domingo, 4 de agosto de 2019

A Metamorfose das Espécies nos Três Reinos


  As visões espiritualistas de linhas orientais nos apresentam uma evolução que passa pelos reinos mineral, vegetal e animal antes de atingirem a forma humana. Assim, também pensam linhas como os maçons, os rosacrucianos, os martinistas e outros.
  Tal crença é milenar e podemos encontra-la na Antiguidade de vários povos. Em inúmeros museus, um imaginário de seres que atestam este pensar, enriquecem suas coleções não deixando que o percamos. Também tapeceiros, ceramistas, pintores contribuem para nos expor metamorfoses. Fabulosos seres em transições formais são inúmeros e aqui tentarei apresentar alguns.

Centauro atirando a sua flecha.
O CENTAURO - Metade homem, metade cavalo, é encontrado nos mitos gregos. Conta-nos Homero que tais seres híbridos usavam um discernimento e um raciocínio já humano, mas entravam numa violência agressiva quando estavam embriagados. A bebida afetava-lhes a consciência e sua parte animalesca, seus instintos prevaleciam. O mito grego nos fala num centauro, o Quiron, cuja evolução já estava tão próxima à humana que ele tornou-se o companheiro constante do herói Aquiles, chegando a lhe ser um verdadeiro mestre.
 Tal mito nos diz que ao morrer Quiron, Zeus, o senhor do Olimpo, o transformou, por seus esforços, na linda constelação de Centauro, que inspira o homem para o bem quando este a encara. No zodíaco, o centauro é o signo de sagitário, mantendo sua forma híbrida e carregando uma flecha direcionada ao céu. Segundo os estudos astrológicos, quem nasce sob a sua influência, além da praticidade terrena, possui também uma busca por transcendência, uma ânsia de ascender sempre.

O pássaro/alma "Bo" sobre um morto.
O "BA" EGÍPCIO - Deste pássaro minúsculo com face humana, encontraremos sua figura nas ruínas dos templos egípcios, em pinturas murais e junto às cenas de embalsamentos. Para um egípcio antigo o pássaro BA representava a alma do homem que na hora da morte fazia uma metamorfose neste pássaro, porque, segundo suas crenças, ao morrermos, atingíamos uma libertação. Nos libertaríamos de preconceitos e apegos que nos prendem. Ao término de uma vida atingiríamos enfim, a liberdade de um ser alado.

Tritão assoprando sua concha.
TRITÃO – Um fabuloso híbrido, metade homem, metade peixe. No mito grego era filho de Netuno, o deus do mar. Quando colocamos um caramujo nos ouvidos e ouvimos um ruído, um zumbido contatamos uma marca deixada nele por Tritão. Segundo o mito, Tritão soprava dentro dos caramujos, emitindo um som que alertava os marinheiros de obstáculos, de perigosos rochedos que estivessem próximos a eles. Principalmente isto acontecia no mar Egeu e no Mediterrâneo. Entre as criaturas das fábulas marinhas Tritão é o protetor por excelência.

Sereia atraindo navegantes.
AS SEREIAS - Também as sereias são seres imaginários que povoam os mares. Mulheres peixes da cintura abaixo. Formam uma dualidade de frigidez e fascinação. Sentem desejos de atrair homens para um acasalamento. Porém, não conseguem tal intento, pois não contam com órgãos genitais femininos e são da cintura abaixo frigidas como o são os peixes. Contudo, são imensamente sedutoras. Seu recurso de atração é o canto. Cantam muito sobre os rochedos para atrair homens.
Lembremos que na epopeia homérica da Odisseia, Ulisses precisou amarrar-se ao mastro de seu barco para fugir a atração enganosa do canto das sereias. Estas, ele o sabia bem, não lhe dariam prazeres sensuais e apenas o afundariam no oceano.
  O folclore brasileiro conta também com uma sereia, Iara, que vive nos rios amazônicos. É perversa. Atrai os incautos homens e depois os afoga no rio. Diz o mito que o homem que escuta Iara enlouquece. Seus familiares costumam então afasta-los das cachoeiras, riachos e fontes, pois o homem obcecado por Iara a procura em todos estes lugares.
O único odor capaz de afastar Iara é o do alho. Então, ainda hoje, o homem crédulo da Amazônia que necessita anoitecer na pesca, esfrega alho no corpo para evitar sua sedução.
 O culto Afro nos legou a crença em Iemanjá, porém não existe nela a perversidade de Iara. Também metade mulher, metade peixe, ela, vaidosa, só requer de seus adoradores adereços, colônias cheirosas, espelhos e pentes que são atirados então no mar em seu dia.
No sincretismo com Nossa Senhora das Candeias ela é a bondosa Mãe D’água possuidora de grande instinto materno que protege os pescadores dos perigos do mar. Estes, gratos a reverenciam com a Saudação afro: “Ado Iya”.

A mítica imagem do lobisomen.
O LOBISOMEM - Numa inversão ao processo evolutivo do animal para o homem, temos o mito do lobisomem. Nele, o homem se transforma em lobo. O grego antigo acreditava tanto nesta metamorfose que passou a estudar uma doença mental que intitulou de Licantropia. Esta levava o homem à profunda depressão e isolamento até sua transformação em um lobo.
  No norte e nordeste do nosso país, esta crença é ainda mantida. Nela, é dito que o sétimo filho de um mesmo sexo nascido de um casal, tem a tendência de tornar-se um lobisomem. Ainda mais: diz ela que a lua cheia auxilia este tipo de metamorfose.

Bacanal com a presença de um sátiro.
SÁTIROS - Metade homem, metade bode. Tais híbridos influenciam os comportamentos sexuais animalescos nos seres humanos. Faziam-se presentes nos bacanais gregos e romanos do deus Baco. Provocavam nas mulheres do cortejo de Baco, as bacantes, instintos sensuais muito primitivos. Apareciam esses híbridos também nos Sabats medievais com a conotação de seduzir mulheres. Nos processos contra bruxarias, inúmeras mulheres, acusadas de manterem relações com estes seres caprinos, foram queimadas em fogueiras.

A ORIGEM DO POVO HELENÍSTICO - O melhor exemplo da metamorfose de um ser vindo de um minério para o ser humano, nós encontramos na formação deste povo grego. Conta-se que o único casal que sobreviveu ao dilúvio grego, Decalião e Pirra, sozinhos e desesperados, pediram à deusa Diana que lhes desse uma nova humanidade para ajuda-los. A deusa então lhes disse que pegassem os ossos de sua mãe e tirassem por trás de seus ombros. Porem, a única mãe que agora possuíam era a Mãe Terra. Compreenderam então que seus ossos eram as suas pedras. Passaram a pega-las e as lançavam. Então, a umidade das águas do dilúvio criou sobre elas musgos que logo se tornavam em carne. Também, no céu apareceu o deus solar Apolo, que com os seus raios iluminadores deram aqueles novos seres, em transformação, a consciência iluminada dos homens. Assim foi como Decalião e Pirra viram surgir diante deles a civilização muito sábia dos Helenistas.

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