Uma peregrinação à Caaba |
O início do islã trata da vida de um rapaz de
23 anos, Maomé, empregado em levar caravanas pelos desertos da Arábia até a
Judeia, onde ele durante anos contata ideias do Judaísmo e do Cristianismo do Séc. VI DC. ( juízo final ,paraíso etc.)
Possui um temperamento místico e um dia já aos 40 anos recebe a visão de
um anjo (Gabriel) que lhe diz que ele será o último dos profetas, que selará o
trabalho dos líderes do Judaísmo e do Cristianismo, Moisés e Jesus. “Inicia
então encontros com o anjo que lhe vai passando durante anos, ensinamentos,
ditando o que será depois o livro sagrado do Islamismo que significa "Obediência”): O Corão Recitação) Este, segundo seus seguidores, selará a Torá e
os Evangelhos.
Daquelas noites muito claras e enluaradas
do deserto, ele escolhe a bandeira que terá o novo credo: O emblema da lua
crescente. Decreta também um dia santa na semana, que será a sexta feira, para
distinguir do Sabah judaico e do domingo cristão.
Maomé quer então implantar tais
conhecimentos na cidade onde nasceu: Meca (na atual Arábia Saudita), mas
encontra uma reação muito forte e é perseguido.
Isto porque a cidade era politeísta e nela
estava a “Pedra da Caaba”, monumento sagrado dos árabes antigos, anteriores ao Islã.
Lá havia também um poço de abastecimento, onde as caravanas oriundas de toda a
Arábia se abasteciam, cultuavam os deuses e faziam compras, dando imenso lucro
à cidade. Uma crença monoteísta no Deus único Alá, como Maomé queria, viria em
prejuízo do comércio local.
O crescente, símbolo do islã. |
Ele então foge junto a seguidores para a
cidade próxima de Medina, e lá se torna um incomparável administrador e chefe
religioso, implantando o Islã, o Corão (144 suratas).
Estava-se em 622 D.C e dali é iniciado o ano
1 do calendário islâmico, que terá então a diferença de 622 anos a menos que o
calendário cristão. Por fim, Maomé consegue a façanha de unir as tribos árabes espalhadas,
criando uma nação voltada ao culto de Alá (O Clemente, Misericordioso).
20 anos após sua morte, num trabalho
surpreendente, como jamais acontecera em qualquer outra religião, o Islamismo
está difundido por todo o Mediterrâneo, Ásia e África.
Não sendo necessário se ter clero nem
igreja, bastando ao crente ajoelhar-se voltado à Meca para orar e louvar a
Deus, tal credo era bastante prático para os nômades do deserto e de qualquer
lugarejo. Isto contribuiu para uma difusão tão rápida; também contribuíram os
impostos cobrados pelos dois maiores impérios da época: o Persa e o Bizantino,
enquanto que os islâmicos não os cobravam. Também a promessa de um paraíso aos
guerreiros mortos e o objetivo único de propagação religiosa e não espoliação
territorial.
Como Maomé foi tanto um estadista como
chefe religioso, assim se conservou a tradição de religião e Estado unidos, em
todos os califados que viriam depois. Compreende-se porque até hoje os
islâmicos não conseguem separa-los. Suas terras sempre foram uma Teocracia.
Todas as leis políticas, sociais são ditadas pelo Corão. Esta é a grande
diferença entre nós cristãos e os islâmicos. Nós separamos o Profano do Religioso.
Para eles, as suas atitudes cotidianas são dirigidas pela religião, por seu
livro sagrado. Enfim, vivem muito mais a religião do que nós.
O único país islâmico que não é uma Teocracia,
separando Estado e Religião é a Turquia, isto após a revolução republicana de
Ataturk em 1920.
Quando Maomé morreu, tiveram início as
desavenças por sua sucessão. Desavenças que irão dividir o Islã em duas partes
bem distintas que lutam entre si até hoje. Divisão que será a causa da maioria
das lutas internas que se espalham por todo o Oriente Médio.
