sábado, 4 de julho de 2015

O Islã

Uma peregrinação à Caaba

  O início do islã trata da vida de um rapaz de 23 anos, Maomé, empregado em levar caravanas pelos desertos da Arábia até a Judeia, onde ele durante anos contata ideias do Judaísmo e do Cristianismo do Séc. VI DC. ( juízo final ,paraíso etc.)  Possui um temperamento místico e um dia já aos 40 anos recebe a visão de um anjo (Gabriel) que lhe diz que ele será o último dos profetas, que selará o trabalho dos líderes do Judaísmo e do Cristianismo, Moisés e Jesus. “Inicia então encontros com o anjo que lhe vai passando durante anos, ensinamentos, ditando o que será depois o livro sagrado do Islamismo que significa "Obediência”): O Corão Recitação) Este, segundo seus seguidores, selará a Torá e os Evangelhos.
    Daquelas noites muito claras e enluaradas do deserto, ele escolhe a bandeira que terá o novo credo: O emblema da lua crescente. Decreta também um dia santa na semana, que será a sexta feira, para distinguir do Sabah judaico e do domingo cristão.
    Maomé quer então implantar tais conhecimentos na cidade onde nasceu: Meca (na atual Arábia Saudita), mas encontra uma reação muito forte e é perseguido.
    Isto porque a cidade era politeísta e nela estava a “Pedra da Caaba”, monumento sagrado dos árabes antigos, anteriores ao Islã. Lá havia também um poço de abastecimento, onde as caravanas oriundas de toda a Arábia se abasteciam, cultuavam os deuses e faziam compras, dando imenso lucro à cidade. Uma crença monoteísta no Deus único Alá, como Maomé queria, viria em prejuízo do comércio local.

O crescente, símbolo do islã.

    Ele então foge junto a seguidores para a cidade próxima de Medina, e lá se torna um incomparável administrador e chefe religioso, implantando o Islã, o Corão (144 suratas).
    Estava-se em 622 D.C e dali é iniciado o ano 1 do calendário islâmico, que terá então a diferença de 622 anos a menos que o calendário cristão. Por fim, Maomé consegue a façanha de unir as tribos árabes espalhadas, criando uma nação voltada ao culto de Alá (O Clemente, Misericordioso).
    20 anos após sua morte, num trabalho surpreendente, como jamais acontecera em qualquer outra religião, o Islamismo está difundido por todo o Mediterrâneo, Ásia e África.
    Não sendo necessário se ter clero nem igreja, bastando ao crente ajoelhar-se voltado à Meca para orar e louvar a Deus, tal credo era bastante prático para os nômades do deserto e de qualquer lugarejo. Isto contribuiu para uma difusão tão rápida; também contribuíram os impostos cobrados pelos dois maiores impérios da época: o Persa e o Bizantino, enquanto que os islâmicos não os cobravam. Também a promessa de um paraíso aos guerreiros mortos e o objetivo único de propagação religiosa e não espoliação territorial.
    Como Maomé foi tanto um estadista como chefe religioso, assim se conservou a tradição de religião e Estado unidos, em todos os califados que viriam depois. Compreende-se porque até hoje os islâmicos não conseguem separa-los. Suas terras sempre foram uma Teocracia. Todas as leis políticas, sociais são ditadas pelo Corão. Esta é a grande diferença entre nós cristãos e os islâmicos. Nós separamos o Profano do Religioso. Para eles, as suas atitudes cotidianas são dirigidas pela religião, por seu livro sagrado. Enfim, vivem muito mais a religião do que nós.
    O único país islâmico que não é uma Teocracia, separando Estado e Religião é a Turquia, isto após a revolução republicana de Ataturk em 1920.
    Quando Maomé morreu, tiveram início as desavenças por sua sucessão. Desavenças que irão dividir o Islã em duas partes bem distintas que lutam entre si até hoje. Divisão que será a causa da maioria das lutas internas que se espalham por todo o Oriente Médio.
    Abriu-se a facção Xiita que aceitava e ainda aceita apenas os descendentes de Maomé como seus sucessores e representantes do verdadeiro islã. Também a facção Sunita que não os aceita e sim os que descendem dos chefes políticos, amigos do Profeta. Hoje, os Sunitas são maioria em todas as terras do islã com exceção do Iraque e Irã, países de maioria Xiita.
    Vou aqui priorizar entre as inúmeras lutas entre estas duas facções, pela grande importância que tiveram, apenas estas duas: A da Idade Média , o chamado “Massacre de Karbala”, onde os Sunitas massacraram quase toda a família de Hussein, um neto do Profeta, onde sobrou apenas uma criança ,escondida numa tenda, criança que veio dar continuidade ao Xiismo. Esse massacre resultou num dia consagrado , que é ainda até hoje lembrado pelos Xiitas, com teatralizações sobre o martírio de Hussein, jejuns e procissões, tal como nós cristãos comemoramos a Pascoa e teatralizamos o sofrimento de Jesus.
    Os Xiitas sempre foram mais emocionais e mais dramáticos do que os Sunitas. São messiânicos (esperam um Messias). Creem no Filho de Deus ; nestes aspectos se assemelhando ao Cristianismo.

