Sempre
existiram locais sagrados onde o peregrino acredita estejam concentradas
energias divinas. Geralmente foram locais onde viveram iluminados, homens
santos, onde se realizavam cultos para se homenagear deuses, onde a fé foi
demonstrada com fervor. Alguns destes lugares aqui serão lembrados.
Paimpont,
a Floresta Encantada
Paimpont
foi a floresta preferida pelos cavaleiros do rei Arthur. Ali, o sagrado Graal,
perdido por José de Arimatea, o seguidor do Cristo, era buscado. Ali-contam-
era o refúgio dos amores da feiticeira Viviane, a Dama do Lago, e de Merlin o
maior dos magos druidas.
Tendo perdido sua iniciação esotérica pela
paixão à Viviane, que o prendeu numa círculo mágico na própria floresta, nos
afirma as lendas francesas que Merlin veio a morrer ali, deixando, para todos
os místicos que chegam o testemunho deste episódio numa pedra que cobre o seu
túmulo. Surpreendentemente, ainda hoje, Paimpont recebe ininterruptas manifestações
devocionais dos franceses modernos.
Paimpont
conta com 7.000 hectares de plantios de carvalho, a árvore sagrada dos antigos
Celtas. Para esta árvore todas as homenagens eram poucas. Foi ela o grande
objeto de cultos dirigidos à natureza, local das fogueiras de Beltame acesas em
honra ao deus Bellenos e do recolhimento do Gy, a mais energética seiva do
carvalho. Para um Druida, Paimpont era a transcendente morada dos deuses.
Quando Carlos Magno tomou o poder,
representando a Igreja, mandou por fogo às florestas de carvalho, por serem
locais de cultos pagãos. Só bem mais tarde foram então replantadas.
Em Paimpont existe um local chamado “O Vale
Sem Retorno”. Se você é um amante infiel não se aproxime dele. Nele se perdem
os infiéis. Quem os faz se perderem nele é a alma de Morgane, a fada, que traída
por seu amado, vinga-se de todos os amantes que traem, jogando-os num
despenhadeiro para uma morte certa. Assim nos afirmaram sempre as lendas locais,
e ainda na Idade Média muitos traidores temerosos evitavam passar pelo “Vale
Sem Retorno”.
Contatar estas lendas e sentir a força de um
lugar energizado por tantos cultos e devoções ali feitos, transformou Paimpont
num grande centro de peregrinações.
Jerusalém, a Cidade Santa
Antiga Canaã, a terra prometida dos judeus, é
hoje o grande centro de peregrinações de três importantes religiões:
Cristianismo, Islamismo e Judaísmo. Cada um de seus fieis buscando ali os seus
lugares sagrados.
Judeus fazem seus cultos ante o Muro das
Lamentações, único vestígio sobrado do magnífico templo de Salomão, seu rei
sábio, construído mil anos antes de Jesus.
Muçulmanos buscam ali a grande mesquita da
Cúpula da Rocha, construída por Omar, o maior califa do Islã, o São Paulo do Islamismo.
Cristãos procuram em Jerusalém a Igreja do
Santo Sepulcro (túmulo de Jesus). Então, podemos ouvir das profundezas deste
local santo, a voz de um padre dizer; “Cristo morreu, Cristo ressuscitou,
Cristo voltará”.
Perto dali o rabino estará proferindo as
palavras do livro de Moisés: Ouve Ó Israel, o senhor nosso Deus Adonai; O
senhor é um só!
Enquanto isso, próximo ao Muro, no alto do
minarete da mesquita de Omar, o Muezin estará clamando: Alá é grande, o único
Deus é Alá!
Isto tudo, esta grande energia devocional
trina, faz de Jerusalém, a cidade de peregrinações por excelência.
Stonehenge (Inglaterra)
Excelente ponto de peregrinações, as datações
arqueológicas fazem remontar a construção de Stonehenge há quase 4 mil anos.
Alguns de seus blocos de pedras pesam mais de 120 toneladas e estima-se que
foram trazidas de um local há 320 km de lá, no Pais de Gales. Mistério de
transporte e locomoção até hoje conservado.
