Na
Índia antiga havia uma princesa, filha de um rei, chamado Savitri. Quando ela
chegou à idade de casar-se, seu pai, como era de costume, mandou que ela
escolhesse um marido. A carruagem real, acompanhada de uma magnífica escolta,
foi pelas estradas para Savitri visitar as cortes vizinhas. Porém, em nenhum dos reinos ela encontrou um
príncipe que lhe agradasse.
Aconteceu que a comitiva passou por um bosque.
Ali, sábios místicos e homens desgostosos com o mundo, se
refugiavam,entregando-se a meditações e exercícios espirituais. Ali morava também
um velho rei cego que fora destronado e fugira para aquela ermida com a
família. Tinha um único filho de nome Satyavam.
No país, era hábito que qualquer pessoa que passasse
perto de um bosque – ermida onde vivessem sábios parasse para lhes render
homenagens, tal era o respeito que até os nobres tinham aos nobres. Assim, a
caravana de Savitri, parou , entrou no bosque, ela viu o filho do rei cego destronado
e se apaixonou por ele.
O voltar á sua corte, o pai perguntou-lhe se
encontrara algum príncipe digno dela. Ela disse que sim, mas que ele não era
mais príncipe porque o pai dele fora destronado e morava numa cabana num
bosque.
O rei chamou
então o adivinho famoso, Narada, para fazer uma previsão para aquele possível
casamento. Narada disse que a escolha dela fora muito funesta, pois aquele
jovem Satyavam dali a um ano morreria. O rei tentou dissuadir Savitri de casar
com alguém que além de pobre, tinha vida tão curta, mas Savitri respondeu que o
seu amor era tão grande que venceria a própria morte.
Casaram-se e
Savitri foi viver na cabana do bosque, só ela sabendo o dia que Satyavam
morreria. Os três dias que antecederam a data fatal, ela passou em jejuns e
orações, escondendo a sua angústia. Ao amanhecer do dia marcado, não querendo
nem por um instante deixar seu amado sozinho, ela foi com ele para o campo
colher raízes e frutos. Quando estavam lá, Satyavam queixou-se que sentia o se
corpo enfraquecer-se, as suas forças se esvaírem. Pediu que se sentassem ao
chão, pôs a cabeça no colo dela e em poucos instantes, morreu.
Abraçada ao
corpo dele, ela ficou ali esperando que os emissários do deus da morte Iama
chegassem para levar a sua alma. Ao chegarem, nenhum dos emissários, porém,
conseguiu acercar-se do local onde os dois amantes estavam. Em roda do lugar
onde ela se sentara com ele ao colo, ardia um círculo de fogo que ninguém podia
passar.Era como um anel de ouro que isolava os dois.
Os
emissários da morte voltaram ao deus Iama da morte e lhe explicaram que era
impossível tocar na alma daquele jovem porque para passar o círculo de fogo se
queimariam. O deus foi então pessoalmente ao bosque e como era um deus pode
atravessar o círculo e falar com Savitre.
Filha
entrega-me esta alma. Sabes bem que a morte é apenas uma etapa no caminho dos
mortais.
Savitri
entregou-lhe a alma de Satyavam, mas quando o deus tinha dado apenas alguns passos,
ouviu atrás de si sobre as folhas secas, os passos de Savitri.
Filha -disse
o senhor da morte- porque me segues? Não sabes que a morte é o destino dos
homens?
Sei
–respondeu ela- mas sei também que o destino da mulher é ir aonde o seu amor a
leva.
O deus da
morte disse-lhe então: _ Pede-me qualquer graça, menos a vida do teu marido.
Então, por
favor -pediu Savitri- devolvas a vista do meu sogro que ele não seja mais cego.
Neste
momento teu pedido foi atendido, teu sogro está curado.
E, o deus da
morte da morte foi embora com a alma de Satyavam, mas novamente ouviu passos e
viu que Savitri ainda o seguia.
Por favor, Savitri, ainda me segues?
Eu nada posso fazer-disse ela- Embora eu me
esforce para voltar, a minha mente corre atrás de meu
marido, e o meu corpo obedece a minha mente. Tu estás com a alma de. Tu estás
com a alma de Satyavam e como a alma dele
é um complemento da minha, aonde a dele vai, a minha vai também.
Savitri, A tua dor é uma dor sem esperança.
Dou-te outra graça, menos a alma de Satyavam.
Bem -pediu Savitri- se queres mesmo me dar
outra graça, faz com que o meu sogro recupere o seu reino que perdeu, com todas
as suas as suas riquezas.
Tudo agora já está te concedido. Agora volta filha, pois nenhum ser vivente,
jovem como tu, deve andar ao lado do deus da morte.
Como, porém Savitri persistiu em
acompanhá-lo, ele lhe perguntou:_ Supõe Savitri, que o teu marido tivesse
muitos pecados a resgatar e que eu o estivesse levando para o inferno. Gostarias
assim mesmo de segui-lo?
Eu o
seguiria alegre -respondeu ela- pois o céu é um inferno para mim sem Satyavam e
o inferno é um céu para mim ao lado dele.
Tuas palavras me comovem Savitri, mas pela
última vez, vai embora porque não te darei a alma de teu marido.
Porém, o deus olhou-a com piedade e lhe disse:_
Sem me pedires a alma dele, pede-me outra qualquer graça que eu te atenderei.
Bem, se me permites desejar, quero ver
preservado o reino que acabastes de dar novamente ao meu sogro, que a sua nobre
dinastia tenha continuidade.
O deus da morte sorriu da sua artimanha feminina, pois ela sabia que sendo Satyavam filho único, só através de seus filhos o reino do velho rei poderia ser preservado e afinal ele, o deus da morte, lhe prometera “qualquer coisa” Compreendeu que desde o primeiro pedido ela quisera chegar a isto.
Ó filha - disse vencido - Toma a alma de
teu marido, leva-a contigo. Ele voltará a viver e será o pai de teus filhos e
com o tempo herdarão o reino de teu sogro. Pela primeira vez vi um amor
triunfar sobre a morte! Nunca vi uma mulher amar tanto! Savitri, nem mesmo eu o
senhor da morte, nada posso fazer contra a força de um amor tão imenso!
O deus da morte afastou-se e no colo de
Savitri o rapaz começa a ressuscitar.
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