segunda-feira, 29 de março de 2021

A Páscoa Judaica e Cristã

   A Páscoa é uma comemoração que se iniciou no êxodo do povo de Israel voltando à Terra de Canaã e se renovou na ressurreição prometida pelo Homem-Cristo aos seus discípulos.

   Em ambos os casos, guarda para nós, através dos milênios, o mesmo significado: a passagem de um estado a outro melhor, a mudança, a libertação.

   Após a vitoriosa fuga sob o comando de Moisés, de uma escravidão de 400 anos dentro do Egito, para uma nova vida de povo livre, os hebreus passam a celebrar a data-marco de sua liberdade, o nascimento de sua nação, dando a ela o nome de “Pessach” (Passagem). Para o povo de Israel o ”Pessach”, referencia á passagem dos Judeus pelas águas ”divididas” do mar Vermelho, será sempre o milagre, a benevolência divina em favor de um povo oprimido.

   Hoje, que a ecologia da região foi estudada e comprovou-se a secura periódica e repentina de uma faixa do mar Vermelho, os estudiosos espiritualistas, sejam eles ocidentais ou orientais, Judeus ou cristãos, valorizam sobremaneira o “Pessach” judaico como sendo, realmente, uma das mais autênticas manifestações da Providência divina, para um povo, num momento importante de sua evolução histórica.

   Moisés, com uma inexistência de transportes, de qualquer tecnologia e meios sofisticados de difusão para organizar chamamentos, conseguiu, dentro de um Estado social altamente estruturado como era o Egito, unir centenas de famílias que compunham a grande massa judia, vivendo ali como classe oprimida e detestada. Pelo que historicamente sabemos Moisés não era alguém que militarmente respaldado pudesse manipular uma saída de famílias de modo que isto não fosse notado. Organizou assim mesmo uma fuga em massa apenas pela força de sua liderança espiritual, conseguindo uma conscientização conjunta ao ideal de retornar à Terra de Canaã.

Tradição Pascoal judaica.

   Tem-se conhecimento de que seria um iniciado, ligado a um retiro nas imediações do mar Vermelho, sendo assim um conhecedor dos fenômenos locais. Contudo, deslocar disfarçadamente aquela grande massa judaica para as suas margens exatamente quando o fenômeno da seca se deu, foi, sem dúvida, uma sábia estratégia.

   Diante deste fato e deste homem líder que foi Moisés, será quase impossível não concluir-se que a Providência, como executora dos planos

divinos que é, estaria a seu lado para que levasse a bom termo tal façanha. Para nós espiritualistas, a explicação para fatos que mudam de maneira irreversível vidas individuais e coletivas, jamais será aceita como coincidência ou acaso.

   Entendemos que Moisés haja sido Kármicamente colocado como instrumento perfeito para liderar o momento cíclico daquele povo. Também que este povo já havia criado uma forte egrégora, isto é, uma grande força mental, indispensável às mudanças.

   A Páscoa judaica nos exemplifica uma situação onde os dois fatores, a liderança e a egrégora oportunizam a Providência atuar para que a, o “Pessach” seja cumprido.

A Pascoa Cristã

   No ano seguinte à crucificação de Jesus, justamente quando em Jerusalém os judeus celebravam sua Páscoa, seus seguidores passam a comemorar o sacrifício de seu mestre. Deram então início à Páscoa cristã. Não pretendiam com isso menosprezar as tradições de seu povo, queriam apenas aproveitar a ocasião em que grandes multidões ali se reuniam para ressaltar perante elas que uma nova e grande libertação íntima lhes fora oferecida nas ideias de Jesus. Ideias que os judeus estavam no momento a necessitar.

   Se raciocinarmos que a aceitação de tais ideias equivale a uma verdadeira Passagem, a saída de um comportamento emocional e social a outro, compreendemos que a Páscoa do Cristo celebrada por seus discípulos queria acrescentar a ressurreição que se dá dentro de cada indivíduo.

