicos .Estes atestaram que elas estariam embruxadas.  Todas do grande grupo que eram foram queimadas vivas. Tal episódio também, resultou numa extraordinária peça de teatro de nome” As bruxas de Salém “ do grande dramaturgo norte americano Arthur Miller, que foi casado com Marylin Monroe.
   Não era difícil descobrir-se se alguém era bruxa  Estas passavam pelo teste do Ordálio. Este consistia em fazer as acusadas colocarem as mãos e pés sobre brasas incandescentes e somente se não se queimasse , o que naturalmente nunca acontecia, tinham direito a um julgamento, também fraudulento, livrando-se então da fogueira.
   Não escapou também de perseguições. a heroína francesa Joana D’arc aquela que conseguiu acabar com a guerra dos cem anos. Após esta façanha memorável, viu-se envolvida em intrigas políticas e foi acusada de bruxaria e  ante   o Tribunal da Santa Inquisição  foi queimada na praça do mercado de Rouen.

Bruxas de Zugarramurdi queimadas na fogueira.

  
No Brasil, apesar da afro-brasileira ter expandido em todo o nosso território uma magia rica em amuletos , despachos ,guias, para se obter o “corpo fechado” e aceitarmos práticas de possessões bem semelhantes as do Vodu haitiano, apenas em um dos nossos Estados existiu o protótipo perfeito da bruxa, na verdadeira conotação do termo: Em Santa Catarina após a chegada dos imigrantes das ilhas dos Açores em 1748.
   Franklin Cascaes foi  o grande conhecedor e   amante das particularidades da antiga Vila Nossa Senhora do Desterro, antigo nome de Florianópolis, Em seu precioso livro “O Fantástico na Ilha de Santa Catarina” nos conta sobre as práticas bruxescas usuais em sua infância. Fala sobre um novelo de lã dado pelo demônio para a mais velha do bando de bruxas, que era uma espécie de cetro do poder que lhe era passado. Quando a bruxa estava por morrer ela subia pelos ares desenrolando o novelo, o que causava uma disputa para pega-lo, pois quem o conseguisse seria a nova chefe do bando. Conta-nos ainda que as bruxas faziam artes como dar nó nos rabos dos cavalos, galopar com eles pelos ares,  depenarem galinhas nos puleiros,  enliarem as linhas dos pescadores.
   Atualmente ainda encontramos lá mulheres bruxas em locais onde antigas crendices sobrevivem, como Ribeirão da Ilha e Santo Antônio de Lisboa. Em locais interioranos acredita-se existir bruxas embora não com as características sensuais das bruxas medievais São então convidadas a    se afastarem com orações como esta: ”Tosca marosca, rabo de rosca, grilhão nos pés, relho no traseiro.  Bruxa tarata bruxa, não  entre na casa por todos os santos e santos, amém.”
   Hoje no Estado, encontra-se mais mulheres apenas feiticeiras ou com função de benzedeiras muito procuradas a favor de “malinhados “pessoas que são vítimas dos chamados “olho grande”. Caso apareça na comunidade alguma pessoa advinhada como tendo poderes maléficos,  geralmente benzedeiras são chamadas  para neutralizar suas ações o que na Ilha se chama “Amarrar a bruxa “. Após mais de duzentos anos  de imigração açoriana constatamos que a velha concepção de que a mulher conta com um lado de poder mágico que lhe serve de defesa  contra realizações de desejos benignos e malignos ainda vive no imaginário de muitos na Ilha de Santa Catarina .
   Somos ressaltadas na religiosidade judaico-cristã como estas bruxas perseguidas ou com duas faces antagônicas de bem e mal  como a deusa Yeuá dos mitos afros. Ela, durante a noite, era a  belíssima lua cheia que refletida numa simples poça d’água apaixonava quem a fitasse. E, dava prazeres sensuais aos homens mas ao surgir o sol fugia dele, punha um manto preto sobre si para esconder uma face horrenda que possuía, tornando-se a escurecida lua nova.

Museu da Bruxaria, em Salém...
   Por outro lado, recebemos também de outras tradições muitas homenagens. Fomos deusas como a Isis egípcia. Ela que era as margens do Nilo, recebia de Ozires, o rio , de suas margens as suas aguas o seu sêmen fecundante. Então Isis fertilizava o Egito com espécies vegetais tão enriquecedoras como o papiro.
   Somos também consideradas Jacy, lua refletida nos rios amazônicos, somos ainda ali Jacy o grande recurso de pedidos de auxílio dos nossos ribeirinhos indígenas.
   Também já fomos Cerridwen a celta que trazia nas mãos um caldeirão onde preparava poções mágicas que traziam o dom da adivinhação. Foi ela que deu a Merlin o grande companheiro do rei Arthur, suas possibilidades  advinha tórias.
   Apesar de até a Idade Média sermos ainda consideradas pelo Cristianismo como símbolo do pecado, fomos depois resgatadas com todos os cultos dados à Maria, mãe do Cristo, em suas varias versões: Senhora das Dores, Senhora da Saúde, Senhora de Lourdes, Senhora de Fátima e tantas outras.
   O esoterismo nos reabilitou do crime judaico-cristão  do fato de ter feito o homem perder o paraíso por um simples gesto de curiosidade. Fez da curiosidade a maior dom feminino. Ensinou-nos que ela nos faz querer vivenciar o bem e o mal, encarnar-se varias vezes, evoluir. Enfim, tirou  da alegoria de Adão e Eva  a conotação sensual do pecado original.


