domingo, 27 de dezembro de 2020

Templários

 

   Estava-se no século XII, época das Cruzadas e todo o sentimento religioso medieval tinha como meta fazer uma peregrinação à Terra Santa, à Jerusalém, para ir lutar contra os muçulmanos que ali habitavam.

   Nove cavaleiros franceses resolveram ir lá lutar em favor dos peregrinos. Tão bem se conduziram que em 1128, no Concílio cristão da cidade francesa de Troyes, a Ordem que desejavam criar, foi reconhecida oficialmente. São Bernardo de Claraval, um abade francês, participou do Concílio e delineou a regra monástica que guiaria os cavaleiros do Templo. Tornou-se patrono da Ordem e ficou depois conhecido como “O santo Templário”.

   O rei de Jerusalém, Balduíno II em 1131 lhes concedeu a igreja do rochedo para a construção do seu primeiro convento. Tal igreja situava-se junto ao templo de Salomão de onde lhes veio o nome ”Templários”.

   A Ordem foi criada dentro das mais estritas regras cristãs e seus membros faziam votos de castidade e pobreza. Vestiam-se de branco com uma cruz vermelha sobre o peito. Chamavam-se também “Os pobres Cavaleiros do Cristo”.

   Sua missão principal era a proteção dos peregrinos que visitavam os lugares santos do Cristianismo e zelar por sua segurança em sua travessia entre o porto de Acre e Jerusalém.

   Após anos na Terra Santa, retornaram à Europa. Com o tempo, tornaram-se uma grande potência econômica só suplantada pela riqueza da Igreja. Como o conseguiram? Haviam se tornado mestres em usar letras de câmbio. Procediam assim: Quando um peregrino desejava ir à Jerusalém, entrava em contato com os Templários. Estes lhe forneciam a quantia que necessitavam para o seu gasto na viagem. Porém, os viajantes não a poderiam levar em mãos com receio de serem roubados por assaltantes na estrada. Então a deixavam numa casa templária. Iam então, à medida que caminhavam, passando de uma casa a outra e em troca de um documento, a letra de câmbio, pegando o dinheiro que iam necessitando, pouco a pouco, até chegarem à Jerusalém, a troco de um juro conveniente, bem baixo.

   Como os Templários faziam votos de pobreza, nada deste lucro ficava para qualquer membro, mas tinha como destino os cofres da Ordem. Acrescentava-se a isso que cada vez que um novo membro entrava para a Ordem, lhe legava todos os bens que possuísse. Assim, com o passar do tempo enriqueceram e passaram até a emprestar quantias à reis e senhores feudais.

Traziam de Jerusalém a fama de serem honestos, puros e fiéis defensores das crenças cristãs. Haviam construído na Síria e na Palestina fortalezas de proteção à peregrinos e em lugares que eram tão sagrados para o Cristianismo como para judeus e maometanos.

   Comprar territórios na Península Ibérica, em Portugal e Espanha, foi a meta dos Templários ao voltarem a Europa. Aparentemente, isso era apenas uma busca de mais poder econômico, devido a relacionamentos que haviam feito com judeus e que a península habitada por muitos judeus agiotas lhes seria propícia. Mas, teria sido apenas isto?       Verificaremos que esta razão seria apenas uma maneira de tirar os olhos da Igreja de seus verdadeiros propósitos, pois a verdadeira meta deles era buscar conhecimentos esotéricos que os haviam atraído no relacionamento com maometanos (sabe-se que os Templários mantinham contato com movimentos esotéricos do Islã e também com cabalistas judaicos) Lembremos que um ressurgir da Cabala estava então acontecendo, na época, no Ocidente) “Figura entre as orações templárias nada menos que a Fatiha, oração muçulmana que abre o Corão” - dizem os historiadores -.

   Na verdade, veremos que a presença templária no Ocidente, após sua vinda do Oriente, não foi apenas um acontecimento religioso, em nível de religião oficial, mas uma verdadeira expansão de um autêntico esoterismo.

   Por que procuram a Península Ibérica? Na verdade iam tomando territórios, construindo residências e conventos nas proximidades de locais onde se encontravam as chaves de sua busca ocultista, e eles eram muitos. Estes se localizavam afastados dos núcleos de vida comunal. Estavam sempre perto de cavernas pré-históricas, fontes sagradas, ermidas milagrosas, bosques druídicos. Enfim, sempre ligados ao secreto, que é característica do esoterismo mais iniciático. Sempre localizados perto de lugares onde aconteceram fatos milagrosos, cultos antigos, locais considerados bruxescos ou mágicos contando com fenômenos inexplicáveis.

   Alguns exemplos: Ao norte da ermida de Eunates no Caminho de Santiago aconteceram as famosas perseguições às bruxas de Zagarramurdi. Em Portugal, os monges guerreiros se estabeleceram em Tomar e Leiria, próximo ao lugar mágico aonde séculos depois iriam se produzir as aparições milagrosas de Fátima .A península está cheia de locais onde se instalaram os místicos muçulmanos, Sufis. Em Navarra, Espanha, há estabelecimentos dos templários em todo o Caminho de Compostela, precisamente nas proximidades de aglomerações megalíticas (menires) que mantinham uma tradição satânica ou de bruxaria.

   São Miguel foi a grande devoção templária e a Ele dedicaram na Península mais igrejas que a qualquer outro anjo. Mas lembremos de que o Arcanjo Miguel substituiu no Cristianismo o deus Lug, a maior devoção do antigo paganismo daquela região.  Também na proximidade de Lourdes, grande centros de comarcas templárias foram erguidas.

   Os cavaleiros guerreiros haviam voltado de Jerusalém sábios em astronomia, criptografia, teologia e técnicas secretas de construções cujas medidas eram baseadas em projeções cósmicas e alquímicas destinadas a receber energias dos planos superiores.

O estabelecimento templário de Torres Del Rio fica muito perto de Borgota em Navarra, Espanha, onde aconteceu um fenômeno de teletransporte onde um pároco da povoação se deslocava dali à Roma em uma noite e voltava com notícias, o que originou uma processo rumoroso da Inquisição por bruxaria.

 Nos inúmeros bailaidos, reunião de comarcas templárias e mosteiros construídos na Península (só no reino de Castela possuíam doze conventos e vinte e quatro bailaidos) os cavaleiros deixaram os vestígios de seus símbolos esotéricos. Como exemplo temos o número oito, símbolo do infinito e da ressurreição. Assim, o vemos na ermida de Eunates e na igreja de Torres Del Rio ambas construídas em forma octogonal. Os seguidores do ocultismo sempre usaram os números como magia. A citada Eunates seguia a estrutura arquitetônica da mesquita da Roca (templo muçulmano) situada junto ao templo de Salomão na Palestina.

