Mosteiro dos Jerônimos em Lisboa, Portugal. |
Sobre o encontro, a alegria que senti foi
destas que não se consegue narrar, apenas vive-la intensamente.
Quanto à Ericeira, o primeiro impacto me
ocorreu por conta da total claridade e alvura de seu ambiente . Seus blocos de
construções, que não atingem mais do que quatro andares, quase todos são
pintados de branco. Apenas o amarelo e o azul de suas janelas lhe dão o
contrastante toque de cor. Surpreendeu-me seus telhados ,todos parecendo novos
como se fuligens e fumaças ,nunca os atingissem.
É verão e a natureza nos oferece a beleza de
muitas árvores de espirradeira e bougainvillias. Porém, é sobretudo o mar que
reina soberano em Ericeira. Mar límpido e transparente que traz ondas
gigantescas também alvas a se arrebentarem, levantando-se às alturas sobre
penhascos São estas ondas que fazem o encanto dos jovens que nelas treinam para
depois exibirem suas habilidades de surfistas aqui mesmo em seus torneios.
Lembrei-me prontamente de meu neto Gabriel,
que ama tanto o mar e apreciará estar também um dia sobre elas.
O Centro de Ericeira, a que chamam “Vila”,
faz o entusiasmo de qualquer turista. Nele, não faltam praças e barezinhos onde
os Ericeirenses costumam reunir-se à tardinha para “jogarem conversa fora”
entre si e tomarem seu costumeiro lanche da tarde, este um hábito generalizado
que me fez surpresa de terem ainda fome para jantarem dali a umas horas.
Aliás o item “alimentação” é digno de ser
mencionado em todo Portugal. Refeições são servidas com fartura em qualquer
restaurante (para mim foi sempre difícil comer uma porção individual
sozinha), são sempre regadas à azeite, que sempre é dos melhores.
Lembremos que Portugal é um grande plantador
de oliveiras, desde que foram introduzidas aqui pelos mouros no séc. VIII. Na
Idade média já o azeite de oliva era tão abundante que o usavam até para
iluminar cidades.
De Norte à Sul, De Trás-os-Montes até o
Algarve ,passando pelas Beiras (litoral e interior), Estremadura e Alentejo,
encontramos seus grandes plantios.
A Mitologia nos conta a respeito desta
árvore: Que a deusa Palas Atenas passou a ser uma divindade agrícola, quando
ofereceu a recém fundada cidade de Atenas a primeira oliveira. Dela, os gregos
comiam seus frutos e a deusa lhes ensinou depois a tirar deles muito óleo, com
que preparavam o alimento e iluminavam suas casas.
Plantação de oliveiras em Portugal. |
Enquanto uma parte da família foi à Lisboa ,e
por lá estavam admirando a suntuosidade do “Convento dos Jerônimos” a secular
Torre de Belém ,e o magnífico monumento aos descobrimentos, onde aparecem enaltecidos
com justiça entre mais de trinta personagens, navegadores como D. Henrique ,
Cabral, Vasco da Gama, Bartolomeu Dias, Fernando Magalhães e muitas outras
personagens do medievo português, eu e Vania fomos ao centro de Ericeira.
Lá apreciamos seu prato mais típico: o
bacalhau. Em sua maioria ele é originário da Noruega. “Porém, meu neto Daniel, que já está há muito
tempo em Portugal, e por tanto amar este país já se tornou ,como dizemos no
Brasil , um bairrista”, me afirmou que a melhor técnica de preparar o bacalhau
é mesmo a portuguesa.
Enquanto comíamos nos puseram à mesa uma
irresistível cesta de pães. Isto fez minha memória regredir à minha infância no
Rio de janeiro das décadas de trinta e quarenta. Habitado então em sua maioria
por descendentes de portugueses, a maior habilidade de seus comerciantes era,
sem dúvida, a feitura dos pães, vendidos sempre em padarias numa época em que
os super mercados inexistiam. Eram entregues também à domicílio, em cestas
cobertas por panos muito alvos.
Naturalmente
que ao chegarmos á Portugal sempre estamos ávidos por provar o seu apreciado
vinho. Afinal, vir a este país e não beber seu vinho é como ir à Roma e não ver
o Papa. Hoje regiões como o Douro, Alentejo, Setúbal, Minho e muitas outras são
grandes produtoras.
