segunda-feira, 30 de dezembro de 2024

O Mito do Girassol

Clítia, a ninfa que deu origem ao Girassol.

   Clítia era uma ninfa do bosque. Era apaixonada por Apolo, o deus do sol. Todas as manhãs Apolo surgia num carro puxado por cavalos, emitindo um fogo dourado para todos os lados. Clítia então ia para um penhasco para admirar, fascinada, a chegada de seu amado. Ele surgia no leste e ela ficava ali o dia todo virando sua cabeça, que acompanhava o seu movimento até que ao fim do dia Apolo desaparecia fazendo o seu ocaso no oeste.

   De tanto ficar ali, o corpo de Clítia foi assimilando a cor do sol, foi ficando dourado e seus pés e pernas acabaram por enraizarem-se no solo. Assim, então, Clítia transformou-se numa flor: o Girassol.

  Pela manhã, o Girassol abre-se à luz solar e vai girando, girando fechando-se aos poucos até fechar-se totalmente. Porém, na manhã seguinte lá estará o girassol novamente abrindo-se, tal como fazia Clítia deslumbrada ante a beleza do luminoso deus Apolo.


sábado, 30 de novembro de 2024

A Iniciação do Mestre Sufi Malik Dinar

Dinar foi um dos primeiros mestres sábios dos dervixes. E, numa história, ele conta como atingiu aquela sabedoria e tornou-se um sufi prestigiado. Sua história ilustra também como às vezes o conhecimento que nos pode dar o mestre está ao nosso lado e nós não percebemos. Como o conhecimento depende de nos dedicarmos as coisas  que estão ao nosso alcance, bem as nossas mãos. O que lhe aconteceu foi isto: Um dia Dinar entendeu que havia chegado o momento dele ir à busca do seu mestre e do conhecimento oculto, da sabedoria essencial.

A Mesquita de Malik Dinar é uma das mesquitas mais antigas
da Índia, situada em Thalagara, na cidade de Kasaragof,
no estado de Kerala.
 

   Logo que ele saiu de casa para iniciar a sua busca, encontrou um velho dervixe que começou a caminhar a seu lado silencioso por um tempo, mas depois lhe perguntou:

 - Quem és tu? E para onde vais?

 - Sou Dinar e inicio uma busca para encontrar o meu mestre e atingir a sabedoria.

 - Eu sou Fatih e caminharei contigo.

 - Podes, dervixe, me ajudar a encontrar o meu mestre e a sabedoria?

 - Bem - respondeu o dervixe - o saber oculto está dentro de ti e encontrá-lo depende de como vais enfrentar as experiências que encontras pelos caminhos da vida. E qualquer companheiro de caminhada como eu ou qualquer mestre só pode transmitir o saber através de indicações, nunca vai entregá-lo totalmente, só parcialmente.

   Depois de caminharem um pouco, encontraram uma árvore que balançava muito apesar de não ter vento, e rangia. O dervixe parou e disse: Esta árvore está nos dizendo alguma coisa, nos fazendo alguma queixa. Já sei, ela diz: Algo está me machucando, façam, por favor, uma pausa em sua caminhada e me ajudem!

 - Estou com muita pressa – respondeu Dinar – tenho que encontrar o meu mestre. E de qualquer modo é um absurdo uma árvore falar.

   Seguiram os dois o caminho. Depois de uns quilômetros o dervixe comentou: Quando cheguei perto daquela árvore eu senti um cheiro forte de mel. Talvez uma colmeia de abelhas tenha sido construída dentro daquela árvore.

   Então- disse Dinar - devemos voltar, pois se encontrarmos mel poderemos comê-lo e até vendê-lo.

   Voltaram. Porém, ao chegarem lá encontraram uma porção de homens felizes ao lado de inúmeros toneis de mel. Chegaram tarde, não havia mais mel para eles. Dinar ficou desapontado, mas seguiram seu caminho.

   Chegaram depois ao sopé de uma montanha e ouviram um forte zumbido. O dervixe colocou o ouvido no solo e disse: Debaixo de nós milhares de formigas estão construindo uma colônia para elas. Este zumbido é um pedido de ajuda coletivo. Elas estão dizendo; Ajudem-nos! Estamos cavando para fazer um refúgio para nós, mas umas pedras estão barrando o nosso caminho. Cavem por favor! Ajudem-nos a removê-las!

