sábado, 3 de outubro de 2020

Mulheres Atuando na Vida Espiritual

A começar pela mais antiga temos: Maria Madalena. Com exceção da Virgem Maria, mulher escolhida para gerar o Cristo, Maria Madalena é, sem dúvida, a figura mais importante do Cristianismo. Sua vida é de feição enevoada, havendo sobre ela várias versões absolutamente opostas.

Annie Besant, líder
da Sociedade Teosófica.


Jeniffer Cristine diretora do Instituto Magala de Jerusalém, pesquisadora, escritora de um livro sobre sua vida, nos diz que Madalena nasceu em Magdala uma região muito prospera na época por sua indústria pesqueira, situada nas costas do mar da Galileia.

  Maria Madalena é dita como uma das mulheres que acreditando ser o Cristo o Messias esperado teria o seguido para vários locais de suas pregações a até sendo ela bem aquinhoada em bens o auxiliado e a seus apóstolos, lhes fornecendo recursos necessários para o gasto ao seu trabalho itinerante.

  Ter nascido em Magdala já justificaria o seu nome, pois sabemos que os povos antigos não davam sobrenome às pessoas, mas as distinguiam com o nome de suas cidades de origem. Assim, Madalena seria uma corruptela de Magdala.

  Uma versão diversa, contrária a ter ela vindo de Magdala, levanta a hipótese de ser ela a mesma Maria, irmã de Marta e Lázaro, aquele a quem o Cristo, num milagre, fez voltar da morte. Família que residia em Betânia.

  Em Les Saintes Maries-de-La-Mer, Veselay e Aix em Provence, todas as cidades do sul da França, Maria Madalena teria estado, quando as perseguições aos cristãos tiveram início em Jerusalém, para, num trabalho evangelizador, pregar nesta região a mensagem do Cristo. Até hoje Les Saintes Maries de La Mer cultua as quatro mulheres chegadas ali em barco. Maria Madalena, Marta, Maria Salomé e a cigana Sara. Ali é contado que Madalena teria morrido em Aix em Provence, e que suas relíquias estão em Veselay.

  O evangelho canônico de Lucas nos distingue Madalena como a mulher de quem ”Jesus teria expulsado sete demônios“. Ora, bem sabemos também que para os povos da Antiguidade todo e qualquer mal estar ou doença eram vistos como manifestações demoníacas que se apossavam do corpo de uma pessoa. Porém, ao chegar o ano 591 o Papa Gregório Magno interpretou como prostituição os demônios que Jesus lhe teria expulsado, qualificando então Maria Madalena de uma perdida prostituta. Que seria - dizia ele - estes demônios senão os seus vícios? Então a Igreja levou este pensamento adiante durante séculos.

   Modernamente, contudo, no ano 2016 o nosso Papa Francisco refutou tal ideia nomeando-a novamente de “A apóstola dos apóstolos” tal como já o fizera São Tomaz de Aquino e a intitulou de ”Santa”. Não por acaso - afirmou ele -Madalena foi a primeira pessoa a ver Jesus ressuscitado.

  As atitudes de Maria Madalena demonstravam o amor que sentia por seu mestre, o Cristo. Segundo João, ela lá estava junto à cruz acompanhando a mãe do Cristo em seu sofrimento. Conta-se que, após a crucificação, Madalena teria ido ao santo sepulcro levar ervas cheirosas, bálsamos para ungir o corpo do Cristo como era uso na época. Porém, ali não o encontrou. Foi quando ouviu uma voz a qual iria perguntar onde estaria o corpo do mestre, quando então se deparou com o próprio Jesus ressuscitado. Este lhe recomendado que fosse aos discípulos lhes revelar a sua ressurreição.

  Jesus confiava tanto na perspicácia de Madalena em entender seus ensinamentos que nos é contado que isto provocava desconforto, uma espécie de ciumeira da parte dos apóstolos. O que é compreensível, pois eles seguiam modelos patriarcais a respeito de mulheres que, na Judeia de seu tempo, eram vistas como seres de pouca inteligência, sendo que a posição oficial da Igreja de Israel contrariava qualquer liderança espiritual vinda de uma mulher.

  Contudo, por seu amor a Jesus, por sua perspicácia e auxílios a seu mestre, Madalena mereceu o epíteto de “Santa” lhe dado sabiamente por papa Francisco.