A Grécia antiga nos legou o mito de Dionísio,
o deus do vinho, que sempre é bom ser lembrado, principalmente se uma
apaixonada por Mitologia como eu o está saboreando:
Dionísio era filho bastardo de Zeus, Então,
Hera esposa de Zeus, o odiava. Quando ele se fez rapaz, ela o exilou para a
longínqua Arábia. Foi lá, que andando por uma mata, encontrou a raiz de uma plantinha
desconhecida que, ao crescer, lhe mostrou a uva. Fez dela uma bebida que o iria
tornar famoso. Por isso se diz que a uva é originária da Arábia.
Dionísio entusiasmou-se tanto com aquela
deliciosa bebida que passou a toma-la em demasia. Ela o enlouquecia, o fazia
perder a cabeça. Começou a segui-lo pessoas que comportavam-se
descontroladamente. Fez então um cortejo de Sátiros e Centauros, seres metade
homem, metade animal. Sendo ele um homem muito belo, atraia mulheres participantes
de bacanais que chamavam-se então “As bacantes”. Neste cortejo o chamavam de
“Baco”.
Logo porém, Dionísio conseguiu tomar vinho
na medida certa e constatou que o vinho
trazia inspirações e intuições maravilhosas. Foi ali que ganhou o nome de
Dionísio que quer dizer “Duas vezes nascido pois agora realmente se sentia
outro homem”. Criou um novo cortejo, onde participavam ninfas e musas
inspiradoras de música e poesias. A fama do vinho espalhou-se tanto, que passou
a ser usado em liturgias, onde religiões, através dele, chegavam a atrair o Divino.
Foi por estas energias inspiradoras do belo
e do espiritual, que Hera perdoou o filho bastardo de seu marido e convidou-o a
morar no Olimpo, fazendo dele um deus imortal. Como tinha uma personalidade
dupla pois era filho de um deus com uma mulher , passou a ser amado por toda a Grécia, o amava mortais e imortais
.
Além do vinho, cheguei a provar aqui também
um licor, mais alcoólico que ele. Bebida muito doce, feita do bagaço da uva ,
chamada Jeropiga. Soube que esta bebida é produzida também na Ilha dos
Marinheiros no Rio grande do sul, Brasil. Em Portugal é bastante popular também o licor chamado Ginja. .
A
nos servirem no restaurante, estavam dois rapazes brasileiros .Estes como
acontece com muitos jovens durante a
crise política e social que vivemos
atualmente no Brasil, que afeta principalmente os empregos, eles também
buscavam ter melhor sorte em Portugal.
Após
o almoço, fui procurar livros e encontrei
algo que me encantou : ”A Carta de Pero
Vaz Caminha”. É nela que se encontra a melhor narrativa do dia do descobrimento do Brasil, nos
mostrando a inocência, a passividade e
a confiança ingênua com que nossos índios se mostraram nus e receberam
desconhecidos. Embora os dois grupos se expressassem em línguas diferentes,
conseguiram se intender para realizarem as suas trocas. Aliás, em referência à
expressões linguísticas, hoje quando já se passaram mais de 500 anos destes
fatos, e falamos nós, brasileiros, a mesma língua daqueles que nos
colonizaram, inúmeras palavras nossas já
são ditas e escritas de maneira diversa do linguajar de Portugal.
Assim encontrei aqui em Ericeira: Nosso
“Estar pronto” por “Despachar", "Crianças”
por “Miúdos“, Nosso “Banheiro” por “Sala de Banho”, Nossa “Calcinha “
por “Cueca”, nosso “Pedágio“ por ”Postagem”, e tantas outras.
Porém, nada disso, perturba o nosso
entendimento e quando acontece crises de desemprego como a que enfrentamos no
Brasil agora, jovens humildes e garçons, como estes que citei, vêm buscar na
pátria mãe sua recuperação.
Não resisti também às lojas de produtos
regionais e fui logo procurar objetos, fossem toalhas, cerâmicas, ou tudo o mais que com que pudesse depois, no Brasil, exibir o grande símbolo de
Portugal : o Galo.