Alcorão, o livro sagrado do islã.


   A outra grande luta foi na Idade Média, que durou 8 anos, de 1980 a 1988, entre Saddam Hussein (Sunita) e Khomeini (Xiita).
    Além das 5 obrigações estabelecidas pelo Corão ,obedientemente seguidas por todo islâmico, o Islã obedece também a Jihad ,que é um preceito dado não pelo Corão , mas por juízes e teólogos islâmicos. Jihad significa : “Esforço e Sacrifício no Caminho de Deus” que presume uma luta interna de cada homem consigo mesmo. Significa também “Guerra Santa” ou Jihad militar, justificada quando há invasão de território. Como foi na Antiguidade na libertação da cidade de Jerusalém , invadida pelos Cruzados ,feita por Saladino. O terrorismo surgiu da má interpretação dada a Jihad.
    Há entre os islâmicos igualdade , não existe distinção entre pobre e rico, entre classes sociais. O que distingue um homem do outro e ser um Fiel , isto é, um seguidor perfeito de Maomé ,ou ser um Infiel. A questão é que os Sunitas acham que os Xiitas não interpretam direito o Corão ,então não são Fieis e os xiitas pensam da mesma forma sobre os Sunitas. A causa das hostilidades porém, é sempre a sucessão .Quem deveria suceder Maomé? Parentes ou amigos?
    A sociedade antiga islâmica era escravista como foram todas as sociedades antigas, entre elas cristãs e judaicas. Raramente seus escravos eram islâmicos seguidores de Alá e esta seria a razão da escravatura das Américas terem recebido muito raramente escravos islâmicos mesmo os saídos dos países islamizados. A escravatura foi abolida entre eles no Séc. XIX e nos Estados independentes do Imperialismo no Séc. XX.
    Para mais complicar as lutas internas entre os próprios islâmicos do Oriente Médio, temos entre duas facções Xiitas os chamados “Filhos de Musa” e os chamados “Filhos de Ismael”. Os Filhos de Musa creem que em sua descendência estão 12 “Imans” (iluminados) . Como o próprio Musa desapareceu de modo misterioso (saiu a cavalo, e o cavalo voltou só e ele nunca mais foi visto) então seus filhos acham que um dia ele voltará como o duodécimo Iman , um messias que espalhará o Islã em todo o mundo (o ideal último de todo islâmico)
    Entre os Ismaelitas (também Xiitas) estão os Drusos , uma comunidade religiosa pouco conhecida que está na Síria , na Jordânia e em sua maioria no Líbano. Provavelmente existem desde o Séc. X. O sistema teológico é reservado, e eles não se envolvem em lutas. Têm como mestre principal Tariq Al Harkins que para eles é a encarnação do filho dileto de Deus, um descendente da linha Xiita , da filha de Maomé, Fátima.
    Só pode ser Druso os descendentes de um Druso. São muito místicos ,esotéricos, acreditam na Reencarnação. São também fechados , porém acredita-se que sejam um dos grupos mais puros e bem intencionados do Islã.
    Outro ramo dos Ismaelitas (hoje quase em extinção) são os Nazaritas chamados de “Assassinos” Este nome lhes vem de uma droga que usavam o “Hashishium”. Eram justiceiros , Seu chefe era conhecido como “O velho da montanha” .Um personagem misterioso que aliciava jovens , levando-os a um local paradisíaco , criado por ele numa montanha onde experimentavam e tinham uma antevisão de um futuro paraíso, que eles obteriam caso se dispusessem a serem justiceiros, matando a golpe de adaga todas as autoridades consideradas importunas e tiranas.

