domingo, 27 de dezembro de 2020

Templários

 

   Estava-se no século XII, época das Cruzadas e todo o sentimento religioso medieval tinha como meta fazer uma peregrinação à Terra Santa, à Jerusalém, para ir lutar contra os muçulmanos que ali habitavam.

   Nove cavaleiros franceses resolveram ir lá lutar em favor dos peregrinos. Tão bem se conduziram que em 1128, no Concílio cristão da cidade francesa de Troyes, a Ordem que desejavam criar, foi reconhecida oficialmente. São Bernardo de Claraval, um abade francês, participou do Concílio e delineou a regra monástica que guiaria os cavaleiros do Templo. Tornou-se patrono da Ordem e ficou depois conhecido como “O santo Templário”.

   O rei de Jerusalém, Balduíno II em 1131 lhes concedeu a igreja do rochedo para a construção do seu primeiro convento. Tal igreja situava-se junto ao templo de Salomão de onde lhes veio o nome ”Templários”.

   A Ordem foi criada dentro das mais estritas regras cristãs e seus membros faziam votos de castidade e pobreza. Vestiam-se de branco com uma cruz vermelha sobre o peito. Chamavam-se também “Os pobres Cavaleiros do Cristo”.

   Sua missão principal era a proteção dos peregrinos que visitavam os lugares santos do Cristianismo e zelar por sua segurança em sua travessia entre o porto de Acre e Jerusalém.

   Após anos na Terra Santa, retornaram à Europa. Com o tempo, tornaram-se uma grande potência econômica só suplantada pela riqueza da Igreja. Como o conseguiram? Haviam se tornado mestres em usar letras de câmbio. Procediam assim: Quando um peregrino desejava ir à Jerusalém, entrava em contato com os Templários. Estes lhe forneciam a quantia que necessitavam para o seu gasto na viagem. Porém, os viajantes não a poderiam levar em mãos com receio de serem roubados por assaltantes na estrada. Então a deixavam numa casa templária. Iam então, à medida que caminhavam, passando de uma casa a outra e em troca de um documento, a letra de câmbio, pegando o dinheiro que iam necessitando, pouco a pouco, até chegarem à Jerusalém, a troco de um juro conveniente, bem baixo.

   Como os Templários faziam votos de pobreza, nada deste lucro ficava para qualquer membro, mas tinha como destino os cofres da Ordem. Acrescentava-se a isso que cada vez que um novo membro entrava para a Ordem, lhe legava todos os bens que possuísse. Assim, com o passar do tempo enriqueceram e passaram até a emprestar quantias à reis e senhores feudais.

Traziam de Jerusalém a fama de serem honestos, puros e fiéis defensores das crenças cristãs. Haviam construído na Síria e na Palestina fortalezas de proteção à peregrinos e em lugares que eram tão sagrados para o Cristianismo como para judeus e maometanos.

   Comprar territórios na Península Ibérica, em Portugal e Espanha, foi a meta dos Templários ao voltarem a Europa. Aparentemente, isso era apenas uma busca de mais poder econômico, devido a relacionamentos que haviam feito com judeus e que a península habitada por muitos judeus agiotas lhes seria propícia. Mas, teria sido apenas isto?       Verificaremos que esta razão seria apenas uma maneira de tirar os olhos da Igreja de seus verdadeiros propósitos, pois a verdadeira meta deles era buscar conhecimentos esotéricos que os haviam atraído no relacionamento com maometanos (sabe-se que os Templários mantinham contato com movimentos esotéricos do Islã e também com cabalistas judaicos) Lembremos que um ressurgir da Cabala estava então acontecendo, na época, no Ocidente) “Figura entre as orações templárias nada menos que a Fatiha, oração muçulmana que abre o Corão” - dizem os historiadores -.

   Na verdade, veremos que a presença templária no Ocidente, após sua vinda do Oriente, não foi apenas um acontecimento religioso, em nível de religião oficial, mas uma verdadeira expansão de um autêntico esoterismo.

   Por que procuram a Península Ibérica? Na verdade iam tomando territórios, construindo residências e conventos nas proximidades de locais onde se encontravam as chaves de sua busca ocultista, e eles eram muitos. Estes se localizavam afastados dos núcleos de vida comunal. Estavam sempre perto de cavernas pré-históricas, fontes sagradas, ermidas milagrosas, bosques druídicos. Enfim, sempre ligados ao secreto, que é característica do esoterismo mais iniciático. Sempre localizados perto de lugares onde aconteceram fatos milagrosos, cultos antigos, locais considerados bruxescos ou mágicos contando com fenômenos inexplicáveis.

