domingo, 20 de março de 2011

Símbolos nos templos cristãos

    Visitar templos cristãos é adentrar um manancial revelador da simbologia cristã, da vivência do Cristo e do desenvolvimento dos períodos históricos em que foram edificados.
    Aquilo que nos indica um de seus templos é a cruz que encima a sua construção. Ela logo nos relembra cada homem entrando na vida terrena, crucificado na matéria para vivenciar experiências de dualidades. Tentando harmonizar opostos como alegria e tristeza, amor e ódio etc. Simbolizados nos braços verticais e horizontais da cruz .
     A Cruz – diz Fulcanelli em sua bela obra “O mistério das catedrais”- é o crisol onde até o próprio Cristo sofreu sua Paixão. É enfim uma purgação onde renovamos sentimentos e evoluímos.
Muitos templos destacam-se por possuir em seu adro um cruzeiro de pedra, mormente as construções franciscanas. O conjunto religioso de capela e monastério dos monges Cartuxos, nos Alpes de Chartreuse (França) num cruzeiro à sua frente, dá à sua cruz o simbolismo da permanência da mensagem crística,pelo que traz escrito nele: “Mudam e mudam os mundos mas a cruz permanece sempre girando em direção aos céus”.
    O Sino é outro elemento importante na torre de igrejas e capelas. Ao soar, chama os cristãos para um contato entre o transcendente e o material. Chama o homem para que ouça a  voz divina, a harmonia cósmica.  Hoje , o som dos sinos se perdem entre a selva de edifícios de uma metrópole.  Porém, na pequenas comunidades ele faz também a função de unir seus habitantes, anunciando um novo nascimento ,um enlace e um rompimento de morte.
    O Galo é também um símbolo cristão, já usado porém dentro do paganismo. Neste, anunciava com seu canto matinal, a luz de Apolo, deus solar que chegava. No Cristianismo , ele é a presença da ressurreição, da vigilância e do chamamento.Enquanto o homem dorme (também espiritualmente)o galo vigia. Depois canta três vezes para acordá-lo.
Anuncia o surgir de um novo dia, chama o homem a um despertar, uma ressurreição.
    Já possuía um significado transcendente de vigia e chamamento ao tempo de Jesus. No Evangelho de  S.Marcos, este diz:” Sê vigilante, pois nunca sabeis quando o vosso mestre virá vos chamar. Se será esta tarde, no meio da noite ou na madrugada quando o galo cantar”. Sobre a torre de uma igreja cristã ele é o emblema solar do Cristo, a chamar para a supremacia da luz sobre as trevas humanas.
    Labirintos são também priorizados nos solos dos templos cristãos. São círculos concêntricos que interrompidos em certos trajetos tornam difícil encontrar aquele que conduz ao seu centro.O seu ponto central simboliza o mais íntimo de cada homem, onde este pode  encontrar sua própria divindade. Percorrendo os caminhos daqueles desenhos labirínticos vivemos sensações angustiantes de nos  perdermos; de frustações por crermos que jamais chegaremos ao centro, vamos enfim vivendo emoções que nos levam à interiorizações para nos conhecermos, vencermos nossos medos, para enfim atingirmos nosso próprio âmago. Uma verdadeira Iniciação.
Labirinto da catedral de Chartres, França.


    O símbolo do labirinto foi também consagrado desde os tempos mitológicos gregos. Lembremos a fortaleza de Creta onde, no mito, em  seu centro tentávamos matar nossas inferioridades, nossos monstros internos, simbolizados no Minotauro que Teseu  por fim matou para tornar-se um herói vencedor.
    Já também o mausoléu de Augusto em Roma fora construído na forma de um labirinto, talvez aproveitando a idéia grega de que, através de um labirinto, sua alma chegasse ao estado paradisíaco de vitória.
    A um cristão, além da busca por seu próprio âmago, o labirinto significava os difíceis caminhos das peregrinações, por onde alguém queria chegar a um local sagrado, a um local considerado um ônfalo, um centro do mundo.
    Quando as Cruzadas medievais do sec. XIII impossibilitaram as peregrinações à Jerusalém ,então considerada um centro sagrado para o cristão europeu, este passou a usar os labirintos desenhados no chão das catedrais, em especial aquele da catedral francesa de Chartres. Neste imenso labirinto de duzentos metros, eram feitas então viagens simbólicas à cidade santa.
    Nos altares, ali estão também as Velas com sua simbologia de luz. Elas nos lembram um tempo em que, como primitivos  tribais, dançávamos em redor de um fogo para homenagear o deus que era o sol, o fogo para os tribais. Hoje, o fogo de uma vela ainda representa o próprio Deus, um deus interno no qual nos movemos e existimos e a acendemos quando, num rito, queremos contatar e reverenciar o divino.
Pelicano alimentando seus filhos com o próprio sangue.