   Também na mesma Eunates, na porta de entrada de sua ermida, temos duas cabeças de pedra, sendo dois rostos cuja barba oculta a boca. Bem sabemos que bocas tampadas simbolizam segredos mantidos, peculiares aos segredos esotéricos escondidos aos não iniciados. Em suas edificações muito se encontra o símbolo alquímico da estrela de cinco pontas, do Pentagrama que o esoterismo vê como a trajetória da nossa evolução. Desde o nosso surgir no Absoluto Deus, nossa origem; depois nossa forma embrionária; nossas emoções; nossa mente; nossa” descida ao inferno para a purificação e por fim nossa volta à origem.

   Os Templários usavam também a chamada Geografia Oculta, sagrada. Se sobrevoarmos algumas construções próximas templárias da Espanha, mormente no Caminho de Santiago, poderemos, ligando-as com linhas imaginárias, traçar sobre elas Pentagramas, estrelas, cruzes. Tudo isto, para aquela Ordem, continha recados esotéricos. Viajar pela rota de Santiago é descobrir seus grandes símbolos ocultistas.

Muitas dúvidas e incertezas cercam a história templária. Uma delas é: Teriam estes cavaleiros contribuído monetariamente ou mesmo operativamente nas catedrais góticas? A Maçonaria toma para si a feitura de suas edificações.

   Qualquer uma das duas organizações seriam aptas a fazê-lo. Os Templários teriam fortuna suficiente para financia-las e teriam trazido do Oriente ideias de estilos de arcos inovadores na arquitetura ocidental. Teriam no abade Suger um grande mestre obreiro. Este era amigo íntimo de Bernardo de Claraval o grande protetor e patrono da Ordem, além de ter sido o arquiteto que construiu o primeiro templo gótico: a abadia de St. Denis na França. Bem sabemos que liderados por Bernardo de Claraval os monges cistercienses construíram seus mosteiros com características próprias ao estilo gótico.

   Já a Maçonaria tem como principal devoção a Arquitetura, chamando até o Ser Supremo de “O Arquiteto do Universo” e tendo como principais símbolos o esquadro e o compasso, além de seu próprio nome “Maçonaria”, que vem de um termo francês que designa “obreiro”. Mais plausível seria optarmos por um trabalho feito em conjunto, pois os Templários, na época, ligavam-se a muitos membros maçônicos atraídos pelos grandes conhecimentos esotéricos que estes possuíam.

   Assim, os cavaleiros usariam nelas sua fortuna e levariam para dentro das Góticas (verdadeiras bíblias de pedra) a sua paixão por usar símbolos e a Maçonaria estravasaria nelas a sua paixão pelo trabalho operativo arquitetônico.

   Duas boas razões tinha Felipe, o Belo, rei da França, para perseguir os Templários, julgá-los e extinguir a Ordem em parceria com a Igreja. Havia ele pedido um ingresso como membro da Ordem. Porém, existiam as rigorosas leis desta, que requeria que todos os seus membros exercessem a castidade e outras tantas regras de igual dificuldade.

   O rei não era um homem casto nem de comportamentos e hábitos simples, puros. Então como tal, foi recusado, o que muito o humilhou. Também havia pedido à Ordem uma vultuosa quantia e não tinha como pagá-la. Recorreu então à Igreja para que esta o auxiliasse a eliminá-la tendo como motivo aquilo que a Igreja não poderia concordar: Seus estudos e práticas esotéricas. Foi buscá-las e naturalmente as encontrou. Assim, elaborou um julgamento fraudulento, injusto e injurioso onde se serviu de ritos e costumes dos Templários.

   Um deles baseava-se no próprio símbolo principal da Ordem: Dois cavaleiros cavalgando juntos num mesmo cavalo. Sua acusação foi imputà-los de homossexualismo e Sodomia. Ora, sabemos nós esotéricos que tal símbolo baseia-se num dos princípios da Cabala judaica que apregoa que para melhor assimilarmos seus ensinamentos (que afinal era a meta dos Templários) o ideal é que estudemos em parceria com alguém mais, que esteja buscando entende-la e segui-la.

   Outra acusação foi quanto ao rito de entrada na Ordem. Rito novamente baseado na Cabala. Observamos que as 3 principais Sephiroth  do Caminho  da Flecha da Arvore cabalística são: Kether, Tifareth e Yesod. Assim, ao entrar na Ordem o pretendente a ela, como sinal de respeito a estas três emanações divinas, que colocadas sobre o corpo humano correspondem respectivamente à cabeça, ao coração e a área sexual, deveria dar um beijo a um companheiro desnudo na sua cabeça, no seu coração e nas proximidades de seu sexo. Este rito também foi entendido como uma prática de Sodomia e grande depravação.

   Assim, como estas provas, várias outras sobre intercâmbios com o esoterismo dos Sufis islâmicos e com os judeus cabalísticos foram mostradas no julgamento.

   Por fim, a perseguição do papa Clemente V teve início e vários membros da Ordem foram torturados (alguns até aceitando como verídicas certas acusações descabidas por não aguentarem as torturas) Depois, a maioria foi queimada publicamente.

   Em 1314 seu muito amado grão–mestre Jacques De Molay  foi  também queimado perto da catedral  Notre-Dame em Paris.

   Quando a Ordem foi extinta, todos os seus bens confiscados passaram a constituir patrimônio real e foram também dado a nobres, que por seu turno procuraram apagar toda a influência cultural e espiritual que os frades templários tiveram na época medieval.

   Foi então criada em Portugal uma outra Ordem guerreira, a “Ordem de Cristo” que foi depois a fundadora da Escola de Navegação de Sagres, fomentadora das grandes navegações pelo Atlântico. Nela, foram se refugiar alguns Templários sobreviventes da chacina.

   Atualmente, existe a Ordem dos Cavaleiros Templários cuja entrada  é restrita aos Maçons já iniciados do Rito de York. Compõem uma das ordens maçônicas. Hoje, no País de Gales e na Inglaterra a Maçonaria afirma possuir mais de 30.000 membros destes Templários.

   Os poderes estatais e religiosos da Idade Medieval aniquilaram a Ordem. Porém, o seu desejo de um saber mais superior e espiritual ficou como sua marca principal. Esta organização tem gerado obras de ficção popular como “O Pêndulo de Faucault “, “Ivanhoé”, ”O Código Da Vinci” e a belíssima “Trilogia do Templo”. Também filmes como “Indiana Jones”, “A Ultima Cruzada” e “A Lenda do Tesouro Perdido”.


sábado, 14 de novembro de 2020

A Lenda da Flor de Lótus

Uma lenda budista nos diz que quando o Buda Sidarta se iluminou os seus primeiros sete passos marcaram o loca em que depois nasceram sete flores e lótus.

   A lenda do lótus nos fala dos quatro elementos conversando: Terra, a água, o ar e o fogo. Eles resolveram então criar uma planta composta da energia de cada um deles e que combinadas harmoniosamente, apesar de serem diferentes, servisse de exemplo e modelo ao homem para que visse nela que a diversidade ,quando unida, pode atingir a beleza.