A maioria dos seus estudiosos acha que tal
local teria servido de templo a Druidas, onde se praticavam cultos, sendo sua
inusitada formação circular aproveitada como observatório astronômico.
Local que deveria servir para o estudo dos
movimentos celestes, para fins religiosos. Demonstrou-se que a posição de suas
pedras previam os eclipses solares e lunares a fim de serem ritualisticamente
celebrados. Também no solstício de verão o sol se eleva justamente entre as
duas principais pedras que serviam de entrada à sua formação circular.
A tradição conta que o mago Merlin teria dado
a estas pedras o poder curativo para muitas doenças, desde que se deixasse
escorrer agua sobre elas e a bebesse.
Desde o século XIX até hoje, muitos ritos
passaram a ser feitos em Stonehenge por modernos adeptos do antigo Druismo, que
ali se reúnem em grupo sempre vestidos de branco, numa réplica as antigas
vestimentas dos Druidas.
Muitas peregrinações continuam a acontecer
neste local considerado sagrado.
Monte Saint Michel (França)
Conhecido na Europa como “A Maravilha do
Ocidente”, a partir da mais remota antiguidade ele é um local sagrado. Os
antigos o chamavam Monte Tombe, ou da Tumba, porque acreditavam que as almas
dos mortos iam ali repousar. Foi também um local onde as sacerdotisas druidas
faziam seus oráculos. Toda a região era energizada por Lug , o grande deus
celta do poder.
Pelo
ano 500, já destruído o paganismo, transformou-se em refúgio de eremitas
cristãos. E, a Igreja lhe pôs o nome do arcanjo do poder, Miguel, para
preservar o mesmo tipo de energia devocional ali cultuada. Desta época, surgiu
uma das mais caras lendas dos antigos normandos.
Entre
os matagais que circundavam o monte, vivia um lobo feroz que assustava com seus
uivos ameaçadores aqueles santos eremitas. Um dia o lobo comeu um asno que
levava da vila próxima a alimentação que abastecia os ascetas retirados no
monte. Como o asno sempre convivera com aqueles homens santos e transitava
muito por aquele local sagrado, ao comê-lo, o lobo, de feroz passou a ser
pacífico, dócil e fiel ajudante dos eremitas. Um milagre-diziam os gauleses, a
transformação deste lobo, que só num monte tão abençoado como aquele
aconteceria.
Quando hoje, contritos, cheios de fé, subimos
as suas imensas escadarias para chegar até a sua esplêndida abadia, cada degrau
vencido nos parece um passo ganho em nossa própria evolução. Visitar Saint
Michel é, sem dúvida, uma das mais gratificantes experiências que pode
acontecer a um místico.
Palenque (México)
Foi este um grande centro político religioso
da civilização Maia, florescendo a mais de mil anos. Desde o século VII tornou-se
um centro de peregrinação, pois ali viveu o maior dos sacerdotes mais: Pacal
Votan.
Pacal transformou Palenque em um núcleo de
cerimônias ritualísticas muito prestigiado. Hoje, encontramos ali uma pirâmide
em cujo ápice está o chamado “Templo das Inscrições." Lembremos que as
pirâmides maias são truncadas, isto é, não têm ponta. São cortadas acima por
uma plataforma onde se edificava um templo.
Em 1952 foi descoberto um túnel que saia de
dentro do seu templo e descia o interior da pirâmide até o nível de sua base.
Conduzia a um túmulo que continha o corpo de Pacal Votan, usando uma máscara de
jade. A lápide trabalhada de seu túmulo deu o nome ao templo “Das Inscrições”,
pois mostrava um desenho que, sendo estudado, já levantou diversas hipóteses
sobre o seu significado.
Espiritualistas afirmam que a tumba de Pacal
na base interna da pirâmide, representa a colocação de um desencarnado nos níveis
mais profundos do mundo dos mortos, de onde sua alma ascensionária até o ápice
externo da pirâmide, para encontrar a divindade que está no templo acima.