   Não é de admirar que aqueles discípulos, renascidos ao contato com o seu iluminado mestre, pudessem juntar aos seus sentimentos de judeus reverentes perante a Páscoa hebraica também um louvor àquele que lhes trouxera a ressurreição íntima.

Tradição pascoal cristã.

   Mais tarde, os anglos- saxões aproveitando o simbolismo da vida que se renova , usaram para celebrar a Páscoa, o coelho que é o primeiro animal a deixar seu abrigo de inverno para ver o reflorescer da primavera.

  A descoberta de terras produtoras de cacau proporcionou juntamente com a industrialização, os ovos de chocolate usados por nós em nossas celebrações do Pessach.

   As datas comemorativas valem pelo sentimento que nelas se preserva. A Páscoa significará sempre a ressurreição, a mudança de consciência que impulsionada pala Providência Divina é oportunizada de tanto em tanto a cada homem.


domingo, 7 de março de 2021

Mitos Femininos - Para o Dia Internacional da Mulher


   Penélope

Dois seres esperaram com fidelidade Ulisses durante vinte anos voltar de sua “Odisseia”. Seu cão Argos que já velho ia adiando a sua própria morte apenas porque desejava rever seu dono e Penélope ,sua esposa.

   Estava casada com o grego Ulisses, rei da ilha de Ítaca, quando Ulisses foi chamado a guerrear na longínqua Troia. O tempo ia decorrendo e as notícias de que o guerreiro ainda vivesse eram cada vez mais raras e o certo mesmo era que jamais regressasse.

   Muitos príncipes das ilhas vizinhas e até nobres de Ìtaca cobiçavam o seu reino e naturalmente a sua bela rainha. Pretendentes eram então inúmeros e Penélope, fiel, urdiu um estratagema para afasta-los. Mostrava-lhes um enorme dossel que tecia . Dizia ser a mortalha que preparava para quando viesses a morrer seu sogro. Comprometia-se a decidir com qual pretendente ficaria quando a mortalha estivesse pronta. Contudo, à noite, desfazia os fios que tecera de dia, assim adiando indefinidamente o seu término.

   Sem um homem forte a governar Ìtaca, seus candidatos nobres iam se instalando por todos os recantos da ilha humilhando o menino Telêmaco, filho de Ulisses e Penélope. Para livrar-se de tudo só a desistência de esperar Ulisses resolveria, mas ela preferia espera-lo fielmente.

  Quando seus pretendentes não aceitaram mais seu ardil de protelação, pressionada a resolver-se, Penélope lhes propôs então uma difícil prova de habilidade: Concorreriam no salão do palácio , num jogo onde usariam o arco de Ulisses ,quando ela bem sabia ser o único com destreza suficiente para maneja-lo.

   A sorte sorriu por fim à Penélope . Justamente neste dia Ulisses, após vinte anos, chegava de volta a seu reino. Disfarçado em mendigo , a bem de surpreender os que assediavam sua esposa, já se dera apenas a conhecer a seu filho e a seu cão Argos.   Enquanto um a um dos nobres iam sendo eliminados na prova, em seu disfarce maltrapilho, Ulisses entrou na sala e ofereceu-se a concorrer.

 Foi então muitíssimo debochado. Mostrando a sua habilidade com seu arco, ele vence e mata cada um de seus oponentes.

   A doce e fiel Penélope recupera o amor de Ulisses e sente-se plenamente recompensada de sua longa espera.

Lilith

Alguns mitólogos a têm como a primeira feminista da História. Esta figura sumério-acadiana ignorada pela Bíblia e pela maioria dos cristãos, é citada no “Livro dos Esplendores” da cabalística judaica e também em textos apócrifos , não aceitos pelas escrituras sagradas cristãs.