   A raiz da planta estava no fundo de um lago. Disse a Terra: Eu porei a força das minhas entranhas para alimentar uma raiz. Disse a Água: Eu farei crescer nela uma haste de sustentação, que me percorrerá. Disse o Ar: Eu a vitalizarei pondo nelas folhas que se estenderão pelo ar, movidas pelas minhas melhores brisas. Disse então o fogo: Eu lhe darei o meu calor e farei desabrochar nelas a mais bela flor existente.

Assim nasceu o Lotus, símbolo do Absoluto que é composto por varias diversidades, que é beleza total. Representa na Natureza todas as consciências e caminhos percorridos.


Machu Picchu

 Um dos momentos mágicos para um místico é usufruir o ambiente de Machu Picchu. Além de sua soberba paisagem natural , a força maior de Machu Picchu é jamais ter sido uma cidade profana. O contrário, foi projetada no tempo do império Inca para servir de santuário e ser alvo de peregrinações. Acrescentamos a isso o fato de Machu Picchu ter sido abandonada ao mato, que a escondeu durante séculos e nunca então ter sido encontrada pelo invasor branco . Esta cidade nunca viu lutas, horrores e saques de conquista, conservando por esta razão, e sendo depois encontrada em meio a um país sofrido como o Peru, como sempre foi: A cidade da Paz.

   Foi fundada pouco antes da chegada espanhola (Séc. XVI) e seu local foi escolhido para ser um santuário secreto. Recebia apenas aqueles peregrinos que passavam antes por estações – pousadas – e nelas eram testados e fossem considerados de grande pureza. Chegavam então a Machu Picchu através de salvos condutos.

    Projetado por arquitetos que professavam as crenças incas, o local foi considerado uma réplica perfeita da criação do mundo.


Machu Picchu, deslumbramento de paisagem. 

   Ali estavam os três níveis que totalizavam uma perfeita criação: O mundo de baixo, o do meio, e o de cima. O de baixo era o rio que circunda a cidade. Depois vinha o local de moradias dos homens, o meio. Se alguém se aventurasse a subir a alta montanha de Wuanya Picchu, sabia: estava alcançando o mundo de cima.

  Segundo a mitologia inca, duas serpentes sagradas formavam o local. Saiam ambas de baixo da terra. A primeira, Iacumana, ao erguer-se formava o rio, subia até a ponta de Wuayna Picchu encontrava lá em cima o deus raio e retornava em forma de chuva para regar e fertilizar o local a ser habitado. A segunda, Sacham-na, ao erguer-se enchia MACHU PICCHU de tudo que tem vida, depois transformava-se em Arco Iris para colorir todos os seus seres vivos: Pássaros, vegetais, flores, frutos.

  No santuário, pelo tempo incaico tudo era considerado então sagrado pela força divina das duas serpentes, duas deusas criadoras.

Quando hoje visitamos Machu Picchu somos contagiados também por místicos peruanos que ainda a consideram uma réplica da criação de um mundo perfeito.

(Machu Picchu foi abandonada em 1495- Os espanhóis chegaram ao Peru em 1532- A cidade foi achada no início do Séc. XX, 1911.)


sábado, 3 de outubro de 2020

Mulheres Atuando na Vida Espiritual

A começar pela mais antiga temos: Maria Madalena. Com exceção da Virgem Maria, mulher escolhida para gerar o Cristo, Maria Madalena é, sem dúvida, a figura mais importante do Cristianismo. Sua vida é de feição enevoada, havendo sobre ela várias versões absolutamente opostas.

Annie Besant, líder
da Sociedade Teosófica.


Jeniffer Cristine diretora do Instituto Magala de Jerusalém, pesquisadora, escritora de um livro sobre sua vida, nos diz que Madalena nasceu em Magdala uma região muito prospera na época por sua indústria pesqueira, situada nas costas do mar da Galileia.

  Maria Madalena é dita como uma das mulheres que acreditando ser o Cristo o Messias esperado teria o seguido para vários locais de suas pregações a até sendo ela bem aquinhoada em bens o auxiliado e a seus apóstolos, lhes fornecendo recursos necessários para o gasto ao seu trabalho itinerante.

  Ter nascido em Magdala já justificaria o seu nome, pois sabemos que os povos antigos não davam sobrenome às pessoas, mas as distinguiam com o nome de suas cidades de origem. Assim, Madalena seria uma corruptela de Magdala.

  Uma versão diversa, contrária a ter ela vindo de Magdala, levanta a hipótese de ser ela a mesma Maria, irmã de Marta e Lázaro, aquele a quem o Cristo, num milagre, fez voltar da morte. Família que residia em Betânia.

  Em Les Saintes Maries-de-La-Mer, Veselay e Aix em Provence, todas as cidades do sul da França, Maria Madalena teria estado, quando as perseguições aos cristãos tiveram início em Jerusalém, para, num trabalho evangelizador, pregar nesta região a mensagem do Cristo. Até hoje Les Saintes Maries de La Mer cultua as quatro mulheres chegadas ali em barco. Maria Madalena, Marta, Maria Salomé e a cigana Sara. Ali é contado que Madalena teria morrido em Aix em Provence, e que suas relíquias estão em Veselay.

  O evangelho canônico de Lucas nos distingue Madalena como a mulher de quem ”Jesus teria expulsado sete demônios“. Ora, bem sabemos também que para os povos da Antiguidade todo e qualquer mal estar ou doença eram vistos como manifestações demoníacas que se apossavam do corpo de uma pessoa. Porém, ao chegar o ano 591 o Papa Gregório Magno interpretou como prostituição os demônios que Jesus lhe teria expulsado, qualificando então Maria Madalena de uma perdida prostituta. Que seria - dizia ele - estes demônios senão os seus vícios? Então a Igreja levou este pensamento adiante durante séculos.

   Modernamente, contudo, no ano 2016 o nosso Papa Francisco refutou tal ideia nomeando-a novamente de “A apóstola dos apóstolos” tal como já o fizera São Tomaz de Aquino e a intitulou de ”Santa”. Não por acaso - afirmou ele -Madalena foi a primeira pessoa a ver Jesus ressuscitado.

  As atitudes de Maria Madalena demonstravam o amor que sentia por seu mestre, o Cristo. Segundo João, ela lá estava junto à cruz acompanhando a mãe do Cristo em seu sofrimento. Conta-se que, após a crucificação, Madalena teria ido ao santo sepulcro levar ervas cheirosas, bálsamos para ungir o corpo do Cristo como era uso na época. Porém, ali não o encontrou. Foi quando ouviu uma voz a qual iria perguntar onde estaria o corpo do mestre, quando então se deparou com o próprio Jesus ressuscitado. Este lhe recomendado que fosse aos discípulos lhes revelar a sua ressurreição.

