quarta-feira, 22 de outubro de 2025

Ensinamentos Sufi

Esta história é de uso corrente entre os sufis. È encontrada no clássico de Rumi “MATNAVI” do séc. XIII. Ilustra que não adianta acessarmos ensinamentos muito complexos quando não entendemos ainda os básicos.

     Os três conselhos ou Os três ensinamentos      

   Um homem capturou um pássaro. E, o pássaro disse a ele: Preso eu não tenho nenhuma utilidade pra ti. Se me libertares eu te darei três valiosos ensinamentos. O pássaro então prometeu que lhe daria o primeiro ensinamentos enquanto estivesse preso, o segundo quando alcançasse o galho de uma árvore e o terceiro quando atingisse o cume da montanha.

   O homem concordou e pediu o primeiro. O pássaro disse: Quando perderes algo, mesmo que te seja muito valioso, nunca te lastimes.

  O homem soltou o pássaro e lá do galho da árvore o pássaro lhe deu o segundo ensinamento:_ Nunca acredites em algo que seja contrário à razão, sem ter provas.

   Depois o pássaro voou até o alto da montanha e lá de cima começou a gritar zombando:_Ò infeliz, há dentro do meu corpo duas enormes jóias. Se ao invés de me tiver soltado me tivesses matado, hoje elas seriam suas!

   O homem ficou muito angustiado, pensando desesperado no que perdera, mas depois pediu: Pelo menos, agora que estás no alto da montanha, conforme o que prometestes me dê o terceiro ensinamento.

   _ Imagina que tolo é –disse o pássaro- me pedindo o terceiro ensinamento, quando nem refletistes ainda nos dois primeiros. Veja bem: Eu te disse para nunca lamentares algo perdido e estás ai desesperado pela perda das jóias. Disse-te também para não aceitares nada contra a razão. E estás acreditando em algo ridículo. Eu nem sou um pássaro de corpo grande, como poderia conter dentro de mim duas enormes jóias? Uma afirmativa, pois contrária à razão. Como queres que te dê o terceiro ensinamento?

Deves, por isso, permanecer dentro das limitações que te são impostas.

O Amor que Venceu a Morte

Na Índia antiga havia uma princesa, filha de um rei, chamado Savitri. Quando ela chegou à idade de casar-se, seu pai, como era de costume, mandou que ela escolhesse um marido. A carruagem real, acompanhada de uma magnífica escolta, foi pelas estradas para Savitri visitar as cortes vizinhas.  Porém, em nenhum dos reinos ela encontrou um príncipe que lhe agradasse.

      Aconteceu que a comitiva passou por um bosque. Ali, sábios místicos e homens desgostosos com o mundo, se refugiavam,entregando-se a meditações e exercícios espirituais. Ali morava também um velho rei cego que fora destronado e fugira para aquela ermida com a família. Tinha um único filho de nome Satyavam.

       No país, era hábito que qualquer pessoa que passasse perto de um bosque – ermida onde vivessem sábios parasse para lhes render homenagens, tal era o respeito que até os nobres tinham aos nobres. Assim, a caravana de Savitri, parou , entrou no bosque, ela viu o filho do rei cego destronado e se apaixonou por ele.

      O voltar á sua corte, o pai perguntou-lhe se encontrara algum príncipe digno dela. Ela disse que sim, mas que ele não era mais príncipe porque o pai dele fora destronado e morava numa cabana num bosque.

     O rei chamou então o adivinho famoso, Narada, para fazer uma previsão para aquele possível casamento. Narada disse que a escolha dela fora muito funesta, pois aquele jovem Satyavam dali a um ano morreria. O rei tentou dissuadir Savitri de casar com alguém que além de pobre, tinha vida tão curta, mas Savitri respondeu que o seu amor era tão grande que venceria a própria morte.

 Casaram-se e Savitri foi viver na cabana do bosque, só ela sabendo o dia que Satyavam morreria. Os três dias que antecederam a data fatal, ela passou em jejuns e orações, escondendo a sua angústia. Ao amanhecer do dia marcado, não querendo nem por um instante deixar seu amado sozinho, ela foi com ele para o campo colher raízes e frutos. Quando estavam lá, Satyavam queixou-se que sentia o se corpo enfraquecer-se, as suas forças se esvaírem. Pediu que se sentassem ao chão, pôs a cabeça no colo dela e em poucos instantes, morreu.

