segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

A Filosofia Simbólica dos Números


   Como iniciador da Escola de Crotona, uma das tantas Escolas de Mistérios Iniciáticos da Antiguidade, Pitágoras dedicou-se também à filosofia dos números. Ensinava a seus alunos que os números revelavam a criação do universo manifestado e a trajetória evolutiva do homem, desde sua origem até um futuro retorno a ela. É sobre o seu pensamento não como matemático, mas como filósofo iniciador que elaboro este trabalho.

Uróburo
 
 
   Os números de zero a dez, sozinhos ou diversificados pelo jogo de adições, subtrações, multiplicações ou divisões nos mostrariam as leis da Criação. Desde a Criação todas as coisas e todos os seres fariam enumeráveis evoluções, mudanças de consciências e depois de tudo se aproximariam novamente de sua origem, num retorno então já plenamente consciente e merecido. Os números poriam então diante de nós este quadro de vidas sempre renovadas que, porém, defeririam uma das outras pela multiplicidade de realizações individuais. Tais realizações estariam expressas em todas as possíveis combinações dos números.

   Todos os seres segundo ele teriam, porém isto em comum: Só voltariam à sua origem, a que ele chama de seio divino, para usufruírem o estado de felicidade, de bem aventurança (chamada depois pelos budistas de Nirvana), quando após longa trajetória de agregar suas formas e renovar suas consciências, adquirissem a plenitude da sabedoria.

   Abordo aqui um pouco deste quadro numérico:

O Zero - Representado numericamente por um círculo nos revelaria a vontade de uma de uma força inicial (a que chamamos Deus) de limitar-se a si mesmo. Para tanto, teria, numa ilustração muito simplista, criado em seu espaço ilimitado, um espaço limitado representado no círculo para que, dentro dele, manifestasse universos nos quais aconteceria a manifestação de tudo o que existe, incluindo as nossas entidades individuais que eram chamadas por Pitágoras “Mônadas”.

   O Zero é também representado simbolicamente por uma serpente que morde a própria cauda chamada de Uróburo. Uma alusão à unidades que buscariam a volta a sua origem, voltar em formas cada vez mais apuradas a uma totalidade de consciência.

   O Um - Tem como símbolo um ponto dentro de um círculo limitador. Tal ponto, como um fogo incandescente dentro do círculo limitador teria explodido como uma flor, criando as unidades individuais, tudo, todos os seres, todas as coisas microcósmicas e que conhecemos e que ainda não conhecemos. Tais unidades, embora sempre renovadas em formas e consciências, trariam em si uma essência imutável, imortal, vinda da fonte original que as criou.

Tao, composto da força do Yng e do Yang.

O Dois - Representaria uma energia magnética, um princípio que uniria força e forma (nos mitos gregos de criação seriam Urano e Geia) nomeada pelos antigos pitagóricos de “alma mundi”, origem da atração e repulsão que manteriam os mundos sustentados. Seria também um impulso que une os opostos. Em âmbito humano foi visto como o amor que tenta a harmonização entre as mônadas individuais por diversas que sejam.

   No símbolo chinês do ying e yang, vemos o número dois representado numa dualidade de feminino e masculino. Se notarmos o Ying (Lado negro, feminino) vemos dentro dele um ponto branco. Se notarmos o Yang (lado branco, masculino) veremos nele um ponto negro. Um dentro do outro, numa dependência mútua para se sentirem plenos. O número dois representa para o chinês, enfim, toda e qualquer das polaridades em que vivemos: Calor/frio, tristeza/ alegria etc.

   O Três - É um dos símbolos da Escola Pitagórica por excelência. Seu símbolo é o triângulo. Chamado às vezes de “Tríada Pitagórica” Resultado da união de 1+2 soma a nossa unidade individual monádica, mais a polaridade humana. È a constituição ternária representada em mitos tais como: Osíris, Isis e Hórus (Egito) An, Anli e Anki (Mesopotâmia), Zeus, Podeidon e Hades(Grécia), Brama, Vishnu e Shiva (Ìndia) Corresponderiam a uma trindade de matéria, alma e espírito e no caso da trindade Brama Vishnu e Shiva seria a Criação, a manutenção e a destruição, acontecendo em ciclos contínuos.

   O Quatro - É o quaternário representado por uma pirâmide triangular de 3 faces triangulares laterais e uma base também triangular que perfazem 4 triângulos. “Chamado pelos pitagóricos de” Tétrada Sagrada”, recebia deles este juramento: “Juro por aquele que grava em nossos corações a Tétrada Sagrada, imenso e puro símbolo, origem da natureza e modelo dos deuses”.

   Na natureza a Tétrada é representada na flor de lótus que nasce na terra, passa seu caule pela água, passa outro pedaço pelo ar e desabrocha sua flor ao calor do sol. Representaria então os quatro elementos da natureza; terra, água, ar, e fogo.