  Jesus confiava tanto na perspicácia de Madalena em entender seus ensinamentos que nos é contado que isto provocava desconforto, uma espécie de ciumeira da parte dos apóstolos. O que é compreensível, pois eles seguiam modelos patriarcais a respeito de mulheres que, na Judeia de seu tempo, eram vistas como seres de pouca inteligência, sendo que a posição oficial da Igreja de Israel contrariava qualquer liderança espiritual vinda de uma mulher.

  Contudo, por seu amor a Jesus, por sua perspicácia e auxílios a seu mestre, Madalena mereceu o epíteto de “Santa” lhe dado sabiamente por papa Francisco.

   Diaconisas: Não podemos esquecer que o Cristianismo contou com um número imenso de Diaconisas desde o tempo de São Paulo. Eram mulheres encarregadas de funções auxiliares ao culto cristão. Embora fosse vedado a elas a função sacerdotal, após a benção de um bispo, faziam também trabalhos religiosos junto às mulheres de comunidades. Instruíam-nas sobre o batismo quando estes ainda eram feitos em adultos e em corpo inteiro. Preparavam-nas, enfim, para receber todos os sacramentos. A elas também cabia visitar asilos e cárceres em nome de determinadas paróquias. Foram, enfim mulheres essenciais ao bom desempenho do trabalho cristão.

Freiras: Lembremos também das milhares de irmãs de caridade, freiras católicas e protestantes que há séculos trabalham em instituições de ensino e em hospitais, labutando abnegadamente em favor da educação e da enfermagem em vários países.

    Madre Tereza de Calcutá: Entre as religiosas católicas sobressai-se a personagem impar de Madre Tereza. Nascida em 1910, na Macedônia. Muito jovem, fez um noviciado e ainda nele com 21 anos foi para a Índia. Posteriormente, deixou este noviciado para vestir um sári branco e pedir a sua nacionalidade indiana. Exercia então ali o professorado de Geografia e História. Porém, resolveu depois dedicar-se aos pobres e doentes. Para tanto, foi fazer um curso de enfermagem e trabalhou tanto em favor dos necessitados indianos que acabou por receber do Estado a medalha “Senhor dos Lótus”.


Dion Fortune, especialista em Cabala.

   De uma simplicidade extrema, morava em favelas o que, após a sua morte aos 87 anos, lhe granjeou o título de “A Santa das sarjetas”. Esta mulher extraordinária fundou a “Congregação das Missionárias da Caridade” reunindo mulheres a favor do seu trabalho. Missionárias estas que existem em número de milhares em vários países.

Recebeu o Nobel da Paz aos 69 anos e foi beatificada pelo Papa João Paulo II que visitou diretamente seu trabalho na Índia. Em 2016 foi canonizada pelo Papa Francisco. Esta frase sua nos expõe claramente o âmago do seu ideal: ”Temos que procurar pessoas, porque podem ter fome de pão ou de amizade”.

 Aixa. Nasceu na Arábia Saudita e foi a segunda esposa do profeta Maomé. Casou-se com ele quando tinha 10 anos (nada excepcional para sua época e local). È relatado que embora Kadhija primeira esposa do profeta, uma viúva rica, o tenha sempre provido de bens para que levasse adiante sua mensagem, Aixa foi a sua esposa mais amada o seu grande amor.

  Maomé faleceu quando Aixa tinha dezenove anos e desde então ela passou a dedicar-se inteiramente, durante quarenta anos, à divulgação de suas mensagens. Lembremos que esses primeiros anos foram essenciais no estabelecimento do Islã o que deu a Aixa o título de “A teóloga do Islamismo”. Aixa era filha do companheiro mais constante de Maomé e seu sucessor como o primeiro califa do novo credo. Porém, desde o 3º califa, tido como corrupto, Aixa se envolveu em política liderando um exército contra ele. Chegou a mandar matar 600 homens numa batalha. Aixa é a mulher mais amada pelos islâmicos Sunitas e a mais odiada pelos radicais Xiitas.

  Desde o tempo do primeiro califa, a família de Maomé deveria ter acesso à sua sucessão. Alí, o marido de Fátima, filha de Maomé, se achava com direito a isso. Então, foi iniciada uma guerra entre Alí e Aixa. Esta lutou muito, mas perdeu a guerra numa batalha que ficou conhecida como” a batalha do Camelo”, pois Aixa lutava montada neste animal. Foi nesta ocasião que Ali, vencedor, instituiu o Islamismo Xiita. Hoje, ainda estas duas facções Sunitas advinda de Aixa e Xiita de Ali lutam entre si.

Porém, se considerarmos as condições de uma mulher originária da Arábia Saudita, especialmente na época em que Aixa viveu, podemos admirar a mulher corajosa que ela terá sido.

Kwan Yin, primeiro Buda mulher.

Kuan Yin: em 696 AC. Kuan Yin era filha de um governante do norte da China, da dinastia Chou. Teria na época ingressado no convento das Freiras do Pássaro Branco. Seu pai, que preferia vê-la casada, ordenou que o convento a submetesse às tarefas mais cansativas para fazê-la desistir da vida religiosa. Porém depois, muito contrariado por vê-la persistir no convento, mandou mata-la com uma espada. Foi quando o primeiro milagre de Kuan Yin se deu: A espada ao tocar no corpo dela, despedaçou-se. Fala-se depois em um trabalho seu numa ilha, onde se dedicava à curas e atendimento a homens sobreviventes de acidentes marítimos. Quando Kuan Yin morreu, sua mente –segundo o Budismo- não possuía nenhuma marca de negatividades, então Kuan Yin não necessitava mais de reencarnar-se. Porém, ela ouviu os pedidos por misericórdia dos homens da humanidade e resolveu tornar-se um Bodhisatwa, isto é, um dos seres que renunciam a uma situação de tranquilidade, o nirvana, para envolver-se entre as mazelas humanas a bem de servir à humanidade e despertar nela as consciências para a sabedoria espiritual.

  Tal decisão granjeou-lhe o título que até hoje possui: “Aquela que ouve os lamentos do mundo”. Encarnou-se então na pessoa de Avoloktesvara, o maior Bodhisatwa nascido no Tibete.

  Hoje, Kuan yin é a figura religiosa mais cultuada na China. Criou ela um Mantra para invocar suas graças:” Om Mani Padme Hum” que significa : ‘O joia do Lótus!. Ou também: ”Da lama nasce a flor de Lotus”.

Trabalha como todo budista da linha tibetana: especificamente para difundir a Compaixão.

   O final do Sec. IX e o começo do XX foram ricos em ideias espiritualistas trazidas do Oriente para o Ocidente, da Europa para a América. Nelas se sobressaindo varias mulheres especialmente importantes para a religiosidade esotérica.

  Tivemos Helena Blavatsky, a escritora russa que no final do Sec. IX criou na Índia, junto ao coronel Henri Olcott, a Sociedade Teosófica, com sua primeira sede na cidade de Adyar.

