terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Pequena Cronologia das Religiões no Brasil


     Quando os nossos descobridores aqui chegaram, rotularam os nossos índios de “selvagens sem alma nem deuses”. Erraram. Eles tinham, sim, seus ritos religiosos e deuses. Em sua rica mitologia, contavam com Tupã, deus criador dos céus e da terra, que se manifestava nos trovões. Jacy, a lua, esposa de Guaracy, o sol. Esta sempre zelava pelos casamentos, pondo no coração dos caçadores o desejo de voltarem vivos do enfrentamento com a caça, para retornarem às suas famílias. Mas, nas várias bacias dos rios amazônicos havia também deuses menores.  O poder do mal era temido, na figura de Anhangá, grande inimigo de Tupã.


    Já dali a uns anos por volta de 1550, quando já tínhamos o nosso primeiro governador geral, chegou aqui para a catequização dos índios, a Companhia de Jesus.
 Nela, tivemos figuras ímpares como os jesuítas José de Anchieta e Manoel da Nóbrega.
   Já em 1600, no tempo de Brasil colônia, recebemos uma grande quantidade de judeus os chamados Cristãos Novos, ou Marranos, que aqui encontraram refúgio contra as perseguições sofridas durante a Inquisição na Espanha. Oficialmente renunciavam ao Judaísmo, seu credo de origem, mas bem sabemos que ocultamente o professavam no recôndito de seus lares.
   Os escravos negros que aqui aportaram em 1580 para trabalharem em Pernambuco na cana de açúcar tiveram durante séculos seus cultos perseguidos pela Igreja, o que gerava muitas revoltas e mesmo quando já livres no século XIX, tivemos a grande revolta dos Malés, escravos de formação religiosa islâmica, oriundos da África Ocidental. Embora já então livres, atuando como carpinteiros, artesãos, mas ainda perseguidos, fizeram a maior revolta já acontecida no Estado da Bahia. Porém, a perderam ante as forças do governo baiano.
   A primeira grande manifestação religiosa organizada e permitida aos negros se deu neste mesmo século XIX na Bahia. Foram ali estabelecidos os três mais importantes terreiros do culto do Candomblé: Engenho Velho, Gantois e Opó Afonjá.  Hoje, ainda atuante, o Engenho Velho, o primeiro criado, tornou-se patrimônio histórico do Brasil. Entre eles se sobressaiu a carismática figura de Menininha do Gantois.

Lavagem das escadarias da igreja do Nosso Senhor do Bonfim.

   Conta-se que foram três negras que lhes deram início, caracterizando em todos eles um forte matriarcado, onde só as mulheres tinham acesso à iniciações. Administrados pelas Yalorixás, aos homens competia os toques dos atabaques, a tiragem de búzios (pequenos caramujos que na África serviam de moeda de troca) para adivinhações. Eram chamados de Ogans. Apesar de hoje os Candomblés terem como dirigentes já homens, os Babalorixás, ainda os terreiros contam com os Ogans externos, que auxiliam na sua manutenção financeira. Geralmente artistas como Caetano Veloso, Jorge Amado, Gil, o cineasta Glauber Rocha e outros, dão uma imensa contribuição ao Candomblé baiano.
   Em sua mitologia cultuam o deus supremo Olurum, mas seus deuses mais usados são seus orixás.
   Após aquelas perseguições aos cultos afros, a Igreja resolveu criar as Irmandades de Negros como as de nossa Senhora do Rosário e São Benedito, com a intenção de cristianizá-los. Porém, com algumas restrições raciais, como missas apenas para negros, e igrejas divididas internamente, com uma parte para fieis brancos outra para fieis negros.
O século dezenove foi excelente para a religiosidade brasileira. Tivemos nele o trabalho da Maçonaria, incentivando nossa Independência e, também dando uma eficaz contribuição oculta para a soltura dos rebeldes da Revolução Farroupilha, que se encontravam em presídios do Rio de Janeiro. 

Chico Xavier, o maior médium brasileiro de todos os tempos.