   O Cinco -  Tem simbolismo no pentagrama (estrela de cinco pontas). A academia de Pitágoras o usava como símbolo do homem perfeito. Porém, a Arqueologia descobriu  pentagramas em cerâmicas na Mesopotâmia e na Anatólia datados de 3.500 AC. como símbolos rituais.

   O homem perfeito - segundo Pitágoras - tem a cabeça voltada à transcendência do céu acima de si, os pés objetivamente plantados no habitat terrestre e os braços abertos abraçando os seres da humanidade. Perfaz, enfim, o desenho de uma estrela representativa da trajetória do homem até atingir a perfeição. Traçavam-na com uma linha apenas que partia do ponto 1 acima (parte espiritual), descia ao ponto 2 (forma embrionária), trazia à linha ao ponto 3 (nascimento do  emocional), trazia ao ponto 4 (nascimento do mental), descia ao ponto 5 (plano da purificação, chamado de descida ao inferno), subia ao 1 novamente (retorno à origem, ao plano espiritual). Tal desenho representava a trajetória evolutiva do homem.

Pentrama, símbolo do homem perfeito.


   Alquimistas medievais estudaram o cinco simbolizando-o num desenho representativo de um quinto elemento natural ao qual chamavam Quintessência  da matéria. Representaria um quinto elemento agindo por traz da manifestação física e no qual se acumulariam todas as desditas e enfermidades corporais, a razão do corpo degenerar-se. Purificar e dominar a energias desta quintessência seria a própria razão da busca alquímica pela chamada “Pedra Filosofal”. Buscá-la foi o sonho inglório dos alquimistas.

   O Seis -  A representação simbólica deste número é uma estrela de seis  pontas, o Selo de Salomão, símbolo judaico representativo dos três atributos que o homem recebeu em sua essência: Vontade, Sabedoria e Amor simbolizados no triângulo de vértice para cima e que terá que ser manifestado perfeitamente equilibrado a bem de evoluir no mundo físico, representado no triângulo de vértice para baixo.

   O Sete -  São inúmeras as estruturas sétuplas a serem estudadas. O artista se ligará as sete cores básicas, o musico à escala setenária dos sons, o hinduísta  as energias dos sete chacras etc. Porém, a reflexão sobre o símbolo judaico do Menorá (castiçal de 7 velas) nos faz concluir que ele representa, na realidade, uma pausa pós-criação, um repouso. Diz a Bíblia judaica; “No sétimo dia Deus descansou”. O sétimo dia seria então aquele em que a própria Criação para, faz um entreato de repouso. È comemorado no sabá  judaico. Tal entreato criativo se encontrará também no estudo hinduísta da chamada “Noite de Brama “ sendo chamado então de Ponto Laia ou do repouso.

A rida do Dharma e as oito sendas.

O Oito -  Os budistas o representam  na “Roda do Dharma”. Ela mostra as 8 sendas para se chegar ao Nirvana. Chamada também de caminho Óctuplo: Reta crença, reto pensamento, reta fala, reta ação, reta sobrevivência, reto esforço, reta atenção, reta concentração. O oito é também o símbolo da ressurreição da consciência “segundo nascimento”. As antigas pias batismais eram em forma óctupla. Momento em que era oportunizado um novo nascimento para à vida, uma ressurreição .

O Nove -   O que de melhor simboliza o nove é a Cabala judaica em sua Arvore da Vida. Um dia –nos diz a Cabala- o homem poderá afirmar; “Eu sou o poder de três vezes o três” . Teremos então já percorrido  3 triângulos, o equilíbrio físico, o ético e o espiritual.

O Dez -   É novamente Pitágoras que sacraliza um número. Ele é simbolizado no Tetraktys, ou Década Sagrada, tão importante para os pitagóricos como a cruz para os cristãos. A soma de 1+2+3+4 simboliza a origem alcançada. Símbolo da totalidade da manifestação, o retorno. Representado numa parábola cristã, seria a do “Filho Prodigo” que volta a seu lar paterno após uma jornada por busca de plenitude que por fim consegue.

Tetraktys, a década sagrada.

   A um iniciado da ordem pitagórica de Crotona era exigido buscar o conhecimento do Tetraktys, antes de começar os três anos como noviço. Sua oração perante este símbolo assim dizia ;” Abençoai-nos ó número divino que gerastes os deuses e os homens! Ó santo número que encerrais a raiz e a fonte do eterno fluxo criador!”.

   Esta divagação filosófica sobre números, inicia-se no zero, símbolo circular, no momento em que Deus (ou seja que nome alguém queira dar ao impulso criador) limita-se para criar e termina no círculo do zero, que remata o número dez. Por traz do Zero, aquém do início da Criação, esbarra-se no sublime mistério, no incognoscível, no Imanifesto.
 

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