O credo é uma das mais importantes orações do Cristianismo. Porém, precisamos encontrar nele o seu significado mais profundo, o significado real das antigas fórmulas e símbolos que ele contêm. A maioria dos que recitam o Credo não conhecem a sua verdadeira origem e significado porque nele foram introduzidas frases que o materializaram, o fizeram perder o seu sentido interno, a sua sabedoria mais antiga. A Igreja usa geralmente duas afirmações de Fé : O credo dos Apóstolos e o Credo de Nicéia, este último mais extenso. Aqui me estenderei sobre o Credo dos Apóstolos por ser o mais usado.
A primeira menção ao Credo dos apóstolos encontramos no século IV numa obra do escritor Rufino que afirmava:” Ele se chama assim porque consta de doze artigos que teriam sido redigidos pelos doze apóstolos de Jesus após a sua morte” Porém, esta afirmativa é vista como uma lenda, não sendo aceita. A origem deste credo é vista então como incerta.
Já o Credo de Nicéia foi elaborado no ano 325 no Concílio desta cidade. Tal Concílio foi convocado para terminar com controvérsias sobre a natureza humana ou divina do Cristo, que dividiam as autoridades eclesiásticas. Algumas palavras foram agregadas a ele em outros Concílios que vieram depois.
Podemos então ver o Credo através de dois pontos de vista. No ponto de vista dos espiritualistas, ele nos expõe uma antiga fórmula de Cosmogênese, criação do Universo, baseada nos ensinamentos de uma entidade iluminada muito alta. Também, em sua visão, o Credo faria referência ainda a rituais simbólicos praticados por iniciados dos antigos templos de Iniciação do Egito.
No ponto de vista da Igreja, ele faz referência à biografia de um indivíduo, no caso, o mestre Jesus. A Igreja teria –segundo os antigos gnósticos- descartado os antigos ensinamentos de cosmogênese e ritualística, transformando e interpretando o Credo como uma biografia. Isto teria servido aos desejos da Igreja do século IV que vivia um momento de controversas ideológicas muito graves e enfrentava crenças espiritualistas consideradas por ela como heréticas.
Jesus Essênio
Quanto a antiga fórmula de Cosmogênese deixada no Credo (visão espiritualista), a entenderemos melhor conhecendo a trajetória de mestre Jesus. Annie Besant escreve em seu livro” O Cristianismo Esotérico”, que Jesus, um judeu, nasceu no ano 105AC. Foi educado dentro das escrituras hebraicas. Sua grande sabedoria,que não correspondia à sua idade, fez seus pais educá-lo numa comunidade Essênia no deserto da Judéia. Quando chega aos 10 anos, passou para outro monastério Essênio muito frequentado por eruditos que vinham da Pérsia, da Índia e do Egito. (lembremos que o Essenismo era a mais intelectualizada organização da sua região). Ali havia um magnífico arquivo de obras ocultas. Dali ,ele teria passado para o Egito. Foi então preparado como Iniciado da Loja Branca (Grande fraternidade branca). O jovem hebreu recebeu então a Unção que lhe permitia um sacerdócio público, que mais tarde viria a exercer. Na verdade, este jovem iria sobressair-se tanto por sua extraordinária sabedoria, foi também o iniciado mais puro de sua época. Assim, o consideraram digno de ceder o seu corpo a um poderoso ser de luz, de servir como intermediário à força crística, ao próprio avatar Maitreya. Este grande ser começa a falar através dele quando ele estava na idade de 29 anos e o usa durante 3 anos. Voltando Jesus já assim investido do Cristo à Judeia, já ungido , instruiu os chefes da comunidade Essênia nos mistérios do reino de Deus, sobre os princípios divinos ,deixando isso em fórmulas que viriam a ser a origem do Credo cristão.
Ao mesmo tempo ele dedicou-se a predicar em público. Era impossível expor aos seus ouvintes aqueles ensinamentos que transmitia aos Essênios. Estes, por uma longa vida de preparação ascética eram capazes de entendê-lo. Jesus prega ao público e aos seus discípulos por meio de palavras de consolo. Eram discursos inspirados por sua grande compaixão por aquela terrível atmosfera de opressão em que o povo palestino vivia. Tais discursos ficaram conhecidos como Bemaventuranças e Paracletismo. Também pregou por meio de parábolas, estórias que continham regras de conduta moral. Alguns o seguiam por querer adotá-las, outros por sua personalidade amorável e outros porque viam nele uma esperança de revolução política. Os discípulos transmitiram mais tarde seus ensinamentos em um movimento de caráter universalista.
Jesus predicando.
