terça-feira, 10 de maio de 2011

Solstício nos Andes

No Andes, o culto ao solstício de inverno nasceu na Bolívia, na região próxima ao lago Titicaca, na cultura milenar do Tiauanaco, que é anterior a cultura inca. Ali, até hoje milhares de nativos, turistas , místicos e historiadores assistem todos os anos, contritos, o nascer do dia 22 de junho, na Porta do Sol, acendendo fogueiras para saudá-lo. Tal costume milenar passou ao Perú, quando o deus Viracocha fez do barro do lago o casal  Manco Capac e Mama Occlo e os fez deixar o lago Titicaca para irem a região de Cusco fundar o Império Inca. Hoje, é ali nos 3.440 m de altitude de Cusco que acontece a mais bela tradição andina do solstício.
     Os indígenas do antigo império incaico anterior a invasão espanhola, viviam aninhados ao sopé de montanhas, isolados em altitudes áridas e desde os tempos imemoriáveis da sua criação possuíam uma religiosidade extremada. Tinham também uma atenção muito voltada para as mudanças das estações anuais, mudanças solares e lunares porque delas dependiam seus plantios ,sua sobrevivência. Um dos principais alimentos da cultura inca era a batata.O solstício de inverno iniciava para aquela região um período seco, de poucas chuvas em que se colhia a batata . A gratidão a Inti ,o deus solar se fazia então necessária. Afinal, a semente que fora concebida no equinócio do outono, em março, agora nascia. De sua quietude no útero da terra, a Pachamama  era iniciado um movimento de doação para fora, a colheita surgia. Então, o ano novo para os incas era nesta data que tinha início.

Romance que transcorre no cenário andino.

    Os historiadores, antropólogos e filósofos concordam que este sentimento espiritual de ligação à mãe  natureza Pachamama está até hoje impregnado  em cada esquina e cada montanha do Perú e no olhar do homem andino. Cusco  foi a capital do império incaico, cidade sagrada pois ali residia o imperador dos” Filhos do Sol” e era ali então ali que aconteciam as maiores homenagens a Inti e sua companheira Killa, a lua.
    As festividades do solstício duravam quase uma semana. Principiava no dia 20 quando o imperador, sua família e a nobreza iniciavam uma purificação pessoal abstendo-se de sexo, e iniciando um jejum preparatório de 2 dias para elevarem o seu espírito. Lembremos que os imperadores incas sentiam-se responsáveis por seu povo, consideravam-se não só um descendente direto do deus Inti, mas também seu representante na terra e ele, o imperador, era quem intermediava a energia solar que abençoava seus súditos e suas colheitas.
    Durante o dia 21, ele proibia o acendimento de qualquer fogo em Cusco, simbolizando o momento de recolhimento, de supremo repouso e obscuridade para o mundo, como se fosse o final de um ciclo. Só depois ao amanhecer do dia 22 podiam ser novamente acesos sinalizando uma nova dispensação de luz e renovação de vida .Na data de 21, toda a população de Cusco era convidada a se retirar, só permanecendo ali o imperador , sua família e a nobreza a se prepararem espiritualmente.Na noite do solstício o imperador fazia uma gesto de humildade. Retirava a sua coroa e só a poria após estar purificado. Ali ele tornava-se apenas um filho do sol. Passava esta noite acordado em orações . Pelo dia 22, lhe era entregue uma lhama branca. À ela ele confiava uma mensagem aonde explicava as necessidades mais prementes do seu povo. Em seguida a sacrificava para que a alma do animalzinho levasse essa mensagem ao deus solar Inti. Um sacerdote  adivinho era também chamado para ler as entranhas da lhama e fazer os vaticínios para o ano que se iniciava.
    Enquanto isso acontecia, no grande templo de Aqlla-Wasi, a Casa das Escolhidas, as Mamas Kunas e as Aqllas, Virgens do Sol,preparavam bebidas ( Chicha)  e os Sankhu que era uma espécie de pão de milho que seriam depois distribuídos à população para que, num repartimento, todos comungassem com as riquezas da mãe terra.
    Dia 23 a população era chamada de volta para enfeitar as ruas de Cusco e todo o trajeto que o imperador faria, com flores. O auge do festival acontecia quando  este, com toda a pompa de um representante da divindade solar na terra, passava pelas ruas para fazer um trajeto até o forte de Saqsaywaman.


Ainda em Cusco, a comitiva imperial parava em frente à Praça de Armas para a cerimônia da bebida Chicha. Num jarro de ouro era oferecido ao imperador a Chicha .Após bebê-la, ele fazia no idioma quechua esta saudação ao sol: “ Oh! Deus pai sol, te brindo com esta chicha preparada pelas Aqllas. Chicha espumosa feita com o dourado milho , muito doce, que desde aqui chegue como louvação a ti, para que sempre aqueças com muita força a terra, a Pachamama, e a faças frutificar para que as colheitas do império sejam sempre boas, afim de evitar a fome dos meus súditos.”
    Humildemente, depois o imperador fazia a libação: Devolvia o restante que ficou no jarro à mãe terra, para mostrar-lhe o que os homens podiam fazer com as riquezas que a Pachamama  lhe dava.
    Seguindo contritamente o rito, a comitiva ia depois para o templo de Colcampata ( templo cujas paredes eram forradas de ouro e foi destruído pelos espanhóis, seu ouro foi levado e em seu lugar construiu-se a atual igreja de São Domingos.) Depois, dava-se início a um ritual chamado Musoccina  com o qual se acendia oficialmente a pira do fogo sagrado. Este fogo deveria ficar aceso até a próxima festa de solstício. Nele,  os sacerdotes seguravam um disco côncavo com um material inflamavel faziam diversos movimentos como uma dança mágica, pedindo  que o deus sol mandasse seus raios. A luz solar entrando no disco acabava por acendê-lo com fogo. Era então acesa a pira.
    Ali, num altar de holocausto frente à pira, eram sacrificadas lhamas agora negras para que servissem de intermediários nos pedidos particulares do povo de Cusco. A carne das lhamas sacrificadas seriam assadas e distribuídas à população.  A pira era depois levada ao templo e ali cuidada por devotos que a conservariam acesa até o próximo ano.
  Celebração do Inti Raymi no forte de Saqsaywaman.