Aqui se sabe da lenda do rapaz que acusado de
um crime , mas inocente, teria afirmado que um galo, que estava sendo comido
por um bispo, iria levantar-se do prato
e cantar para provar sua inocência, o que de fato teria acontecido. Eu, como estudiosa da História das Religiões,
lembrei-me também do que diz o Cristianismo sobre a figura do galo sobre as
igrejas cristãs:
Ensinou-nos São Marcos em seu Evangelho que o
galo é o grande vigilante. Isto é, enquanto dormimos (também espiritualmente),
o galo nos vela e depois canta três vezes para nos acordar (também
espiritualmente) .Diz São Marcos ainda isto : “Sê também vós um vigilante, porque nunca sabeis a hora
que o vosso mestre vem vos chamar. Se esta tarde ,se é esta noite, ou na
madrugada quando o galo cantar”.
Portugal foi o país que mais aceitou esta
advertência de São Marcos. Colocou em muitas torres de capelas e igrejas a
figura do galo, representando o
chamamento do Cristo para nós, nos convidando a um renascimento interior.
Porém, os amantes de Mitologia se lembram
que também já na Grécia antiga o galo simbolizava a chegada o deus do sol,
Apolo, anunciando a ressurreição de um
novo dia e uma ressurreição íntima para nós.
Galo, símbolo de Portugal. |
Fomos depois à praia dos pescadores. Soube
ali que o grande padroeiro de Ericeira
é São Pedro Pescador. Vejo justiça
nesta escolha pois antes da época áurea
de Portugal, aquela dos descobrimentos marítimos, Ericeira vivera grande
penúria, contando apenas com o peixe, principalmente a sardinha, muito
abundante nas costas portuguesas, para sua sobrevivência. Porém, os livros que
li sobre Ericeira falavam pouco sobre esta época de penúria, os historiadores
preferindo falar da cidade a partir da
revolta para a republica. Falam com minúcias sobre os conflitos violentos
causadores de muitas mortes acontecendo em Lisboa, a bem de mudarem o regime
vigente. Detalham a saída súbita e rápida de Mafra por D. Manuel II, ultimo rei de Portugal. Ali estava o rei em seu
castelo, belíssimo ,hoje muito visitado por turistas, onde todos os anos ia
caçar. Urgia que saísse rápido em fuga para um exílio. Sairia pelo porto de
Ericeira, na época um dos melhores da costa portuguesa. Foi esta saída súbita
da família real que introduziu Ericeira
definitivamente nos anais da história de Portugal.
Hoje ali está na Praia dos Pescadores um marco
desta sua saída em 1910 para o exílio na Inglaterra. Lembremos que desde o
século que havia passado, quando Napoleão invadira Portugal , já fora a
Inglaterra que escoltara os navios que levariam a família real portuguesa para
sua chegada ao Brasil em 1808 , e os
dois países permaneciam unidos.
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Sempre soube que o português, em sua
maioria, era muito afeiçoado à família. Observei isto desde criança na
convivência com meu avô, originário de
Trás- os - Montes, e vários de seus patrícios. Indo para o Brasil ,casou-se
com a descendente de uma índia e teve com ela 12 filhos, mas a viu morrer
apenas com 33 anos. Viúvo, dedicou-se inteiramente aos filhos. Uma de suas filhas
já com quinze anos, cuidava dos irmãos enquanto meu avô saía à trabalhar, mas todos
o esperavam ansiosos para receber os seus carinhos, porque todos sabiam que ele
vinha direto do trabalho à casa, ansioso também por abraça-los. Meu avô dizia
que um pai de filhos menores nunca devia deixa-los ir para cama sem a presença
dele.
Sua casa foi depois o abrigo garantido dos
descendentes que seus filhos lhe deram Quando perdeu uma de suas filhas ,passou
a criar os seus dois netos com o mesmo desvelo. Eu, como filha de um militar
que vivia de uma cidade à outra, a bem de estudar, vivi com meu avô a maioria
de minha infância .Enfim ,fez de sua casa o refúgio seguro para todos nós. Legou para nossa família atual a amorosidade
e o amor às crianças que ainda é muito forte em nós.
Hoje aqui em Ericeira conheci um casal que
me confirmou esta tendência familiar dos portugueses. Achei-os na família com a qual minha neta
Vanessa veio a se relacionar pelo casamento. A maneira de externarem amor aos
filhos, nora e netos, é muito parecida a
apresentada pelo meu avô. Meu avô fora agricultor, em Trás- os – Montes e este
casal também lida com plantios. Como a
comparação que fiz foi entre pessoas que se envolvem com o campo, não sei precisar
se esse extremado amor à família é peculiar aqui apenas ao homem do campo. Se
os habitantes de zonas urbanas, das grandes cidades portuguesas, guardam a
mesma característica.
