Todos os povos prezam a memória de seus
ídolos passados, mas alguns fazem mais: Seu imaginário popular acredita
firmemente em suas voltas míticas para liberta-los de momentos adversos.
O retorno de Jesus... |
O Cristianismo crê na Parúsia, o segundo
advento do Cristo. Já na Apocalipse a Bíblia dizia que Ele viria lutar contra
uma figura bestial: O Anticristo. Introduziria uma nova era de paz conhecida
como o Millennium, pois duraria mil anos. Jerusalém se tornaria então a capital
do mundo e os Judeus reconheceriam por fim a figura de Jesus como o messias
esperado em suas profecias.
O Sebastianismo foi durante mais de um
século o messianismo português. D. Sebastião, neto de D. João III, no século
XVI gerou uma crença em seu retorno, após ter desaparecido, sem deixar vestígio
de um corpo, no norte da África, durante a batalha de Alcácer-Quibir em 1578,
quando foi combater islâmicos do Marrocos.
Passou-se então a acreditar numa volta sua
pondo término à crise dinástica que pôs os reis espanhóis no trono português. Afirmava-se
até que ele, chamado já tanto de “Capitão de Deus” como de “O Rei Encoberto”,
surgiria numa manhã de muito nevoeiro e que restabeleceria toda a glória
perdida de Portugal, esperança que naturalmente nunca aconteceu.
Também no Islã, segundo o Alcorão (43,61)
Jesus retornará aparecendo em Damasco , como redentor do Islamismo. Unir-se–ia
ao Madi iluminado em sua guerra contra um Anticristo inimigo do Islã. Tornar-se-ia
um governante islâmico de grande justiça.
Surpreendentemente Alice Bailey, uma
renomada esotérica ocultista, fala em seu livro “Magia Branca” que a pessoa de
Jesus voltaria em uma nova encarnação entre os Drusos do Líbano. Estes,
Ismaelitas (Filhos de Ismael), Xiitas do Islã. Grupo muito místico que acredita
em reencarnações e são também pacíficos, não se envolvendo em lutas. Enfim,
Jesus retornaria como um islâmico não fundamentalista, amante da paz, para uma
esperada renovação pacífica do Islamismo.
Já no Hinduísmo, Paramahansa Yogananda em
sua obra “Autobiografia de um Yogue” interpreta a Parúsia misticamente. Seria
uma grande mudança interior que aconteceria brevemente em cada indivíduo,
introduzindo no mundo uma era de fraternidade.
Entre as duas facções rivais dos Xiitas
islâmicos estão os “Filhos de Ismael” e os “Filhos de Musa”. Entre os últimos,
estava Musa como seu mais amado Imã. Os Filhos de Musa creem que em sua
descendência estarão 12 Imãs (Iluminados). O próprio Musa desapareceu de modo
misterioso. Saiu a cavalo e este voltou só e Musa jamais foi visto. Então, seus
“filhos” acreditam que um dia ele voltará como o duodécimo Imã, como um messias
que espalhará o Islã em todo o mundo, o que é o ideal último de todo Islâmico.
O Budismo Tibetano antecipou-se a todos os
Retornos idealizando uma outra encarnação do seu grande Avatar, Bodhisatwa
Avolokitsvara: Fê-lo renascer na figura impar e mais adorada do budismo chinês:
Mãe Kuan Yin.
Francisco Pizarro, invasor do reino Inca. |
No Peru, a chegada de Francisco Pizarro de
pele clara, apontando no mar, trazendo
seus navios cheios de cavalos, animais desconhecidos do nativo peruano,
coincidiu com a espera inca do deus
Viracocha que voltaria com uma aparência diáfana para resolver a crise civil alastrada pelo país
pela desavença entre os irmãos Atahualpa e Huasca. Inicialmente, até que os
incaicos se confrontassem com a crueldade e traições dos invasores espanhóis,
os cabelos louros e a pele clara de Pizarro facilitou sua chegada e muito
nativos até fizeram sacrifícios em
louvor ao deus que esperavam e que por fim viam chegar pelo mar .
Ainda no Peru, Tupac Amarú foi o guerreiro
mais amado do glorioso passado incaico.
Segundo uma crença peruana, divulgada por
guias turísticos, existiria no país ainda hoje uma aldeia montanhosa habitada
por tecelãs tão tradicionais que se intitulam ainda de “adoradores do sol”. Em
tal aldeia, se encontraria uma gigantesca tela bordada que tem como tema Tupac
Amarú, ultimo resistente Inca. Trata-se de um trabalho em lã e penas do pássaro
Colibri Dourado. Este, sendo um pássaro raríssimo de ser encontrado nas matas,
dificulta terminar-se a tela que pretende atingir até os ombros um busto deste
líder. Creem que ao terminarem a tela, Tupac Amarú, que fora decapitado pelos
invasores em Cusco, renascerá. Sob a direção do reaparecimento deste guerreiro,
a região peruana atingirá novamente o seu perdido e usurpado esplendor.
Em Cusco, comemoram o heroísmo de Tupac Amarú. |
Estes mitos que expressam o desejo de perpetuarmos a vida de figuras importantes para as mudanças sociais da humanidade, na realidade expressam apenas desejos irrealizáveis. Porém, sem dívida , ao subestimarmos o valor dos mitos, certamente tocaríamos nas esperanças que vivem e alimentam o imaginário e o coração de muitos homens.