Rollo - O Viking
Rollo interpretado pelo ator Clive Standen, na série Os Vikings. |
Os historiadores divergem quanto aos motivos que
teriam levado os Vikings as costas ocidentais da Europa. Porém, eles poderiam
se enquadrar basicamente nestes: Riqueza que iriam alcançar através da
pirataria dos mares;expansão do próprio comércio sendo incrementado no período
que se iniciam os ataques; a superpopulação dos países escandinavos na época.
Como povos que praticavam a poligamia, geravam muitos filhos tendo como
conseqüência as expedições que os retiravam de seus territórios relativamente
pequenos para contê-los, lançando-os à conquistas aonde iriam se estabelecer
como colonizadores.
Todos
são unânimes, contudo, em que os impulsionou aos mares a valorização que a sua
cultura dava as qualidades de heroísmo e coragem, cujos modelos eram os mitos
de audácia de seus próprios deuses. Homens entre eles que almejassem a sucessão
de uma chefia e até mesmo um reino, poderia por certo obtê-los se fossem buscar
temerariamente no exterior, ricos despojos e alianças influentes.
Todos estes objetivos lhes foram facilitados
por sua grande habilidade na fabricação de embarcações, que era muito superiores
as anglo-saxônicas e as dos francos. Também porque fizeram da navegação uma
verdadeira arte, para a qual, todos desde a mais tenra infância eram
preparados. Quase não usando velas, apenas remos, conseguiam uma velocidade
insuperável.
Já pelo
séc. IX, havia sido tentada a primeira entrada aos domínios de Carlos Magno, com
uma invasão defendida pelo imperador ,por isso fracassada de ocuparem Dorestad,
o maior porto comercial do império franco, na Holanda ,não tão distanciado das
costas normandas.
Monumento a Rollo, primeiro Duque da Normandia. |
Enquanto Carlos Magno viveu os manteve afastados. Após a sua
morte,quando da divisão do império entre seus três netos, a Normandia se incluiria naquela parte que coube a Carlos,o
calvo. Este porém não conseguiu deter o cerco Viking, cada vez mais introduzido
neste território. O império estava enfraquecido pelos conflitos entre os três
irmãos governantes, também pela impossibilidade destes em dominarem a autonomia
dos senhores de muitos feudos em que se dividia a Gália.
O
império franco chegaria ao fim. O feudalismo se consolidaria como o sistema que
dominaria as fracas dinastias por quase toda a Idade Média. As costas
ocidentais da França abririam de par em par as suas portas aos “Homens do
Norte”.
Pelos
meados do séc. IX, os Vikings já haviam se estabelecido nas ilhas perto de Rouen, segundo o seu costume de fazerem
das ilhas abrigos para os seus ataques.
Os
primeiros locais visados como pontos de pilhagens, foram as ricas abadias e
igrejas que desde o séc. VI haviam se multiplicavam nas margens do Sena, no ”Vale dos Santos” (Valy de Fontanelle). St.Vandrille, famosa por sua biblioteca
e que era um dos maiores centros de estudo da cristandade do ocidente ,foi a
mais destruída. Nem Jumieges, hoje a maior ruína monástica beneditina da
França, escapou da fúria Viking.
Nos
primeiros anos do séc. X aparece o chefe Rollo que lutaria com os francos que
ainda resistiam no vale do rio (Uma das preferência vikings era descer os
estuários do Sena e do rio Loire para atingir o interior do país). Com o seu
exército escandinavo, conseguiu tornar-se o único líder em toda a Normandia.
O poder
pode ser até fascinante se trouxer em seu bojo a lealdade. Rollo acabou por
receber dos vencidos, legitimada por um tratado, a terra normanda. Não só
porque talvez o propósito com que trouxeram ali os seus guerreiros, fosse
exatamente a colonização,ou também porque infligisse medo, devido a uma
especial crueldade que possuísse, mas sobretudo porque fora leal ao rei
francês.