  Blavatski atribuía seus conhecimentos à instruções recebidas por mestres da Grande Fraternidade Branca. Em especial à influência espiritual lhe transmitida pelo muito conhecido mestre dos místicos El Moria. Entre os maravilhosos livros de Blavatsky tais como “Isis Sem Véu” e “A Voz do Silêncio” o mais importante é “A Doutrina Secreta” considerada para muitos como a “Bíblia do Ocultismo”. Blavatsky foi com certeza a maior difusora das ideias esotéricas do Oriente entre nós.

  Como sua melhor discípula tivemos Annie Besant, segunda presidente da Sociedade Teosófica. Dedicou sua longa vida de 85 anos também à Maçonaria fundando lojas maçônicas em vários países. Inglesa, viveu vários anos na Índia dedicando-se lá a liberdade deste país, chegando a ser eleita presidente do Congresso Nacional da Índia. Entre os seus belos livros podemos ressaltar: A Sabedoria Antiga” e o “Cristianismo Esotérico”.

  Alice Bailey: Também inglesa, no início de 1919 começou a escrever seus livros sob a orientação do mestre tibetano Dywhal Khul. Livros seus como “Tratado sobre Magia Branca”, “De Belém ao Calvário”, “O destino das Nações”, e “O Reaparecimento do Cristo”, são imprescindíveis à formação esotérica de um espiritualista.

Alice Bailey, autora do livro "Magia branca".

 Alice Bailey fundou a “Escola Arcana” com a finalidade de treinamentos, meditações e encontros espirituais de discípulos.

  Contamos ainda trabalhando nas primeiras décadas do século vinte com Dion Fortune. Outra inglesa, que como psicóloga ocultista dedicou-se à magia cerimonial. Seus romances foram verdadeiros guias para ritos e desenvolvimento de consciência.

   Dedicou-se ao social, aos movimentos feministas e influenciou a cultura moderna como a revolução sexual da mulher. Trouxe à tona estudos da Cabala judaica. Tornou acessível à estrutura da sua “Árvore da Vida” que se conservara até o Séc. XX como estudos fechados, só em mãos de rabinos. Seu livro mais importante sobre o assunto é, sem duvida, “A Cabala Mística”.

  Essas quatro mulheres: Blavatsky, Besant, Alice Bailey e Dion Fortune engrandeceram a religiosidade de quem a busca através do esoterismo.


domingo, 20 de setembro de 2020

Sobre as Quatro Nobre Verdades


A primeira Nobre Verdade:

Constata-se que desde o nascimento até a morte o homem se encontra envolto em tristezas. Ninguém já conheceu alguém que nunca tenha sentido uma tristeza.

  - A segunda Nobre Verdade:

A origem da tristeza é o desejo, a ansiedade. O desejo de rever alguém, de subir na vida, de ter um prazer, de realizar um plano etc.

  - A terceira Nobre Verdade:

Constata-se que é possível a destruição da tristeza se há entrega. Entrega a Deus, o destruir da ansiedade pela fé, pelo abandono à sabedoria dos planos divinos para nós.

  - A Quarta Nobre Verdade: O caminho da destruição da tristeza é óctuplo e compreende: Reta crença, reto pensamento, reta palavra, reta ação, reta subsistência, reto esforço, reta memória, reta meditação.

O Caminho óctuplo:

  Reta crença: Baseada no conhecimento de princípios fundamentais Se você não conhece o princípio da causa e efeito, você não conta com um retorno dos seus erros e jamais se livrará das tristezas.

  Reto pensamento: Fixarmos-nos sempre no que conseguimos de bom de uma situação e nunca no mal que dela proveio.

  Reta palavra: Na dúvida do que falar, sempre o silêncio será o melhor.  Cuidar para que as palavras sejam discretas. Muitas pessoas acham que para serem amáveis têm que estar sempre falando e fazem com isso um desperdício de energia.

  Reta ação: Que a ação não seja movida apenas por um interesse pessoal. Que ela tenha também um desejo de servir, de amar.

  Reto meio de sobrevivência : Que o nosso meio de sobreviver não contribua para a destruição de outrem , como, por exemplo, o comércio de artefatos de guerra de tóxico e muitos outros.

 Reto esforço: Se refere a dar um sentido às mais humildes ações que fazemos.

 Reta memória : termos sempre a lembrança constante da nossa filiação divina, de que temos um papel a cumprir.

 Reta meditação: Lermos e meditarmos sempre em coisas belas e pacíficas.

sábado, 15 de fevereiro de 2020

Guerreiros da Normandia


Rollo - O Viking

Rollo interpretado pelo ator Clive Standen,
na série Os Vikings.
Os historiadores divergem quanto aos motivos que teriam levado os Vikings as costas ocidentais da Europa. Porém, eles poderiam se enquadrar basicamente nestes: Riqueza que iriam alcançar através da pirataria dos mares;expansão do próprio comércio sendo incrementado no período que se iniciam os ataques; a superpopulação dos países escandinavos na época. Como povos que praticavam a poligamia, geravam muitos filhos tendo como conseqüência as expedições que os retiravam de seus territórios relativamente pequenos para contê-los, lançando-os à conquistas aonde iriam se estabelecer como colonizadores.
    Todos são unânimes, contudo, em que os impulsionou aos mares a valorização que a sua cultura dava as qualidades de heroísmo e coragem, cujos modelos eram os mitos de audácia de seus próprios deuses. Homens entre eles que almejassem a sucessão de uma chefia e até mesmo um reino, poderia por certo obtê-los se fossem buscar temerariamente no exterior, ricos despojos e alianças influentes.
     Todos estes objetivos lhes foram facilitados por sua grande habilidade na fabricação de embarcações, que era muito superiores as anglo-saxônicas e as dos francos. Também porque fizeram da navegação uma verdadeira arte, para a qual, todos desde a mais tenra infância eram preparados. Quase não usando velas, apenas remos, conseguiam uma velocidade insuperável.
    Já pelo séc. IX, havia sido tentada a primeira entrada aos domínios de Carlos Magno, com uma invasão defendida pelo imperador ,por isso fracassada de ocuparem Dorestad, o maior porto comercial do império franco, na Holanda ,não tão distanciado das costas normandas.
Monumento a Rollo,
primeiro Duque da Normandia.
    Enquanto Carlos Magno viveu os manteve afastados. Após a sua morte,quando da divisão do império entre seus três netos,  a Normandia se  incluiria naquela parte que coube a Carlos,o calvo. Este porém não conseguiu deter o cerco Viking, cada vez mais introduzido neste território. O império estava enfraquecido pelos conflitos entre os três irmãos governantes, também pela impossibilidade destes em dominarem a autonomia dos senhores de muitos feudos em que se dividia a Gália.
    O império franco chegaria ao fim. O feudalismo se consolidaria como o sistema que dominaria as fracas dinastias por quase toda a Idade Média. As costas ocidentais da França abririam de par em par as suas portas aos “Homens do Norte”.
    Pelos meados do séc. IX, os Vikings já haviam se estabelecido nas ilhas perto de Rouen, segundo o seu costume de fazerem das ilhas abrigos para os seus ataques.
    Os primeiros locais visados como pontos de pilhagens, foram as ricas abadias e igrejas que desde o séc. VI haviam se multiplicavam nas margens do Sena, no ”Vale dos Santos” (Valy de Fontanelle). St.Vandrille, famosa por sua biblioteca e que era um dos maiores centros de estudo da cristandade do ocidente ,foi a mais destruída. Nem Jumieges, hoje a maior ruína monástica beneditina da França, escapou da fúria Viking.
    Nos primeiros anos do séc. X aparece o chefe Rollo que lutaria com os francos que ainda resistiam no vale do rio (Uma das preferência vikings era descer os estuários do Sena e do rio Loire para atingir o interior do país). Com o seu exército escandinavo, conseguiu tornar-se o único líder em toda a Normandia.
    O poder pode ser até fascinante se trouxer em seu bojo a lealdade. Rollo acabou por receber dos vencidos, legitimada por um tratado, a terra normanda. Não só porque talvez o propósito com que trouxeram ali os seus guerreiros, fosse exatamente a colonização,ou também porque infligisse medo, devido a uma especial crueldade que possuísse, mas sobretudo porque fora leal ao rei francês. 
    Por sua lealdade havia feito justamente o contrário de muitos de seus conterrâneos escandinavos: Aqueles ofereciam aos senhores e reis francos em troca de grandes somas, a defesa de terras contra o ataque de novas levas de Vikings.ofereciam também cultivo com a imensa mão de obra que possuíam, pois é sabido que os exércitos Vikings eram numerosos. Porém ao receberem tais somas, abandonavam as terras levando delas todos os espólios que os seus barcos pudessem conduzir.
    O território contido dentro dos limites do tratado de St. Clair-sur Epte entregue a Rollo, não era pouco extenso. Ia desde o baixo Sena abrangendo o nordeste até à Picardia e o sudoeste da Bretanha. No entanto, ele conseguiu colonizá-lo, plantá-lo e defende-lo energicamente. Energia era o que não lhe faltava. Conta-se que pendurava nas árvores das florestas, braceletes preciosos e outras jóias (os Vikings eram ótimos joalheiros) certo de que ninguém nelas tocaria, somente para deixar claro quem fazia a lei e a justiça no ducado.

