sexta-feira, 10 de junho de 2011

Um diálogo esclarecedor (Entrevista)


     Sendo tu durante mais de duas décadas orientadora de um grupo espiritualista, a que religião pertences?

R: – A nenhuma. Há pessoas que seguem crenças e dogmas de uma religião organizada, outras que apenas vivem sentimentos religiosos. Pertenço a estas últimas.

     O que entendes por sentimentos religiosos?

R: – Minha religiosidade me faz pensar constantemente que por trás de tudo o que já existiu, existe ou existirá, está uma força, um impulso, uma inteligência geradora, mantenedora e até destruidora, a que chamo  Deus,  independentemente de eu estar enquadrada ou não à uma organização.

     Por que este afastamento das religiões organizadas?

R: – Por minha cultura, nasci cristã. Porém, conhecendo depois a história do Cristianismo mais precisamente Católico, não vejo muitas razões para ligar-me a ele. No entanto, isto não afeta o respeito, o acatamento que dou as idéias de seu líder máximo Jesus, o Cristo, e até o quero por modelo. Reconheço também que existem pessoas e missionários de vidas abnegadas, ainda ligadas à Igreja. Deixando de lado e até esquecendo as querelas de caráter político dos Concílios do séc.IV e os barbarismos da conhecida era da Inquisição, jamais concordei com os entraves que o Cristianismo seguiu impondo ao progresso civilizatório. Vejamos: Todas as vezes que a Ciência viveu seus melhores momentos e com novas revelações proporcionou à Igreja a oportunidade de rever as interpretações que esta dá a seus livros sagrados( como a Bíblia, o Evangelhos, etc.), a Igreja permaneceu intransigentemente apegada à elas. Trouxe esta intransigência para os tempos modernos. No séc.XVI, quando Copérnico, abrindo o campo para a moderna Astronomia, expôs a crença no movimento da Terra, recebeu do Cristianismo todo o empecilho possível a que fosse estabelecida. Repetiu-se o mesmo quando, já no sec. XIX o inglês Darwin após anos de investigações criteriosas, revolucionou a  Biologia
com sua teoria evolucionista. Lá apareceu novamente a Igreja para menosprezá-la, lutando ferozmente para que as verdades pesquisadas fossem abafadas.

     Então entrastes neste conflito Ciência/Religião?

R: – Não. Estou fora dele. Não sou cientista nem pertenço à Igreja. Porém, é impossível não se fazer um paralelo entre o desprendimento da Ciência, cujos objetivos eram dar à luz verdades que poderiam aumentar o conhecimento com que os homens viam sua própria existência e a visão acanhada da Igreja, querendo preservar inalterados comportamentos que perseguiam outros credos, que, por isso, embora sendo uma organização grande,  se conservava circunscrita a um grupo apenas.


     Achas que após quase 2 séculos esta intransigência ainda persiste?

R: – Sim. Segue até nossos dias porque obedece a um papado conservador, contrário ao desenvolvimento de pesquisas. Parece-me que voltamos ao tempo do estabelecimento dos dogmas. Nele, à uma proposição era dada uma palavra final, fechando à especulações, tornando-a, em sendo dogma, proibida a qualquer investigação.
    As  descobertas científicas não abalam o seu sentimento religioso?

R: – Absolutamente. Não vejo nelas nada que entre em choque com minhas crenças. Ao contrário, sou uma apaixonada pelas espetaculares aquisições científicas. A cada vez que aparece uma,  mais deslumbrada fico ante as potências desta força a que chamo de Deus, meu sentimento religioso se torna mais intenso.

    Qual a diferença que achas entre Ciência e busca espiritualista?

R: – Nenhuma. Vejo apenas dois pontos de vista focalizados sobre um mesmo objeto: Deus.

    Então, neste caso, achas que aquilo que a Ciência estuda é igualmente a Deus?