Por sua
lealdade havia feito justamente o contrário de muitos de seus conterrâneos
escandinavos: Aqueles ofereciam aos senhores e reis francos em troca de grandes
somas, a defesa de terras contra o ataque de novas levas de Vikings.ofereciam
também cultivo com a imensa mão de obra que possuíam, pois é sabido que os
exércitos Vikings eram numerosos. Porém ao receberem tais somas, abandonavam as
terras levando delas todos os espólios que os seus barcos pudessem conduzir.
O
território contido dentro dos limites do tratado de St. Clair-sur Epte entregue
a Rollo, não era pouco extenso. Ia desde o baixo Sena abrangendo o nordeste
até à Picardia e o sudoeste da Bretanha. No entanto, ele conseguiu colonizá-lo,
plantá-lo e defende-lo energicamente. Energia era o que não lhe faltava.
Conta-se que pendurava nas árvores das florestas, braceletes preciosos e outras
jóias (os Vikings eram ótimos joalheiros) certo de que ninguém nelas tocaria,
somente para deixar claro quem fazia a lei e a justiça no ducado.
Guerreiro Viking e seu elmo de guerra. |
Rouen,
a capital da Alta Normandia onde foi batizado ,comprometendo-se também assim
com a Igreja,conservou as melhorias que Rollo fez em seu rio. Após ter
aprofundado seu leito, construiu desembarcadouros em suas margens, aproveitou
ilhas fluviais unindo-as ao continente.
Não só
ele, mas os outros nórdicos que o sucederam, foram tão respeitados que pode se
considerar a data de 912 (seu batismo) como o final das grandes invasões
Vikings. Rollo tornou-se então uma daquelas raras personalidades que se
posicionam como marcos da história. Referindo-nos a acontecimentos os situamos
:Antes delas e depois delas.
Quem
desejar conhecer a aparência de um chefe Viking ,encontrará na magnífica
catedral de Rouen, construída um século após a sua morte, a imagem de Rollo em
repouso, na capela de Nossa Senhora.
O respeito aos laços familiares, foi talvez a
mais duradoura herança deixada pelos escandinavos na Normandia, durante aqueles
séculos em que a colonizaram.Para os Vikings um homem não subsistiria nem
materialmente, nem tampouco emocionalmente, a não ser como parte integrante de
uma família.Sentir-se membro de uma ,era a necessidade mais essencial da alma
humana. Os responsáveis por crimes eram invariavelmente proscritos da família,
sendo o castigo da solidão visto como o mais terrível e que envolvia também a
perda do círculo de amigos.
Para
entender-se o pensamento dos Vikings em relação à família e amizades,lembramos
que eles as necessitavam como apreciadores dos seus feitos. Tinham os deuses
como modelos, mas nenhum de seus atos de coragem era feito para agradá-los mas
sim para receber a aprovação do seu grupo de relações. Um reconhecimento público
de sua coragem ,o merecimento de presentes, revertia sempre para aumentar a
honra, não apenas do indivíduo que os recebia, mas sobretudo a do clã familiar.
Antes
mesmo de a Normandia tornar-se um território unido num só ducado, Rollo fez da
então vila de Bayeux, situada numa região que hoje prima por suas pastagens e
agricultura, a futura sede da dinastia dos duques normandos quando casou-se com
a filha do senhor feudal daquela região e colonizou-a.
As
marcas de sua colonização vivem ainda hoje fortemente na riqueza dos campos, na
zona do Contentin e na terra de Caux normanda. Afinal, para os escandinavos, as
lidas do campo eram tão habilmente executadas como as do mar.
O
recebimento de um ducado e da mão de uma mulher de estirpe, longe de sua terra
no outro lado do oceano, deverá ter parecido ao chefe Rollo como coisas que
lhe eram devidas.