Guerreiro Viking e seu elmo de guerra.

    Rouen, a capital da Alta Normandia onde foi batizado ,comprometendo-se também assim com a Igreja,conservou as melhorias que Rollo fez em seu rio. Após ter aprofundado seu leito, construiu desembarcadouros em suas margens, aproveitou ilhas fluviais unindo-as ao continente.
    Não só ele, mas os outros nórdicos que o sucederam, foram tão respeitados que pode se considerar a data de 912 (seu batismo) como o final das grandes invasões Vikings. Rollo tornou-se então uma daquelas raras personalidades que se posicionam como marcos da história. Referindo-nos a acontecimentos os situamos :Antes delas e depois delas.
    Quem desejar conhecer a aparência de um chefe Viking ,encontrará na magnífica catedral de Rouen, construída um século após a sua morte, a imagem de Rollo em repouso, na capela de Nossa Senhora.
     O respeito aos laços familiares, foi talvez a mais duradoura herança deixada pelos escandinavos na Normandia, durante aqueles séculos em que a colonizaram.Para os Vikings um homem não subsistiria nem materialmente, nem tampouco emocionalmente, a não ser como parte integrante de uma família.Sentir-se membro de uma ,era a necessidade mais essencial da alma humana. Os responsáveis por crimes eram invariavelmente proscritos da família, sendo o castigo da solidão visto como o mais terrível e que envolvia também a perda do círculo de amigos.
    Para entender-se o pensamento dos Vikings em relação à família e amizades,lembramos que eles as necessitavam como apreciadores dos seus feitos. Tinham os deuses como modelos, mas nenhum de seus atos de coragem era feito para agradá-los mas sim para receber a aprovação do seu grupo de relações. Um reconhecimento público de sua coragem ,o merecimento de presentes, revertia sempre para aumentar a honra, não apenas do indivíduo que os recebia, mas sobretudo a do clã familiar.
    Antes mesmo de a Normandia tornar-se um território unido num só ducado, Rollo fez da então vila de Bayeux, situada numa região que hoje prima por suas pastagens e agricultura, a futura sede da dinastia dos duques normandos quando casou-se com a filha do senhor feudal daquela região e colonizou-a.
    As marcas de sua colonização vivem ainda hoje fortemente na riqueza dos campos, na zona do Contentin e na terra de Caux normanda. Afinal, para os escandinavos, as lidas do campo eram tão habilmente executadas como as do mar.
    O recebimento de um ducado e da mão de uma mulher de estirpe, longe de sua terra no outro lado do oceano, deverá ter parecido ao chefe Rollo como coisas que lhe eram devidas.

Os irmãos Rollo (Clive Standen) e Ragnar (Travis Fimmel),
na série Vikings.

    Na verdade, a chamada ”corrente Viking” que vasculhou as costas marítimas, ao sul, a oeste, para a Groelândia e até a América, foi oriunda de chefes regionais dinamarqueses, suecos e noruegueses, de fazendeiros aristocratas que vinham herdando de geração para geração a propriedade de terras. Assim, o Viking Rollo era daqueles homens que lidava com o poder como se ele fosse um bem que lhe era de direito pelo simples ato de ter nascido.
     Suas bodas com Popa deverão ter seguido os costumes vikings ,que faziam do início de uma família festividades que duravam vários dias, e eram tidas como a mais importante da sua vida social. Nelas, apareciam as grandes paixões vikings: Poemas difundidos pela tradição oral, o contar de histórias sobre o feito dos seus guerreiros e seus deuses, e a dança. Nesta, vários camponeses enlaçados pela cintura, atinham-se principalmente a coreografia dos pés, aos moldes das danças russas e eslavas que hoje assistimos. Rollo gerou filhos que empenharam-se em reconstruir abadias que seus próprios ancestrais haviam destruído e auxiliaram os monges a criar monastérios ao novo estilo romanesco regional mais tarde conhecido como Normando.
    O estilo romanesco normando iria espalhar-se na Inglaterra, tendo na Abadia de Westminster o seu mais belo exemplo.  depois que Guilherme o bastardo, o mais conhecido descendente do chefe Rollo, atravessasse o Grande Canal para conquistá-la à linhagem normanda dos Vikings.
    Ao criar em 911 d.C. o primeiro ducado da Normandia, Rollon abriu através deste seu descendente ,que lhe herdou a pertinácia,a grande prosperidade da região.