A dança mística dos dervixes.

    Conseguiram levar o terror a todo o Oriente Médio nos séculos XII e XIII. As lutas entre estas duas facções Xiitas (Filhos de Musa e Filhos de Ismael) foi o que enfraqueceu O Xiismo, tornando os Sunitas maioria.
    Os Sunitas fundaram a belíssima cidade de Bagdá (Séc. VIII) (hoje quase toda destruída por guerras) e nela introduziram as famosas Madrasas (Escolas de Teologia e saber) . Fundaram lá também a “Casa da Sabedoria”. Desta, foram para a Espanha, para a região da Andaluzia, levando toda a beleza da arte arquitetônica que hoje vemos nela , a filosofia dos gregos antigos, a matemática de Pitágoras, a geometria de Euclides, instrumentos novos de navegação e Astronomia. Enfim, toda a sabedoria que os mouros introduziram na Andaluzia fez a riqueza de Córdoba, Sevilha, Granada, Toledo.
    Em Jerusalém estão os primeiros monumentos islâmicos: O Domo da Rocha (Mesquita de Omar) que situado no monte do Templo é também um local sagrado para os Judeus pois foi ali que aconteceu o episódio bíblico do “sacrifício de Isaac”. Também ali está a magnífica mesquita Aqsa.
    Tentemos agora entender o grande ódio que o Oriente Médio tem ao Ocidente. Isso vem de longe. Na Idade Média lá tivemos os horrores das Cruzadas com os cristãos fazendo massacres inimagináveis às populações judias e islâmicas. Isto porém é passado .Modernamente tivemos o imperialismo russo e britânico em posse do Irã .Só ao final do Séc. XIX a Grã-Bretanha e a Rússia reconheceram a independência do Irã. Nas Filipinas (local islâmico) os E.U. Fincaram pé. O presidente americano justificava a posse da Filipina islâmica dizendo que estavam ali para desenvolvê-la, civiliza-la e educa-la. Quando lá, guerrilhas internas começaram contra os E.U., o general MacArthur achou que as guerrilhas eram contra as leis de guerra e que prisioneiros não mereciam então quaisquer benefícios de guerra .Ordenou: Matem todos os prisioneiros maiores de 10 anos .Isto é, enfim todos. Tal episódio foi apenas há um século (1913). Diz nosso grande historiador Voltaire Shilling, em tom de ironia: “E os americanos dizem não saber por que são odiados pelos Muçulmanos!” (Ocidente X Oriente, pág. 115).
   O Islã conta com grupos fundamentalistas que se acham responsáveis pela pureza dos costumes islâmicos. São eles: o Taliban (Iraque), Irmandade Muçulmana (Egito), Hezbollah (Líbano) Hamas (Cisjordânia), República Islâmica (Irã). Suas atividades criminosas são em geral contra os costumes dos próprios Fieis dentro do Oriente Médio.
    Quando falamos em fundamentalismo, lembremos que temos entre nós também fundamentalistas de grupos cristãos , contudo, não tão radicais e nem sendo criminosos. Temos Batistas, Prebisterianos, Evangélicos, Adventistas que são contra costumes modernos como divórcio, aborto, células tronco etc. e são anti- Darwinistas, não aceitando a teoria evolucionista de Darwin.


