sábado, 2 de abril de 2011

Isis

Embora Isis seja também uma mãe natureza ela diferencia-se muito de Demeter.  Esta era uma  força exclusivamente ligada ao abastecimento de sobrevivência que nos dá o solo, e o amor  materno que amamenta os homens, os conduz em seus primeiros passos.
    Isis porém jamais será compreendida se a desassociarmos de Osiris e Horus, pois Isis é parte integrante de uma Tríade.Tríade aparecida também nas divindades  primordiais An, Em Ki, Em Lil da Mesopotânia, na Tríade Brama Vishinu e Shiva do Induismo e na Trindade Pai , Filho e Espírito Santo do Cristianismo.
    Isis é a margem do rio  mais comprido do mundo e também suas águas.
Porém, a força que as movimenta, levando seus nutrientes que fecundarão Isis é Osiris, o grande procriador. Este intercâmbio amoroso entre Isis e seu esposo Osiris acontece periodicamente na subida e retração das marés do Nilo (as cheias que ocorrem de junho  a outubro cobrem suas margens e quando recuam deixam nela um humo fertilizante), Assim, é possível compreender-se que um povo cuja base religiosa era a Fitolatria, a natureza personalizada em deuses, visse neste contato rio-margens que garantia seu próprio viver, um ato de amor acontecendo entre um ser masculino divinizado e sua deusa consorte.
    Após este grande amplexo entre o casal , boa parte do Egito torna-se lagos e pântanos (Pois o Nilo banhando-o do norte ao sul da África percorre 6.450 km de extensão) Isis então assim fecundada, gerava , neste imenso terreno aquático a planta que seria para os egípcios a fonte de sua riqueza: O papiro.
    Foram eles,os egípcios, os únicos fornecedores desta planta  para todos os povos da Antiguidade. Com ela, garantiam o fabrico de embarcações, sandálias, esteiras, e sobretudo do papel. Só ele já seria suficiente para os inúmeros cultos de agradecimento à grande mãe, que se davam em templos cercados por verdadeiras florestas de papiro
    Pelos benefícios que trazia, o papiro tornou-se um dos grandes símbolos de Isis. É o cetro de seu poder, que aparece em estátuas  empunhado por deusas e rainhas e foi adotado como emblema do Alto Egito.
    Também o Baixo Egito representava-se homenageando Isis, com aquilo que acreditava ser o que de mais belo ela gerava na natureza: O Lótus amarelo. Hoje, visitando estas regiões, encontramos ainda uma lembrança perene da mãe Isis, em inúmeras colunas esculpidas com Lótus.
    Com sua flor se fazia perfumes e só podemos imaginar como importante era aos egípcios, lembrando-nos que foi o povo antigo que mais usou tanto para o corpo como para cultos, essências perfumadas.  O perfume do Lótus era visto como intensamente rejuvenescido. E, lá estava novamente Isis garantindo seu uso, a requerer devoções e mais devoções. Das sementes do Lótus tirava-se também um alimento tranquilizante , que empregava-se para evitar impulsos eróticos descontrolados . Porém, a grande importância desta flor era o seu valor simbólico. Fechando-se a noite para desabrochar ao clarear do dia, foi desde os recuados tempos de Hermes Trimegisto, o símbolo da luz que Osíris intermediando o deus solar Rá, trazia em seu barco todas as manhãs para iluminar o corpo de sua esposa Isis, as margens do Nilo.
Lótus, flor que representava os quatro elementos naturais.

Também o fato das sementes do Lótus conterem antes de germinarem a miniatura das folhas e do aspecto que a flor terá um dia, foi estudado pelos iniciados como o arquétipo, o modelo de manifestação que todos os seres sejam eles homens, animais ou plantas trazem dentro de si. No Lótus, segundo eles, a mãe Isis, quisera nos mostrar este princípio divino: o arquétipo. Porém, mesmo os egípcios não iniciados, que ignoravam estes estudos transcendentes, viam no Lótus que nasce dentro da terra, passa seu caule dentro da água, tem suas folhas respirando no ar e abre sua flor pelo calor do fogo solar, símbolo dos quatro elementos da mãe natureza: Terra, água ar, e fogo. Por causa do Lótus, Isis era então também chamada de “Deusa dos quatro elementos”.
    O papel de Isis na Trindade egípcia será exaltado no mito da luta eterna entre ela e Osíris contra seu irmão Seth. A geografia do Egito, no seu lado ocidental, apresenta um deserto árido, assolado pelo terrível vento Khansim perigo sempre eminente, pois que, ao soprar, pode engolir,levantando areia, todas as criações feitas pelos homens da parte fértil. Foi personalizado num irmão de Osíris e Isis, o implacável deus Seth. Este lutava contra a  fertilidade e a vida dos protegidos de Osíris. Esse é enfim o sentido do mito Osíris, Isis e Seth. Porém, é neste mito que Isis se sobressai como amante desvelada e mãe cuja  fecundidade promove o ciclo eterno do renascimento.
    O mito nos conta que Seth, sempre querendo destruir Osíris, posto que este possuía razões regionais mais fortes para merecer cultos de agradecimentos e adorações, urdiu um plano para matá-lo. Manda construir em segredo um cofre belíssimo com as medidas exatas de Osíris. Numa festa expõe aquela obra de arte e todos se encantam com sua beleza. Ele promete então dá-lo a quem entrando nele correspondesse ao seu tamanho. Quando Osiris deitou-se nele ,Seth e seus comparsas fecharam rapidamente o cofre e foram atirá-lo no Nilo.
A Deusa Ísis resgata o corpo de seu marido Osíris.