Joana D'Arc - A guerreira Mística

A integração cultural ilha inglesa e continente europeu, para a qual Guilherme com a conquista dera o primeiro passo, custaria para as populações da França e Inglaterra longos períodos de sofrimento. Os desajustes entre ambas iriam ser levantados apenas pela ambição das casas reais dos dois países, todas as duas se achando com direito legítimo ao trono francês e não por quaisquer sentimentos de nacionalismo de suas populações, pois na realidade, estes sentimentos se tornariam fraco à medida que cada porção feudal fora se isolando dentro de sua própria autonomia.
Joana, a guerreira mística.
    Porém, por traz dos acontecimentos, só uma coisa naturalmente importaria: O crescimento da consciência dos homens, que iriam encontrar experiências novas para vivenciarem. Pelo séc. XIV além daquele grande conflito externo vivia-se na França justamente uma fase de transições políticas, onde iriam fazer face à grande transformação do regime feudal para o monárquico .
    O sentido de pertencer a facções feudatárias isoladas, separadas por rivalidades dos territórios vizinhos, isentas de sentimentos de unidade a um centro, iria ser substituído por aquele de estar inserido em um todo de país e isso se daria através do fortalecimento da monarquia francesa.
    Participante também deste contexto, onde o feudalismo se esfacelava, a Normandia viu o engrandecimento do sistema monárquico resultar na perda de sua autonomia, tendo sido anexada ao reino francês.
    Como até hoje os povos, não têm conseguido atingir suas mudanças a não ser através de conflitos, quando em 1346, o rei inglês Eduardo III, intitulando-se rei da França invadiu-a pela Normandia já uma das guerras mais longas da História tivera início: A chamada Guerra dos Cem anos. Na 2º década do séc. XV.  haviam ainda dois reis disputando a coroa francesa: Henrique IV da Inglaterra e Carlos VII herdeiro da França.
    Não podemos imaginar o que significava para a população campesina da Normandia ,atravessar mais de três gerações vendo os campos invadidos por homens de guerra, que largavam devastação e mortos onde quer que se enfrentassem face à face; dividir com os guerreiros suas habitações, que para a maioria da massa camponesa era de uma simplicidade extrema, construídas de argila e madeira, com poucas aberturas,enfumaçadas,onde ao rés do chão dormia toda a família sobre um leito de palha e em peça-estábulo resguardava-se o gado do frio;o quanto lhes custava prover os soldados com os pães de centeio, o queijo,o toucinho que haviam armazenado para si. Difícil também imaginar a movimentação dos postos de beira de estrada, que deveriam estar sempre à disposição das trocas de utensílios de montaria e ter sempre água e feno suficiente para alimentar os animais das tropas, como uma obrigação que lhes deviam;avaliarmos a pilhagem a que nos vilarejos estavam sujeitos os artesãos e oficinas (sabemos que a Guerra dos Cem Anos notabilizou-se pela pilhagem).
    Este conflito tão extenso,que teve apenas uns anos de trégua, quando a peste negra do séc. XIV grassou em toda a população européia, ora pendia à favor da facção inglesa ora para a francesa e talvez se arrastasse indefinidamente se o inusitado não houvesse acontecido: O aparecimento de alguém que iria envolver a França num fervor, num entusiasmo nacionalista que conclamando populações, poria fim a este impasse.

Joana a guerreira.