Trás os Montes, principal origem dos emigrantes portugueses no Brasil. |
Uma das maiores características não só de
Ericeira mas também de Portugal é a sua profunda religiosidade. Como todos os
povos, dentro de uma modernidade que se abre a todos os credos, conta hoje em
seu meio com a Maçonaria, Espiritismo, Protestantismo, e até o mais novo dos
cultos, o Pentecostalismo. Porém, como tradição que carrega fortemente é o
Cristianismo que ainda domina. As doutrinas orientais como Budismo e Bramanismo
são pouco encontradas , segundo ouvi alguém ,ligado a elas, se queixar de sentir-se só nestas suas preferências.
Na idade Média, pelos séculos XV e XVI o Cristianismo em Portugal, como em todos os
países da Europa, passava por um período de
decadência ética e moral. Contudo, a vida monástica era numerosa, contando
com muitos conventos e mosteiros.
Um dos mais lindos, sem dúvida era o dos Jerônimos em Lisboa . Estes frades, originários da
Itália, muito contemplativos, com sua retidão e idealismo, tentavam levar a
Igreja a recuperar-se através de uma maior espiritualidade, sem êxito ,porém.
Hoje, este mosteiro nos exibe a beleza deslumbrante do seu
Claustro, e a arte de azulejaria do seu refeitório expondo dentro de uma
maravilhosa técnica cenas do cotidiano medieval.
Apesar do Cristianismo sempre ter proibido
adivinhações, feitiçarias e superstições, muitos portugueses são
supersticiosos. Assim nos afirma o escritor lisboeta Miguel Born em seu belo livro “Sintra Lendária”.
Nele,
é descrito o pavor que os de Sintra
sentem pelo seu ”Castelo dos Mouros”. Acreditam que ali esteja enterrado um rei
mouro com os seus tesouros guardados por espíritos maléficos. Assim, poucos se
aventuram a ir lá, e até escavações nos locais são prejudicadas. Além deste,
outros exemplos são apresentados.
O imaginário popular brasileiro quando pensa
na religiosidade da mulher portuguesa, não se libertou ainda de quadros
antigos e ainda vê a sua imagem numa
geração passada, como a de uma mulher vestida em roupas muito discretas, saia comprida, um véu escuro
a lhe envolver a cabeça, seguindo devotamente uma procissão. Também na senhora muito
idosa que guarda por meses o luto pelo marido, em sua roupagem dos pés acima
completamente negra. (Vi uma apenas vestida ainda assim, em Ericeira.)
Sobre a Fé, meu avô português sempre que nos
via rezando, repetia : “Mais vale a Fé que o pau da barca” e justificava sua
frase, contando esta história:
Um rapaz português tinha uma mãe muito
devota. Um dia, ele lhe participou que iria à Terra Santa, Jerusalém. Então,
ela lhe pediu que lhe trouxesse de lá um pedaço do Lenho Santo, isto é, da cruz
de Jesus. Só que em sua viagem o rapaz passou por Paris, e ali meteu-se em grandes farras, esquecendo-se
completamente da Terra Santa. Lá não foi.
Voltando à Portugal, veio de navio e entrou
depois numa barca que o levaria do navio ao porto de desembarque. Na barca, que
era muito velha, notou que a sua murada estava quebrada. Só então lembrou-se do
pedido de sua mãe. Não teve dúvidas: Tirou uma lasca de madeira da murada . Já
em sua casa , entregou –a à mãe afirmando-lhe que aquele era o pedaço do “Lenho
Santo”.
Ela, tão feliz ficou, que entronizou aquele pau dentro de uma redoma de
vidro e passou diariamente a rezar ante ele.
O interessante porém desta história, é que
sua família vivia muitas dificuldades e problemas e ela, com as suas rezas ante
a lasca, conseguiu resolvê-los todos.
Então bem razão tinha meu avô quando dizia:
“Mais vale a Fé que o pau da barca”.