   O dervixe perguntou a Dinar – Devemos parar e ajudá-las ou queres ir adiante?

- Ora, dervixe, formigas e seus problemas não são de nossa conta. Eu, por mim, o que quero mesmo é seguir, encontrar o meu mestre e beber de sua sabedoria.

 - Mas – argumentou o dervixe – dizem que todas as coisas do universo estão conectadas, será que também estas formigas não podem ter alguma conexão conosco?

   Dinar não deu a menor importância às palavras do dervixe e só disse: Vamos, Vamos adiante! Fizeram uma pausa para dormirem e pela manhã Dinar viu que havia esquecido sua faca perto da montanha junto ao formigueiro. Vamos voltar lá  - disse - para buscá-la. Ao chegarem lá, viram um grupo de homens ao lado de uma pilha de moedas de ouro. Essas moedas agora são nossas - disseram - à noite estávamos aqui, mas apareceu um velho dervixe que nos disse: Cavem ai. Uns acharão que isto são pedras, mas outros acharão nelas um tesouro. E engraçado, este dervixe que o acompanha é curiosamente parecido com o que nos indicou o tesouro.

- Ora – disse o dervixe – todos os dervixes se parecem.

   Dinar lamentou sua pouca sorte e queixou-se: Que azar! Hoje poderíamos estar ricos!

   Prosseguiram viagem e depois chegaram às margens de um rio e pararam para esperar o barqueiro que os transportaria à outra margem. Enquanto estavam ali sentados, viram um peixe que subiu à superfície da água várias vezes, abrindo e fechando a boca em direção a eles.

   Este peixe - disse o dervixe - está querendo nos dizer algo. Ele diz; Engoli uma pedra. Peguem-me e me dêem uma erva ai da margem para eu comer Quando eu a comer vomitarei, e a pedra será vomitada junto. Por favor, tenham compaixão! Tenham piedade de mim!

   Neste momento, a balsa chegava e Dinar impaciente para encontrar seu mestre e o saber oculto empurrou o dervixe para dentro do barco dizendo: Deixe o peixe pra lá, deixe!

   Após pernoitarem na outra margem, pela manhã viram de novo o barqueiro que estava radiante. Dizia; hoje é o dia mais afortunado de minha vida! Vi um peixe de boca aberta que tentava com muito esforço pegar uma erva que estava na margem do rio. Eu então a coloquei em sua boca. O peixe vomitou uma pedra e voltou feliz para a água. Imaginem que a pedra era um enorme diamante! Estou riquíssimo – gritava.

   Dinar voltou-se enfurecido para o dervixe, dizendo: Tu és um demônio! Sabias de todos estes tesouros, do mel, das moedas de ouro, do diamante por meio de um saber oculto que possuis, mas nada me dissestes. Quando acabou de dizer estas palavras, um clarão de luz se fez em sua mente: O velho dervixe era o seu mestre que tanto procurava!  Sempre estivera ao seu lado, ao seu alcance, desde que iniciara a sua busca. Não o reconhecera mesmo quando ele tentara aumentar a sua sensibilidade, a percepção sobre cada coisa que vinha a seu encontro. Lembrou — se dos homens que lhe disseram que o dervixe que lhes mostrou um tesouro parecia-se com este. De fato, todos os mestres se parecem. Todos orientam discípulos que percebem ou não percebem as indicações que eles lhes dão para atingir os tesouros da sabedoria.

   Deste dia em diante Dinar tornou-se ele próprio um grande dervixe, e depois um dos maiores mestres do Sufismo. 

Extraído do livro “Historias dos dervixes” de Idries Shah.


domingo, 13 de outubro de 2024

Os Elementos Alquímicos

Os três símbolos alquímícos.

Quais os trés elementos alquímicos?

Os três elementos alquímicos são o Enxofre, o Mercúrio e o Sal. 

O que cada um deles representa?

Enxofre - O princípio fixo, as propriedades ativas, ação corrosiva, o poder de atacar os metais, e também o princípio ativo ou masculino. Movimento, a forma e o quente. É considerado o embrião da pedra e é alimentado pelo Mercúrio, pois está contido em seu ventre. Também é considerado a energia animadora e constitui o objetivo da grande obra.

