domingo, 29 de julho de 2018

Três Iniciados


Apolônio de Tiana

     Célebre iniciado, filósofo e professor neo pitagórico nascido na Capadócia no ano dois antes de Cristo, morto em Éfeso, quando a cidade de Tiana era integrante do Império Romano. Foi iniciado no templo de Esculápio, onde além da medicina, se dedicou às doutrinas pitagóricas, tendo adotado então o ascetismo como hábito de vida. Alimentava-se apenas de frutas e legumes, andava descalço.

     
Manteve então um juramento de fazer silêncio durante cinco anos. Depois desta ascese, partiu da Grécia, visitou a Babilônia e a Índia absorvendo o misticismo oriental dos Brâmanes. Lá, foi recebido e participava em seus cultos já como um grande sábio. Sua vida é repleta de milagres descritos por seu discípulo mais importante, Damis. Previa o futuro, curava enfermos.
     Quando ainda em Éfeso, previu e acertou na vinda de uma grande epidemia de peste que assolaria a cidade, o que lhe aumentou muito o prestígio. Viajou pela Espanha e Itália, tendo nesta restituído a vida do filho de um senador romano. Faleceu com 100 anos numa vida de muita compaixão. Afirmava sempre aos políticos: Se você deseja governar, abstenha-se do sangue dos inocentes! Seja misericordioso!
   Sua fama continuou grande até aproximadamente 272 D.c. Muitos comparam a sua personalidade à de Jesus. Sua mensagem não teve, porém a mesma sorte do Cristianismo, pois este, no quarto século depois de Cristo, conseguiu que Constantino, imperador do império Romano, o tornasse a religião oficial do Estado, criando assim o alicerce de onde cresceria o grandioso movimento do Cristianismo, magnífica religião atual.
    A única grande obra que temos sobre Apolônio, nos veio do famoso escritor ateniense Flavio Filóstrato. Um escrito romanceado intitulado “A vida de Apolônio”. Nela, Filóstrato afirma que, assim como Jesus, Apolônio também nasceu de uma virgem.
    O Espiritismo o vê como um dos grandes exemplos de Médium dos tempos antigos. Num episódio, um governador seria linchado em meio a uma grande feira, por uma multidão enfurecida, acusado de um crime que não cometera. Apolônio (então em período de silêncio) apenas ergueu os braços e a sua figura de asceta e a majestade de seu porte tranquilizou o povo e salvou o governador. O Espiritismo atribuiu seus muitos milagres a uma poderosa mediunidade. A doutrina de Apolônio seguiu sempre os pensamentos doutrinários de Pitágoras. Foi ele um de seus maiores difusores.

Pitágoras

   Nasceu em Samos na Ásia Menor (então chamada de Grécia Asiática). Sua mãe foi ao templo de Delfos fazer a costumeira consulta aos nascituros pela Pitonisa. A Pítia, sentada num banquinho sobre uma fenda aberta no chão de uma caverna, aspirava os vapores de folhas de louro queimadas, entrava em transes dos quais lhes vinham as respostas. Eram então chamadas de “Sacerdotisas de Apolo”, pois segundo a crença geral, era este deus que as inspirava.
   Na consulta da mãe de Pitágoras, lhe foi dito que seu filho seria útil para todos os homens em todos os tempos. Como rapaz, foi estudar no famoso templo de Mênfis no Egito e ali iniciou-se durante longos vinte e dois anos. Passou pelos medos e êxtases das iniciações de Isis, depois fez a iniciação da catalepsia (morte aparente) e a ressurreição ofuscante de Ozires. Dedicou-se ao principal culto egípcio, aquele do sol em Heliópolis.