Mulher nazarena. |
Hoje
passeei com Vania e Rolim por uma estrada margeando muitas quintas e vinhedos
plantados com aquela maneira europeia de fileiras baixas diferentes do plantio
de latadas que fazemos no Brasil. Ali, fizemos frente também ao moderno se
opondo ao antigo. Entre aerogeradores para energia eólica, vimos
muitos moinhos cataventos nos lembrando
das velhas fazendas europeias , primeira engenhosidade dos homens para aproveitar a energia dos ventos.
Apaixonada por mitologia que sou,
recordei-me logo da Odisseia e de Ulisses ,quando os seus marinheiros soltaram o deus dos ventos Éolo ,que Ulisses
havia prendido dentro de um jarro. Soltando-se os ventos jogaram, sem piedade,
a embarcação de um lado a outro.
Tourada portuguesa, em 2017. |
Todos os países contaram com manchas que
denegriram a sua história. Portugal não foi exceção. Citarei duas: Touradas e
Escravidão. Embora não sendo os portugueses tão apaixonados por touradas como
os seus vizinhos espanhóis, soube com surpresa, que aqui em algumas regiões,
elas ainda são usadas. Surpreendeu-me
que homens tão sensíveis como os
portugueses jamais conseguiram que seus governantes acabassem definitivamente com esta prática
nefasta. É deprimente imaginar animais
mutilados com objetos que mais parecem anzóis de pescaria, a balançarem presos
a seus corpos, antes que sejam finalmente sacrificados.
Porém ,
mesmo assim, pelo tanto que admirei o meu avô e seus patrícios, guardo dos
portugueses aquela mesma imagem de
sensibilidade e encantadora simplicidade, tal como os descreveu Júlio Dantas em seu
livro “A Ceia dos Cardeais”. Aquela sua propensão à nostalgia e saudosismo tão
expressos em seus fados. Neles parecem sempre estar à espera da solução de um
sonho perdido.
Quanto à escravidão, existiu desde quando os
portugueses lutavam contra os mouros, fazendo dos vencidos escravos. Também no
intercâmbio com africanos a(em 1500 os próprios Ericeirenses já possuíam
escravos). Num largo aqui se encontra o pelourinho onde os negros eram
açoitados.
A escravidão de africanos foi depois
estendida até a sua nova colônia ,o Brasil. Ali os negros foram aproveitados
como ferreiros e plantadores de cana de açúcar. Mais tarde , para a mineração
durante o grande ciclo de ouro do Brasil. Dedicadas mães pretas amamentaram em
nosso país muitas crianças brancas. Após a Abolição houve muitos cruzamentos
entre brancos e negros o que resultou nos muitos mulatos que temos. Porém,
mesmo assim, a escravidão ,com os seus inevitáveis suplícios ,deixou marcas e
lembranças que ainda hoje ,quase um século após a libertação escrava, dificulta
um perfeito relacionamento entre as duas raças gerando as vezes conflitos.
Azulejos portugueses. |
Não desejo porém terminar este escrito
falando em coisas tristes. Lembrarei aqui a arte mais bela dos portugueses: Sua
Azulejaria.
O azulejo é visto em toda parte neste país.
Quem introduziu aqui o gosto por esta arte foram os mouros que na Espanha
decoravam seus palácios com lindos ladrilhos. São realmente soube cerca de 500 anos desta tradição, pois em 1560 haviam já olarias em Lisboa que
seguiam uma técnica influenciada pelas Faianças italianas.
Enquanto o Árabe não ilustra esta sua arte
com figuras humanas ,devido à proibições do Alcorão, o azulejo português
ilustra neles histórias ,
glorificou com eles seus
santos na época medieval, cenas religiosas, e agora costumes atuais também.
A primeira capela que visitei em Ericeira, a
de Santo Antônio, já me encantou pelo seu interior inteiro de Azulejos.
Vi também muitas casas antigas que traziam
em sua fachada um medalhão de azulejo representando a figura de um santo. Me
explicaram ser o santo predileto da família que
via nele, o intermediário que iria garantir as bençãos do Divino para a família.
Bancos de repouso nas calçadas de grandes ruas(vi belíssimos),
fontes de água com bicas ainda ativas, e lembranças de antigos lavatórios de
roupa , naturalmente apenas como lembranças.
Famílias fazem trabalhos artesanais de
azulejos, mas o trabalho industrial desta arte também é primoroso e garante os
grandes espaços forrados de azulejo .