Nas mãos dos chefes da comunidade Essênia ficaram porém os conhecimentos de cosmogênese e ritualística reunidos em fórmulas e princípios, no que pode se considerar então a primeira legítima fonte escrita do Credo, transmitidos a eles por aquela alta entidade crística, falando através de Jesús de Nazaré . As seitas Gnósticas depois tiveram acesso a esses conhecimentos.
Quanto a antiga fórmula de ritual egípcia com a qual Jesus conviveu, se manifestava por meio de ritos e teatralizações para expressar suas crenças espiritualistas. Por exemplo: a descida do 2º Logos na matéria, isto é, a criação e nascimento das mônadas, essência que era chamada de “Filho Unigênito”, porque era a única essência geradora de nascimentos. Tudo teatralizado num rito egípcio. A Igreja transformou essa palavra, dentro do Credo, em” Único Filho Jesus”.
Em respeito à deturpação e materialização encontrado no Credo, aqueles que elaboraram o Credo dos Apóstolos e os membros do Concílio de Nicéia, no afã de organizar uma igreja que necessitava afastar dissidências causadas pelas controversas sobre a humanidade de Jesus, o fez transformando o Credo numa biografia que apenas o divinizasse. Desconsideraram qualquer outra interpretação do Credo e da Trindade Logóica citada nele, como heresia. Por isso, na visão da Igreja do sec.IV, os gnósticos por interpretarem diferentemente o Credo , foram perseguidos. Isto impediu os cristãos de conhecer algo transcendente limitando o Credo a uma biografia.
Aqui, uma interpretação esotérica das 12 frases do Credo:
1-Creio em deus Pai todo poderoso, criador do céu e da terra.
Refere-se aqui a Causa de tudo, o Absoluto, que compreende os planos, as dimensões que vemos e aqueles que não vemos.
2-E em Jesus Cristo,Seu único filho, Nosso Senhor.
Aqui o Credo católico começa a transformar as antigas fórmulas essênias e egípcias numa biografia de Jesus, citando o seu nome e estabelecendo para ele uma natureza não humana quando o chama de Único Filho de Deus. Os arquivos gnósticos nos dizem que na antiga fórmula do Credo não era citado o nome de Jesus, mas apenas o Filho.Seria uma referência ao trabalho do 2º Logos. O 2º Logos é um dos três princípios da Trindade Divina, chamado pelos antigos sacerdotes egípcios de Filho Unigênito. O Filho Unigênito, tal como já foi dito antes, era uma substância primordial, a única capaz de gerar nascimentos e que nos primórdios da Criação gerou as mônadas ou unidades de consciência que iriam habitar em todas as formas viventes.
3-Foi concebido pelo Espírito Santo e nasceu da Virgem Maria.
Aqui, outra citação a biografia de Jesus, nomeando a sua mãe e dando a ele um nascimento virginal que o distinguiria também de todos os homens, atribuindo-lhe novamente uma natureza não humana , criando um fato milagroso para uma religião que necessitava se afirmar sobre milagres.
Na interpretação do Credo Essênio, a Virgem significava a matéria primordial do Caos ainda não estruturada em formas .O Espírito Santo , o 3º Logos era a energia que criaria nesta matéria virgem as formas nas quais as mônadas, unidades de consciência, viriam habitar.
4-Padeceu sobre o poder de Pôncio Pilatos
É uma adição feita propositalmente afim de estabelecer uma ligação maior à estória de vida do mestre Jesus, Nos antigas fórmulas do Credo esta frase não constava.
5- Foi crucificado, morto e Sepultado
Aqui o simbolismo muito transcendente da Crucificação é transformado.
Sabemos que a Cruz já era estudada como um dos símbolos sagrados por inúmeros povos da Antiguidade muito antes de estar ligada aos sofrimentos de Jesus. Achados arqueológicos nos contam isto. A crucificação nas fórmulas do Credo essênio significava o descendo da substância monádica, o Filho Unigênito para à manifestação, o Filho crucificado na matéria.
Símbolo do homem crucificado na matéria.
Leadbeater diz que todo aquele sofrimento de Jesus que está relacionado à cruz, aos cravos, sangue e mutilações eram enfatizados pela Igreja para sensibilizar as mentes medievais. Isto impedia a apreciação do significado oculto da crucificação. A Igreja medieval se firmava sobre um apelo emocional.
O antigo ritual egípcio teatralizava este descendo das mônadas, do Filho Unigênito à matéria. O Iniciando era levado a uma câmara subterrânea, símbolo da descida à matéria mais profunda. Ali, era posto numa cama em forma de cruz. Permanecia em transe sonolento onde em sonhos passava por provas emocionais e mentais muito fortes. Este rito chamava-se “Descida aos Infernos”. Lembremos do mito grego de Hércules que antes de completar sua Iniciação teve que enfrentar o cão Cérbero que guardava a porta do inferno .