    Sem Osires, todas as margens do rio entram em pobreza, as margens não são mais fertilizadas , o Nilo se paralisa num cenário de morte.Aqui é que surge forte o amor conjugal de Isis. Desesperada, corta os longos cabelos negros, rasga as vestes e esmurra o peito em sinal de luto. Sai depois a procurá-lo em toda a parte  Chega longe , até uma praia da Fenícia. É de lá que encontrando o sarcófago de Osires morto , o traz de volta ao Egito. Ao abri-lo porém, viu que o seu corpo não sofrera decomposição, Estava intacto. Pega-o então nos braços e beija-o na boca ,passando o seu alento de vida para ele. Osíris ressuscita.
    Toda a natureza de novo se rejubila, os ciclos de enchentes das águas cobrem novamente as margens, todas florescem, Contudo, lá estava Seth observando desconfiado esta pujança de solo e depois tendo a certeza de que Osires estava de novo vivo. Numa oportunidade, mata-o agora , retalhando seu corpo em 14 pedaços que espalha no Nilo.

Isis não esmorece. Quer ainda recuperar o corpo desmembrado do marido. Historiadores acham que esta parte do mito refere-se a um momento de centralização das províncias, que eram 14 .Numa outra busca desesperadora, vai juntando um a um os seus pedaços encontrados. É com este corpo de Osíris morto, que ela conseguira recompor, que Isis quer ao menos vê-lo sobreviver num filho que para sempre o represente.
    Aqui a Trindade egípcia se completará, pois por meio de uma metamorfose desta deusa, Hórus nascerá. Conta-nos o mito que Isis, com palavras mágicas, transforma-se num falcão fêmea que, batendo as asas, deita-se sobre Osíris. Quando ela volta à forma humana, está grávida de Hórus. Ele será sempre chamado de “deus falcão” aquele gerado entre Osíris e um falcão fêmea.
    Este filho, que Isis fez nascer de um corpo morto, assimila dela para sempre a energia da ressurreição. Quando Hórus luta com Seth para vingar seu pai, perde na luta um dos olhos. Coloca-o sobre a múmia de Osíris como uma oferenda de amor filial. É, com a energia do olho de Hórus que Osíris ressuscita no reino dos mortos, no Amenti, tornando-se ali o soberano supremo (hoje, a Arqueologia já encontrou o amuleto “olhos de Hórus sobre inúmeras múmias que lhes seria a garantia de uma ressurreição no além morte.)

O olho de Hórus, símbolo da ressurreição.

    Na crença egípcia, enquanto Osíris era o Pai transcendente que eternamente movimentaria as marés do Nilo, e Isis a deusa da natureza, Hórus podia fazer uma encarnação viva, humana, na pessoa dos faraós, uma vez que estes eram, segundo o seu “Livro dos Mortos”, energias que zelavam pela sobrevivência do império e intitulavam-se “Servidores de Hórus”. Aqui a Trindade egípcia parece ter inspirado a cristã, pois enquanto o Pai e o Espírito Santo são forças sutis invisíveis, o Filho que representa o Pai, encarna-se na pessoa de Jesus. O mito de Isis, tal como o de Demeter, também foi muito estudado e teatralizado nas Escolas de Mistérios Iniciáticos.
    Os estudos dos Mistérios menores, os de Isis, duravam sete anos onde em cada um deles era levantado um dos sete véus da sabedoria que a deusa encobria. Era dito que seus véus tinham cores diferentes. Seus véus representando as qualidades que os iniciados tinham que obter para chegar à luz total de Osíris.
    Como tudo o que se refere à Isis tinha um envolvimento com seu par Osíris, nestes seus Mistérios a deusa preparava a evolução espiritual dos homens egípcios, para que entrassem depois nos Mistérios Maiores de Osíris. Introduzia-os também nos conhecimentos do Amenti, o mundo dos mortos governado pelo deus. Contava-lhes as bem-aventuranças que por amor à natureza lá desfrutavam.
    Na Iniciação, chegava-se a compreender a escrita sagrada dos Sacerdotes de Isis, um tipo de linguajar secreto onde se ocultavam ensinamentos que, lidos por um prisma profano, jamais seriam compreendidos. Pouco se sabe dos ritos e cultos à Isis pelos juramentos de silêncios feitos pelos iniciados. A recompensa que estes mais esperavam era um dia ter a visão gloriosa da deusa que lhes aparecia, e os levavam a êxtases inefáveis.
    Descendente direto de Num, uma água primordial que deu origem ao mundo e de Net, o céu, que se estendia como uma grande abóboda azul e estrelada sobre a cabeça dos egípcios (figura representada como um grande corpo arqueado sobre a terra), Isis é a deusa das muitas faces. É a água do Nilo, é a sua margem, são os quatro elementos, é enfim a alma do mundo formalizado na natureza. Porém, sem dúvida, a sua colocação na Triada que, segundo Pitágoras, equilibra o universo, está o seu maior papel. Alem de ser a esposa fiel de Osíris que a fertiliza, traz na cabeça os chifres de Hátor, a vaca sagrada, porque seu seio alimentava Hórus, seu filho e todos os egípcios.

Helyette Rossi

2 comentários:

  1. Sempre maravilhada...com minha fada amada, Helyette! Bjão e obrigada por me aninhar, há tanto tempo, no teu coracão, no teu grupo e na tua vida! ^~^

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  2. Que história rica em detalhes da Deusa Ísis.

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