Pacal Votan completaria enfim a apoteose da
subida aos céus de um dos mais cultuados chefe religioso e administrativo dos
Maias. Palenque constitui-se por isso, num dos grandes centros místicos de
peregrinações da América.
Carnac
(França)
Quando
os sábios Druidas tinham já estabelecido sua cultura na Gália (nome da antiga
França) que uma leva de invasores romanos aportou na região da Bretanha
francesa. Pressionados, aqueles sábios foram se esconder em Carnac onde
encontram as pedras milenares que até hoje têm sua origem desconhecida.
Datações modernas atribuem a elas ima idade de 4.000 a 3.000 AC.
Ali, entre aqueles alinhamentos que contam
com cerca de 3.000 dolmens e menhires, os líderes Druidas fizeram centros de
cultos e os imantaram com seus ritos pagãos.
Os Druidas tinham nos Dolmens a
representação de falos e os veneravam como a própria potência masculina do
universo. Já os Menhires, que são em
forma de portais, eram o símbolo do útero feminino, de karentz, a nossa origem
cósmica materna. Nestes, eram feitos ritos de passagem, onde o postulante à
iniciação druídica cruzavam estas pedras portais fazendo neles o rito do
“Segundo Nascimento”.
Os esotéricos usam até hoje esta região com
a mesma finalidade: Fazer com que o simbolismo do “Segundo Nascimento” lhes
desperte o desejo de evolução consciente.
Sendo um local onde se homenageava a força
feminina, quando o Cristianismo entrou na Bretanha o culto pagão que mais
encontrou ali foi o da fertilidade. Contudo, passou-se séculos antes que as
peregrinações pagãs de mulheres estéreis ao local diminuísse. Mas não é raro, ainda hoje mulheres se
encostarem nas pedras dos Menhires de Carnac com a intenção de engravidarem.
Carnac é também visto como um dos centros de
forças elementais mais poderosas com que conta o Velho Mundo. Lendas afirmam
que algumas pessoas sensitivas vêm seres elementais, tais como gnomos, saírem à
noite das proximidades destes megalitos, para banharem-se no mar próximo e
retornarem a eles, conservando assim fortes e indestrutíveis suas forças
elementais através dos tempos.
Carnac é um os locais mais procurados por
turistas místicos que chegam à França.
Compostela ( Espanha)
O Caminho de peregrinações à Compostela sempre
foi considerado sagrado, muito antes que o culto ao apóstolo Tiago tivesse
início. Ao contrário dos redutos de peregrinação de teor exclusivamente
católico, como é o caso de Lourdes ou Fátima, este Caminho une ao seu grande
peso católico, também a mística profundamente esotérica vinda do Paganismo e de
organizações ocultistas que ali habitaram.
O norte da Espanha sempre contou com cultos
pagãos muito fortes, neste trecho de quase 900 km que liga os Pirineus até a
ponta da Galícia. È compreensível que cultos pagãos tivessem sido e perseverem
até hoje ali fortes, porque o subsolo neste trecho é rico em telúrio, e é
afirmado que este minério irradiando na face da terra a energia telúrica, atua
na sensibilidades e emoções de que por ali passa ou habita.
Esta crença foi muito aproveitada pelos
pagãos celtas, por grupos de antigos Druidas que achavam que a força da mãe
terra provinha de minérios do subsolo. Tinham
nela a sua maior devoção, pois eram povos que descendiam - segundo eles - da
grande deusa Ana e se intitulavam mesmo de “Povo de Ana”. Também vemos os
antigos gauleses darem as suas chamadas “Virgens Negras”, a coloração negra dos
minérios da terra. Com suas moradas no
subsolo, seriam elas com sua força telúrica que emprestariam energias femininas
sentidas por peregrinos que passavam pelo caminho.
Também os Visigodos, conquistadores da
Espanha, contavam com mestres de sabedoria que levavam discípulos a fazerem ascetismos
nas costas da Galícia, onde mais tarde se situaria Compostela, cujo nome provem
de visões posteriores, já cristãs.
