Hallowen é uma palavra inglesa
que significa “algo consagrado”. Designa um dia em que com festividades e
alegrias amenizamos o terror da morte que a nossa cultura cristã nos legou.
Dia 31 de outubro nas Américas e Europa
homens, mulheres e crianças vestem-se de roupas negras e fazem brincadeiras
transvestidos de esqueletos, satirizando estes terrores, emprestando
naturalidade à morte.
Como exemplo de um povo da América que muito
festeja este dia, temos o mexicano.
No Hallowen, seu país inteiro para. Todas
as atenções deverão se voltar aos que faleceram, mas sem perder a faceta de
alegria, pois é a data em que - segundo creem - os mortos queridos estão entre
nós e que devemos lembrar com júbilo tudo o que fizeram de bom.
Abóboras que no Hallowen iluminavam os campos. |
Padarias e confeitarias trabalham incessantemente
preparando pães, doces e biscoitos, em formatos que lembram símbolos da morte
como foices, caveiras etc, pois irão entrar em concursos para disputar os mais
belos e gostosos. Esculturas com esqueletos vestidos com roupas luxuosas são
exibidas em vitrines e nichos. Em muitas aldeias, na frente da porta das casas,
são colocadas mesas com guloseimas que os falecidos da família mais apreciavam.
Querem assim atraí-los a vir compartilhar aquela refeição com seus
familiares. Cemitérios se iluminam com
tochas acesas coloridas espantando assim qualquer resquício de tristeza que ali
estiver. O sentido é tornar alegre o local onde os mortos descansam.
Tais comemorações jogam nossa lembrança aos
povos da Antiguidade que mais os cultuavam neste dia.
No Egito, nos templos de Osires acontecia o
quarto dia das celebrações de Isia com procissões e oferendas à ressurreição do
grande deus. Na antiga Suméria, reverenciava-se Ereshkigal, senhora do mundo subterrâneo
que, tal como o Caronte grego, era também a condutora da barcaças que levavam
as almas a seu reino dos mortos. Neste dia, Ereshkigal facilitava aos homens
que a cultuavam, acharem as riquezas de seu subsolo, como pedras preciosas e
metais valiosos. Então, esperançados, seus fieis cavavam a terra para achá-los.
Na Grécia as celebrações eram naturalmente dedicadas
à Perséfone, esposa do deus da morte Hades. Aos participantes eram oferecidas
romãs, símbolo do ciclo de ida e volta de Perséfone aos reinos do solo e
subsolo. Também Hécate era ali chamada neste dia pois, como guardiã dos
caminhos que era, conduzia os mortos a vir ajudar bruxas e feiticeiras que
desejavam ver aumentados por eles os conhecimentos que já tinham sobre o mundo
do Além.
Mesa de oferenda aos mortos no México. |
Porém, o povo antigo que mais cultuou o 31
de outubro foi, sem dúvida, o Celta com sua noite do Samhain, quando acontecia
o mais famoso de seus festivais. Contavam ali com as energias da “Senhora da
Noite” a deusa Caillech que sempre rompia males acumulados e lhes prometia o mais
importante: O intercâmbio com os seus entes falecidos.
Esta era a única noite no ano que os Celtas
levantavam as sombras que separam o mundo dos vivos do” Pais de Verão”, local
que -segundo acreditavam- as almas aguardavam novas encarnações. Seus
caminhos para vir fazer anuais visitas, eram iluminados por tochas, fogueiras e
luzes protegidas dentro de abóboras ocas. A visão de um campo clareado por
abóboras acesas, certamente – pensavam - evitava que os habitantes do “Pais de
Verão” se perdessem.
Aproveitava-se a oportunidade para que
oráculos, tais como Runas, reflexos em bacias com água etc, fossem feitos, na
certeza de que as inspirações recebidas dos mortos e a sabedoria da deusa Anciã
lhes dariam a resposta certa. Esta era a noite da grande prática oracular na
Europa Celta. Hoje a tradição druida ainda a usa, numa preservação deste mito.
Esta noite marcava o Ano Novo dos Celtas
Estes faziam também neste período outonal o último dos festivais da colheita,
onde tudo era alegria, para depois vir a semeadura, quando os grãos baixariam às profundezas da terra. Tudo
isto coincidindo com as festividades de reencontro com os mortos, de maneira
que almas e natureza voltassem depois juntas ao grande período invernal da
hibernação.
Menina mexicana no "Dia de Los Muertos", no México. |
O Hallowen nascido no Hemisfério Norte,
quando o 31 de Outubro é o Outono que precede o Inverno, estendeu-se ao nosso
Hemisfério Sul. Então pela oposição das nossas estações do ano, aqui, não o
relacionamos tanto à natureza, como o faziam os povos antigos europeus. Nossa ligação ao Hallowen refere-se especificamente
aos mortos, que por nossa cultura cristã são homenageados nesta época.
Nossa Igreja quando aproveitou a grande
força devocional que esta noite suscitava em povos antigos e colocou o dia do
mortos nas proximidades deste seu festival, por certo, com o tempo, se redimiu
de erros, conseguindo trazer a nós, seus fieis, a grande compreensão que as
sociedades arcaicas tinham do rompimento entre vivos e mortos, a naturalidade
com que viam o processo de morrer-se.
Hoje, quando nossas crianças brincam
alegremente na noite do Hallowen com símbolos da morte, certamente estarão
vencendo os medos que por uma educação errônea, nós cristãos, lhes estávamos
transmitindo.
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