Os irmãos Rollo (Clive Standen) e Ragnar (Travis Fimmel), na série Vikings. |
Na
verdade, a chamada ”corrente Viking” que vasculhou as costas marítimas, ao sul,
a oeste, para a Groelândia e até a América, foi oriunda de chefes regionais dinamarqueses,
suecos e noruegueses, de fazendeiros aristocratas que vinham herdando de
geração para geração a propriedade de terras. Assim, o Viking Rollo era daqueles
homens que lidava com o poder como
se ele fosse um bem que lhe era de direito pelo simples ato de ter nascido.
Suas bodas com Popa deverão ter seguido os
costumes vikings ,que faziam do início de uma família festividades que duravam
vários dias, e eram tidas como a mais importante da sua vida social. Nelas,
apareciam as grandes paixões vikings: Poemas difundidos pela tradição oral, o
contar de histórias sobre o feito dos seus guerreiros e seus deuses, e a dança.
Nesta, vários camponeses enlaçados pela cintura, atinham-se principalmente a
coreografia dos pés, aos moldes das danças russas e eslavas que hoje assistimos. Rollo gerou filhos que empenharam-se em reconstruir abadias que seus próprios
ancestrais haviam destruído e auxiliaram os monges a criar monastérios ao novo
estilo romanesco regional mais tarde conhecido como Normando.
O
estilo romanesco normando iria espalhar-se na Inglaterra, tendo na Abadia de
Westminster o seu mais belo exemplo. depois
que Guilherme o bastardo, o mais conhecido descendente do chefe Rollo, atravessasse o Grande Canal para conquistá-la à linhagem normanda dos Vikings.
Ao
criar em 911 d.C. o primeiro ducado da Normandia, Rollon abriu através deste
seu descendente ,que lhe herdou a pertinácia,a grande prosperidade da região.
Joana D'Arc - A guerreira Mística
A integração cultural ilha inglesa e continente
europeu, para a qual Guilherme com a conquista dera o primeiro passo, custaria
para as populações da França e Inglaterra longos períodos de sofrimento. Os
desajustes entre ambas iriam ser levantados apenas pela ambição das casas reais
dos dois países, todas as duas se achando com direito legítimo ao trono
francês e não por quaisquer sentimentos de nacionalismo de suas populações,
pois na realidade, estes sentimentos se tornariam fraco à medida que cada
porção feudal fora se isolando dentro de sua própria autonomia.
Joana, a guerreira mística. |
Porém,
por traz dos acontecimentos, só uma coisa naturalmente importaria: O
crescimento da consciência dos homens, que iriam encontrar experiências novas
para vivenciarem. Pelo séc. XIV além daquele grande conflito externo vivia-se na
França justamente uma fase de transições políticas, onde iriam fazer face à
grande transformação do regime feudal para o monárquico .
O
sentido de pertencer a facções feudatárias isoladas, separadas por rivalidades
dos territórios vizinhos, isentas de sentimentos de unidade a um centro, iria
ser substituído por aquele de estar inserido em um todo de país e isso se daria
através do fortalecimento da monarquia francesa.
Participante também deste contexto, onde o feudalismo se esfacelava, a Normandia
viu o engrandecimento do sistema monárquico resultar na perda de sua autonomia,
tendo sido anexada ao reino francês.
Como
até hoje os povos, não têm conseguido atingir suas mudanças a não ser através
de conflitos, quando em 1346, o rei inglês Eduardo III, intitulando-se rei da
França invadiu-a pela Normandia já uma das guerras mais longas da História
tivera início: A chamada Guerra dos Cem anos. Na 2º década do séc. XV. haviam ainda dois reis disputando a coroa
francesa: Henrique IV da Inglaterra e Carlos VII herdeiro da França.
