Entre as muitas tentativas de neutralizar a
força do patriarcado que oprimia a mulher, os nagôs nos dão o mito de Yewa , a
lua.
Quando da criação do mundo pelos orixás,
ela foi uma das poucas deusas que permaneceram no paradisíaco céu de Olurum. No
entanto, quando soube que o adivinho Orumilá era um dos principais defensores
da supremacia masculina, resolveu descer ao mundo dos homens para vingar-se
dele.
As duas faces de Yewa. |
Era muito bela. Mesmo Omulú, orixá que
jamais levantava o rosto do chão, porque o tinha mutilado pela lepra e que por
isto nunca vira no alto o firmamento, Yewa brilhando radiosa entre as
estrelas, apaixonou-se por ela, somente a vendo refletida numa poça de água.
A beleza desta deusa era tanta que apenas o
seu reflexo já deixava os homens românticos e enamorados. Disso ela iria se
aproveitar para seduzir e castigar o adivinho Orumilá.
Yewa era a deusa que mais manifestava a
dualidade do caráter feminino. Ocultava sempre uma face. Se por um lado era
doce, maternal, sedutora, por outro sabia ser de uma sutileza maliciosa e
cruel. Então, quando desceu à terra, sua
manifestação física tinha como ela duas faces. À noite, Yewa era a deusa da
beleza irresistível, mas durante o dia apresentava-se como uma bruxa horrível e
peçonhenta.
Quando seduziu Orumilá levou-o à uma cabana
na floresta onde ele, isolado, ficou à sua mercê. À noite, entregava-se
apaixonadamente a todos os prazeres que o belo corpo da deusa lhe dava. Porém,
quando prostrava-se dormindo saciado, ela, que começava a mostrar seu outro
lado, envolvia-o em ervas mágicas que o deixavam durante todo o dia adormecido,
afastado de suas prestigiadas tarefas adivinhatórias. Orumilá permaneceu durante
tempos tal como Yewa desejava. Absolutamente apenas submisso a ela.
Brilho lunar, um reflexo do poder solar. |
Contudo, conta o mito, que Exú e quem nada
se esconde pois tem o dom da ambivalência, viu a situação crítica de Orumilá e
foi em seu socorro. Quando, numa manhã Yewa deixou Orumilá adormecido na cabana
e saiu até as margens de um rio, já então em sua diabólica aparência de bruxa,
Exu acordou Orumilá e levou-o até ela para mostrar-lhe sua outra face.
O mito se encerra quando Orumilá, em
desespero, a mata. Yewa retorna então ao céu como a lua que é. Porém, seu
projeto de acabar com a opressão patriarcal frustrou-se. Yewa tornou-se um astro
morto pois Orumilá a matara. Ficou na dependência do poder masculino do sol
para ter brilho. Só com o seu auxílio, sua face de beleza pode inspirar sonhos
de amor nos poetas e nos namorados. È também obrigada a esconder sempre, para
quem está no mundo, o seu lado feio, colocando uma véu negro sobre ela.
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