domingo, 29 de setembro de 2019

O Saudosismo Criando Mitos de Retorno

   Todos os povos prezam a memória de seus ídolos passados, mas alguns fazem mais: Seu imaginário popular acredita firmemente em suas voltas míticas para liberta-los de momentos adversos.
O retorno de Jesus...
   O Cristianismo crê na Parúsia, o segundo advento do Cristo. Já na Apocalipse a Bíblia dizia que Ele viria lutar contra uma figura bestial: O Anticristo. Introduziria uma nova era de paz conhecida como o Millennium, pois duraria mil anos. Jerusalém se tornaria então a capital do mundo e os Judeus reconheceriam por fim a figura de Jesus como o messias esperado em suas profecias.
   O Sebastianismo foi durante mais de um século o messianismo português. D. Sebastião, neto de D. João III, no século XVI gerou uma crença em seu retorno, após ter desaparecido, sem deixar vestígio de um corpo, no norte da África, durante a batalha de Alcácer-Quibir em 1578, quando foi combater islâmicos do Marrocos.
   Passou-se então a acreditar numa volta sua pondo término à crise dinástica que pôs os reis espanhóis no trono português. Afirmava-se até que ele, chamado já tanto de “Capitão de Deus” como de “O Rei Encoberto”, surgiria numa manhã de muito nevoeiro e que restabeleceria toda a glória perdida de Portugal, esperança que naturalmente nunca aconteceu.
   Também no Islã, segundo o Alcorão (43,61) Jesus retornará aparecendo em Damasco , como redentor do Islamismo. Unir-se–ia ao Madi iluminado em sua guerra contra um Anticristo inimigo do Islã. Tornar-se-ia um governante islâmico de grande justiça.
   Surpreendentemente Alice Bailey, uma renomada esotérica ocultista, fala em seu livro “Magia Branca” que a pessoa de Jesus voltaria em uma nova encarnação entre os Drusos do Líbano. Estes, Ismaelitas (Filhos de Ismael), Xiitas do Islã. Grupo muito místico que acredita em reencarnações e são também pacíficos, não se envolvendo em lutas. Enfim, Jesus retornaria como um islâmico não fundamentalista, amante da paz, para uma esperada renovação pacífica do Islamismo.
   Já no Hinduísmo, Paramahansa Yogananda em sua obra “Autobiografia de um Yogue” interpreta a Parúsia misticamente. Seria uma grande mudança interior que aconteceria brevemente em cada indivíduo, introduzindo no mundo uma era de fraternidade.
   Entre as duas facções rivais dos Xiitas islâmicos estão os “Filhos de Ismael” e os “Filhos de Musa”. Entre os últimos, estava Musa como seu mais amado Imã. Os Filhos de Musa creem que em sua descendência estarão 12 Imãs (Iluminados). O próprio Musa desapareceu de modo misterioso. Saiu a cavalo e este voltou só e Musa jamais foi visto. Então, seus “filhos” acreditam que um dia ele voltará como o duodécimo Imã, como um messias que espalhará o Islã em todo o mundo, o que é o ideal último de todo Islâmico.
   O Budismo Tibetano antecipou-se a todos os Retornos idealizando uma outra encarnação do seu grande Avatar, Bodhisatwa Avolokitsvara: Fê-lo renascer na figura impar e mais adorada do budismo chinês: Mãe Kuan Yin.
Francisco Pizarro,
invasor do reino Inca.
   No Peru, a chegada de Francisco Pizarro de pele clara, apontando no mar, trazendo seus navios cheios de cavalos, animais desconhecidos do nativo peruano, coincidiu  com a espera inca do deus Viracocha que voltaria com uma aparência diáfana para   resolver a crise civil alastrada pelo país pela desavença entre os irmãos Atahualpa e Huasca. Inicialmente, até que os incaicos se confrontassem com a crueldade e traições dos invasores espanhóis, os cabelos louros e a pele clara de Pizarro facilitou sua chegada e muito nativos  até fizeram sacrifícios em louvor ao deus que esperavam e que por fim viam chegar pelo mar .
   Ainda no Peru, Tupac Amarú foi o guerreiro mais amado do glorioso passado incaico.
   Segundo uma crença peruana, divulgada por guias turísticos, existiria no país ainda hoje uma aldeia montanhosa habitada por tecelãs tão tradicionais que se intitulam ainda de “adoradores do sol”. Em tal aldeia, se encontraria uma gigantesca tela bordada que tem como tema Tupac Amarú, ultimo resistente Inca. Trata-se de um trabalho em lã e penas do pássaro Colibri Dourado. Este, sendo um pássaro raríssimo de ser encontrado nas matas, dificulta terminar-se a tela que pretende atingir até os ombros um busto deste líder. Creem que ao terminarem a tela, Tupac Amarú, que fora decapitado pelos invasores em Cusco, renascerá. Sob a direção do reaparecimento deste guerreiro, a região peruana atingirá novamente o seu perdido e usurpado esplendor.

Em Cusco, comemoram o heroísmo de Tupac Amarú. 

   Estes mitos que expressam o desejo de perpetuarmos a vida de figuras importantes para as mudanças sociais da humanidade, na realidade expressam apenas desejos irrealizáveis. Porém, sem dívida , ao subestimarmos o valor dos mitos, certamente tocaríamos nas esperanças que vivem e alimentam o imaginário e o coração de muitos homens.

domingo, 4 de agosto de 2019

A Metamorfose das Espécies nos Três Reinos


  As visões espiritualistas de linhas orientais nos apresentam uma evolução que passa pelos reinos mineral, vegetal e animal antes de atingirem a forma humana. Assim, também pensam linhas como os maçons, os rosacrucianos, os martinistas e outros.
  Tal crença é milenar e podemos encontra-la na Antiguidade de vários povos. Em inúmeros museus, um imaginário de seres que atestam este pensar, enriquecem suas coleções não deixando que o percamos. Também tapeceiros, ceramistas, pintores contribuem para nos expor metamorfoses. Fabulosos seres em transições formais são inúmeros e aqui tentarei apresentar alguns.

Centauro atirando a sua flecha.
O CENTAURO - Metade homem, metade cavalo, é encontrado nos mitos gregos. Conta-nos Homero que tais seres híbridos usavam um discernimento e um raciocínio já humano, mas entravam numa violência agressiva quando estavam embriagados. A bebida afetava-lhes a consciência e sua parte animalesca, seus instintos prevaleciam. O mito grego nos fala num centauro, o Quiron, cuja evolução já estava tão próxima à humana que ele tornou-se o companheiro constante do herói Aquiles, chegando a lhe ser um verdadeiro mestre.
 Tal mito nos diz que ao morrer Quiron, Zeus, o senhor do Olimpo, o transformou, por seus esforços, na linda constelação de Centauro, que inspira o homem para o bem quando este a encara. No zodíaco, o centauro é o signo de sagitário, mantendo sua forma híbrida e carregando uma flecha direcionada ao céu. Segundo os estudos astrológicos, quem nasce sob a sua influência, além da praticidade terrena, possui também uma busca por transcendência, uma ânsia de ascender sempre.