   Alguns exemplos: Ao norte da ermida de Eunates no Caminho de Santiago aconteceram as famosas perseguições às bruxas de Zagarramurdi. Em Portugal, os monges guerreiros se estabeleceram em Tomar e Leiria, próximo ao lugar mágico aonde séculos depois iriam se produzir as aparições milagrosas de Fátima .A península está cheia de locais onde se instalaram os místicos muçulmanos, Sufis. Em Navarra, Espanha, há estabelecimentos dos templários em todo o Caminho de Compostela, precisamente nas proximidades de aglomerações megalíticas (menires) que mantinham uma tradição satânica ou de bruxaria.

   São Miguel foi a grande devoção templária e a Ele dedicaram na Península mais igrejas que a qualquer outro anjo. Mas lembremos de que o Arcanjo Miguel substituiu no Cristianismo o deus Lug, a maior devoção do antigo paganismo daquela região.  Também na proximidade de Lourdes, grande centros de comarcas templárias foram erguidas.

   Os cavaleiros guerreiros haviam voltado de Jerusalém sábios em astronomia, criptografia, teologia e técnicas secretas de construções cujas medidas eram baseadas em projeções cósmicas e alquímicas destinadas a receber energias dos planos superiores.

O estabelecimento templário de Torres Del Rio fica muito perto de Borgota em Navarra, Espanha, onde aconteceu um fenômeno de teletransporte onde um pároco da povoação se deslocava dali à Roma em uma noite e voltava com notícias, o que originou uma processo rumoroso da Inquisição por bruxaria.

 Nos inúmeros bailaidos, reunião de comarcas templárias e mosteiros construídos na Península (só no reino de Castela possuíam doze conventos e vinte e quatro bailaidos) os cavaleiros deixaram os vestígios de seus símbolos esotéricos. Como exemplo temos o número oito, símbolo do infinito e da ressurreição. Assim, o vemos na ermida de Eunates e na igreja de Torres Del Rio ambas construídas em forma octogonal. Os seguidores do ocultismo sempre usaram os números como magia. A citada Eunates seguia a estrutura arquitetônica da mesquita da Roca (templo muçulmano) situada junto ao templo de Salomão na Palestina.

   Também na mesma Eunates, na porta de entrada de sua ermida, temos duas cabeças de pedra, sendo dois rostos cuja barba oculta a boca. Bem sabemos que bocas tampadas simbolizam segredos mantidos, peculiares aos segredos esotéricos escondidos aos não iniciados. Em suas edificações muito se encontra o símbolo alquímico da estrela de cinco pontas, do Pentagrama que o esoterismo vê como a trajetória da nossa evolução. Desde o nosso surgir no Absoluto Deus, nossa origem; depois nossa forma embrionária; nossas emoções; nossa mente; nossa” descida ao inferno para a purificação e por fim nossa volta à origem.

   Os Templários usavam também a chamada Geografia Oculta, sagrada. Se sobrevoarmos algumas construções próximas templárias da Espanha, mormente no Caminho de Santiago, poderemos, ligando-as com linhas imaginárias, traçar sobre elas Pentagramas, estrelas, cruzes. Tudo isto, para aquela Ordem, continha recados esotéricos. Viajar pela rota de Santiago é descobrir seus grandes símbolos ocultistas.

Muitas dúvidas e incertezas cercam a história templária. Uma delas é: Teriam estes cavaleiros contribuído monetariamente ou mesmo operativamente nas catedrais góticas? A Maçonaria toma para si a feitura de suas edificações.

   Qualquer uma das duas organizações seriam aptas a fazê-lo. Os Templários teriam fortuna suficiente para financia-las e teriam trazido do Oriente ideias de estilos de arcos inovadores na arquitetura ocidental. Teriam no abade Suger um grande mestre obreiro. Este era amigo íntimo de Bernardo de Claraval o grande protetor e patrono da Ordem, além de ter sido o arquiteto que construiu o primeiro templo gótico: a abadia de St. Denis na França. Bem sabemos que liderados por Bernardo de Claraval os monges cistercienses construíram seus mosteiros com características próprias ao estilo gótico.

