sexta-feira, 12 de agosto de 2022

Cidades Históricas de Minas Gerais

 Passeando por este Brasil afora, é imperdível uma estadia nas cidades históricas mineiras. Visitar locais como Sabará, Congonhas, Mariana, Tiradentes e naturalmente a alma imortal de todas elas: Ouro Preto, com suas ladeiras, seu casario estilo português, seus porões e senzalas de escravos domésticos é, sem dívida, retornar ao nosso passado. Esta última então chamada de Vila Rica, era em tempos do Brasil colonial pródiga em arte, gastronomia, política, amor, religiosidade e riqueza aurífera.

Ouro Preto, a principal das cidades
históricas de Minas Gerais.

    Surgiu como as demais com a chegada dos bandeirantes em busca de ouro já ao final do século XVII. Hoje é tombada pela UNESCO como patrimônio cultural da humanidade e naturalmente é a joia do Barroco americano.

  Seu nome Vila Rica procede do ciclo de ouro brasileiro com suas duas mil minas catalogadas. Entre elas a maior delas a “Da Passagem”. Nos seus 30 quilômetro de galerias pode imaginar, com pesar, a humilhação e o sacrifício de centenas de escravos que a garimpavam, segundo as regras cruéis da escravidão peculiares ao nosso período colonial. Mancha nacional que jamais esqueceremos.

   Foi em Vila Rica que aconteceu. A maior revolta contra a exploração portuguesa aos habitantes locais: A Inconfidência Mineira. Durante o ciclo de ouro todos aqueles que encontrassem ouro deveriam pagar o “Quinto”. O ouro era derretido, feito em barras e enviado à Portugal. Cada região pagava anualmente também uma quantia de mais ou menos 1.500 Kg à coroa. Quando esta taxa não era paga, os soldados portugueses entravam nas casas e retiravam os bens dos moradores. A isto se chamava “Derrama”.

   Os impostos revoltavam a população e começou então o movimento liderado por Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Influenciados que foram os inconfidentes pelas ideias iluministas vindas da Europa. Outros foram também os poetas Tomás Antônio Gonzaga e Claudio Manoel da Costa. Porém, um dos inconfidentes Joaquim Silvério dos Reis, para se livrar de dívidas com portugueses, delatou o dia que se daria a revolta. Tiradentes foi condenado à forca no Rio de Janeiro, então capital da Colônia, seu corpo foi esquartejado e sua cabeça exposta na praça principal de Vila Rica, local onde um século depois foi erguido um monumento ao confidente. Os outros foram degredados para a África. Um deles, Manoel da Costa, suicidou-se na prisão.


Tiradentes, uma das cidades mais pitorescas
da rota histórica de Minas Gerais.

Havia certamente recursos para ludibriar as exigências portuguesas. Um deles era o tráfego de ouro que contava com o ”Santo do Pau Oco”. Na igreja de Nossa Senhora de Pilar (a mais rica de Minas) encontra-se um deles. O ouro que não pagaria tributo era escondido através de uma abertura dentro da imagem do santo. Dali era levado nos andores de uma procissão, passando pelas barbas dos guardas que margeavam o caminho. Caso houvesse o perigo de cair algum ouro no chão e chamar a atenção dos guardas, a matraca encobria o barulho com seu som. Quando havia muito ouro a ser traficado, o número de procissões aumentava.

   O culto cristão era muito forte em Ouro Preto em tempos coloniais. Contemplar a beleza das igrejas mineira é imperdível.

   Na igreja de santa Efigênia (esta, uma princesa núbia responsável pelo Cristianismo na Etiópia), em meio ao esplendor dourado do Barroco, vemos

 Figuras de pelicanos. Estão eles ali fora do contexto de um templo? Certamente não. Eles representam o sacrifício do Cristo. É o animal que fere o próprio peito com o bico para alimentar com seu sangue seus filhos, quando estão famintos.

   Para contribuir com a feitura desta igreja, negras, já forras, levavam ouro nos cabelos e os lavavam depois na pia ali deixando o ouro.

   Quem tiver o privilégio de passar a Semana Santa em Ouro Preto, viverá dias inesquecíveis. Na sexta feira podemos assistir a “Procissão das Almas” em Mariana. Nesta época do ano- assim é acreditado- os mortos deixam o cemitério num cortejo fúnebre e passam pelo centro histórico. Isto se refere a uma lenda do século XVIII.