6- Ao terceiro dia ressuscitou entre os mortos
Na “Descida aos infernos”, ao fim do 3º dia o Iniciando egípcio era retirado dali e levado ao lado leste do templo para que o sol nascente o despertasse de seu prolongado transe.Davam ao momento de acordar o nome de Ressurreição, isto é,a ressurreição de uma consciência. Estes três dias do rito egípcio foram transformados, na biografia de Jesus, nos três dias que Ele teria levado para fazer a ressurreição do corpo.
7-Onde estará à mão direita do pai e virá para julgar vivos e mortos.
Aqui Leadbeater nos faz ver que a redação essênia do Credo assim dizia: “Será levado ao céu para que seja a mão direita daquele de quem procedeu, havendo aprendido a guiar os vivos e os mortos”. Assim pois, o Credo antigo gnóstico descartava um julgamento feito pelo Cristo, somente pela má interpretação da palavra” julgar”. Não faltam provas- segundo ele- de que na época em que estes documentos foram escritos a palavra ‘Julgar” tinha um significado muito mais amplo. Ela significava também governar, dirigir, guiar. Teria sido interpretado como julgar, mas era na verdade uma referência aos Iniciados que ficavam aptos a guiar vivos e mortos.
8-Creio no Espírito Santo e na Santa Igreja Católica
A crença no Espírito Santo foi aceita como a força que teria engravidado a Virgem Maria , uma força capaz de engravidar uma virgem. Ao passo que na visão do Credo primitivo egípcio, essênio e gnóstico, referia-se à força divina do 3º Logos que estrutura formas na matéria virgem primordial, nas quais viriam habitar toda espécie de mônadas, sejam elas minerais, vegetais, animais, ou humanas como já aqui explicado. Quanto ao “creio na Santa Igreja Católica” teria sido acrescentado na época dos Concílios como a afirmativa que ligaria para sempre o crente à organização Católica Apostólica.
9- Na comunhão dos santos
Refere-se na interpretação da Igreja a uma associação íntima entre todos os santos e entre todos os cristãos que por suas virtudes possam ser considerados santos. Interpretação esta de grande valor. Porém, fugiu ao que se referia o Credo Essênio: o reconhecimento do trabalho de uma fraternidade de iniciados conhecida como a Grande Loja Branca ou Grande Fraternidade Branca, que tinha a seu cargo as Iniciações egípcias pelo tempo de Jesus.
10- No perdão dos pecados
O Credo de Nicéia diz: “ reconheço um batismo para a remissão dos pecados”. Levando-se em conta que o batismo era um rito muito usado nas Iniciações dos templos egípcios, conclui-se que o Credo antigo, dado por Jesus aos essênios, afirmava a estes que os ritos de Iniciações, incluindo o do batismo, eram um meio de teatralizar, simbolizar o poder que o Iniciando tinha de transmutar seus pecados, as ilusões do seu ego. Assim o interpreta Leadbeater.
Deserto da Judeia, Mar Morto.
11- Creio na ressurreição do corpo
Aqui novamente vemos uma doutrina muito profunda cair gradualmente no esquecimento e uma má interpretação aparecer como o ensinamento cientificamente impossível da ressurreição do corpo. A ressurreição do corpo foi para os essênios a crença na doutrina da reencarnação, sempre presente nas antigas escolas de Mistérios que assimilavam conhecimentos espiritualistas da índia e da Pérsia.
As fórmulas deixadas pelo Cristo, através de Jesus dentro da Fraternidade Essênia, sobre os ciclos de nascimento, morte e novo nascimento se perverteu na crença das épocas posteriores de que um homem volveria a nascer na terra usando o mesmo corpo que largara, ressuscitando, ou como no caso único de Jesus subindo em corpo aos céus. Hoje, os ocultistas em seus estudos sobre “átomos registros” afirmam que estes são aproveitados no corpo de manifestação com que alguém se reencarna, porém este nunca será o mesmo corpo, uma vez que o material genético que utilizará será outro. A ressurreição dos mortos (como é dito no Credo de Nicéia) tinha também anteriormente na comunidade egípcia outro sentido : Era a ressurreição da consciência dos Iniciados que eram considerados mortos em seu transe sobre a cruz na câmara subterrânea, conforme já foi descrito, porque despertavam deles atingindo o grau do 2º nascimento, uma ressurreição de consciência .
12- E na vida eterna.
Esta afirmativa é interpretada pelo Cristianismo em geral, como um tipo de vida boa ou ruim que será vivida no após morte (que o Credo de Nicéia chama de vida no mundo que virá ) ao passo que os essênios a viam como uma simples declaração da imortalidade constante, eterna da alma humana.
Helyette M. Rossi