   Quando Cambises, rei persa, invadiu o Egito, saqueou os templos de Mênfis e Tebas e destruiu o de Amon em Carnac. Pitágoras assistiu ainda o faraó Psamético ser arrastado a ferros e foi ele próprio exilado para a Babilônia. Lá, Pitágoras encontrou uma babel de línguas e três grandes religiões: A dos antigos Caldeus, o magismo dos Persas e o Judaísmo dos sobreviventes do cativeiro judeu na Babilônia.
   Isto lhe proporcionou um imenso campo de sabedoria e observações que se somaram àquelas já assimiladas no Egito.
   Após doze anos cativo ali, conseguiu voltar à Grécia, terra que sempre fora abençoada por abrigar o santuário de júpiter em Olímpia e o de Ceres em Elêusis durante os tempos homéricos. Principalmente voltava após trinta e quatro anos, ao local que tanto amava: o sagrado templo dórico de Apolo. Ali, o templo era belíssimo, porque sendo visitado por toda a Grécia, recebia oferendas muito ricas como aquelas estátuas de ouro puro que faziam fileiras em sua alameda.
   Chegando, reabilitou as reuniões das assembleias dos idosos (Anfictiões), que ali existiam desde o tempo de Orfeu, mas já estavam, porém em decadência. Fez ressurgir o templo ao seu antigo prestígio com suas maravilhosas instruções e palestras. Após ter instruído sacerdotes, dedicou-se a preparação de sua mais capacitada discípula, Teocléa, em sua doutrina esotérica e idealista. Deixou-a depois encarregada da continuidade de seu trabalho e foi para a Itália, para a cidade de Crotona.
   Em Crotona, mostrou a sua fascinante personalidade. Chegou pelo fascínio com que pregava ser chamado pelas mulheres de “Júpiter” e pelos homens de “O Apolo Hiperbóreo”.
   Sua sedução era tão forte que o Senado de Crotona o convocou para explicar e justificar os meios magos que ele usava para atrair tanto o espírito das pessoas.
   Criou em Crotona uma Ordem, com uma sessão para mulheres onde lhes proporcionava uma iniciação paralela à dos homens. Em pouco tempo erguia-se na cidade um edifício com jardins. Os crotonenses chamavam o edifício, pelo seu trabalho com mulheres, de “templo das Musas”.
O instituto pitagórico ficou conhecido principalmente pelas suas simbologias da matemática do universo e da “música de suas esferas”. Ensinava artes, espiritualidade, filosofia e cosmogonia. Suas iniciações constituíam-se em 4 degraus: Preparação (0 noviciado); Purificação (os números, teogonia); Perfeição (evolução da alma); Epifânia (a mulher iniciada, o adepto, o casamento).
   Aos sessenta anos Pitágoras casou-se com uma discípula: Teana. Com ela teve três filhos e após a sua morte aos noventa e poucos anos Teana foi o centro do que sobreviveu da Ordem pitagórica.
   A Ordem sucumbiu à cólera e a inveja de uma cidade inimiga: Sibaris.  Aconteceu que quinhentos exilados, fugindo aos horrores em que viviam,
pediram refúgio aos crotonenses. Estes os receberam. Quando o governo de Sibaris exigiu a extradição dos refugiados, Crotona com receio de represálias ia manda-lo de volta, mas Pitágoras, homem de extrema bondade, influenciou os de Crotona para não devolver para os horrores aqueles pobres refugiados. Sibaris então mandou um exército para cercar o Instituto pitagórico e incendiá-lo. Pitágoras morreu queimado junto a mais 38 iniciados que ali estavam. Apenas dois escaparam. Há, porém versões que dizem ter Pitágoras se salvado e existem cidades que durante um tempo disputavam ser proprietários de suas cinzas.
   A Ordem depois se dispersou e as sementes de espiritualidade deixadas por este magnífico mestre espalhou-se muito na Grécia e na Sicília. O trabalho durou ainda uns 250 anos e suas ideias ainda vivem hoje. A principal obra antiga que temos de Pitágoras foi: “Timeu” de Platão.