   Teria sido a primeira mulher de Adão que se negou a lhe ser submissa uma vez que havia sido gerada com o mesmo pó que ele e não como a segunda mulher , Eva, que, pela tradição bíblica, saíra de uma de suas costelas

   Em seu livro “Lilith” o psicanalista  junguiano Roberto Sicuteri nos chama a atenção para um trecho do Zohar onde é dito que “ Deus os criou macho e fêmea.” Trecho que leva a ideia de que o ser humano (Adão) teria sido criado  andrógino ,levando em si duas naturezas.

   Diz o mito, que Lilith ao rebelar-se  contra Adão, foi abrigar-se  longe dele , na região do Mar Vermelho. Tal mito nos fala talvez de um momento  em que as duas naturezas do homem teriam sido separadas em dois seres. Só depois então teria surgido a criação de Eva. Que não lhe sendo igual , obedeceu  à supremacia do companheiro.

   Lilith foi depois então transformada num ser satânico , demoníaco, cuja figura  é representada com patas  e escamas , características animalescas , símbolos de seus desejos sexuais, negados por uma cultura de valores agressivamente patriarcais.

   Lilith é chamada hoje pela linha astrológica de “lua negra” representando o lado oculto de um ser que guarda pensamentos e desejos reprimidos  que não podem ser expostos.

   Lilith será sempre o mito da reação feminina não conformista ,da mulher quando ela se sente reprimida para cumprir o destino que lhe cabe. O conflito enfim ,com uma força dominante masculina . Um demônio criado pelo patriarcado.

Pitonisas e Sibilas

  Ouvir profecias foi um hábito constante dos povos etruscos, romanos e gregos. Os centros proféticos se multiplicavam em suas localidades. Porém, o mais famoso foi, sem dúvida, o de Delfos, dedicado a Apolo. Situado no monte Parnaso, num magnífico cenário natural donde se descortinava boa parte da Grécia. Para lá ocorriam pessoas de muitos países para consultas, homenagens e oferendas ao deus.

 Neste templo, Apolo ,deus dos sol ,se revelava aos mortais através de suas profecias. Passado o inverno , quando o sol retornava à Grécia, o mito nos diz que Apolo voltava de seu paraíso hiperbóreo e ia para Delfos onde o esperavam as suas Pitonisas.

  O nome destas sacerdotisas provinha da serpente Pyton. Esta, após o grande dilúvio que devastara a Grécia ao primeiro raio de sol enviado por Apolo para secar o solo , havia aparecido das profundezas da terra. Alguns vêm nesta serpente a potência do mal que surgida das entranhas da terra, foi morta pela luz de Apolo. Já para outros, ela corresponde ao símbolo da sabedoria que após um grande impacto que destruiu tudo o que era negativo, encontrava-se com a luz sagrada de Apolo.

    Como as pitonisas são encarregadas de trazer a sabedoria do deus, é possível que a serpente Pyton represente a segunda interpretação.

    Elas entravam no templo situado em enorme caverna e iam mascar folhas de louro, sentadas sobre um tamborete de três pernas. Este, colocado exatamente sobre uma fenda de onde vinham vapores causadores de tonteiras, as capacitavam ao transe. Momento sublime - segundo acreditavam - quando Apolo lhes falava. Muitas delas influenciaram positivamente o desenvolvimento das cidades gregas dando informações que auxiliavam em guerras e colonizações.

   Além das pitonisas, contava-se para oráculos ainda com as Sibilas. Eram consideradas as mais capazes . A que melhor sobressaiu-se foi a de Cumes, local na Itália aonde havia uma gruta – santuário de Apolo. Esta Sibila notabilizou-se por seus famosos livros que o mito afirma terem sido escritos sobre folhas. Neles teria predito os destinos de Roma .

   A capela Sistina nos apresenta, em magníficos afrescos de Michelangelo uma série de Sibilas.

   Eram privilegiadas pelo deus solar, mas ele se tornava implacável quando alguma delas se negava a ama-lo.