O pássaro/alma "Bo" sobre um morto.
O "BA" EGÍPCIO - Deste pássaro minúsculo com face humana, encontraremos sua figura nas ruínas dos templos egípcios, em pinturas murais e junto às cenas de embalsamentos. Para um egípcio antigo o pássaro BA representava a alma do homem que na hora da morte fazia uma metamorfose neste pássaro, porque, segundo suas crenças, ao morrermos, atingíamos uma libertação. Nos libertaríamos de preconceitos e apegos que nos prendem. Ao término de uma vida atingiríamos enfim, a liberdade de um ser alado.

Tritão assoprando sua concha.
TRITÃO – Um fabuloso híbrido, metade homem, metade peixe. No mito grego era filho de Netuno, o deus do mar. Quando colocamos um caramujo nos ouvidos e ouvimos um ruído, um zumbido contatamos uma marca deixada nele por Tritão. Segundo o mito, Tritão soprava dentro dos caramujos, emitindo um som que alertava os marinheiros de obstáculos, de perigosos rochedos que estivessem próximos a eles. Principalmente isto acontecia no mar Egeu e no Mediterrâneo. Entre as criaturas das fábulas marinhas Tritão é o protetor por excelência.

Sereia atraindo navegantes.
AS SEREIAS - Também as sereias são seres imaginários que povoam os mares. Mulheres peixes da cintura abaixo. Formam uma dualidade de frigidez e fascinação. Sentem desejos de atrair homens para um acasalamento. Porém, não conseguem tal intento, pois não contam com órgãos genitais femininos e são da cintura abaixo frigidas como o são os peixes. Contudo, são imensamente sedutoras. Seu recurso de atração é o canto. Cantam muito sobre os rochedos para atrair homens.
Lembremos que na epopeia homérica da Odisseia, Ulisses precisou amarrar-se ao mastro de seu barco para fugir a atração enganosa do canto das sereias. Estas, ele o sabia bem, não lhe dariam prazeres sensuais e apenas o afundariam no oceano.
  O folclore brasileiro conta também com uma sereia, Iara, que vive nos rios amazônicos. É perversa. Atrai os incautos homens e depois os afoga no rio. Diz o mito que o homem que escuta Iara enlouquece. Seus familiares costumam então afasta-los das cachoeiras, riachos e fontes, pois o homem obcecado por Iara a procura em todos estes lugares.
O único odor capaz de afastar Iara é o do alho. Então, ainda hoje, o homem crédulo da Amazônia que necessita anoitecer na pesca, esfrega alho no corpo para evitar sua sedução.
 O culto Afro nos legou a crença em Iemanjá, porém não existe nela a perversidade de Iara. Também metade mulher, metade peixe, ela, vaidosa, só requer de seus adoradores adereços, colônias cheirosas, espelhos e pentes que são atirados então no mar em seu dia.
No sincretismo com Nossa Senhora das Candeias ela é a bondosa Mãe D’água possuidora de grande instinto materno que protege os pescadores dos perigos do mar. Estes, gratos a reverenciam com a Saudação afro: “Ado Iya”.

A mítica imagem do lobisomen.
O LOBISOMEM - Numa inversão ao processo evolutivo do animal para o homem, temos o mito do lobisomem. Nele, o homem se transforma em lobo. O grego antigo acreditava tanto nesta metamorfose que passou a estudar uma doença mental que intitulou de Licantropia. Esta levava o homem à profunda depressão e isolamento até sua transformação em um lobo.
  No norte e nordeste do nosso país, esta crença é ainda mantida. Nela, é dito que o sétimo filho de um mesmo sexo nascido de um casal, tem a tendência de tornar-se um lobisomem. Ainda mais: diz ela que a lua cheia auxilia este tipo de metamorfose.

Bacanal com a presença de um sátiro.
SÁTIROS - Metade homem, metade bode. Tais híbridos influenciam os comportamentos sexuais animalescos nos seres humanos. Faziam-se presentes nos bacanais gregos e romanos do deus Baco. Provocavam nas mulheres do cortejo de Baco, as bacantes, instintos sensuais muito primitivos. Apareciam esses híbridos também nos Sabats medievais com a conotação de seduzir mulheres. Nos processos contra bruxarias, inúmeras mulheres, acusadas de manterem relações com estes seres caprinos, foram queimadas em fogueiras.

A ORIGEM DO POVO HELENÍSTICO - O melhor exemplo da metamorfose de um ser vindo de um minério para o ser humano, nós encontramos na formação deste povo grego. Conta-se que o único casal que sobreviveu ao dilúvio grego, Decalião e Pirra, sozinhos e desesperados, pediram à deusa Diana que lhes desse uma nova humanidade para ajuda-los. A deusa então lhes disse que pegassem os ossos de sua mãe e tirassem por trás de seus ombros. Porem, a única mãe que agora possuíam era a Mãe Terra. Compreenderam então que seus ossos eram as suas pedras. Passaram a pega-las e as lançavam. Então, a umidade das águas do dilúvio criou sobre elas musgos que logo se tornavam em carne. Também, no céu apareceu o deus solar Apolo, que com os seus raios iluminadores deram aqueles novos seres, em transformação, a consciência iluminada dos homens. Assim foi como Decalião e Pirra viram surgir diante deles a civilização muito sábia dos Helenistas.