Krishna, o Verbo Divino


   Principal figura do Hinduísmo, é o oitavo Avatar de Vishnu (o deus preservador da Trindade Hindu). Nasceu em 3228 A.c. Há mais de 5000 anos, em Mathura, norte da Índia. Nasceu sem ser fruto de união sexual, mas por uma mentalização feita pelo marido de sua mãe, Devaki, sobre o ventre dela.
   Já rapaz, tem profundo amor ao sábio Vasixta e quando este morre se recolhe durante sete anos apenas meditando e sai depois a pregar. Entre os seus muitos jovens ouvintes encontraria o seu maior discípulo: Arjuna. Este era um príncipe que teve o seu trono perdido, usurpado por seus parentes os Kurus. Arjuna era agora da tribo dos Pandavas mas também descendente do rei Kuru. Porem, não tem força suficiente para lutar pela reconquista de sua tradição familiar, do trono que perdera.
   Este será o enredo da belíssima epopeia guerreira do Bhagavad Gita (A Canção do Senhor), parte da antiga obra hindu, o Mahabharata. Ali aparecerá a personalidade divina de Krishna, os seus magníficos ensinamentos à Arjuna.
   Muitos não entendem ao lê-lo, porque Krishna, a suprema bondade, manda que Arjuna mate os seus parentes. Porém, luminares como Mahatma Gandhi e Rabindranath Tagore interpretam o Bhagavad Gita em seu sentido simbólico. Compreenderam que Arjuna é o Eu humano cujo reino da felicidade foi tirado pelo Ego e que este não tem força para reavê-lo. Seus parentes representam o orgulho, o desrespeito, a maldade, a traição. Enfim, todos os males de sua consciência que Arjuna tem que vencer. Krishna chama a atenção de seu discípulo para que ele faça sua autorrealização. Através de belos diálogos da epopeia lhe aconselha a não deixar que lhe tirem os seus poderes divinos.
   Só compreendemos o Bhagavad Gita, a luta entre Kurus e Pandavas quando entramos em seu sentido simbólico, nos lembrando sempre que os povos antigos tinham como hábito usar alegorias, parábolas e símbolos para expressarem as suas Verdades .
   Krishna, rapaz, era um sedutor tocador de flauta que apaixonava todas as pastoras. Porém Krishna é o amor impessoal que ama igualmente todas as pastoras e todos os seres. As pastoras tem que ter por ele o amor devocional por um ser superior, para com um Avatar, amor que é chamado no Hinduísmo de Bhakti. Hoje, organizações espiritualistas promovem o desenvolvimento de seus adeptos através apenas da devoção, da Bhakti, usando como um dos recursos a Bhakti Yoga. Existem muitas imagens de Krishna entre as pastoras e em companhia de vacas, o seu animal predileto, muito sagrado então na Índia.
   Krishna apaixona principalmente a pastora Rhada e a poesia indiana fala muito nesta relação muito estreita entre os dois. Também este amor é estudado alegoricamente como o simbolismo do par feminino e masculino existente em cada Ser, que em Krishna já atingiu uma complementação harmoniosamente perfeita.
   A doutrina de Krishna ensina que o homem vive uma estrutura tríplice: Satwa, Radja e Tamas. Se alcançou a total sabedoria ou um estado de deslumbramento entrou em Satwa. Se está ainda indeciso passando de um conceito a outro, da matéria à espiritualidade vive o círculo vicioso de Radja. Se abandonou-se completamente aos seus instintos está em Tamas, a ignorância total. Porém, dizia que a consciência da Unidade é o que supera tudo, até mesmo a sabedoria.
   Segundo as escrituras, a morte de Krishna se deu em 3102 a.C. e marca o fim da” Idade de bronze”, o Divapara Yuga e iniciou a “Idade do ferro”, o Kali Yuga , a 4° e última de um Kalpa (ciclo evolutivo) que dará início a uma nova “Idade de Ouro”. O Kali é a idade das trevas, da degradação, esta em que estamos.
   Tal como afirmou Krishna para seu discípulo Arjuna no Bhagavad Gita, todas as vezes que o homem decai, entra em necessidade espiritual, Ele, como o Avatar da preservação das leis perfeitas de Brahma, toma forma humana para vir auxilia-lo.
  Em 1966 foi fundado em Nova York o movimento do Hare Krishna que possui hoje uma quantidade imensa de seguidores no Ocidente, identificados pelo mantra, que emitem cantando repetidamente. Tal Movimento está baseado no Hare Krishna  das escrituras védicas dos tempos arcaicos da Índia.

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