    Desde o dia 24 na esplanada de Saqsaywaman súditos do imperador vindo de todas as partes do Tuantisuyo , império dos quatro lados, o esperavam vestidos com trajes  feitas com lã de Vicunha e muitos adornos de  prata, um metal muito abundante naquela época no Perú. Muitas tribos vestindo-se de palhas. Ali também em homenagem ao  representante de Inti,  cantavam e dançavam em grande alegria.
    Mais de 500 anos se passaram desde que Pizarro fez o trágico arrasamento da cultura inca. Nela, viviam perto de 15 milhões de pessoas e segundo os relatos dos cronistas espanhóis nenhum homem passava fome ou estava privado de trabalho. Hoje, está acontecendo ali um resgate  desta cultura. Tenta-se chegar à maneira religiosa deste povo pensar. Muitos nativos, retirados nas montanhas, querem voltar as suas raízes. A festa do solstício chamado Inti Raymi que significa festa do sol, está sendo muito celebrada Também o símbolo inca do sol criança que nasce neste dia se popularizou .

Depoimento de uma mãe

    O amor materno é realmente o mais  completo , o mais diversificado. No dia das mães costumo receber flores dos meus filhos .Sempre vejo nelas  alguma faceta do amor materno que eles querem homenagear.Se as recebo brancas, me lembro da pureza do meu amor por eles.O amor que tenho por eles, é intocável,como se nada negativo que fizessem, conseguisse diminuí-lo. Mesmo que meus filhos fossem drogados, traficantes ,e no pior dos casos até criminosos,creio que meu amor por eles permaneceria incólume, intocado.
 Se recebo flores rosadas, que são muito delicadas ,vejo nelas a delicadeza  que  manifestava quando acalentava  os meus bebês.Eles sempre preferiam exatamente o meu colo .Não só pelo cheiro do meu corpo, que para eles devia corresponder a um perfume agradável, mas também porque sentiam a suavidade do meu toque , do meu olhar, do meu aconchego que ia diferenciar o meu colo de qualquer outro.
Se recebo flores rubras, vermelhas  que têm uma cor forte ,simbolismo de paixão, vejo a veemência com que todas nós, mães, defendemos  nossos filhos quando alguém  os ataca . Até podemos reconhecer seus erros, mas não admitimos que  os acusem. Por mais tranqüilas que sejamos ,nos transformamos em verdadeiras leoas defendendo nossas crias.
Por fim,se recebo flores amarelas que é a luz da iluminação, da sabedoria,lembro-me da sabedoria que posso alcançar como uma mãe idosa. A mãe idosa como eu, geralmente sofre por ter que conviver com uma geração que está em meio de valores que não são exatamente aqueles com os quais a sua própria geração conviveu.Mas, por amor aos filhos, para não me sentir distanciada deles ,faço meu grande esforço de aceitação às mudanças sociais.Aqui, meus filhos ,inconscientemente,  contribuem para que eu reveja os passados valores e  qualquer tipo de antigos preconceitos e atinja  a sabedoria que a minha idade me requer. Porém,  fico sempre servindo dentro do lar, como um equilibrador entre velhos e novos conceitos.Com poucas exceções, a mãe madura é aquela que  dentro de uma família de vários filhos( que é o caso da minha) ,ouve as queixas que uns fazem dos outros e silencia para mantê-los harmonizados. A mãe madura geralmente dá conselhos sutilmente, age mais em retaguarda. Mesmo quando os meus filhos pensam que  não estão mais prescindindo de meus conselhos, continuo,mesmo sem me impor, a exercer influência em seus pensamentos, pelo que plantei em suas infâncias,e pelo grande desejo que uma mãe leva por toda uma vida: o de ajudá-los.
    Como exemplo de amor materno vou servi-me da História Antiga,lembrando –me de uma passagem do Velho Testamento. Nele, trouxeram frente ao sábio rei Salomão duas mulheres que lutavam pela posse de um bebê. Todas duas diziam que o bebê era seu .Discutem e gritam.Salomão então chama uma servo e lhe ordena: “Pegue tua espada e corte o bebê ao meio e assim cada uma ficará com a sua metade”.Uma delas então começa a gritar desesperadamente: Ele não é meu!  Não é meu! O Sábio rei então ordena : “ Dê a esta mulher que está negando a sua maternidade, o filho, pois ele é dela “ .E, explica-lhe: a veemência com que defendestes a vida desta criança revelou-me que tu és a mãe dele