   Diaconisas: Não podemos esquecer que o Cristianismo contou com um número imenso de Diaconisas desde o tempo de São Paulo. Eram mulheres encarregadas de funções auxiliares ao culto cristão. Embora fosse vedado a elas a função sacerdotal, após a benção de um bispo, faziam também trabalhos religiosos junto às mulheres de comunidades. Instruíam-nas sobre o batismo quando estes ainda eram feitos em adultos e em corpo inteiro. Preparavam-nas, enfim, para receber todos os sacramentos. A elas também cabia visitar asilos e cárceres em nome de determinadas paróquias. Foram, enfim mulheres essenciais ao bom desempenho do trabalho cristão.

Freiras: Lembremos também das milhares de irmãs de caridade, freiras católicas e protestantes que há séculos trabalham em instituições de ensino e em hospitais, labutando abnegadamente em favor da educação e da enfermagem em vários países.

    Madre Tereza de Calcutá: Entre as religiosas católicas sobressai-se a personagem impar de Madre Tereza. Nascida em 1910, na Macedônia. Muito jovem, fez um noviciado e ainda nele com 21 anos foi para a Índia. Posteriormente, deixou este noviciado para vestir um sári branco e pedir a sua nacionalidade indiana. Exercia então ali o professorado de Geografia e História. Porém, resolveu depois dedicar-se aos pobres e doentes. Para tanto, foi fazer um curso de enfermagem e trabalhou tanto em favor dos necessitados indianos que acabou por receber do Estado a medalha “Senhor dos Lótus”.


Dion Fortune, especialista em Cabala.

   De uma simplicidade extrema, morava em favelas o que, após a sua morte aos 87 anos, lhe granjeou o título de “A Santa das sarjetas”. Esta mulher extraordinária fundou a “Congregação das Missionárias da Caridade” reunindo mulheres a favor do seu trabalho. Missionárias estas que existem em número de milhares em vários países.

Recebeu o Nobel da Paz aos 69 anos e foi beatificada pelo Papa João Paulo II que visitou diretamente seu trabalho na Índia. Em 2016 foi canonizada pelo Papa Francisco. Esta frase sua nos expõe claramente o âmago do seu ideal: ”Temos que procurar pessoas, porque podem ter fome de pão ou de amizade”.

 Aixa. Nasceu na Arábia Saudita e foi a segunda esposa do profeta Maomé. Casou-se com ele quando tinha 10 anos (nada excepcional para sua época e local). È relatado que embora Kadhija primeira esposa do profeta, uma viúva rica, o tenha sempre provido de bens para que levasse adiante sua mensagem, Aixa foi a sua esposa mais amada o seu grande amor.

  Maomé faleceu quando Aixa tinha dezenove anos e desde então ela passou a dedicar-se inteiramente, durante quarenta anos, à divulgação de suas mensagens. Lembremos que esses primeiros anos foram essenciais no estabelecimento do Islã o que deu a Aixa o título de “A teóloga do Islamismo”. Aixa era filha do companheiro mais constante de Maomé e seu sucessor como o primeiro califa do novo credo. Porém, desde o 3º califa, tido como corrupto, Aixa se envolveu em política liderando um exército contra ele. Chegou a mandar matar 600 homens numa batalha. Aixa é a mulher mais amada pelos islâmicos Sunitas e a mais odiada pelos radicais Xiitas.

  Desde o tempo do primeiro califa, a família de Maomé deveria ter acesso à sua sucessão. Alí, o marido de Fátima, filha de Maomé, se achava com direito a isso. Então, foi iniciada uma guerra entre Alí e Aixa. Esta lutou muito, mas perdeu a guerra numa batalha que ficou conhecida como” a batalha do Camelo”, pois Aixa lutava montada neste animal. Foi nesta ocasião que Ali, vencedor, instituiu o Islamismo Xiita. Hoje, ainda estas duas facções Sunitas advinda de Aixa e Xiita de Ali lutam entre si.

Porém, se considerarmos as condições de uma mulher originária da Arábia Saudita, especialmente na época em que Aixa viveu, podemos admirar a mulher corajosa que ela terá sido.

Kwan Yin, primeiro Buda mulher.