Mercúrio - Princípio volátil, representa as propriedades passivas, maleabilidade, fraca tensão de vapor, o escorregadio que toma várias formas e o fugidio. Além de designar a matéria designa também outros aspectos como o princípio passivo ou feminino, o inerte, o frio. O Mercúrio também pode designar a matéria prima, é considerado a mãe dos metais ou a água primitiva que deu origem a todos eles. Este é o Mercúrio filosófico ou Mercúrio duplo, que contém os dois princípios, Mercúrio e Enxofre.

O primeiro Mercúrio, também chamado Mercúrio comum, é conhecido como dissolvente universal.

O Mercúrio é ao mesmo tempo, o caminho e o andarilho, com a Grande Obra representando uma viagem. Estes dois princípios possuem as propriedades contrárias, e a mistura das propriedades contrárias é muito importante na Alquimia, ou seja, o dualismo Enxofre/Mercúrio de todas as coisas. O Mercúrio também é chamado de o Sal dos metais. Na realidade o Mercúrio no final da Obra adquire a tríplice qualidade.

Sal - Também conhecido por arsênio. É o meio de união das propriedades do Mercúrio e a do Enxofre com a força da interação, muitas vezes associado à energia vital que une a alma ao corpo. No ser humano o Enxofre seria o corpo físico, o Mercúrio a alma e o Sal e espírito mediador.


Em que época histórica foram mais usados os elementos alquímicos, quem os usava, e com que finalidade?

A época em que os elementos alquímicos foram mais usados foi durante a Idade Média, entre séculos V à XV.

Os alquimistas, cultores da Alquimia, formados por cientistas e filósofos usavam diversas formas para obter um antigo segredo de um caminho material, como por exemplo, a transmutação de qualquer metal em ouro. A mais antiga das ciências influenciou todas as demais. O objetivo de compreender a natureza e reproduzir seus fenômenos é para conseguir ima ascensão a um estado superior de consciência. 

Os alquimistas buscavam a Pedra Filosofal (fórmula secreta que tentaram descobrir para transmutar metais em ouro), que lhes conferia poderes como a invisibilidade, viagens astrais, curas milagrosas etc. Encontrar a Pedra Filosofal significa descobrir o segredo da existência, um estado de perfeita harmonia física, mental e espiritual, a felicidade perfeita, descobrir os processos da natureza da vida e com isso recuperar a pureza primordial do homem. O alquimista que consegue obter a Pedra Filosofal modifica a sua aura eliminando a cobiça e a avidez.

Os alquimistas relacionam à Hermes (Trimegistro*) a arte Hermética, ou ciência Hermética. Essa com grande contribuição para o desenvolvimento da química e medicina.

*Significa o três vezes grande.