Abriu-se a facção Xiita que aceitava e
ainda aceita apenas os descendentes de Maomé como seus sucessores e
representantes do verdadeiro islã. Também a facção Sunita que não os aceita e
sim os que descendem dos chefes políticos, amigos do Profeta. Hoje, os Sunitas
são maioria em todas as terras do islã com exceção do Iraque e Irã, países de
maioria Xiita.
Vou aqui priorizar entre as inúmeras lutas
entre estas duas facções, pela grande importância que tiveram, apenas estas
duas: A da Idade Média , o chamado “Massacre de Karbala”, onde os Sunitas
massacraram quase toda a família de Hussein, um neto do Profeta, onde sobrou
apenas uma criança ,escondida numa tenda, criança que veio dar continuidade ao
Xiismo. Esse massacre resultou num dia consagrado , que é ainda até hoje
lembrado pelos Xiitas, com teatralizações sobre o martírio de Hussein, jejuns e
procissões, tal como nós cristãos comemoramos a Pascoa e teatralizamos o
sofrimento de Jesus.
Os Xiitas sempre foram mais emocionais e
mais dramáticos do que os Sunitas. São messiânicos (esperam um Messias). Creem
no Filho de Deus ; nestes aspectos se assemelhando ao Cristianismo.
Alcorão, o livro sagrado do islã. |
A outra grande luta foi na Idade Média, que
durou 8 anos, de 1980 a 1988, entre Saddam Hussein (Sunita) e Khomeini (Xiita).
Além das 5 obrigações estabelecidas pelo
Corão ,obedientemente seguidas por todo islâmico, o Islã obedece também a Jihad
,que é um preceito dado não pelo Corão , mas por juízes e teólogos islâmicos.
Jihad significa : “Esforço e Sacrifício no Caminho de Deus” que presume uma
luta interna de cada homem consigo mesmo. Significa também “Guerra Santa” ou
Jihad militar, justificada quando há invasão de território. Como foi na
Antiguidade na libertação da cidade de Jerusalém , invadida pelos Cruzados
,feita por Saladino. O terrorismo surgiu da má interpretação dada a Jihad.
Há entre os islâmicos igualdade , não
existe distinção entre pobre e rico, entre classes sociais. O que distingue um
homem do outro e ser um Fiel , isto é, um seguidor perfeito de Maomé ,ou ser um
Infiel. A questão é que os Sunitas acham que os Xiitas não interpretam direito
o Corão ,então não são Fieis e os xiitas pensam da mesma forma sobre os
Sunitas. A causa das hostilidades porém, é sempre a sucessão .Quem deveria
suceder Maomé? Parentes ou amigos?
A sociedade antiga islâmica era escravista
como foram todas as sociedades antigas, entre elas cristãs e judaicas.
Raramente seus escravos eram islâmicos seguidores de Alá e esta seria a razão
da escravatura das Américas terem recebido muito raramente escravos islâmicos
mesmo os saídos dos países islamizados. A escravatura foi abolida entre eles no Séc. XIX e nos Estados independentes do Imperialismo no Séc. XX.
Para mais complicar as lutas internas entre
os próprios islâmicos do Oriente Médio, temos entre duas facções Xiitas os
chamados “Filhos de Musa” e os chamados “Filhos de Ismael”. Os Filhos de Musa
creem que em sua descendência estão 12 “Imans” (iluminados) . Como o próprio
Musa desapareceu de modo misterioso (saiu a cavalo, e o cavalo voltou só e ele
nunca mais foi visto) então seus filhos acham que um dia ele voltará como o
duodécimo Iman , um messias que espalhará o Islã em todo o mundo (o ideal
último de todo islâmico)
Entre os Ismaelitas (também Xiitas) estão os
Drusos , uma comunidade religiosa pouco conhecida que está na Síria , na
Jordânia e em sua maioria no Líbano. Provavelmente existem desde o Séc. X. O
sistema teológico é reservado, e eles não se envolvem em lutas. Têm como
mestre principal Tariq Al Harkins que para eles é a encarnação do filho dileto
de Deus, um descendente da linha Xiita , da filha de Maomé, Fátima.