Kuan Yin: em 696 AC. Kuan Yin era filha de um governante do norte da China, da dinastia Chou. Teria na época ingressado no convento das Freiras do Pássaro Branco. Seu pai, que preferia vê-la casada, ordenou que o convento a submetesse às tarefas mais cansativas para fazê-la desistir da vida religiosa. Porém depois, muito contrariado por vê-la persistir no convento, mandou mata-la com uma espada. Foi quando o primeiro milagre de Kuan Yin se deu: A espada ao tocar no corpo dela, despedaçou-se. Fala-se depois em um trabalho seu numa ilha, onde se dedicava à curas e atendimento a homens sobreviventes de acidentes marítimos. Quando Kuan Yin morreu, sua mente –segundo o Budismo- não possuía nenhuma marca de negatividades, então Kuan Yin não necessitava mais de reencarnar-se. Porém, ela ouviu os pedidos por misericórdia dos homens da humanidade e resolveu tornar-se um Bodhisatwa, isto é, um dos seres que renunciam a uma situação de tranquilidade, o nirvana, para envolver-se entre as mazelas humanas a bem de servir à humanidade e despertar nela as consciências para a sabedoria espiritual.

  Tal decisão granjeou-lhe o título que até hoje possui: “Aquela que ouve os lamentos do mundo”. Encarnou-se então na pessoa de Avoloktesvara, o maior Bodhisatwa nascido no Tibete.

  Hoje, Kuan yin é a figura religiosa mais cultuada na China. Criou ela um Mantra para invocar suas graças:” Om Mani Padme Hum” que significa : ‘O joia do Lótus!. Ou também: ”Da lama nasce a flor de Lotus”.

Trabalha como todo budista da linha tibetana: especificamente para difundir a Compaixão.

   O final do Sec. IX e o começo do XX foram ricos em ideias espiritualistas trazidas do Oriente para o Ocidente, da Europa para a América. Nelas se sobressaindo varias mulheres especialmente importantes para a religiosidade esotérica.

  Tivemos Helena Blavatsky, a escritora russa que no final do Sec. IX criou na Índia, junto ao coronel Henri Olcott, a Sociedade Teosófica, com sua primeira sede na cidade de Adyar.

  Blavatski atribuía seus conhecimentos à instruções recebidas por mestres da Grande Fraternidade Branca. Em especial à influência espiritual lhe transmitida pelo muito conhecido mestre dos místicos El Moria. Entre os maravilhosos livros de Blavatsky tais como “Isis Sem Véu” e “A Voz do Silêncio” o mais importante é “A Doutrina Secreta” considerada para muitos como a “Bíblia do Ocultismo”. Blavatsky foi com certeza a maior difusora das ideias esotéricas do Oriente entre nós.

  Como sua melhor discípula tivemos Annie Besant, segunda presidente da Sociedade Teosófica. Dedicou sua longa vida de 85 anos também à Maçonaria fundando lojas maçônicas em vários países. Inglesa, viveu vários anos na Índia dedicando-se lá a liberdade deste país, chegando a ser eleita presidente do Congresso Nacional da Índia. Entre os seus belos livros podemos ressaltar: A Sabedoria Antiga” e o “Cristianismo Esotérico”.

  Alice Bailey: Também inglesa, no início de 1919 começou a escrever seus livros sob a orientação do mestre tibetano Dywhal Khul. Livros seus como “Tratado sobre Magia Branca”, “De Belém ao Calvário”, “O destino das Nações”, e “O Reaparecimento do Cristo”, são imprescindíveis à formação esotérica de um espiritualista.

Alice Bailey, autora do livro "Magia branca".

 Alice Bailey fundou a “Escola Arcana” com a finalidade de treinamentos, meditações e encontros espirituais de discípulos.

  Contamos ainda trabalhando nas primeiras décadas do século vinte com Dion Fortune. Outra inglesa, que como psicóloga ocultista dedicou-se à magia cerimonial. Seus romances foram verdadeiros guias para ritos e desenvolvimento de consciência.

   Dedicou-se ao social, aos movimentos feministas e influenciou a cultura moderna como a revolução sexual da mulher. Trouxe à tona estudos da Cabala judaica. Tornou acessível à estrutura da sua “Árvore da Vida” que se conservara até o Séc. XX como estudos fechados, só em mãos de rabinos. Seu livro mais importante sobre o assunto é, sem duvida, “A Cabala Mística”.

  Essas quatro mulheres: Blavatsky, Besant, Alice Bailey e Dion Fortune engrandeceram a religiosidade de quem a busca através do esoterismo.


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