segunda-feira, 2 de setembro de 2024

Sherazade e o Rei Chariar

Em tempos antigos dois reis árabes, irmãos, chamados a encontraram suas ambos suas respectivas esposas nos braços de robustos negros escravos. Desesperados por esta traição resolveram correr mundo para acharem um consolo e uma resposta de Alah para aquela dupla decepção. Após muito caminharem, pararam num local à beira mar. Ali tiveram a aparição de um Dijin, um gênio que lhes contou que ele tinha tanto ciúme da sua mulher que a trancava num cofre e depois atirava o cofre no mar. Buscava-o depois, dormia de novo com ela e tornava a tranca-la e joga-la ao mar repetindo isto sempre. No entanto, ela sempre arrumava um jeito de trai-lo e o fazia de forma tão descarada que de cada amante que tinha guardava um anel que ganhara e fazia dos anéis um colar que já lhe rodeava o pescoço com muitas voltas.   O rei Chariar viu na aparição do gênio e no seu relato uma resposta de Alah.  Achou que Deus estava lhe dizendo: Nenhum homem jamais pode conseguir domar uma mulher a não ser matando-a. – Então, se é assim-disse o irmão – que se faça a vontade deAlah.                                                                                                                                                                                                                    Quando chegou a casa, ele mandou cortar a cabeça da rainha e capar todos os escravos negros do palácio. Chamou depois o seu vizir e disse: quero que uma jovem virgem venha dormir no meu leito e depois que eu tenha desfrutado uma note de prazer com a jovem, que de manhã lhe cortem a cabeça Assim fez por anos, noite após noite, ate que as virgens do reino, especialmente as mais belas, como gostava, começaram a rarear.    O vizir que tinha duas filhas virgens e lindas chamadas Sherazade e Dunizade começou a temer pelo futuro delas. Contou a elas as maldades do rei Sherazade a mais velha era uma moça instruída, coisa muito rara naquela época. Vivia cercada de livros e gostava de ler lendas antigas. Sherazade pensou no que o pai lhe contava e depois disse: Alah, em sua infinita sabedoria está me fazendo ver que somente eu posso demover este rei de suas maldades. Só eu posso adoçar-lhe o coração. Eu quero ser a próxima esposa deste rei. Está louca, filha, disse apavorado o vizir. Antes eu lhe caso com o primeiro pretendente e deixarás de ser virgem.  Ela, porém retrucou: Não quero pai!   Só quero agora mudar a cabeça deste rei, mantendo a minha sobre o meu pescoço. No dia seguinte Sherazade procurou o rei e fez a oferta de si mesma. - Muito bem disse o rei encantado . Como filha de meu vizir. Terás um trato melhor, mas pela manha, já sabes; zas! Fê-lo cortando ar, frente ao pescoço dela.   Quando estava já no auge de seus preparativos para a sua noite de núpcias, entrou para banha-la e vesti-la numa saleta próxima ao quarto, a sua irmã Dunizade. Enquanto o rei esperava-a sentado no quarto, Sherazade e Dunizade. Conversavam e riam muito. Do que será que tanto riam? Perguntava-se o rei e curioso foi até a porta e apurou o ouvido para escutá-las. Sherazade (combinada com Dunizade) enquanto se banhava, contava á irmã uma estória tão hipnótica que o rei se manteve ali paralisado, ouvindo-a muito tempo até que Sherazade se interrompeu , dizendo: Não posso contar o resto porque não sei contar estórias quando não tem mais lua no céu. Atrase-me muito e nem fui ainda para a cama do rei. Mas Sherazade o havia prendido ali tantas horas que o rei, ao deitar-se pegou logo no sono. Assim, pela manhã, porque não havia ainda cumprido seus deveres conjugais, transferiu a execução de Shrerazade para a manhã seguinte.

Na próxima noite, instada insistentemente pelo rei, Sherazade terminou de contar-lhe a estória que contara á Dunisade. Porém, teve a sabedoria de rapidamente já encadeá-la á outra estória, que espichou até o novo dia raiar – Ora meu rei, disse interrompendo-se como se estivesse muito aborrecida. Veja! Já está surgindo o sol! Eu não sei contar sob a luz do dia.  -----Como é o desfecho? Insistiu o rei – Só posso lhe dizer que é muito empolgante.                                              – Está -concordou ele- deixemos então o fim para anoite que vem. Mas sabes, de manhã, zas! E apontou o pescoço dela. Mas antes de dormir perguntou: conheces muitas estórias? Oh!  Sim! É realmente uma lastima que eu não possa lhe contar todas... – Mas sua irmã, por certo conhece muitas, não? – Minha irmã não sabe ler, meu senhor, nunca leu um livro de lendas e, além disso, se expressa muito mal. Assim se repetiram as coisas na noite seguinte e nas outras 998 que somadas às duas primeiras perfizeram as famosas “Estórias das Mil e Uma Noites”, nas quais Sherazade manteve sempre vivo o interesse do rei e a sua cabeça presa ao seu pescoço. Quando as mil estórias terminaram o casal já tinha três filhos, o rei ficara mais instruído, o seu coração se adoçara, e ele não queria por nada perder uma mulher com tanta determinação e sabedoria.


terça-feira, 23 de julho de 2024

A Anatomia do Ser

  Para estudarmos a constituição do nosso ser, primeiramente precisamos nos familiarizar com os nomes que as várias partes de nossas consciências recebem.  Temos a mônada ou centelha de Deus em nós, depois o Eu superior ou Eu Real também chamado de Individualidade. E, finalmente, o nosso Eu inferior também chamado de quaternário inferior ou personalidade.