    O pelicano com sua lenda de que ao sentir que seus filhos estão famintos, rasga o peito com o bico para alimentá-los com o seu sangue , é o símbolo do sacrifício. Nenhum símbolo - pensam os cristãos- se ajusta tanto à figura do Cristo que como salvador sacrificou-se para ajudar a humanidade . Assim, em muitos templos cristãos em pinturas e esculturas o pelicano se faz presente. Quem visitar o deslumbrante esplendor da igreja de São Francisco na Bahia verá de tanto em tanto, em meio a sua ofuscante arte barroca, imagens de vários pelicanos negros.
    O Cristo é naturalmente o ser mais glorificado em seus templos. Já na parte externa das igrejas românicas e góticas, em seus tímpanos que sobrepõem suas portas principais ,Ele aparece em seu papel de mestre instrutor, onde é chamado de “Cristo Pantacrator”. O Cristo traz sempre numa das mãos um livro, símbolo da instrução e com a outra mão nos abençoa com um mudra onde tem levantados os dedos indicador  e médio.  Nesta concepção , o Cristo está sempre cercado pelos 4 animais do Apocalípse: o leão, o touro, a águia e o homem, identificados aos 4 evangelistas :S. Marcos ao leão, S. Lucas ao touro, S. João à águia e Mateus ao homem. No início do cristianismo esses animais eram identificados  apenas ao Cristo. Era dito que Ele viveu como um homem, morreu  como um touro imolado, ergueu-se do túmulo com  força  de um leão e ascendeu aos céus como uma águia. Posteriormente, esses animais foram identificados às  qualidades dos 4 evangelistas, sendo desde então requeridos aos discípulos de linha cristã  que desenvolvam alem da consciência do homem , a coragem do leão, a persistência do touro e o desejo de liberdade da águia. Em outras concepções do Cristo instrutor ele está apenas cercado pelos 4 evangelistas.
 Sua genealogia como descendente de Davi é expressa também em obras de arte que são as Árvores de Jessé. Este, pai de Davi, sempre principia a origem genealógica  do Cristo, dando a Ele a sua realidade histórica. Assim, no belíssimo Pórtico da Glória da catedral de Compostela entre 200 esculturas de granito, aparece na parte inferior Jessé dormindo. Segue-se para cima o rei Davi , grande músico, tocando harpa. Depois a Virgem e finalmente o Cristo.  No retábulo de ouro da catedral espanhola de Burgos, Jessé dorme enquanto de seu corpo partem galhos com as imagens dos ancestrais do Cristo. Aparecem ali em evidência  São Joaquim e santa Ana , os avós do Cristo.
O Cristo e os quatro animais do apocalipse.