Só pode ser Druso os descendentes de um Druso.
São muito místicos ,esotéricos, acreditam na Reencarnação. São também fechados
, porém acredita-se que sejam um dos grupos mais puros e bem intencionados do
Islã.
Outro ramo dos Ismaelitas (hoje quase em extinção)
são os Nazaritas chamados de “Assassinos” Este nome lhes vem de uma droga que
usavam o “Hashishium”. Eram justiceiros , Seu chefe era conhecido como “O velho
da montanha” .Um personagem misterioso que aliciava jovens , levando-os a um
local paradisíaco , criado por ele numa montanha onde experimentavam e tinham uma
antevisão de um futuro paraíso, que eles obteriam caso se dispusessem a serem
justiceiros, matando a golpe de adaga todas as autoridades consideradas
importunas e tiranas.
A dança mística dos dervixes. |
Conseguiram levar o terror a todo o Oriente
Médio nos séculos XII e XIII. As lutas entre estas duas facções Xiitas (Filhos
de Musa e Filhos de Ismael) foi o que enfraqueceu O Xiismo, tornando os Sunitas
maioria.
Os Sunitas fundaram a belíssima cidade de
Bagdá (Séc. VIII) (hoje quase toda destruída por guerras) e nela introduziram
as famosas Madrasas (Escolas de Teologia e saber) . Fundaram lá também a “Casa
da Sabedoria”. Desta, foram para a Espanha, para a região da Andaluzia, levando
toda a beleza da arte arquitetônica que hoje vemos nela , a filosofia dos
gregos antigos, a matemática de Pitágoras, a geometria de Euclides,
instrumentos novos de navegação e Astronomia. Enfim, toda a sabedoria que os
mouros introduziram na Andaluzia fez a riqueza de Córdoba, Sevilha, Granada,
Toledo.
Em Jerusalém estão os primeiros monumentos
islâmicos: O Domo da Rocha (Mesquita de Omar) que situado no monte do Templo é
também um local sagrado para os Judeus pois foi ali que aconteceu o episódio
bíblico do “sacrifício de Isaac”. Também ali está a magnífica mesquita Aqsa.
Tentemos agora entender o grande ódio que o
Oriente Médio tem ao Ocidente. Isso vem de longe. Na Idade Média lá tivemos os
horrores das Cruzadas com os cristãos fazendo massacres inimagináveis às
populações judias e islâmicas. Isto porém é passado .Modernamente tivemos o
imperialismo russo e britânico em posse do Irã .Só ao final do Séc. XIX a
Grã-Bretanha e a Rússia reconheceram a independência do Irã. Nas Filipinas
(local islâmico) os E.U. Fincaram pé. O presidente americano justificava a
posse da Filipina islâmica dizendo que estavam ali para desenvolvê-la,
civiliza-la e educa-la. Quando lá, guerrilhas internas começaram contra os
E.U., o general MacArthur achou que as guerrilhas eram contra as leis de guerra
e que prisioneiros não mereciam então quaisquer benefícios de guerra .Ordenou:
Matem todos os prisioneiros maiores de 10 anos .Isto é, enfim todos. Tal
episódio foi apenas há um século (1913). Diz nosso grande historiador Voltaire
Shilling, em tom de ironia: “E os americanos dizem não saber por que são
odiados pelos Muçulmanos!” (Ocidente X Oriente, pág. 115).
O Islã conta com grupos fundamentalistas que
se acham responsáveis pela pureza dos costumes islâmicos. São eles: o Taliban (Iraque),
Irmandade Muçulmana (Egito), Hezbollah (Líbano) Hamas (Cisjordânia), República
Islâmica (Irã). Suas atividades criminosas são em geral contra os costumes dos
próprios Fieis dentro do Oriente Médio.
Quando falamos em fundamentalismo,
lembremos que temos entre nós também fundamentalistas de grupos cristãos ,
contudo, não tão radicais e nem sendo criminosos. Temos Batistas,
Prebisterianos, Evangélicos, Adventistas que são contra costumes modernos como
divórcio, aborto, células tronco etc. e são anti- Darwinistas, não aceitando
a teoria evolucionista de Darwin.