Não
podemos imaginar o que significava para a população campesina da Normandia ,atravessar
mais de três gerações vendo os campos invadidos por homens de guerra, que
largavam devastação e mortos onde quer que se enfrentassem face à face; dividir
com os guerreiros suas habitações, que para a maioria da massa camponesa era de
uma simplicidade extrema, construídas de argila e madeira, com poucas
aberturas,enfumaçadas,onde ao rés do chão dormia toda a família sobre um leito
de palha e em peça-estábulo resguardava-se o gado do frio;o quanto lhes custava
prover os soldados com os pães de centeio, o queijo,o toucinho que haviam
armazenado para si. Difícil também imaginar a movimentação dos postos de beira
de estrada, que deveriam estar sempre à disposição das trocas de utensílios de
montaria e ter sempre água e feno suficiente para alimentar os animais das
tropas, como uma obrigação que lhes deviam;avaliarmos a pilhagem a que nos
vilarejos estavam sujeitos os artesãos e oficinas (sabemos que a Guerra dos Cem
Anos notabilizou-se pela pilhagem).
Este
conflito tão extenso,que teve apenas uns anos de trégua, quando a peste negra
do séc. XIV grassou em toda a população européia, ora pendia à favor da facção
inglesa ora para a francesa e talvez se arrastasse indefinidamente se o inusitado
não houvesse acontecido: O aparecimento de alguém que iria envolver a França
num fervor, num entusiasmo nacionalista que conclamando populações, poria fim a
este impasse.
Joana a guerreira. |
Não se
tratava de um chefe guerreiro ou de um cavaleiro nobre, mas apenas de uma
pastora de 17 anos. Somente um ano custou-lhe para levar Carlos VII a ser
coroado rei da França na catedral de Reims .Isto era algo complicado no momento
pois Carlos VII havia sido deserdado e tirado de seu direito ao trono francês
por seu pai Carlos VI que iria dar o trono em herança ao rei inglês.Isto porque
os ingleses haviam difundido que a mãe de Carlos VII era uma libertina e que
ele era portanto uma bastardo. Influenciado por esta desconfiança, o rei o
desertou e assim a Inglaterra estava prestes a pegar o trono francês.Podemos
avaliar melhor como Joana D’Arc conseguiu levar o herdeiro à Reims dividindo a vida
desta guerreira em três etapas.
A
primeira aquela em que aos 13 anos trabalhando nos campos de Donremy onde
nasceu, parava suas tarefas assaltada que era por manifestações místicas.
Enquanto os ingleses ocupavam o noroeste da França com um grande reduto
fortificado em Orléans, Joana vivia as agruras da guerra, preocupada como todos
com a fraqueza e hesitação do pretendente francês em assumir o trono. Passou
então a ouvir vozes que lhe pediam para libertar Orléans. Sua
biografia nos diz que durante três anos teve contato com manifestações transcendentes a ponto de achar que o arcanjo do
monte St. Michel lhe aparecia para instigá-la a envolver-se diretamente na
guerra, sob sua assistência. Em 1429 ela aceitou estes chamamentos e dirigiu-se
ao governador de Vancauleurs pedindo permissão para ser um “Homem de guerra”
Foi a primeira mulher na Idade Média que envergou um uniforme masculino, como
medida de proteção em seus caminhos até Chinon castelo residência de Carlos VII,
onde iria confiar-lhe suas intenções.
Escoltada
por apenas seis homens de armas Joana chegou a Chinon após muitos dias de
cavalgada passando por campos comumente assolados por bandos de soldados
ingleses. Porém, como não encontrou um único em seu trajeto, as populações
entenderam isto como um milagre e a persuasão a sua causa lhe foi facilitada.
Fala-se em Joana jejuando e orando durante dias em uma estalagem para obter a
graça de falar com o Delfin Carlos VII. A multidão que a seguia era então já
grande e conseguiu por isto ser recebida no castelo.
O
visitante que vai a Chinon no vale do Loire, ouvirá contar como as coisas não
foram fáceis ali para aquela camponesa ousada.Todo um aparato havia sido
montado para intimidá-la. A descrença sobre sua capacidade guerreira era
naturalmente grande entre os cavaleiros nobres.Alem disso, não admitiam ela
pretender uma vitória que eles, experientes homens de guerra, não haviam ainda
logrado.