Dharma, a lei divina para cada ser.

    A mônada contém em semente, em essência, os poderes latentes de todos os nossos corpos formais e tipos de consciências, enfim contém tudo o que fomos o que somos e o que seremos. É a centelha de Deus em nós. É incognoscível, não podemos imaginá-la como é exatamente. Mesmo quando nos voltamos a ela em meditação e dizemos: Nossa mônada é luz, a estamos vendo por um prisma humano, porque a luz é para nós a coisa mais sutil, mais bela que conhecemos. Ela está no mais íntimo do nosso ser, vem de dentro para fora de nossos corpos, desde o local que chamamos de ponto central do ser, ou fogo sagrado. Sua irradiação de energia transpassa sete corpos nossos e mantém íntegra as suas estruturas.

    Em meditações a vemos em cor branca, uma vez que é a cor completa que contém todos os prismas de luz. A primeira pessoa a dar o nome de mônada à força de Deus em nós, foi Pitágoras, dentro da Escola Pitagórica.

    Quanto a nossa individualidade, o nosso Eu Real, é transpassado pela mônada e busca concretizar aquela totalidade de Deus em si, é a parte do nosso ser que está num processo evolutivo. Serve-se dos corpos inferiores, das várias personalidades que têm nas suas várias vidas como instrumentos de sua evolução.

    Então o que observamos é que enquanto os nossos corpos inferiores e suas consciências são transitórias e mortais o nosso Eu real é imortal. Todos os frutos das experiências das nossas vidas são recolhidos para o nosso Eu Real para a sua evolução. 

O corpo etérico traz a vitalidade
para o corpo físico.

    Quanto ao nosso Eu inferior, este que manifestamos neste mundo, ele é a nossa personalidade porque esta palavra se origina do vocábulo “persona” que quer dizer máscara. Entendendo que em cada uma de nossas encarnações aparecemos com aparências, emoções e sentimentos diferentes que são como máscaras que encobrem o nosso Eu real em evolução.

Chamamos este corpo inferior de quaternário, porque o dividimos em quatro consciências: física, etérica, emocional e mental. Uma consciência que reestrutura tecidos, cicatriza, gera fome a sede, outra que sente, outra que pensa.

    No seu relacionamento com o Eu real é como se este estivesse querendo tocar uma melodia e se servisse dos corpos inferiores como seus violinos, como seus instrumentos musicais Estes quatro corpos instrumentos teriam que estar cada vez mais afinados sensíveis para que a melodia do Eu real pudesse ser mais bem tocada. Então em cada uma de nossas vidas as nossas consciências inferiores vão melhorando, mas as finalidades delas é servir ao Eu Real e mostram também para nós quanto o nosso Eu Real já evoluiu.

    Annie Besant faz uma bonita metáfora para o relacionamento entre o nosso Eu Real e seus instrumentos inferiores.  Diz ela; "nossas personalidades inferiores são como folhas de uma grande árvore, Tais folhas caem e se renovam periodicamente. Mas tudo o que as folhas absorveram e assimilaram do externo, enriquece uma seiva que se refugia dentro do tronco". O tronco seria o nosso Eu Real que se abastece com a seiva das experiências recolhidas e ao mesmo tempo seria o gerador de novas folhas que irão renascer em novo ciclo de vida. Como podemos imaginar o nosso Eu real? É um ser cuja beleza vai se acentuando à medida que ele evolui. Como se daria a evolução desta beleza do nosso Eu real? 

Pela época em que fez suas primeiras manifestações neste nosso mundo colocando sobre si as quatro máscaras (capas) do quaternário inferior, aparecendo neste mundo como personalidade, o nosso Eu Real possuía um ovo áurico incolor que o rodava conhecido no ocultismo como Algóides. Porém, à medida que foi evoluindo pelas experiências materiais encarnatórias, o seu Algóide foi se colorindo de nuances luminosas. 

    O nosso Eu Real conta com três consciências e eventualmente estamos contatando uma ou outra delas. Temos a mente abstrata ou causal. Nós a usamos quando nos aprofundamos buscando o sentido, a causa dos acontecimentos que vivemos, presenciou ou nos são narrados. Quando em cima de informações apenas intelectivas que nos passa a mente inferior, nós chegamos a perceber um plano divino, quando formulamos conceitos que estão de acordo ao Dharma, as leis divinas, para nós e para a humanidade.