domingo, 26 de maio de 2019

O Mundo Divino e o Mundo Humano

A escada da evolução ao mundo Divino.
Muitas vezes, nós que cremos num Deus absoluto, num universo ordenado, provindo de uma inteligência perfeita, ficamos sem argumentos diante de pessoas incrédulas a quem é difícil crer devido aos caos que observam em seu mundo, também por desilusões com pessoas ditas religiosas e ainda pela confusão entre os conceitos de religiões estabelecidas e a verdadeira espiritualidade.
    Primeiramente, para termos argumentos é necessário aceitarmos a hipótese esotérica de dois mundos, isto é, um Deus manifesto nas expressões do mundo material, outro Deus imanifesto, o mundo do nosso Deus interno, mundos que não são, contudo desassociados. Enfim, nossa face divina e nossa face humana. Se os desassociarmos cairemos nos erros que fazia a Igreja na Idade Média e também seitas como o Maniqueísmo e o Catarismo.  Aqui era o mundo da danação, do erro, do pecado e só no após morte encontrava-se o estado paradisíaco, divino.
   Segundo a hipótese ocultista, o mundo espiritual, interpenetra o mundo humano e a isto se dá o nome de Onipresença Divina. Podemos então pensar na imagem de um copo que contivesse água, areia e azeite, nele cada um desses elementos conservando sua identidade, mas se interpenetrando e ocupando o mesmo espaço. Precisamos aceitar também que como personalidades humanas que somos, temos uma consciência elemental (provinda dos elementos que nos estruturam fisicamente) capaz de perceber os fluidos, as ondas vibratórias do nosso mundo material como o calor, a eletricidade, ondas de rádio, etc.
   Todas aquelas percepções que se alteradas ou intensificadas causam o chamado psiquismo ou poderes anímicos. Aceitarmos também que temos uma consciência emocional capaz de perceber ondas vibratórias de tristezas e alegrias. Enfim, aquela consciência capaz de causar todos nossos distúrbios emocionais. Contamos ainda com uma consciência coletora de informações culturais que contatando ainda ondas telepáticas pode ser causadora de distúrbios os mais variados.
   Essas seriam nossas consciências materiais capazes de atuar no mundo humano. Percebemos então, este como um mundo instável sujeito à lei da ação e reação, a lei do Carma que nós próprios com nossas três consciências inferiores provocamos.
   No entanto, temos em nosso íntimo, à nossa disposição a essência de uma origem superior, divina, que absolutamente não está sujeita a lei do Carma. Por esta razão se lê em obras esotéricas como “O Caiballon” que os mestres ascencionados se colocam acima das leis do Carma.
   A Complexidade do mundo humano é imensa. Fazem parte dele, heranças ancestrais e raciais. Nele, sempre estamos envolvidos num todo de humanidade. Muitas experiências materiais e psicológicas que passamos e não achamos a causa, estão às vezes ligadas a situações distantes de nós. Um terremoto em locais longínquos aparentemente não nos toca, mas ondas vibratórias emocionais e mentais que causa poderão nos alcançar.
   Nosso mundo humano é repleto também de dificuldades. Enfrentamos momentos cíclicos em que fazemos face aos acúmulos de germens negativos, miasmas provindos tanto de nossa infância como da adolescência. O analista Jung chamava tal acúmulo de negatividades que carregamos de “A Sombra”.
   Como, porém, temos uma alma divina que cuida de nossa integridade, a volta destes germens se dá em hora certa, para não nos sobrecarregar com os Carmas que já tenhamos acumulado. Grande perigo a esta nossa integridade psíquica, pode acontecer quando precipitadamente vamos burilar chacras inferiores em técnicas esotéricas que pretendem aliviar tais germens, mas não levam em conta o preparo espiritual, a evolução das pessoas.
   A tendência de nos fixarmos em erros e circunstâncias desagradáveis do passado nos prende ao mundo da negatividade. Mestre Jesus nos chama a atenção para a necessidade de percebermos o positivo nos meio do erro, de desenvolvermos uma sensibilidade ao bom e ao belo, quando entre os graves momentos de perseguições e carências do ambiente da antiga Judéia dizia a seus discípulos: “Olhai os lírios do campo, nem Salomão em toda sua grandeza vestiu-se com tanto esplendor”. Naturalmente que o carma que criamos joga-nos por vezes em situações tão dolorosas que se torna difícil perceber a Beleza. Porém, é dentro de situações relativamente tranquilas que devemos formar o hábito de valorizarmos o que a vida nos trouxe de bom.


Lírios, uma visão da Beleza.

   Sempre existirão diferenças entre o homem que tem sua consciência focada no mundo humano e o que tem no mundo espiritual. O primeiro será um homem passional ou mais frágil às tristezas, o segundo será o homem com um percebimento mais amplo, mais total do que está por trás das circunstâncias, mais resistente emocionalmente.
   O campo da consciência divina é o corpo causal. Como seu nome já nos diz, achamos nele a origem, a causa do que nos acontece. Proporciona-nos o aspecto forma do homem pensador, tão bem representado na escultura “O Pensador” de Rodin. Naquela consciência está o arcabouço, o receptáculo de todas as ideias permanentes, abstratas, eternas, que conseguimos elaborar. No encontro com o plano causal, vamos achar também o nosso arquétipo, termo platônico que significa modelo, matriz original. Conhecemos o que nos é requerido como papel a cumprir na vida.
   Ao contrário do que se dá com a consciência material que pode nos levar a abismos, a consciência que confia nas leis divinas nos leva a momentos de revelações. Todos os profetas, gênios científicos e artísticos alcançaram o nível causal, arquetípico.
   O plano divino é também a porta da Providência. Aquela porta a que Jesus se referiu quando disse; “Bate e a porta te será aberta”. È justamente a porta atrás da qual os ventos do Carma não atuam. Não vivemos num mundo criado por uma consciência masoquista que nos obriga a evoluir através do sofrimento. Os sofrimentos são criados por nós. Evoluímos através da busca da sabedoria, só os momentos de encontro com nossas consciências divinas nos fazem crescer. Quando através da oração, batemos na porta da Providência ela nos oferece oportunidades. . Porém, se nosso pedido não levar em conta o respeito humano que devemos a outrem, naturalmente não sendo feito então com uma consciência superior, a porta não será tocada. Todo pedido traz a possibilidade de resposta duradoura ou não duradoura. Quando um de nossos apelos é satisfeito, mas o erro que gerou a nossa situação lastimosa é retomado, com o tempo a situação voltará a ser igual, pois teremos um processo Kármico idêntico.

Krishnamurti, autor do livro "Aos Pés do Mestre".