O culto ao apóstolo Tiago, atual grande
patrono do Caminho, surgiu na Idade Média, no século IX. Contou para a sua
difusão paradoxalmente com a ajuda de grupos pagãos que desejavam ver voltar as
iniciações devocionais do Caminho, após o longo tempo que estiveram abafadas pela
perseguição do Cristianismo ao Paganismo. A origem da peregrinação de teor
cristão ao caminho de Compostela nos remonta a evangelização feita nos
primeiros anos após a morte do Cristo Jesus.
Conta-se que Tiago Maior, irmão de João
Evangelista, teria vindo de Jerusalém para evangelizar o norte da Espanha.
Investido de uma modesta pelerine, um chapéu e um cajado, e teria percorrido o
Caminho em sua missão durante sete anos. Retornou depois á Judéia onde foi
então decapitado por Herodes. Discípulos seus teriam embalsamado o seu corpo e
o teriam trazido em barco até Iria Flavia, atual cidade de Compostela, região
que tanto amava. Ali, ficou escondido dos romanos, perseguidores do novo credo
cristão, e acabou esquecido.
No século IX com o Cristianismo já
estabelecido na península Ibérica, ascetas teriam avistado uma chuva de
estrelas sobre um montículo da praia. Tal chuva deu então um novo nome ao
local: “Campo de estrelas”, mais tarde resumido para Compostela. Verificado que
ali estava o túmulo do apóstolo, desde então o Caminho passou a ser uma rota de
peregrinos, agora cristãos, que de todas as partes da Europa, cruzando os
Pirineus, buscavam atingir o túmulo do santo.
O século XII veio enriquecer tal rota com a
chegada dos Templários, Ordem da Igreja, mas depositária da Ciência Oculta, que
se espalharam construindo albergues, hospitais e igrejas que atendiam os
peregrinos. Mais tarde, o Estado francês e a Inquisição exterminariam a ordem
que devido as suas pesquisas esotéricas foi acusada de heresia. Porém, até
hoje, os místicos que passam pelo Caminho acham nos antigos redutos templários
uma forte energia deixada pelos cultos mágicos e uma simbologia rica de
significados esotéricos nas magníficas catedrais góticas que ajudaram a
construir. Por sua longa extensão o trajeto todo foi tombado pela UNESCO como
Patrimônio Cultural da Humanidade.
Machu Picchu (Peru)
Situa-se numa soberba paisagem do Peru em 2,050
metros de altura. Sua maior força mística é jamais ter sido uma cidade profana.
Foi projetada durante o Império Inca para servir de santuário. Acrescenta-se a
isso o fato de Machu Picchu ter sido abandonada ao mato por seus habitantes,
após o grande receio que tiveram de que o deus do raio viesse queimar a cidade
para castiga-los por seus erros. Assim, entregue ao matagal, escondida, jamais
foi achada e profanada pelo invasor espanhol. Esta
cidade nunca viu os horrores da conquista, conservando intacta a sua energia
devocional de paz.
Sendo projetada por urbanistas que
professavam as crenças incaicas, Machu Picchu era uma réplica perfeita do
universo tal como o concebiam os incas: Dividia-se em três mundos. Ali estava o
mundo de baixo, manifestado no rio que cerca a cidade. O mundo do meio, o local
a ser habitado e o mundo de cima, os altos cerros da montanha de Wyana Picchu.
Os Incas acreditavam em duas serpentes míticas, invisíveis e gigantescas que,
levantando-se das profundezas do rio, interligavam os três mundos. A primeira,
ao levantar-se, encontra no céu o deus raio e retorna como chuva, fertilizando
o solo da cidade. A segunda tocando o mundo de cima transforma-se em Arco Iris colorindo
tudo o que tem vida em Machu Picchu: Pássaros, flores e frutos.
Tudo ali tendo origem nas serpentes sagradas
está, portanto, impregnado de um poder divino. Por isso, no esplendor da
paisagem de Machu Picchu em uma peregrinação mística onde se busca ali o
sagrado, sentimos uma energia que é um misto de beleza, fortaleza e paz.