    Nem a Sibila de Cumes, tão famosa, subtraiu-se à ira de Apolo. Ele a queria tanto que prometeu dar-lhe tudo o que desejasse. A Sibila então pegou do solo um punhado de terra e lhe pediu tantos anos de vida quantos grãos estivessem em suas mãos. Quando ela recusou-se a ele , Apolo usou esta promessa para tentar convence-la , pois havia notado que ela se esquecera de pedir-lhe uma paralela juventude eterna. Então, deixou que ela envelhecesse. Os anos de sua vida permaneceram por séculos incontáveis, mas seu corpo degenerou sempre. Em uma angustia terrível, a Sibila de Cumes , também retratada naquela Capela pelo grande artista, se arrepende de querer viver tanto e ter se recusado a Apolo.

Antígona

    O grande amor de Antígona por seu pai a torna uma figura marcante inserida na grande tragédia grega “Édipo ,o Rei”.

     Quando Édipo descobre que o antigo rei Laio, brutalmente morto numa estrada , era seu pai e que ele próprio o havia assassinado; que sua mãe era Jocasta, mulher por quem se apaixonara e já lhe dera filhos, num gesto de desespero , furou seus próprio olhos para castigar-se. Humilhado pelo seu parricídio e incesto, foi banido impiedosamente de seu reino e de sua cidade .

   Com a perda de sua mãe e amante ,só o amor de sua filha Antígona será seu consolo e a luz, cego como estava, a guia-lo pelas longas estradas da Grécia, a errar em busca de um lugar distante aonde esquecer os seus remorsos.

   Antígona é verdadeiramente o mito do amor filial mas também do amor a irmãos. Outra tragédia a envolverá causando-lhe a morte.

   Vago o trono de Tebas, o antigo reino de Édipo, três pessoas o ambicionavam: Creonte, seu tio, e seus dois irmãos, Etéocle e Polinice.

    Quando Etéocle rivalizando com seu irmão pelo poder, o matou, Antígona desejou sepultar dignamente Polinice. Creonte , para a humilha-la, decreta enterra-la viva se o fizesse. Antígona prefere afronta-lo. Dá sepultamento a seu irmão e depois se mata para fugir a sua condenação .

Símbolo do amor fraterno e filial Antígona é a eterna personagem de dramas teatrais gregos.

Pandora

Quando o titã Prometeu criou o primeiro homem com o barro da terra , amassou-o e esculturou-o com as suas lágrimas. Assim o homem é : Instinto corporal e emoção. Porém, Prometeu achou-o incompleto e sonhou dar-lhe um complemento. Tratou então com os deuses para que estes, no Olimpo, criassem a mulher.

   Muito foram os deuses que cooperaram para a sua feitura. Minerva , a deusa da sabedoria ,deu-lhe a curiosidade para que ela questionando tudo a pudesse alcançar e deu-lhe intuições, caminhos que a levariam a acha-la. Vênus lhe deu uma beleza sedutora e Mercúrio o poder de argumentar, de persuadir. Talentos estes últimos que convenceriam o homem a aceita-la.

   Aqui os gregos privilegiaram a mulher ,pois enquanto os homens foram criados na terra, a mulher o foi no céu do Olimpo.  Deram-lhe o nome de Pandora. Pandora vivia na Idade de Ouro (também como Eva num paraíso). Zeus enviou-lhe de presente um baú lacrado com esta advertência : “Deixa-o fechado”. Palavras tentadoras para alguém tão curioso. Sucumbindo a tentação, Pandora abriu-o. Ele continha os bens do mundo que assim escaparam.

   Com estes soltos, os homens perderam seu paraíso, regrediram,  entrando em sofrimentos para separar os bens dos males. A Idade de Ouro  findou-se.

 Este mito da curiosidade feminina completa-se com este detalhe: Quando Pandora viu os bens escapando do baú quis rapidamente fecha-lo. Porém, conseguiu guardar apenas um deles: A Esperança.

Mesmo quando todos os bens nos escapam – assim pensavam os gregos – sempre uma esperança nos restará. É o único bem que capaz de se renovar incólume em  nós,  é ela que nos impulsiona a seguir adiante.