   No livro “Aos pés do Mestre” de Krisnamurth, são explicitadas lições preciosas de como atingir o mundo divino. Entre elas prioriza: "Vermos a transitoriedade das coisas humanas”. Quando nos angustiamos por determinada situação, melhor seria não nos desgastarmos nela, se ela não está correspondendo à perfeição, pois por si mesma cairá e será modificada com o tempo. O tempo é uma característica do plano humano que não é eterno. Ele se encarrega de dar fim as coisas. Quando olhamos para trás, vemos que nos desgastamos por algo provisório. Vivemos no mundo do deus Cronos, o deus do tempo que dava fim a seus próprios filhos.
  “Livrar-nos da maledicência”. O falar-se negativamente de outrem, cria um hábito que prejudica, desarmoniza o som que alimenta nosso corpo etérico. É o chamado “poder da palavra” Muitas doenças nos vem do hábito da maledicência. Ela é um vício que cria uma marca no corpo etérico, além de reforçar na pessoa que é o objeto da maledicência aquilo que ela tem de pior.
“Jamais nos esquecermos da Onipresença Divina”. Isto é, não podemos estabelecer horas para o divino e horas para o humano, Todas as horas deveriam ser para nós sagradas. Todos os nossos momentos são igualmente importantes porque Deus está presente em todos eles. Não podemos ter uma postura de santidade quando entramos em um templo e a perdermos quando saímos dele. A fé, a devoção, nem deveriam ser em nós algo momentâneo, mas um estado de ser permanente.
“Discernirmos entre o intelecto e a espiritualidade”. Podemos ter uma cultura grande, sermos brilhantes, impressionarmos auditórios e não termos vencido os entraves que nos atrasam. O intelecto por si só jamais nos levará à consciência superior, ao encontro com o nosso orientador espiritual.
   Mestre jesus deixou bem claro que temos duas faces: A humana e a divina e que esta última deverá se apresentar, ser o recurso quando a nossa face humana for agredida, magoada. Quando disse “Se alguém te bater na face esquerda, apresenta-lhe a direita”.

Tensões nos Corpos


Os sete corpos e os chakras
correspondentes.
Com o reino humano, com o homem, o estágio consciente começa. Antes que a consciência surgisse, não havia individualidade, apenas espécies. No estágio da espécie, do animal, da planta, a existência é mecânica, não há escolha. O existir é sempre dependente do clima, do trato que alguém lhes dá, enfim, de qualquer influência externa. Com o homem, aparece o livre arbítrio, o conhecimento do bem e do mal, a escolha consciente para evoluir. Ai então, é que surgem as tensões, os conflitos íntimos, as incertezas. Para a maioria dos psicólogos as tensões originam-se entre os desejos do homem e a carga social sobre ele (família, cultura, etc.) que o impede de concretiza-los. Para o esoterismo, embora não despreze a carga social, afirma que existe outra origem para a tensão. Vê, sobretudo o conflito existente entre os nossos desejos e aquilo que os indianos chamam de “Dharma”, que são as leis dois nossos corpos superiores. A evolução seria então a harmonia feita pelo indivíduo entre os corpos do desejo e aqueles corpos que trazem o Dharma. Assim é a divisão destes corpos: Corpos do desejo, Físico, etérico, emocional e mental. Corpos da Vontade ou superiores: Causal, Búdico e Nirvânico.
   Os corpos do desejo são receptáculos que nos fazem assimilar elementos para abastecer cada corpo inferior. Ao mesmo tempo, os corpos superiores possuem vontades que de certa forma vêm controlar os abusos que cometemos quando desejamos algo. Exemplificando; o corpo físico pode ingerir uma quantia de alimentos e ingerimos duas vezes mais. Então, tensões, desconfortos físicos aparecem causados pelo uso de desejos incorretos contra as leis do Dharma, da vontade correta. A vontade é uma energia imanente que vem do mais íntimo ser. É o nosso Dharma.

A Roda do Dharma.

   Tanto os corpos inferiores como os superiores estão em evolução. Ambos criam tensões em nossa consciência. Os inferiores quando seus desejos não são satisfeitos com correção, os superiores quando eles não conseguem controlar a qualidade dos desejos dos inferiores.
O corpo físico se abastece com alimentos, com posturas, repouso, atividades, prana, etc. Qualquer um destes abastecimentos não sendo satisfeitos podem nos causar tensões.
  O corpo etérico é o grande vitalizador. Vitaliza o físico com algo sutil, não tocável como sons perfumes e cores.
  O corpo emocional se abastece de relacionamentos afetivos e sociais. Sente, tensiona-se quando tais relacionamentos não estão corretos.  Respondendo positiva ou negativamente aos impactos emocionais dependendo do quanto já evoluímos. Impactos emocionais infantis pode nos tornar um infrator.
   Quanto ao corpo mental, ele se abastece de filosofias, doutrinas ou qualquer elemento cultural ou intelectual que o ajude a analisar os seus impactos emocionais.
Os três corpos superiores se abastecem com a sabedoria que possamos obter através do nosso viver, da tranquilidade e felicidade obtida, enfim da concretização do nosso Dharma individual.
  Nossas tensões aparecem com frequência nos nossos sonhos. Eles são como alertas acusando um desconforto, uma tensão num dos corpos. O corpo físico expressa em sonho o desconforto que está passando no momento do sono ou desequilíbrios que estão sendo vividos pelo corpo. Exemplificando: se durante o inverno o nosso pé ficando fora da coberta e esfria, podemos sonhar que estamos caminhando num campo de neve. Se a nossa alimentação não foi correta, se foi posta uma sobrecarga maior em nossa digestão se estamos dormindo com o pescoço muito curvo, se os nervos estão tensos por demasiada atividade diurna, tudo é motivo para que nos sonhos surjam estes desconfortos.
 O sonho do desconforto físico geralmente é o mais lembrado porque segundo o estudo esotérico dos corpos é o sonho mais perto da consciência física. Na medida em que as tensões são pertinentes aos corpos mais elevados, diz o esoterismo, o sonho tensional não é apreendido pela consciência física, não é lembrado.

Posições da Hatha yoga.