Templo de Baha'i Flor de Lótus em Nova Delhi.

    Falemos um pouco sobre o atual “Grupo Estado Islâmico”. Saddan Hussein era um dirigente Sunita do Iraque, que agia segundo o fundamentalismo do Taliban. Foi deposto por uma invasão de países ocidentais aliados, liderados pelos E.U. em 2003 . Foi enforcado em 2006, sendo substituído por um governo Xiita ,sendo o Xiismo maioria no Iraque. Então a reação sunita contra Xiitas não se fez esperar. Em 2004 foi criado o ”Grupo Estado Islâmico” para vinga-lo. Naturalmente seus alvos são todos os Xiitas (que segundo eles são Infiéis que devem ser todos mortos) e também principalmente os cidadãos americanos e os de costumes ocidentais em geral. São chamados também de Jihadistas, isto é, da Jihad militar que tem a obrigação de lutar contra invasores. Visam pôr toda a Síria sob o controle do “Grupo Estado Islâmico”. Para isto, precisam derrubar o atual governo . Então, se uniram aos rebeldes que vêm há anos querendo derrubar o ditador presidente Bashar Al Assad. Contam com grandes recursos do petróleo. Na Nigéria o cruel ditador Bah Haram se juntou a eles. Pretendem depois tomar a Jordânia e a Arábia Saudita. O líder do Grupo Estado Islâmico é Abu-Bahr-Albagdade chamado fanaticamente de “o califa de todos os muçulmanos” Tem agentes em todo o ocidente aliciando jovens para sua causa.
   Todavia, com todo o terrorismo e horror que estamos assistimos vindo do Islã, acredito ainda na parte mística , boa do Islamismo. Quando pensamos nas atrocidades do nazismo que durou os anos da guerra (7 anos) mas que por fim terminou não podemos perder a esperança. Confio num movimento religioso , o Islã ,que conta entre seus membros grupos tão puros como os Sufis e os Bah’ais. O movimento Bah’ai foi fundado no Séc. IX pelo persa (iraniano) Bah’a Ullah. Propõe a união de todas as religiões .É universalista; profundamente devocional. Propõe também a igualdade entre homens e mulheres. È perseguido contudo dentro do próprio Irã e protegido pela ONU, tem seus membros encaminhados a outros países (Aqui no Brasil estão em grande número) São liberais e abertos a todos.
    Os Sufis provieram da facção Xiita, Fatimida . Creem que foi Fátima, filha do Profeta, que obteve as primeiras noções sufistas. Foram muito perseguidos porque o Islamismo ortodoxo só admite que se adore a Deus. Vê o interagir ,a experiência mística, pessoal homem-divindade como uma heresia feita pelos sufistas ,uma pretensão absurda.
    Do Afeganistão (antigamente Pérsia) nos veio o grande mestre do Sufismo Mevlana Rumi que o propagou na Ásia Menor (hoje Turquia) onde é ali até hoje desde o sec. XIII idolatrado, principalmente na cidade de Kônia , sede maior de sua pregação. É o inspirador dos Dervixes girantes (Ao rodopiarem chegam ao transe , por estarem em comunhão com Alah). É também um dos maiores poetas do Islã. Sua grande obra é Mathnavi (seis livros), considerada uma das obras primas da literatura persa. Seus ensinamentos vieram sempre através da arte poética, devocional (Busca Deus em toda parte ,mas o encontra em seu coração, segundo seus versos.)
    A característica marcante dos dervixes girantes é a evolução espiritual obtida sempre com o auxílio de um mestre. Segundo Rumi, o homem como parte da unicidade entre seres , jamais poderia evoluir sem o concurso de alguém, como ele próprio obteve, pela convivência com seu grande mestre Shamis Ad Din.
Vejo os Sufis e os Bah’ais como a grande perspectiva de um Islamismo puro e sagrado.

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