    Chegou depois aqui o Espiritismo Kardecista vindo da França, que grassou principalmente entre intelectuais cariocas. A literatura ganhou importantes obras deste credo, como aquelas de Chico Xavier, um dos médiuns mais queridos e eminentes aparecido entre nós.
   Logo depois surge em Niterói no Estado do Rio, a Umbanda que fará um sincretismo com Cristianismo e Espiritismo. Esta, com um forte teor de Candomblé, é muito difundida entre as populações negras. Porém, diverge dele pois além do culto aos orixás contam também com entidades de Caboclos, tantos os africanos de Luanda como os caboclos brasileiros descendentes de nossos índios.  Divergiram também do Candomblé, pois nascendo numa zona urbana como Niterói, tiveram de abdicar de certos ritos como toques de atabaque, plantios de árvores sagradas, iniciações em lagoas, mais apropriados de serem feitos em zonas rurais como as dos Candomblés baianos.
    Impossível esquecer que o Cristianismo havia já se enriquecido com a vinda dos Franciscanos Capuchinhos que desde o século XVI instruam os nossos índios. Mas no século XIX atuaram principalmente no seminário de Mariana em Minas Gerais e, com a sua música litúrgica, marcaram para sempre o mundo artístico religioso daquela cidade.
   Com a chegada da família real ao Brasil, recebemos membros das Igrejas Protestantes como os Evangélicos, Metodistas, Batistas, Presbiterianos, Adventistas, Luteranos. Hoje, o Protestantismo é o segundo maior grupo religioso do Brasil. Suas crenças são semelhantes ao do Cristianismo Católico Romano, mas se diferenciam quando eliminam de seus templos a adoração à imagens e a devoção à figura de santos.
   No século vinte aqui chegou o Pentecostalismo, também chamado de “Cristianismo Renovado” como a Assembleia de Deus, a Igreja Universal, a Congregação Cristã, o Evangelho Quadrangular etc. etc. Hoje contamos com os Neo- Pentecostais e seus inúmeros ramos e pequenas capelas por todo o país.
   Chegados dos Estados Unidos temos os Testemunhas de Jeová com suas originais pregações de casa em casa, de rua em rua, dedicados a difundir os preceitos bíblicos.
   Aqui estão também os Mórmons com seus grandiosos templos. No século XX reapareceu entre nós o culto islâmico com o trabalho dos Baha’ís iranianos, além dos cultos orientais como o Budismo chegado em 1908 com os imigrantes japoneses responsáveis por plantios nas lavouras de café paulistanas.
   Com a chegada dos orientais, proliferaram entre nós as academias de Yoga e fomos também beneficiados pelo aprendizado de técnicas de meditações.

Yoga prática física e espiritual.

   Muitos movimentos esotéricos como a Teosofia, a Gnose, O Martinismo, o Rosacruz, a Antroposofia, dedicaram-se a expandir a espiritualidade oriental.
   Os Judeus brasileiros livres das perseguições inquisitoriais de quatro séculos atrás, hoje recebem nas sinagogas orientações de seus mestres, os rabinos. Até a arcaica Cabala judaica veio à tona com muitos apreciadores.
   O Cristianismo brasileiro conta hoje com várias Igrejas Ortodoxas, mas a Igreja Católica Romana mantem-se sempre a mais numerosa com santuários muito procurados como o de Juazeiro do Norte que atrai milhares de devotos ao culto do “Padin Ciço” e o gigantesco santuário de Nossa Senhora Aparecida (padroeira do Brasil) em São Paulo.
  O Brasil foi honrado com a visita de três papas: João Paulo II, Bento VI e Papa Francisco. Este visitou o Rio de Janeiro em 2013 para atender a Jornada Mundial da Juventude. Para quem a assistiu, era comovente ver a fé, o silêncio respeitoso com que milhares de jovens vindos de toda a parte do Brasil e dos países de nossa América, o ouviam, posicionados frente a ele nas areias de Copacabana. Papa Francisco com seu inigualável carisma e sua grande perspicácia, abriu para os cristãos católicos uma onda de devoção e principalmente de esperança quanto ao futuro de uma Igreja melhorada, pois pouco a pouco, ele começa libertá-la de seus seculares erros.
   Nós brasileiros nos orgulhamos de sermos um país de religiosidade laica, recebendo em nosso seio uma variedade imensa de cultos, impossíveis de serem todos aqui enumerados. Sinagogas, Igrejas, templos, mesquitas, professam hoje livremente seus credos, sendo aqui proibidas quaisquer formas de intolerância religiosa.