   Já o corpo etérico capta, percebe vibrações desconfortáveis no ambiente: Sons, perfumes etc. Percebe, por exemplo, o som de uma torneira pingando, de uma janela batendo. Podemos então forjar sonhos a partir de ruídos e perfumes fortes.
   Os sonhos pelos desconfortos do corpo emocional são frequentes. São causados pela sensibilidade demasiada a toda violência acontecendo em nossa sociedade. Também por remorsos pelos erros que fizemos, por acumulações de mágoas passadas. Tais sonhos geralmente nos levam a passado, sonhamos com pessoas falecidas que se relacionaram conosco.
   As tensões no corpo mental dizem respeito às preocupações futuras, inseguranças financeiras, mudanças repentinas de conceitos aos quais estamos apegados.
Nossos corpos superiores também elaboram sonhos porque assim como os inferiores, delatam nossas tensões, os superiores expressam a vontade divina, o Dharma individual de cada um de nós que não foram ainda concretizados. O corpo causal em seus sonhos retrata belezas futuras , a que nenhuma realidade se compara. O corpo Búdico é o plano intuitivo que nos leva ao nosso papel, ao nosso arquétipo individual. É o plano em que vive a consciência dos profetas. Nos sonhos do plano Nirvânico o sentimento é de paz e de identidade com o Todo, com o Samadhi, o repouso.
   As várias Yogas nos auxiliam a vencer as tensões. A Hatha Yoga ajuda o corpo físico, a Karma Yoga atua no corpo emocional, a Raja Yoga equilibra as tensões mentais, A Jnana Yoga nos leva a elaborar conceitos eternos, pacificando nossas tensões e os corpos búdicos e nirvânicos são auxiliados pela Bhakty Yoga através da devoção e da contemplação.

sexta-feira, 29 de março de 2019

Palavras Esotéricas e seus Significados


CATÁBASE - Rito usado nas “Escolas de Mistérios Iniciatórios” onde o iniciado “descia aos infernos”, isto é: ao seu próprio inferno interior para eliminar as negatividades que ainda existisse no âmago de seu ser.

SEGUNDO NASCIMENTO - Estado em que ficava um iniciado após prolongados testes iniciatórios, atingindo uma ressurreição de consciência.

O FRUTO DO BEM E DO MAL - A maçã. Contem em seu interior um pentagrama. Tê-la em mãos, após iniciações, era receber o símbolo do homem perfeito.


O pentagrama dentro da maçã.

LIBAÇÃO -  Jogar na terra o restante de uma bebida ingerida, querendo dizer ao solo; “eis aqui Mãe terra o que consegui fazer com a riqueza que me destes”. Na Afro Brasileira este rito é chamado de “dar bebida ao santo”.

MÔNADA - A centelha divina, em nós. A primeira unidade de consciência colocada num ser. Fagulha que incorpora formas do reino mineral, vegetal, animal e humano num processo de involução, para depois retornar numa subida evolutiva, atingindo novamente a unidade.

O ANCIÃO DE UMA FACE SÓ - Representação de Deus, segundo antigos rabinos e filósofos caldeus. Teoria pela qual de Deus só vemos uma face apenas.

FILHO UNIGÊNITO - Primeiro átomo nascido num indivíduo, chamado de “átomo crístico” e trás em si o nosso modelo de perfeição. Quando um iniciado era considerado perfeito recebia o título de “Cristos” ou “filho unigênito” isto é: o primeiro nascido. A Igreja chama Jesus de unigênito porque recebeu este título.

ABLUÇÃO - Ato de lavar-se antes de praticar um rito ou entrar num local santo. Podendo ser a lavagem apenas dos pés, ou das mãos, ou do corpo todo.

ORÓBORO - Representa a volta de um ser à sua origem divina, simbolizada numa serpente que morde a sua própria cauda. Simboliza a unidade final entre Deus e o homem.

Oroboro, a serpente que morde a cauda.

CARMA - Efeito de um ação ou de uma soma total de ações passadas.

SAMADHI - O êxtase total de consciência que um místico pode atingir durante uma prática da meditação.

ÁRVORES DE JESSÉ - A genealogia do Cristo a partir de seu ancestral Jessé pai de Davi.

CHACRA - Palavra sânscrita que significa roda. Centros energéticos que vitalizam nossos corpos.

NIRVANA - A bem-aventurança total atingida pela eliminação de todos os erros quando alguém chega ao estado de Buda.

RELIGARE - Origem da palavra “religião”. União com o Sagrado.

ASCENSÃO - Estado atingido por indivíduos muito evoluídos que, tornando-se mestres espirituais, são chamados de Iluminados ou Ascensionados.

GUNAS - As três qualidades da matéria, isto é: energias que estão por trás de todos os nossos atos materiais. Em sânscrito são chamadas de Tamas, Satwa e Rajas.

MONTES SAGRADOS - Locais montanhosos onde se desenrolaram episódios religiosos ou milagrosos. São eles: Ararat, Moriá, Sinai, Carmelo, Tabor, Gólgota e Oliveiras.


Jesus meditando no Monte das Oliveiras.

ECTOPLASMA - Energia vinda do corpo vital (etérico) que propicia fenômenos de materializações.

BODHISATWAS - Seres ascencionados ou Avatares que se dedicam a reforma espiritual dos homens. Muito citados no Budismo Mahayana.

CONSAGRAÇÃO - Transmissão de energias sagradas a objetos, através de ritos, objetos que servirão de defesa e proteção a necessitados, como se fazia na sagração das armas e utensílios dos cavaleiros medievais.

DHARMA - Lei espiritual. Força que nos chama a cumprir as vontades divinas e que entram em confronto com nossos desejos materiais.

CORDÃO DE PRATA - Fia de luz que liga o Eu Real ao Eu inferior a partir do chacra pituitário. É também conhecido como “Fio Aka”.

ALGÓIDES - Aura humana original ainda não trabalhada, também chamada de “Ovo Áurico”. Quando já trabalhada, torna-se o chamado “Momentum”. Reserva colorida de conhecimentos internos que podemos ascensar em  necessidades.

SHAMBALA - Local místico situado ,segundo a mitologia budista, nas redondezas do Tibete, frequentado por homens muito evoluídos que preparam ali um futuro reino universal de muita paz e bem-aventurança.

ÁGUA BENTA  - Água santificada por energias divinas, usadas em várias religiões. A Igreja a usa em ritos batismais e em pias de abluções manuais na entrada de seus templos. No Candomblé, é chamada de “água de Oxalá” com a qual se lavam pedras e fazem ritos purificadores. Na Índia é chamada de Prakti, a raiz da vida.

HIPERBÓREOS - Segundo a mitologia grega ,uma terra paradisíaca situada além dos gelados ventos boreais , onde viviam homens de grande sabedoria.

OLHO QUE TUDO VÊ - A visão superior que ultrapassa tempo e espaço. Símbolo da clarividência também chamado de “Terceira Visão”. Na Índia o chamam de “Olho de Shiva”.