R: – Exatamente. Sem que ela se dê conta disto, é evidente. Deus é, para mim, uma Unidade.Porém, podemos contatá-IO, buscá-lO através de duas faces. Uma face manifesta e outra imanifesta. A manifesta é tudo quanto  a Ciência estuda: a natureza, o cosmos, a parte genética e biológica dos seres, nosso corpo, emoções, pensamentos e tudo o
mais que seria impossível aqui enumerar.Então concluo que dedica-se, sem dar-se conta, a entender e explicar  Deus em sua face manifesta, mesmo quando esta não  é vista ( como ,por exemplo, os pensamentos )mas que enfim se expressa, podendo ser observada e analisada, utilizando instrumentos ou observações de comportamentos para chegar a comprovações. Já a busca espiritualista volta-se a Deus imanifesto. Sua face imanifesta não representa espaços  onde fenômenos materiais  ou vitais expressam-se. Sua busca é uma interiorização voluntária e pessoal. Se a busca é bem sucedida, encontra-se o que poderíamos chamar de uma consciência interna, que nada tem em comum com os estados patológicos,  mentais em desequilíbrio, encontrados pelos analistas da Psicologia. É ,ao contrário, uma consciência que nos dá muita paz, nos facilita um intercâmbio mais equilibrado, mais harmonioso com o mundo externo. Eu não saberia explicar o que seja esta consciência ,  mas apenas senti-la. Aliás, este sentir não deixa lugar para explicações ,  porque silencia pensamentos emocionais e raciocínios.É muito forte, é apenas isto : Um sentir. A busca espiritualista para encontrar esta consciência de paz, não usa como recursos instrumentos ou observações mas pode sim, ser facilitada através de meditações e contemplações ao belo como a música, nuances de cores etc. É no silêncio, na contemplação que acalma a mente que esta face imanifesta de Deus surge. Estava aqui referindo-me a interiorização para a qual a busca espiritualista nos leva e não à crenças, em sua maioria supersticiosas e fantasiosas a que os membros  de muitas religiões e seitas estão sujeitos.


Qual das “duas faces” a científica (manifesta) ou a espiritualista (imanifesta) é a ti a mais importante?

R_ As duas são igualmente importantes. Creio numa força única, absoluta, que inclui tudo. Se fosse dizer que ela exclui,  minimiza algo, que existe algo fora de Deus , Ele deixaria de ser para mim o Absoluto.

- O que achas enfim do trabalho científico?

R_ Qualifico-o como uma tarefa sagrada porque, de acordo ao meu pensar, ela envolve um aspecto de Deus (tudo o que se refere a esta força incognoscível que move o universo, está ante os meus olhos   sacralizado) È sobretudo um trabalho imprescindível ao nosso evoluir,porém ainda incompleto pelo tanto que sempre tem à frente à pesquisar. Muitos contudo acham a Ciência ainda frustrante pois não respondeu as questões existenciais que nos  fazemos , como: De onde viemos? Por que estamos aqui? Para que vivemos? Para onde vamos? Porque afinal se costuma achar que cabe à Ciência responde-las.  Mesmo algumas afirmativas filosóficas que tentam silenciar tais indagações dizendo taxativamente: “Não existe um início, não há um porque, não há finalidade no existir”, elas não conseguiram calar tais questões essenciais. No íntimo de muitos homens elas permanecem teimosas. No entanto, não creio que cabe ao cientista nem tampouco ao espiritualista desvendar tais questões existenciais.

     Qual o caminho que em tua visão, nos tornaria capazes de desvendá-las?

R: –Aquele que nos levasse á Unidade. Isto é, aquele onde buscássemos a face manifesta de Deus através da Ciência mas ao mesmo tempo buscássemos sua face imanifesta pela experiência espiritual. Só trabalhando suas duas faces concomitantemente venceríamos esta dualidade que nos biparte, encontraríamos a nossa unidade individual, única, que tal como Deus é, nós, afinal, também somos.

5 comentários:

  1. Amei! Traduz exatamente o que ¨sinto¨ e porque sinto, compreendo!

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    1. Obrigado por suas palavras e desculpe pela demora em responder, seja bem vindo ao meu blog!

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  2. Parabéns a autora. O homem precisa manifestar o Amor incondicional. Deus é Amor, é Vida, é Sabedoria é o Todo de Tudo. Tudo está em Deus. Vivemos dentro da Mente de Deus, todos os planos físicos e imateriais são sustentados pela Vida de Deus. Deus é a Fonte da Luz e somos todos luzes que vêem desta Fonte.
    Muito obrigado!
    fabiogomes@gmail.com

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    1. Desculpe a demora em responder, somente agora li o seu lindo texto! Seja sempre bem vindo!

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