    Abraçada ao corpo dele, ela ficou ali esperando que os emissários do deus da morte Iama chegassem para levar a sua alma. Ao chegarem, nenhum dos emissários, porém, conseguiu acercar-se do local onde os dois amantes estavam. Em roda do lugar onde ela se sentara com ele ao colo, ardia um círculo de fogo que ninguém podia passar.Era como um anel de ouro que isolava os dois.

    Os emissários da morte voltaram ao deus Iama da morte e lhe explicaram que era impossível tocar na alma daquele jovem porque para passar o círculo de fogo se queimariam. O deus foi então pessoalmente ao bosque e como era um deus pode atravessar o círculo e falar com Savitre.

   Filha entrega-me esta alma. Sabes bem que a morte é apenas uma etapa no caminho dos mortais.

   Savitri entregou-lhe a alma de Satyavam, mas quando o deus tinha dado apenas alguns passos, ouviu atrás de si sobre as folhas secas, os passos de Savitri.

   Filha -disse o senhor da morte- porque me segues? Não sabes que a morte é o destino dos homens?

   Sei –respondeu ela- mas sei também que o destino da mulher é ir aonde o seu amor a leva.

     O deus da morte disse-lhe então: _ Pede-me qualquer graça, menos a vida do teu marido.

    Então, por favor -pediu Savitri- devolvas a vista do meu sogro que ele não seja mais cego.

    Neste momento teu pedido foi atendido, teu sogro está curado.

    E, o deus da morte da morte foi embora com a alma de Satyavam, mas novamente ouviu passos e viu que Savitri ainda o seguia.

    Por favor, Savitri, ainda me segues?

    Eu nada posso fazer-disse ela- Embora eu me esforce para voltar, a minha mente corre atrás de meu marido, e o meu corpo obedece a minha mente. Tu estás com a alma de. Tu estás com a alma de Satyavam e como a alma dele  é um complemento da minha, aonde a dele vai, a minha vai também.

   Savitri, A tua dor é uma dor sem esperança. Dou-te outra graça, menos a alma de Satyavam.

   Bem -pediu Savitri- se queres mesmo me dar outra graça, faz com que o meu sogro recupere o seu reino que perdeu, com todas as suas as suas riquezas.

   Tudo agora já está te concedido.  Agora volta filha, pois nenhum ser vivente, jovem como tu, deve andar ao lado do deus da morte.

    Como, porém Savitri persistiu em acompanhá-lo, ele lhe perguntou:_ Supõe Savitri, que o teu marido tivesse muitos pecados a resgatar e que eu o estivesse levando para o inferno. Gostarias assim mesmo de  segui-lo?

    Eu o seguiria alegre -respondeu ela- pois o céu é um inferno para mim sem Satyavam e o inferno é um céu para mim ao lado dele.

    Tuas palavras me comovem Savitri, mas pela última vez, vai embora porque não te darei a alma de teu marido.

    Porém, o deus olhou-a com piedade e lhe disse:_ Sem me pedires a alma dele, pede-me outra qualquer graça que eu te atenderei.

    Bem, se me permites desejar, quero ver preservado o reino que acabastes de dar novamente ao meu sogro, que a sua nobre dinastia tenha continuidade.

     O deus da morte sorriu da sua artimanha feminina, pois ela sabia que sendo Satyavam filho único, só através de seus filhos o reino do velho rei poderia ser preservado e afinal ele, o deus da morte, lhe prometera “qualquer coisa” Compreendeu que desde o primeiro pedido ela quisera chegar a isto.

     Ó filha - disse vencido - Toma a alma de teu marido, leva-a contigo. Ele voltará a viver e será o pai de teus filhos e com o tempo herdarão o reino de teu sogro. Pela primeira vez vi um amor triunfar sobre a morte! Nunca vi uma mulher amar tanto! Savitri, nem mesmo eu o senhor da morte, nada posso fazer contra a força de um amor tão imenso!

    O deus da morte afastou-se e no colo de Savitri o rapaz começa a ressuscitar.