SABÁ - Ritual onde se reuniam feiticeiras na noite de sábado, liderado pela presença diabólica de um bode negro.

Sabá das feiticeiras do pintor espanhol Goya.

SARÇA ARDENTE - A manifestação de Deus em um determinado local em forma de fogo, apenas vista por um iluminado, como foi o caso de Moisés no Monte Sinai.

ZUMBI - Superstição de um fantasma que, segundo a afro brasileira e as crenças haitianas, vaga sem rumo, durante as noites, por locais ermos.

CURUPIRA -. Entidade que tem os pés virados às avessas, e amedronta os homens amazônicos por seus assobios estridentes, mas que é um grande protetor da floresta.

CAMARINHA - Local fechado onde ficam isoladas iniciantes religiosas durante seu aprendizado, seja na Afro Brasileira, seja em outros ritos.

RESSURREIÇÃO - Termo muito contravertido. É visto tanto como um ressurgimento não só do espírito, mas também do corpo, como apenas uma ressurreição de consciência.

HIDROMEL - Mistura de água e mel, tanto para o antigos Celtas como para tribos africanas é visto como a bebida dos deuses. Seu uso leva à participação nos conhecimentos divinos.

Psiquismo, Espiritualidade, Discipulado & Mediunidade


Resumo de uma aula dada 
ao meu grupo em 14 de março...

Quero aqui abordar o acontecido na cidade de Abadiânia. Sem querer julgar o médium João de Deus, pois nada sou para julgá-lo. Não sabemos se  ele foi de início alguém muito honesto e casto e com a fama que obteve depois, decaiu. Porque a fama é um teste muito raro de alguém vencer. O Poder é o raio mais difícil de alguém transpor sem se corromper. Apenas temos de lastimá-lo e desejar que seja perdoado e que evolua muito com os sofrimentos porque passa agora. Quero apenas ver se tiramos do que se passou ali algum ensinamento para nós. Vamos começar pelo Psiquismo.

Ramana Maharshi e seu doce olhar,
um verdadeiro Mestre espiritual.

  Bem sabemos que possuímos sete corpos ou consciências: O físico, o etérico, o emocional e o mental. Que chamamos de “quaternário inferior” e três corpos superiores: Átmico, Búdico e Causal. Se dividirmos estas três consciências superiores na divina Trindade, isto é, em três categorias, as veremos assim:
  O corpo Átmico é o mais espiritual. É a Vontade de criar, o impulso criativo e o representamos na cor azul. O Búdico é a consciência que nos leva à bem aventurança, à tranquilidade e consequentemente à Sabedoria. Representamos esta consciência na cor Amarela.  No Causal, está o nosso modelo individual de perfeição, que buscamos alcançar, o nosso código genético divino e o representamos na cor rosa.
  Já os corpos inferiores físico, emocional e mental são nossos instrumentos, eles trabalham as maneiras, as atividades materiais como arte, ciência, cura, instrução, trabalho social etc, com as quais manifestamos as potências das consciências superiores.
 O etérico é o nosso corpo vital, a energia que vitaliza todas as nossas ações.
 Os corpos inferiores são os responsáveis pelos fenômenos do Psiquismo. O que é o Psiquismo? É a facilidade de obtermos através dos corpos inferiores os fenômenos conhecidos como ”paranormais”. Quando acontecem os fenômenos psíquicos? Quando o corpo vital está vitalizando demasiadamente os corpos inferiores, quando estes estão sendo muito solicitados. Como exemplos, temos o período posterior a um parto, ou à atividades braçais muito pesadas.
  Podemos considerar o paranormal alguém já evoluído, espiritualizado? Absolutamente não. Temos os chamados “magos negros”, que lidam muito bem com o psiquismo, mas são muito pouco evoluídos.  As vezes, algumas pessoas se comprazem em exibir tais poderes psíquicos, causando o deslumbramento naqueles que os cercam, que os confundem então com grandes mestres. Isto leva geralmente estes pretensos mestres à muita vaidade. Por isso Helena Blavatsky diz que “o Psiquismo é o atoleiro da Espiritualidade”.

Levitação, um fenômeno psíquico.

 Os fenômenos psíquicos são inúmeros. Com este poder fazemos coisas assombrosas. Entre elas: Levitações, levantar objetos de um lugar a outro, combustões, materializações, domínio da temperatura corporal. Com os corpos muito vitalizados, podemos perceber ruídos vindos de ondas vibratórias ambientais como rachaduras em madeiras, em cristais etc. Fenômenos vêm também do corpo emocional. Percepções de ondas de tristezas acontecendo à distância. Ainda do corpo mental, por exemplo, temos a Telepatia, acontecendo entre cérebros transmissores e receptores. Já os corpos superiores vitalizados produzem fenômenos espirituais também.
 A Cabala judaica fala muito bem da diferença entre um fenômeno psíquico e um espiritual. Exemplos disso são: a Preconização e a Intuição.  Ambos falam de um acontecimento por vir. Parecem ser iguais, mas não o são. É diferente se preconizar um acontecimento e se intuir um acontecimento.
 A Cabala explica assim: No gráfico da Árvore da Vida cabalística, temos os corpos inferiores representados por: Malkuth, Netzach, Hod e Yesod.  Respectivamente os corpos físico, emocional e mental e Yesod o vital. Yesod é chamado “a caixa de imagens”. Qualquer fenômeno onde vemos imagens é psíquicos, vindos da vitalização de Yesod.
 Assim, na Preconização, vemos a imagem do acontecimento por vir. Já na Intuição, sendo ela um fenômeno espiritual, sem vermos imagem alguma, inconscientemente, agimos como se estivéssemos nos preparando para algo que, sem sabermos, depois acontecerá. Por exemplo: Alguém irá embarcar num avião que cairá. Então, por alguma razão é impedida ou desiste de embarcar. Mas jamais verá antecipadamente a imagem do avião caindo. Outro exemplo: Alguém irá sem saber, viver um sofrimento e, é levada a ler um livro que fala no sofrer, é conduzido a assistir uma palestra cujo tema é o sofrimento. Tudo como se estivesse sendo preparada para ir vivê-lo depois. Isto é Intuição, são as nossas consciências superiores agindo a nosso favor.

Intuição, um fenômeno espiritual.

