Texto extraído do meu livro
“A
influência de crenças e símbolos”
Na
crença de que homem e natureza seguem os mesmos princípios divinos em suas
transformações periódicas, as estações são acreditadas como fazendo
correspondência com as idades do homem e gerando também cultos.
A PRIMAVERA–Ela é o nascer, o brotar, o
florescimento. Como uma semente que sai de seu casulo, o homem deixa também o
refúgio uterino, manifesta-se no mundo externo, fazendo face a ele com uma
fragilidade ainda infantil. Inicia a sua evolução com todo o vigor de algo
novo, de uma primavera tanto bela quanto inexperiente.
No mito da roda do ano celta, em 21 de
março, homenageava-se a deusa da primavera. Já desde a véspera deste dia, fazia-se
o ritual à Eostre ,quando, sobre altares, eram depositadas flores; e Kore, a
deusa da escuridão invernal, recebia sua despedida. Coroas floridas enfeitavam
depois os bosques e neles comiam-se ovos coloridos, símbolos da matriz da vida.
Ali, tinha início danças ao redor de um pau
de fita, danças também simbólicas do dinamismo existencial que a primavera trazia.
O VERÃO–Braseiros eram acesos em toda
parte. Principalmente na noite de São João ,por séculos, fogueiras continuaram
sendo acesas,costume com que o Cristianismo substituiu as festas pagãs deste
solstício. Na Bretanha, lendas afirmavam que galinhas eventualmente podiam por
ovos de ouro neste dia , e na região dos dolmens e menhirs usava-se sair
buscando, por sobre as pedras, tesouros em ouro que –acreditava-se- gênios
solares haviam ali escondido.
O verão é o explodir total da
natureza. Só nele ela é capaz de resistir a emissão de raios solares poderosos.
No homem, é a sua maturidade. Nela deixamos a tenra e tão sensível condição de
adolescência , para sermos capazes de melhor suportar embates negativos,
podemos perceber com mais facilidade situações que são apresentadas ao nosso
discernir.
O OUTONO - Na Grécia, o outono dava início
aos Mistérios de Elêusis.Em seus ensinamentos e ritos,o iniciando pacificava-se
quando chegava a entender porque nascia e porque morria.
As celebrações eram dedicadas a Demeter e
sua filha Perséfone, simbolismo de um equilíbrio entre o dinamismo de um solo
que entregava frutos (Demeter) e o repouso da semente no fundo da terra
(Perséfone), entre o mundo dos vivos e o mundo dos mortos.
Também para o homem é o tempo de uma
introspecção que lhe dá equilíbrio. É quando colhe para si o resultante de seus
plantios.
Assim como nos ritos de Elêusis, onde eram
abolidas magias para obtenções materiais, assim também o ser outonal vive uma
fase em que pouco pede, apenas avalia e agradece. Lembremos que no equinócio de
outono dos celtas seu culto principal era o de “Ação de Graças”. Equilíbrio
,introspecção, avaliação e preparo à morte (que na natureza correspondia a
diminuição do calor solar) eram os princípios atribuídos a esta estação pelos
povos antigos.
O INVERNO - Tanto para a natureza, como em
relação às idades do homem, ele é o tempo de repouso que antecede um
renascimento. Os povos nórdicos e gauleses costumavam obedecer a ritos nos
quais, durante os dias que antecediam ao solstício de inverno, permaneciam em
jejum, com suas atividades momentaneamente suspensas e paralisando todas as
rodas ,uma vez que estas simbolizavam a dinâmica da vida. Pelas proximidades do
dia 21 de dezembro (inverno no hemisfério norte) reuniam-se em sabbats nos
quais passavam a noite numa vigília de orações, em penumbra, com as velas dos
santuários apagadas,reverenciando a noite que-segundo acreditavam- guardava em
si uma semente que se faria luz assim que a aurora surgisse.
Pela madrugada, as rodas, nos santuários e
por toda a parte, eram postas a girar ,na representação da continuidade do
existir.
Evocações eram feitas para que o rei da
escuridão, do azevinho, que fora colocado sobre altares, desse lugar à
luminosidade também ali representada pelo visco-parasita do carvalho. Ao
amanhecer todos iam louvar em locais abertos junto à natureza, os primeiros
raios de sol com efusões de grande alegria.
Os ritos e festejos invernais do paganismo
nos legaram algo muito importante: a certeza numa vida que se perpetua além do
morrer e renasce continuamente.
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