Ninguém que vem à Portugal poderá sair dele
sem ter tido este deslumbramento: a visão dos seus inúmeros azulejos.
Chafariz em Tabuaço - Douro - Portugal. |
Daqui a um dia deixarei esta aprazível
Ericeira. Sempre considerarei minha
vinda aqui como uma volta às minhas raízes, embora elas estejam lá no norte, em
Trás –os- Montes.
O azul dos azulejos, somado ao azul que é
muito forte aqui do mar, mais as inúmeras aberturas pintadas de azul, fará com
que, ao lembrarmos desta região, esta cor irá apresentar-se sempre como uma predominância em nossas lembranças.
Aqui
revi aqueles por quem meu coração sempre aspira rever: Os que embora afastados
de mim fisicamente, sinto sempre presentes em meu viver cotidiano.
Aqui conheci dois bisnetos, Bernardo e Luiza
que junto à Caetano, no Brasil, há poucos anos vieram enriquecer com sua graça
infantil nosso grupo familiar.
Passei novamente pela história deste querido
país, Portugal. Vi vestígios de antigos romanos, muçulmanos e cristãos que o
colonizaram. Estão nas ruinas do templo de Diana em Évora, no castelo mouro de
Sintra, nos sons ainda hoje ouvidos do bairro lisboeta de Alfama e naturalmente
em seus inúmeros conventos e mosteiros. Vi ainda vestígios dos cavalheiros feudais do medievo,
muito relembrados em Óbidos.
Reli aqui a história de suas dinastias; de
sua expansão territorial na África; dos passados antagonismos entre Portugal e
seus vizinhos espanhóis; de sua expansão marítima (que o ligou definitivamente
ao meu próprio país) também de suas desventuras como: As antigas guerras
religiosas; os tristes julgamentos da Inquisição; o terrível terremoto de
Lisboa em 1755 e a invasão napoleônica.
Gostaria de completar estes meus ainda muito
escassos conhecimentos conhecendo as suas ilhas.
Agora aqui, na moradia de minha filha, irei
à sacada para de lá contemplar mais uma vez o mar soberano de Ericeira. Dele, quero guardar para sempre em minha mente
a majestosa imponência de suas falésias e rochedos, assimilar o ritmo de seu movimento
cadenciado e constante, assimilar também a pureza de suas espumas alvas,
desejando que ao chegar ao Brasil, meus pensares e conclusões se tornem tão
abrangentes, profundos e límpidos como a profundeza de suas águas.
Todos
os países contaram com manchas que denegriram a sua História . Portugal não foi
exceção. Citarei duas: Touradas e Escravidão.
Embora
não sendo os seus habitantes tão apaixonados por touradas como os seus vizinhos
espanhóis, soube com surpresa, que ainda hoje, em algumas regiões elas ainda
são usadas . Surpreendeu-me que homens tão sensíveis, como são os portugueses,
não conseguiram ainda que os seus governantes proibissem definitivamente esta
prática tão nefasta em todo seu território. Nela, sempre me foi deprimente imaginar
animais sendo mutilados com objetos que mais se parecem anzóis de pescaria a
balançarem presos em seu corpo, antes de por fim serem sacrificados.
Porém,
mesmo assim, pelo tanto que admirei o meu avô e seus patrícios, guardo dos
portugueses aquela mesma imagem de extrema sensibilidade e encantadora
simplicidade tal como os descreveu Júlio Dantas em sua notável obra “A Ceia dos
Cardeais”. Aquela sua propensão à nostalgia , ao saudosismo tão expressos em
seus fados (Neles parecem sempre estar à espera
da solução de um sonho perdido).
Quanto à Escravidão, existem desde quando os portugueses lutavam contra os mouros fazendo dos vencidos, escravos. Também do intercâmbio com africanos. Em 1500 os próprios Ericeirenses já possuíam escravos . Num largo, lá está ainda um pelourinho onde os negros eram açoitados.
Quanto à Escravidão, existem desde quando os portugueses lutavam contra os mouros fazendo dos vencidos, escravos. Também do intercâmbio com africanos. Em 1500 os próprios Ericeirenses já possuíam escravos . Num largo, lá está ainda um pelourinho onde os negros eram açoitados.
A
escravidão de africanos foi depois estendida a sua colônia ,o Brasil. Ali os
negros ao chegarem foram aproveitados como ferreiros e plantadores de cana de
açúcar. Mais tarde, trabalharam na mineração, durante o grande ciclo de ouro do
Brasil.