   Já a Maçonaria tem como principal devoção a Arquitetura, chamando até o Ser Supremo de “O Arquiteto do Universo” e tendo como principais símbolos o esquadro e o compasso, além de seu próprio nome “Maçonaria”, que vem de um termo francês que designa “obreiro”. Mais plausível seria optarmos por um trabalho feito em conjunto, pois os Templários, na época, ligavam-se a muitos membros maçônicos atraídos pelos grandes conhecimentos esotéricos que estes possuíam.

   Assim, os cavaleiros usariam nelas sua fortuna e levariam para dentro das Góticas (verdadeiras bíblias de pedra) a sua paixão por usar símbolos e a Maçonaria estravasaria nelas a sua paixão pelo trabalho operativo arquitetônico.

   Duas boas razões tinha Felipe, o Belo, rei da França, para perseguir os Templários, julgá-los e extinguir a Ordem em parceria com a Igreja. Havia ele pedido um ingresso como membro da Ordem. Porém, existiam as rigorosas leis desta, que requeria que todos os seus membros exercessem a castidade e outras tantas regras de igual dificuldade.

   O rei não era um homem casto nem de comportamentos e hábitos simples, puros. Então como tal, foi recusado, o que muito o humilhou. Também havia pedido à Ordem uma vultuosa quantia e não tinha como pagá-la. Recorreu então à Igreja para que esta o auxiliasse a eliminá-la tendo como motivo aquilo que a Igreja não poderia concordar: Seus estudos e práticas esotéricas. Foi buscá-las e naturalmente as encontrou. Assim, elaborou um julgamento fraudulento, injusto e injurioso onde se serviu de ritos e costumes dos Templários.

   Um deles baseava-se no próprio símbolo principal da Ordem: Dois cavaleiros cavalgando juntos num mesmo cavalo. Sua acusação foi imputà-los de homossexualismo e Sodomia. Ora, sabemos nós esotéricos que tal símbolo baseia-se num dos princípios da Cabala judaica que apregoa que para melhor assimilarmos seus ensinamentos (que afinal era a meta dos Templários) o ideal é que estudemos em parceria com alguém mais, que esteja buscando entende-la e segui-la.

   Outra acusação foi quanto ao rito de entrada na Ordem. Rito novamente baseado na Cabala. Observamos que as 3 principais Sephiroth  do Caminho  da Flecha da Arvore cabalística são: Kether, Tifareth e Yesod. Assim, ao entrar na Ordem o pretendente a ela, como sinal de respeito a estas três emanações divinas, que colocadas sobre o corpo humano correspondem respectivamente à cabeça, ao coração e a área sexual, deveria dar um beijo a um companheiro desnudo na sua cabeça, no seu coração e nas proximidades de seu sexo. Este rito também foi entendido como uma prática de Sodomia e grande depravação.

   Assim, como estas provas, várias outras sobre intercâmbios com o esoterismo dos Sufis islâmicos e com os judeus cabalísticos foram mostradas no julgamento.

   Por fim, a perseguição do papa Clemente V teve início e vários membros da Ordem foram torturados (alguns até aceitando como verídicas certas acusações descabidas por não aguentarem as torturas) Depois, a maioria foi queimada publicamente.

   Em 1314 seu muito amado grão–mestre Jacques De Molay  foi  também queimado perto da catedral  Notre-Dame em Paris.

   Quando a Ordem foi extinta, todos os seus bens confiscados passaram a constituir patrimônio real e foram também dado a nobres, que por seu turno procuraram apagar toda a influência cultural e espiritual que os frades templários tiveram na época medieval.

   Foi então criada em Portugal uma outra Ordem guerreira, a “Ordem de Cristo” que foi depois a fundadora da Escola de Navegação de Sagres, fomentadora das grandes navegações pelo Atlântico. Nela, foram se refugiar alguns Templários sobreviventes da chacina.

   Atualmente, existe a Ordem dos Cavaleiros Templários cuja entrada  é restrita aos Maçons já iniciados do Rito de York. Compõem uma das ordens maçônicas. Hoje, no País de Gales e na Inglaterra a Maçonaria afirma possuir mais de 30.000 membros destes Templários.

   Os poderes estatais e religiosos da Idade Medieval aniquilaram a Ordem. Porém, o seu desejo de um saber mais superior e espiritual ficou como sua marca principal. Esta organização tem gerado obras de ficção popular como “O Pêndulo de Faucault “, “Ivanhoé”, ”O Código Da Vinci” e a belíssima “Trilogia do Templo”. Também filmes como “Indiana Jones”, “A Ultima Cruzada” e “A Lenda do Tesouro Perdido”.