 Quanto às curas: Aquelas onde o recebedor não está muito imbuído de se melhorar espiritualmente e cuja fé é apenas uma crença cultural sem muita intensidade, geralmente a cura é provisória. Quando a causa que gerou a doença  é novamente feita, a doença retorna. A cura permanente é conseguida através das mudanças em nossas emoções e comportamentos. A cura geralmente requer um objeto de devoção.  Devoção a um santo, a um deus, à alguém ou a um local com grande energia devocional.
  Vejamos o caso de Abadiânia. O local tinha tudo para que curas acontecessem. Contava com alguém que era um objeto de devoção, por sua fama de médium que recebia espíritos de luz. Havia a devoção a um santo. Acreditava-se estar ali o espírito de santo Inácio de Loyola, um santo muito prestigiado na Igreja, escolhido para dar nome à casa de trabalhos mediúnicos. Era também um local onde a força votiva de centenas de pessoas era imensa. Muita gente já sentia isto ao entrar na cidade. Era, além disso, feita uma corrente de pessoas devotas, unidas para auxiliar voluntariamente o trabalho.
 A Fé é a grande energia espiritual da qual Jesus dizia: “Se tiverdes Fé do tamanho de um grão de mostarda, direis a este monte: Move-te! E ele se moverá” (naturalmente que o monte aqui se referia a obstáculos). A Fé verdadeira é uma confiança nas graças divinas.
 Acho que em Abadiânia eram oferecidos dois tipos de fenômenos. O Psíquico (fenômenos de cortes sem sangue e indolores, inclusive também remoções cirúrgicas de tecidos doentes do corpo através de incisões que se curavam imediatamente), práticas vistas as vezes em Yogas indianos, mas que eram dominadas pelo enorme poder psíquico de João de Deus, independentemente dos seu comportamento errôneo.
  Paralelamente a esta acontecia as curas espirituais. Estas conseguidas através da potente Fé de centenas de pessoas ali presentes.

O poder transformador da Fé.

  Bem, agora falemos sobre o relacionamento entre mestre e discípulo, que chamamos de Iniciação ou Discipulado. São votos, e desejos pessoais de conscientemente, dia a dia, nos dedicarmos a obter, a desenvolver a tranquilidade para obter a Sabedoria.
 É possível sempre apelarmos e contatarmos, através de um processo telepático, alguém mais evoluído que nós, mesmo estando à nossa distância. Porém, para tanto, é necessário existir uma afinidade entre nós e quem será o nosso mestre. Podemos com o seu auxílio atuarmos em qualquer campo de atividade escolhido. Seja elas a arte, a ciência, a instrução, a cura, etc. O importante neste relacionamento é termos, nós e o mestre, um objetivo igual quanto a atividade que iremos realizar.
  O propósito daqueles mestres que no esoterismo chamamos de “Mestres da Luz” é sempre a evolução pessoal do seu discípulo. Então, o comportamento externo do discípulo é importante nesta relação, pois  ele é o que vai determinar se é realmente um” Mestre da Luz” que o está orientando.  Um objetivo puro e o  seu comportamento é o que nos manterá ligados ao mestre.
Exemplificando: Digamos que algum de nós queira abrir um grupo espiritualista. Apelará como guia do trabalho algum mestre. Ele será um patrono para o grupo. Enquanto o grupo se mantiver puro, isto é, livre de concorrências com outros grupos, livre de desejos de ganhos financeiros e de vulgarizações do sexo, nosso orientador estará nos facilitando o trabalho. Porém, se o discípulo enveredar por estes atalhos perniciosos, o mestre se afastará. O relacionamento é rompido por falta de igualdade de propósitos.


O Mestre Buda e seus discípulos.

 Poderá acontecer que o trabalho grupal, sem mais o mestre, até tenha continuidade e venha a atingir até grandes proporções, como se constata em alguns gurus que mesmo já desviados do Bem, reúnem centenas de seguidores a seu redor. Estes geralmente continuam presos à lembranças de belas palavras ditas em livros, e palestras enganosas.  Porém, não se trata mais de um Discipulado, pois ali nenhum Mestre da Luz atua mais.
  O Discipulado nem sempre é fácil de levarmos adiante, porque usando de nosso livre arbítrio pode nos desviar do caminho proposto. Porém, é também gratificante, pois vivemos com a certeza de termos dado a mão à alguém que tenta evitar entramos em atalhos perigosos e sem retornos.
 Quanto à Mediunidade, que foi o trabalho de Abadiânia, o médium era, como sempre, o medianeiro entre o guia espiritual e quem buscava melhoria. Só que a Mediunidade é diferente do Discipulado. Neste, o aluno já chega com o desejo apenas de se melhorar, evoluir espiritualmente, então já conta com um bom mestre. Já o médium é mais frágil, pois podem receber as entidades tão boas quantas aquelas maléficas. Não creio que um guia, uma entidade de luz permitisse comportamentos de desrespeitos às pessoas e a exploração da Fé como o acontecido em Abadiânia.
  Para completar esta exposição, quero me referir à minha própria experiência com Abadiânia. Li livros muito elogiosos ao médium João de Deus e pus então muita Fé nele. Tomei então água magnetizada vinda de lá, e me senti com ela bem melhor de saúde.
  Porém, depois que perdi a Fé, principalmente nas entidades que o médium recebia, responsabilizei-as também pelos comportamentos errôneos do médium. Não acreditei mais na presença do espírito de santo Inácio no local.  Acho que seu nome foi usado para dar prestígio à casa mediúnica. Raciocinei assim: que seria impossível exatamente a um antigo sacerdote, que passou uma encarnação inteira fazendo votos de castidade, depois de quinhentos anos passados, não ter evoluído nada, e vir até orientar um aluno para desrespeitar justamente a energia sexual. Deixei então imediatamente de tomar a água vinda de lá, pois sem a minha Fé ela de nada me adiantaria.
  Então, meus queridos, se vocês optarem por seguir um caminho de Discipulado ou por um trabalho mediúnico, meu conselho é que sigam a frase de Jesus “Orai e Vigiai” (não a vigia nos comportamentos alheios, mas os de si mesmos).
  O Afro Brasileira que pode ser tão sábia nos diz que a vigia nos deixa de “corpo fechado” (isto é: imunes à influências maléficas). Contudo, sempre teremos à mão os magníficos conselhos do grande mestre que foi Jesus.