Dedicadas
mães pretas amamentaram em nosso pais muitas crianças brancas. Após a Abolição
aconteceram muitos cruzamentos entre brancos e negros gerando os mulatos de
nosso país. Porém, mesmo assim a escravidão com os seus inevitáveis suplícios
deixou marcas e lembranças que ainda hoje quase um século após a libertação escrava dificulta um perfeito
relacionamento entre as duas raças, gerando as vezes conflitos.
Não
desejo contudo, terminar este meu escrito com assuntos negativos, quero lembrar
aqui a mais linda arte que encontramos em Portugal: A sua Azulejaria.
O
azulejo é visto em toda parte neste país. Quem o introduziu foram os mouros que, na Espanha, decoravam com eles os
seus palácios. São realmente já cerca de 500 anos de tradição pois já em Lisboa
em meados do século XVI em Lisboa havia
olarias que seguiam uma técnica influenciada pelas Faianças italianas.
Enquanto o árabe não coloca em sua arte figuras humanas, por proibição do
Alcorão, os azulejos portugueses ilustram belas histórias, também costumes cotidianos,
figuras e cenas religiosas.
A
primeira capela que visitei em Ericeira já me encantou pelo seu interior feito
inteiro em azulejos. Também vi em
pequenas casas antigas, em suas fachadas, medalhões de Azulejo onde figuravam
o santo predileto da família como uma proteção a ela.
Bancos
de repouso em ruas, fontes feitos nesta arte, são realmente numerosos. Famílias
trabalham neles artesanalmente mas também são feitos por meios industriais.
Ninguém
que vêm à Portugal pode sair dele sem um
deslumbramento: A visão desta magnífica azulejaria.
Detalhe de azulejo português. |
Daqui
uns dias deixarei esta aprazível
Ericeira. Sempre considerarei minha vinda aqui, como uma volta às minhas raízes
ancestrais, apesar delas estarem lá no norte, precisamente em Trás os Montes.
O azul dos azulejos, somado ao azul que é muito forte aqui do mar, mais as inúmeras aberturas pintadas de azul, fará com que, ao lembrarmos desta região, esta cor irá apresentar-se sempre como uma predominância em nossas lembranças.
O azul dos azulejos, somado ao azul que é muito forte aqui do mar, mais as inúmeras aberturas pintadas de azul, fará com que, ao lembrarmos desta região, esta cor irá apresentar-se sempre como uma predominância em nossas lembranças.
Aqui
revi aqueles por quem meu coração sempre aspira rever: Os que embora afastados
de mim fisicamente, sinto sempre presentes em meu viver cotidiano. Aqui conheci
meus bisnetos Bernardo e Luiza que junto à Caetano, no Brasil, vieram enriquecer
com sua graça infantil nosso grupo familiar.
Passei
novamente pela história deste querido país, Portugal. Vi nela vestígios de
antigos romanos, muçulmanos, e cristãos
que o colonizaram. Estão nas ruínas dos templos de Évora, no castelo mouro de
Sintra, nos sons ainda hoje ouvidos no bairro lisboeta de Alfama e naturalmente
em seus inúmeros conventos e mosteiros. Vi vestígios dos cavalheiros feudais do
Medievo muito relembrados em Óbidos.
Reli
aqui a história de suas dinastias; de sua expansão territorial na África; dos
passados antagonismos entre Portugal e seus vizinhos espanhóis; de sua expansão
marítima que o ligou definitivamente ao meu próprio país. Ainda de suas
desventuras como: As antigas guerras religiosas; os tristes julgamentos do
tempo da Inquisição; o terrível terremoto de Lisboa em 1755 e a invasão
napoleônica.
Gostaria de completar estes meus ainda muito
escassos conhecimentos, visitando as suas ilhas. Agora aqui na moradia de minha
filha irei à sacada para de lá mais uma vez o mar soberano de Ericeira.
Dele, quero guardar para sempre em minha
mente a majestosa imponência de suas falésias e rochedos; assimilar i ritmo de
seu movimento cadenciado e constante. Assimilar também a pureza de suas espumas
alvas, desejando que ao voltar ao Brasil os meus pensares e conclusões se
tornem tão abrangentes ,profundos e límpidos como a profundeza de suas águas.