Templo de Baha'i Flor de Lótus em Nova Delhi. |
Falemos um pouco sobre o atual “Grupo
Estado Islâmico”. Saddan Hussein era um dirigente Sunita do Iraque, que agia
segundo o fundamentalismo do Taliban. Foi deposto por uma invasão de países ocidentais
aliados, liderados pelos E.U. em 2003 . Foi enforcado em 2006, sendo
substituído por um governo Xiita ,sendo o Xiismo maioria no Iraque. Então a
reação sunita contra Xiitas não se fez esperar. Em 2004 foi criado o ”Grupo
Estado Islâmico” para vinga-lo. Naturalmente seus alvos são todos os Xiitas (que
segundo eles são Infiéis que devem ser todos mortos) e também principalmente os
cidadãos americanos e os de costumes ocidentais em geral. São chamados também
de Jihadistas, isto é, da Jihad militar que tem a obrigação de lutar contra
invasores. Visam pôr toda a Síria sob o controle do “Grupo Estado Islâmico”. Para
isto, precisam derrubar o atual governo . Então, se uniram aos rebeldes que vêm
há anos querendo derrubar o ditador presidente Bashar Al Assad. Contam com
grandes recursos do petróleo. Na Nigéria o cruel ditador Bah Haram se juntou a
eles. Pretendem depois tomar a Jordânia e a Arábia Saudita. O líder do Grupo
Estado Islâmico é Abu-Bahr-Albagdade chamado fanaticamente de “o califa de
todos os muçulmanos” Tem agentes em todo o ocidente aliciando jovens para sua
causa.
Todavia, com todo o terrorismo e horror que
estamos assistimos vindo do Islã, acredito ainda na parte mística , boa do
Islamismo. Quando pensamos nas atrocidades do nazismo que durou os anos da guerra
(7 anos) mas que por fim terminou não podemos perder a esperança. Confio num
movimento religioso , o Islã ,que conta entre seus membros grupos tão puros
como os Sufis e os Bah’ais. O movimento Bah’ai foi fundado no Séc. IX pelo persa
(iraniano) Bah’a Ullah. Propõe a união de todas as religiões .É universalista;
profundamente devocional. Propõe também a igualdade entre homens e mulheres. È
perseguido contudo dentro do próprio Irã e protegido pela ONU, tem seus membros
encaminhados a outros países (Aqui no Brasil estão em grande número) São
liberais e abertos a todos.
Os Sufis provieram da facção Xiita,
Fatimida . Creem que foi Fátima, filha do Profeta, que obteve as primeiras
noções sufistas. Foram muito perseguidos porque o Islamismo ortodoxo só admite
que se adore a Deus. Vê o interagir ,a experiência mística, pessoal
homem-divindade como uma heresia feita pelos sufistas ,uma pretensão absurda.
Do Afeganistão (antigamente Pérsia) nos
veio o grande mestre do Sufismo Mevlana Rumi que o propagou na Ásia Menor (hoje
Turquia) onde é ali até hoje desde o sec. XIII idolatrado, principalmente na
cidade de Kônia , sede maior de sua pregação. É o inspirador dos Dervixes girantes
(Ao rodopiarem chegam ao transe , por estarem em comunhão com Alah). É também
um dos maiores poetas do Islã. Sua grande obra é Mathnavi (seis livros),
considerada uma das obras primas da literatura persa. Seus ensinamentos vieram
sempre através da arte poética, devocional (Busca Deus em toda parte ,mas o
encontra em seu coração, segundo seus versos.)
A característica marcante dos dervixes
girantes é a evolução espiritual obtida sempre com o auxílio de um mestre.
Segundo Rumi, o homem como parte da unicidade entre seres , jamais poderia
evoluir sem o concurso de alguém, como ele próprio obteve, pela convivência com
seu grande mestre Shamis Ad Din.
Vejo os Sufis e os Bah’ais
como a grande perspectiva de um Islamismo puro e sagrado.
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