    Não se tratava de um chefe guerreiro ou de um cavaleiro nobre, mas apenas de uma pastora de 17 anos. Somente um ano custou-lhe para levar Carlos VII a ser coroado rei da França na catedral de Reims .Isto era algo complicado no momento pois Carlos VII havia sido deserdado e tirado de seu direito ao trono francês por seu pai Carlos VI que iria dar o trono em herança ao rei inglês.Isto porque os ingleses haviam difundido que a mãe de Carlos VII era uma libertina e que ele era portanto uma bastardo. Influenciado por esta desconfiança, o rei o desertou e assim a Inglaterra estava prestes a pegar o trono francês.Podemos avaliar melhor como Joana D’Arc conseguiu levar o herdeiro à Reims dividindo a vida desta guerreira em três etapas.
    A primeira aquela em que aos 13 anos trabalhando nos campos de Donremy onde nasceu, parava suas tarefas assaltada que era por manifestações místicas. Enquanto os ingleses ocupavam o noroeste da França com um grande reduto fortificado em Orléans, Joana vivia as agruras da guerra, preocupada como todos com a fraqueza e hesitação do pretendente francês em assumir o trono. Passou então a ouvir vozes que lhe pediam para libertar Orléans.   Sua biografia nos diz que durante três anos teve contato com manifestações transcendentes a ponto de achar que o arcanjo do monte St. Michel lhe aparecia para instigá-la a envolver-se diretamente na guerra, sob sua assistência. Em 1429 ela aceitou estes chamamentos e dirigiu-se ao governador de Vancauleurs pedindo permissão para ser um “Homem de guerra” Foi a primeira mulher na Idade Média que envergou um uniforme masculino, como medida de proteção em seus caminhos até Chinon castelo residência de Carlos VII, onde iria confiar-lhe suas intenções.
    Escoltada por apenas seis homens de armas Joana chegou a Chinon após muitos dias de cavalgada passando por campos comumente assolados por bandos de soldados ingleses. Porém, como não encontrou um único em seu trajeto, as populações entenderam isto como um milagre e a persuasão a sua causa lhe foi facilitada. Fala-se em Joana jejuando e orando durante dias em uma estalagem para obter a graça de falar com o Delfin Carlos VII. A multidão que a seguia era então já grande e conseguiu por isto ser recebida no castelo.
    O visitante que vai a Chinon no vale do Loire, ouvirá contar como as coisas não foram fáceis ali para aquela camponesa ousada.Todo um aparato havia sido montado para intimidá-la. A descrença sobre sua capacidade guerreira era naturalmente grande entre os cavaleiros nobres.Alem disso, não admitiam ela pretender uma vitória que eles, experientes homens de guerra, não haviam ainda logrado.
    Trezentos destes nobres enchiam o grande Hall, iluminado por um número imenso de archotes, os cortesãos estavam engalanados em trajes de cerimônia e o herdeiro no meio deles.
Carlos VII, ele próprio não estava bem certo de ter um direito legítimo ao trono , mas chegou a acreditar nisso quando ela , sem intimidar-se ,com firmeza lhe assegurou que, em nome do Senhor Cristo ,ele seria o rei e que Deus a havia encarregado de anunciá-lo e coroá-lo em Reims.
    Seus cavaleiros contudo, foram mais cautelosos Puseram-na
durante três semanas reclusa , numa observação onde vários médicos e mulheres experimentadas em casos de bruxaria, decidiriam se ela de fato era a enviada de Deus ou feiticeira. Tipo de preocupação que naqueles tempos medievais da Inquisição e da caça as bruxas era perfeitamente normal.
    Naquelas semanas, as suas atitudes simplórias e ingênuas, sua firme confiança no que ela chamava de “sua missão” e principalmente a inteligência de suas respostas, acabaram por demover o cepticismo dos mais intransigente.
    Na segunda etapa de sua atuação, a veremos já de posse de um exército fornecido pelo herdeiro, a caminho da praça de guerra, embora seja dito que seus conselheiros militares fizeram tudo para que ela,desconhecedora da região de Orleans, fracassasse, dando lhe informações errôneas da situação lá. Artimanha que causou a chegada do grosso da tropa só alguns dias após ela já estar ali, acompanhada apenas de poucos soldados. Também os militares de Orléans receberam-na com visível contrariedade e tudo fizeram para impedi-la a tomar a Bastilha de St. Loup, a bastilha de St. Jean e o Boulevard de Tourelles.
    Se pudermos aceitar que alguém possa estar investido de forças sobrenaturais, acharemos que Joana certamente estaria sustentada por elas, pois foi conseguindo vitórias após vitórias, apesar da desesperada resistência dos ingleses e das dificuldades impostas pelos próprios rivais franceses.
Imagem clássica de Joana D'Arc
como guerreira.
Joana porém, contou com a idolatria quase mítica dos cidadãos de Orléans e de sua tropa em relação a ela. Conseguiu refrear as orgias e libertinagens da soldadesca. Elas eram, na época um lugar comum e o maior pavor das populações nos lugares sitiados e tomados por combatentes. Estava investida de um halo de pureza e misticismo. Desde a sua vivaz aparência de juventude, ressaltada dentro de uma armadura reluzente, seu cavalo branco, até o estandarte que mandara confeccionar: De seda também branca, que além de bordado em flores de Liz, de fios dourados, tinha bem acima sobressaindo-se os nomes de Jesus e Maria.
     Só lembrando-nos do fervor religiosos todo feito de medo da era medieval, podemos imaginar como ela conseguiu incitar seus soldados a que se atirassem a cada combate com tanto ardor.
    Nesta luta cheia de situações muito críticas, onde mostrou um desassombro e tino militar invulgar, talvez a mais emocionante seja aquela em que, para animar sua soldadesca a segui-la, atravessou ela própria os fossos da fortaleza de Orléans a fim de levantar uma escada sobre o muro. Ferida entre o pescoço e o ombro por uma flecha, tombou. Neste momento ouviram-se vindas da fortaleza as exclamações jubilosas de todos os ingleses: A feiticeira está morta! Está morta!
    Feiticeira ou não, o fato é que os arquivos sobre sua vida afiançam que “embora gravemente enferma os anjos lhe aparecem e em poucos dias a curaram”. Quando retornou ao ataque, os ingleses que a julgavam morta, apavoraram-se ante sua presença e o seu estandarte e abandonaram as muradas, refugiando-se no interior do forte. Lançada a confusão entre os inimigos, as tropas de Joana e a população de Orléans que a auxiliava, tiveram tempo suficiente para tomar a fortaleza Finalmente os ingleses capitularam sob um ataque vindo de todos os lados.
    Teríamos a terceira etapa na tragédia que a envolveu, após ter visto coroado o herdeiro da dinastia de Valois, conforme prometera a seus anjos. Joana estava então em seus 17 anos, mas não teria vida suficiente para ver consolidar-se a monarquia da França. Em maio de 1431 seria queimada viva na praça do mercado da cidade normanda de Rouen.
    Só a coroação na catedral de Reims legitimava para os franceses a sagração de um rei, pois lá durante mil anos naquele mesmo batistério ,onde havia sido batizado Cloves o primeiro rei franco todos os reis da França haviam sido coroados. Assim Joana havia insistido com os chefes militares para tomarem Reims, então ocupada pelos ingleses e levar ali Carlos VII, Levantara com isso uma apoteótica comoção por parte do povo, que delirantemente a ovacionava.
    Com a coroação o nacionalismo da França se pôs alto. Foi esquecido então o mito temeroso da invencibilidade das tropas inglesas, que dificultava tantos combates, criado desde as vitórias da Inglaterra em Crecy, Poitiers e Azincourt. Contudo, por estes tempos, agora de glorias, a França estava assolada por lutas internas ,por uma verdadeira guerra civil entre o feudo da Borgonha, que apoiava os ingleses e daqueles partidários do rei.    
Joana D'Arc na fogueira.
Em 1430, o duque da Borgonha iniciou a tomada da região de Compiegne a 80 km de Paris. Convinha-lhe possuir um território que lhe permitiria unir os feudos borgonheses à rica região de Flandres, que já lhe pertencia . Joana encaminhou-se então à Compiegne para defender as terras do rei. Ali, contudo, sua caminhada guerreira chegaria ao fim. Foi capturada. Mesmo prisioneira dos borgonheses, ela representava ainda uma ameaça à Inglaterra que desejava fosse ela declarada pelas autoridades eclesiásticas uma ‘Feiticeira enviada pelo diabo”.
     Pressionados por razões econômicas, como impostos cobrados por parte dos ingleses, os borgonheses anuíram em vender Joana para aqueles ,pela quantia de 10.000 ducados de ouro. Num julgamento que durou meses, conduzido pelo bispo de Beauvais, para ela sobraram apenas duas opções: Ou arrepender-se assumindo como bruxa, o que a levaria ao cárcere perpétuo ou seria queimada viva, porque sendo, segundo as conclusões dos eclesiásticos, mesmo bruxa,  não estava se arrependendo.
    Afirmando sempre a sua missão transcendente, foi queimada então em uma imensa fogueira, conforme o costume de se queimar vivos os heréticos, estabelecido pelo tribunal da Igreja desde o século XI.
    Rouen, a velha capital do primeiro ducado de Rollon, o normando, e de Guilherme o conquistador, é hoje um dos portos mais movimentados da França. Todavia Rouen atrai sobretudo os amantes da arte e história,os primeiros pela sua magnífica catedral gótica do sec.XII e pela beleza de St. Maclou, obra prima gótico-flomboyant e os últimos evidentemente pelas lembranças locais de Joana D’Arc .
    Ao entramos na igreja que leva o seu nome, na praça do mercado, estaremos pisando o local onde foi queimada e se verá a estátua que dá a ela uma conotação mais santa do que guerreira (.Quinze anos após a sua morte o papa proclamava o erro do tribunal e sua inocência, porém só em 1920 seria canonizada por Bento XV.) Quem duvidar do sempre vivo tradicionalismo francês, deverá observar que cinco séculos após ter acontecido estes fatos, lá estão permanentemente flores frescas colocadas ante seu pedestal .A grande ação de Joana D’Arc não foi, sem dúvida, coroar este ou aquele rei. Porém, porque conseguiu levantar o sentimento unitário que justamente com todas as aquisições culturais que, desde o século XII vinha provocando um verdadeiro despertar naquela civilização ainda rude, formou a base da unidade francesa.
    Os episódios de sua vida seriam vistos como inacreditáveis se houvessem sido concebidos pela mente de um ficcionista, mas a história muitas vezes supera a ficção em fantasia.