    A transfiguração do cristo é outro motivo para retábulos de ouro. Neles, o Cristo está sempre acompanhado de seus três discípulos: Pedro, Tiago e João. Conta-se que os três representam ali as três energias que o mestre havia desenvolvido neles: Pedro a obediência, Tiago a valentia e João o amor. Acima, o Cristo está sempre glorioso , de braços erguidos como se atendesse a um chamado espiritual.
    Algo que nos chama a atenção nos templos cristãos são as Virgens Negras. Quando o Cristianismo difundiu-se pela Europa, encontrou ali uma grande devoção à mãe terra do Paganismo. Proliferavam os locais onde se adorava aquela energia que, vista como saída dos minérios do interior da terra, era idealizada como uma mulher  de cor negra. Sobre estes locais, a Igreja colocou depois os grandes santuários à Virgem. Na França, as famosas Notre Dames. Aproveitava-se assim a grande força votiva existente naqueles locais e o hábito de neles a Virgem ser reverenciada. Porém, mesmo hoje, em criptas subterrâneas e úmidas, que na Antiguidade eram subterrâneos considerados as moradas das deusas mães, encontramos as chamadas pelo Cristianismo de” Virgens Parituras , isto é, relativas a uma terra primitiva, à  matéria  ainda não fecundada. Bons exemplos são as da cripta da igreja de Chartres, também a Virgem negra da catedral de Le Puy  e ainda aquela da cripta de São Vitor em Marselha.
Na Provença encontramos uma grande veneração a uma Virgem negra. Esta, sem ligação com a mãe terra do Paganismo. Refere-se a uma serva negra que teria chegada ali com as três Marias que teriam vindo da Palestina após a morte de Jesus para pregarem  a mensagem crística na França. Tais Marias deram o nome à cidade: Stas. Maries de La Mer. A serva negra tornou-se ali a grande devoção dos ciganos locais. Sua estátua, dentro da catedral sai dali anualmente apenas para ser reverenciada em grandes festejos e procissões.
    Momentos históricos diversos produzem estilos diversos em templos. Assim, na Idade Media tivemos o estilo Românico, fechado, pesado escuro, com poucas aberturas revelando um homem medieval oprimido, sem oportunidade ou capacidade para externar-se.  Tal estilo duraria até o sec.XIII quando então seria substituído pelo Gótico.
Vitrais da catedral gótica de Leon, Espanha.

    O século XIII surgia com mudanças, com o homem tendo oportunidade de conhecer novos povos, novas mentalidades, despertando para a sua individualidade. Abria-se para novos mercados num renascimento de indústria e comércio. Assistia a difusão do ensino secundário, a abertura até de universidades, organizava então Ligas para defender seus direitos contra senhores e reis.
    Quando no século XIII dá-se o apogeu da literatura medieval, o homem passa a ver Deus como manifestação, abertura. Então, no estilo Gótico, o homem levanta os olhos para o alto, para as inúmeras torres pontiagudas das catedrais. A nova indústria de vitrais coloridos enfeitam as muitas janelas e rosetões das Góticas para deixar passar a luz. Deus é enfim Luz . Assim, temos entre inúmeros exemplos o templo gótico de Leon na Espanha que conta com 125 janelas de vitrais.  Um verdadeiro esplendor.
 A palavra” Gótico” é explicada de duas maneiras. Historiadores dizem ser um termo pejorativo que os arquitetos medievais deram ao novo estilo expandido na França,  termo originado de” Godos “, bárbaros franceses, visto então como um estilo de primitivos. Já os ocultistas medievais e também os atuais, explicam que o termo” Gótico “ seria uma deformação linguística da palavra” Argótico”. O argótico seria uma arte mágica. Ela define uma linguagem pela qual indivíduos comunicam seus pensamentos por símbolos, sem serem compreendidos pela maioria daqueles que os rodeiam.È enfim uma cabala simbólica. Hoje o ocultista diz de um homem astuto: Ele sabe tudo, entende o Argótico. (Fulcanelli, El mistério de las catedrales, pag 62).
    Muitos iniciados perseguidos como foi o caso dos Gnósticos e Cavaleiros Templários, estes financiadores dos templos góticos, junto aos maçons arquitetos, colocaram neles seus conhecimentos esotéricos através de simbologias que  apenas poucos entendiam.
   Temos como exemplo a estátua de um velho chamado “O Alquimista”, nas partes altas da Notre dame de Paris. Sua figura meditativa traz sobre a cabeça um gorro. Tal gorro é um sinal distintivo dos grandes Iniciados.  Foram usados também como talismã protetor pelos “sans culottes”, revolucionários franceses. Só poucos vêm nele a figura de um discípulo do caminho iniciatório. È ainda Fulcanelli na mesma obra já citada acima quem nos relata.
    Os templos medievais invariavelmente têm o seu altar-mor no Oriente, onde nasce o sol, de forma que os fieis ao entrarem neles façam frente à Palestina,onde nasceu o Cristo. Por esta disposição o grande  rozetão da fachada principal é iluminado pelo sol poente, de maneira que o fiel que adentra aquelas catedrais  saiam das trevas indo em direção à luz, ao próprio Cristo, fazendo junto ao sol um renascimento.

      
Helyette Malta Rossi

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