    Aqui temos que distinguir o trabalho da mente inferior intelectiva racional, da mente abstrata. A mente racional é apenas um instrumento coletor de informações, de conhecimentos. A mente abstrata se serve da mente intelectiva para transformar os conhecimentos em sabedoria. A mente abstrata saboreia (origem da palavra sabedoria) o conhecimento, com ele formula um conceito, um princípio, um plano divino e vai dando passos na sua evolução.

    Temos uma segunda consciência superior: a búdica. Esta contém o nosso arquétipo, isto é, contem o plano divino reservado para cada um de nós; O papel que cada um de nós tem dentro do cosmos e que o Eu Real terá que cumprir. Nenhum Eu Real pode concretizar a totalidade de sua mônada sem cumprir o papel que lhe cabe como individualidade. É o que nos faz diferentes uns dos outros. Cada um caminha em direção do cumprimento do seu papel. Quando compreendemos isto, aceitamos todas as pessoas. Aquelas pessoas que fazem as coisas com sentido de missão, conforme vimos no estudo da Arvore da Vida, elas são muito cientes de ter que cumprir um papel.

    Este nosso arquétipo é chamado pelas escolas esotéricas de ”corpo crístico”. Quando alguém cumpre muito o seu arquétipo, ele se torna um Cristo manifesto, e tal como Jesus, poderá afirmar: “ninguém vai ao Pai (a centelha) a não ser através de mim” (um Cristo que ele representa).

    A nossa terceira consciência é a nirvânica. É a consciência de repouso, de paz. Geralmente podemos encontrá-la quando nos interiorizamos em meditação. Esta consciência nos repousa das labutas, das dores, enfim das nossas atividades humanas. Tal consciência é chamada também de “O Grande Silêncio”. Porém esta tranquilidade, esta bem-aventurança, e alegria, é apenas uma ínfima parte que teremos, quando conseguirmos estar sempre expressando esta tranquilidade, no nosso Eu Real.

    Quando morremos, esta consciência nirvânica se faz muito forte, porque quer nos dar o necessário repouso para depois voltarmos a novo período de atividade. Se nós não perturbarmos um desencarnado com constantes chamamentos, a morte lhe será apenas um grande sono repousante, preparador de um retorno à vida física.


terça-feira, 11 de junho de 2024

Meditação dos Quatro Elementos

Comunguemos com o elemento Terra. Sentamos sobre o chão. Estamos apoiados sobre a fortaleza, sobre a fertilidade da nossa Mãe Natureza. As pedras nela são os ossos da nossa Mãe Terra. Sentimos que toda a nossa parte óssea desde nossos pés, pernas, braços, coluna, crânio está recebendo e unido à potência deste solo, dos minérios contidos nele. Somos parte dele. Dizemos agora: Salve ó seres dos minérios, salve anjos da natureza. Abrimos os olhos e descansamos

  Comunguemos agora com o elemento Ar. Respiramos profundamente, várias vezes, tornando-nos conscientes do ar enquanto ele flui para dentro e sai dos nossos pulmões. Ele é o sopro que nos estão dando os seres do ar. Deixemos que nossa respiração vá se incorporar à brisa do ar. Pensemos no ar ao nosso redor. Somos parte dele.  Vivemos nele. Agora digamos: Salve ó seres do ar, anjos da natureza! Abrimos os olhos e descansamos.

Comunguemos com o elemento Água.  Fechamos os olhos. Pensemos agora nas águas da natureza. As dos rios, das cachoeiras. Ouçam mentalmente o barulho das águas em sua movimentação. A mesma água está dentro de nós. Sintamos no interior do nosso corpo o sangue fluindo, correndo através de nossas veias. Digamos agora: Salve ó seres da Água, anjos da natureza!