Trezentos destes nobres enchiam o grande Hall, iluminado por um número
imenso de archotes, os cortesãos estavam engalanados em trajes de cerimônia e o
herdeiro no meio deles.
Carlos VII, ele próprio não estava bem certo de
ter um direito legítimo ao trono , mas chegou a acreditar nisso quando ela ,
sem intimidar-se ,com firmeza lhe assegurou que, em nome do Senhor Cristo ,ele
seria o rei e que Deus a havia encarregado de anunciá-lo e coroá-lo em Reims.
Seus
cavaleiros contudo, foram mais cautelosos Puseram-na
durante três semanas reclusa , numa observação
onde vários médicos e mulheres experimentadas em casos de bruxaria, decidiriam
se ela de fato era a enviada de Deus ou feiticeira. Tipo de preocupação que
naqueles tempos medievais da Inquisição e da caça as bruxas era perfeitamente
normal.
Naquelas
semanas, as suas atitudes simplórias e ingênuas, sua firme confiança no que ela
chamava de “sua missão” e principalmente a inteligência de suas respostas,
acabaram por demover o cepticismo dos mais intransigente.
Na
segunda etapa de sua atuação, a veremos já de posse de um exército fornecido
pelo herdeiro, a caminho da praça de guerra, embora seja dito que seus
conselheiros militares fizeram tudo para que ela,desconhecedora da região de
Orleans, fracassasse, dando lhe informações errôneas da situação lá. Artimanha
que causou a chegada do grosso da tropa só alguns dias após ela já estar ali,
acompanhada apenas de poucos soldados. Também os militares de Orléans receberam-na
com visível contrariedade e tudo fizeram para impedi-la a tomar a Bastilha de
St. Loup, a bastilha de St. Jean e o Boulevard de Tourelles.
Se pudermos
aceitar que alguém possa estar investido de forças sobrenaturais, acharemos que
Joana certamente estaria sustentada por elas, pois foi conseguindo vitórias
após vitórias, apesar da desesperada resistência dos ingleses e das dificuldades
impostas pelos próprios rivais franceses.
Imagem clássica de Joana D'Arc como guerreira. |
Só lembrando-nos do fervor religiosos todo feito
de medo da era medieval, podemos imaginar como ela conseguiu incitar seus
soldados a que se atirassem a cada combate com tanto ardor.
Nesta
luta cheia de situações muito críticas, onde mostrou um desassombro e tino
militar invulgar, talvez a mais emocionante seja aquela em que, para animar sua
soldadesca a segui-la, atravessou ela própria os fossos da fortaleza de Orléans
a fim de levantar uma escada sobre o muro. Ferida entre o pescoço e o ombro por
uma flecha, tombou. Neste momento ouviram-se vindas da fortaleza as exclamações
jubilosas de todos os ingleses: A feiticeira está morta! Está morta!
Feiticeira ou não, o fato é que os arquivos sobre sua vida afiançam que
“embora gravemente enferma os anjos lhe aparecem e em poucos dias a curaram”. Quando
retornou ao ataque, os ingleses que a julgavam morta, apavoraram-se ante sua
presença e o seu estandarte e abandonaram as muradas, refugiando-se no interior
do forte. Lançada a confusão entre os inimigos, as tropas de Joana e a
população de Orléans que a auxiliava, tiveram tempo suficiente para tomar a fortaleza
Finalmente os ingleses capitularam sob um ataque vindo de todos os lados.
Teríamos
a terceira etapa na tragédia que a envolveu, após ter visto coroado o herdeiro
da dinastia de Valois, conforme prometera a seus anjos. Joana estava então em
seus 17 anos, mas não teria vida suficiente para ver consolidar-se a monarquia
da França. Em maio de 1431 seria queimada viva na praça do mercado da cidade
normanda de Rouen.