  Comunguemos com o elemento Fogo. Fechemos nossos olhos. Sintamos o interior de nosso corpo cintilando como pequeninas luzes. Elas são a eletricidade da vida, luz, vigor, a vitalidade, o calor de nosso corpo.  Pensemos que no centro de nosso sistema solar lá está o sol a nos dar vida e calor. Nós e ele somos um só. Agora digamos: Salve ó seres do Fogo. Anjos da natureza! Abrimos os olhos e descansamos.


sexta-feira, 12 de abril de 2024

Uma Negra Chamada Vitória

Negra Vitória está no mercado público. Mísera, seca, fedorenta, ruína que a vida teimava em levar até os noventa. Todas as noites por ali. Nunca encontrando um rico em seu caminho àquelas horas. Também, por que rico viria agora, como ela buscar restos pra forrar barriga, se podia escolher o que queria em dia claro? Mas tudo estava certo. Cada um como cada qual! Diversidade de sorte não a perturbava nada, principalmente hoje que para ela era uma noite diferente. Noite de realização e de entusiasmo. Noite pela qual tanto aguardava! Sentia até o coração lhe bater alegre, assanhado no peito murcho e derreado

Alterar-se com mazelas não era mesmo do feitio de negra Vitória. Miséria vira acomodação se bem organizada e a sua era. Vejam só: O seu Custódio lá da banca de carnes escondia-lhe sempre um pedaço de sebo dentro de um caixote. Ela sabia que o sebo seria seu sempre até que descansada e inerte não necessitasse dele mais.

O céu parecia mesmo a ter escolhido por afilhada, pois lá no fundo do mercado o vendeiro displicente jogava fora, nem bem podres ainda, abóboras e espinafre. Um dia até uma pera, fruta de rico, encontrara. Não. Não podia considerar sua sina de ingrata. Mas que às vezes cansava caminhar estirão tão comprido lá isso era verdade. As juntas de seu corpo rangiam todas parecendo até gemer com ela. Mas engraçado, até solidão que fustiga mesmo esta noite não fustigava.

Só achava que negras de sua classe deviam finar-se enquanto de canela jovem, senão já queriam até se igualar à gente delicada. Vejam ela: Quando o caldo do sebo misturado ao rebotalho caia-lhe nas entranhas esganadas, entranhas que esperavam o dia todo por aquela única panelada, ela sentia um bruto vômito e sujava o chão todo do barraco. Onde se viu negra acostumada a todos os tipos de mazela, com aqueles luxos de velha mimada?

Só uma coisa virava-lhe o pensamento, a perturbava: Aquele nome pretensioso posto nela: Vitória, Não que soubesse bem o significado do vocábulo. De estudo tinha apenas a tabuada que um patrão letrado lhe ensinara.  Mas sabia que o termo tinha a ver com algo que a gente podia alcançar. Se cada bebê que nasce tem o direito de chamar-se claridade, gloria e até vitória, algo dentro de si dizia que aguardasse. Tinha a certeza. Quando adquirisse o que queria com os trocados que trazia dentro do lenço encardido, todas as coisas ruins para ela desapareceriam como se tocadas por um mágico.

Dali a pouco negra Vitória já está na rua levando em suas mãos um pacote. As esperanças de negra Vitória ela traz todinhas enroladas numa única folha de jornal. Negra Vitória apressa-se, porque felicidade não pode mais esperar para acontecer. Suas pernas pareciam até aladas Mas, teve apenas um momento azarado. Tão excitada estava, que tropeça em palhas de milho em frente ao mercado e lá se vão ao chão todas as suas esperanças embrulhadas. Ela pega o pacote apalpando-o apalpando-o ansiosamente e abre depois a boca desdentada num sorriso puro, perfeito, quando o sente intacto.

Finalmente chega à frente da porta do seu barraco. Ela chama de porta as duas tabuas ruídas e cruzadas. Entra e coloca então o pacote sobre um caixote novo, evidentemente a pouco comprado. Está coberto com uma toalha alva. Aquela alvura pondo contraste chocante ante a penúria do barraco. Negra Vitória para olhando tudo extasiada. Está encantada, com o aparato que ela própria idealizara.

Tira depois do pacote uma estátua de São Jorge e pensa: Seu barraco serve agora de teto ao sagrado ao que é divino, que não é domínio de pobre, nem domínio de rico.

Ali dentro ela sente uma alegria, uma paz, um êxtase. Uma transcendência que nem o patrão letrado que lhe ensinara tabuada saberia explicar. Porém negra vitória, mísera, velha, seca, conseguiu tudo isto.