Só a
coroação na catedral de Reims legitimava para os franceses a sagração de um
rei, pois lá durante mil anos naquele mesmo batistério ,onde havia sido
batizado Cloves o primeiro rei franco todos os reis da França haviam sido
coroados. Assim Joana havia insistido com os chefes militares para tomarem Reims,
então ocupada pelos ingleses e levar ali Carlos VII, Levantara com isso uma
apoteótica comoção por parte do povo, que delirantemente a ovacionava.
Com a
coroação o nacionalismo da França se pôs alto. Foi esquecido então o mito
temeroso da invencibilidade das tropas inglesas, que dificultava tantos
combates, criado desde as vitórias da Inglaterra em Crecy, Poitiers e
Azincourt. Contudo, por estes tempos, agora de glorias, a França estava
assolada por lutas internas ,por uma verdadeira guerra civil entre o feudo da
Borgonha, que apoiava os ingleses e daqueles partidários do rei.
Joana D'Arc na fogueira. |
Em
1430, o duque da Borgonha iniciou a tomada da região de Compiegne a 80 km de
Paris. Convinha-lhe possuir um território que lhe permitiria unir os feudos borgonheses
à rica região de Flandres, que já lhe pertencia . Joana encaminhou-se então à
Compiegne para defender as terras do rei. Ali, contudo, sua caminhada guerreira
chegaria ao fim. Foi capturada. Mesmo prisioneira dos borgonheses, ela
representava ainda uma ameaça à Inglaterra que desejava fosse ela declarada
pelas autoridades eclesiásticas uma ‘Feiticeira enviada pelo diabo”.
Pressionados por razões econômicas, como
impostos cobrados por parte dos ingleses, os borgonheses anuíram em vender
Joana para aqueles ,pela quantia de 10.000 ducados de ouro. Num julgamento que
durou meses, conduzido pelo bispo de Beauvais, para ela sobraram apenas duas
opções: Ou arrepender-se assumindo como bruxa, o que a levaria ao cárcere perpétuo
ou seria queimada viva, porque sendo, segundo as conclusões dos eclesiásticos,
mesmo bruxa, não estava se arrependendo.
Afirmando sempre a sua missão transcendente, foi queimada então em uma
imensa fogueira, conforme o costume de se queimar vivos os heréticos,
estabelecido pelo tribunal da Igreja desde o século XI.
Rouen,
a velha capital do primeiro ducado de Rollon, o normando, e de Guilherme o
conquistador, é hoje um dos portos mais movimentados da França. Todavia Rouen
atrai sobretudo os amantes da arte e história,os primeiros pela sua magnífica
catedral gótica do sec.XII e pela beleza de St. Maclou, obra prima gótico-flomboyant
e os últimos evidentemente pelas lembranças locais de Joana D’Arc .
Ao
entramos na igreja que leva o seu nome, na praça do mercado, estaremos pisando
o local onde foi queimada e se verá a estátua que dá a ela uma conotação mais
santa do que guerreira (.Quinze anos após a sua morte o papa proclamava o erro
do tribunal e sua inocência, porém só em 1920 seria canonizada por Bento XV.)
Quem duvidar do sempre vivo tradicionalismo francês, deverá observar que cinco
séculos após ter acontecido estes fatos, lá estão permanentemente flores
frescas colocadas ante seu pedestal .A grande ação de Joana D’Arc não foi, sem
dúvida, coroar este ou aquele rei. Porém, porque conseguiu levantar o
sentimento unitário que justamente com todas as aquisições culturais que, desde
o século XII vinha provocando um verdadeiro despertar naquela civilização ainda
rude, formou a base da unidade francesa.
Os
episódios de sua vida seriam vistos como inacreditáveis se houvessem sido
concebidos pela mente de um ficcionista, mas a história muitas vezes supera a
ficção em fantasia.