   É contado que uma senhora tinha o hábito de ficar na janela bisbilhotando até a madrugada para ver quem se atrevia a sair àquelas altas horas. Até que uma noite percebeu uma estranha movimentação de pessoas vestidas de branco trazendo velas acesas. Não reconheceu ninguém até que uma delas entregou-lhe uma vela recomendando que devesse pôr em seu oratório e ser depois lhe devolvido. Pela manhã, a senhora viu que em lugar da vela haviam ossos. À noite lhe foi pedido estes de volta com esta recomendação: “Não era para ficar debruçada na janela pelas madrugadas, pois a procissão das almas acontecia aquela hora”.

   No sábado, deveremos ficar acordados à noite para assistir a feitura dos tapetes que forrarão as ruas principais. São eles feitos de serragem, borra de café, palha de arroz e cal.

   No domingo, podemos acompanhar a Procissão da Ressurreição. E naturalmente uma grande atração da Páscoa é a teatralização de cenas do Novo Testamento que conta com um vestuário riquíssimo e uma arte teatral impecável de seus atores.

   Casos de grandes amores também aconteceram em Vila rica. Ali tivemos o amor cheio de desditas, tão bem descrito pelo poeta inconfidente  Tomas Antônio Gonzaga que escreveu “Marília de Dirceu”.  Marília é o nome poético de Maria Dorotéia de Seixas, noiva do poeta e Dirceu o pseudônimo simbólico do próprio Gonzaga. Ao vê-la já escreveu: “Mal vi teu rosto o sangue gelou-me, tremi e mudou-se das faces a minha cor”. Pela Inconfidência, foi ele degredado à África.  Mesmo passando por masmorras, inspirado pela saudade de Marília, escreveu tantos versos à ela que daria para encher livros.

Congonhas e sua afamada Basílica do
Senhor Bom Jesus de Matosinhos.

    Lembremos também da paixão fulminante do contratador de diamantes João Fernandes Oliveira pela mulata escrava Chica da Silva, a quem todos na cidade invejavam pelos tantos privilégios que lhe eram por ele concedidos e que a rodeavam de bajuladores.

    A Gastronomia, tão prosaica, é, porém, uma das atrações das cidades mineiras. Como se pode ir à Minas sem provar sua cozinha típica? Seu feijão tropeiro, sua couve, seu tutú de feijão, seu torresmo?

   A arte é certamente o ponto alto de Ouro Preto. Iremos então buscar a genialidade de Antônio Francisco Lisboa, o “Aleijadinho”.

   Aos 47 anos apareceu-lhe uma estranha moléstia que lhe fez perder os dedos dos pés e atrofiar os das mãos. Já então não andava e era carregado nas costas de um escravo. Suas mãos eram amarradas com panos e foi assim que executou a maior parte de seu trabalho.

   Em Congonhas, no adro da igreja de Matosinhos estão esculpidos os seus 12 apóstolos com placas em cada um escritas em latim como no Velho Testamento. Assim, temos Daniel dizendo: “Encerrado na cova dos leões sou libertado pelo auxílio de Deus”. Jonas a dizer: “Engolido pela monstro passei três noites no ventre do peixe e depois voltei vivo á Nínive”.

   Podemos ainda apreciar extasiados as 64 imagens de cedro (colhido nos meses sem erre- conforme dizem-) de sua Via Sacra pintadas pelo mestre Ataíde, o grande pintor do barroco mineiro. Como curiosidade, os pavimentos das ruas de Congonha são chamados de Pé de Moleque, por terem sido feitos por negrinhos escravos. Tais profetas fora esculpidos em 1800, quando o Aleijadinho já tinha 70 anos, em plena doença.

   Arte é também o concerto que se ouve em Mariana pelo órgão de fole, movido à mão de 1701. Ouvir seus acordes leva-nos a um sublime enlevo, toca o coração dos mais insensíveis. Mariana possui ainda um dos mais belos acervos em Arte Sacra do Brasil.

   Arte pura é encontrada no Museu do Oratório. Eram inúmeros na época  colonial. Estavam presentes em residências particulares, pois serviam para afugentar maus espíritos. Sem esquecermos naturalmente do vasto artesanato de Pedra Sabão.

   Com os olhos saciados por tanta beleza vista, teremos percorrido um dos mais importantes roteiros turísticos de nosso país: As cidades históricas de Minas.


sexta-feira, 8 de julho de 2022

Curiosidades no Caminho de Santiago de Compostela

 

Catedral de Santiago, o destino da peregrinação mística.

   
 Nesta rota que percorre perto de 900 km pelos locais mais verdes da Espanha, pegando o sol durante o dia sempre pela frente até chegar ao Finisterra, sobressaem-se lendas, ritos, arte arquitetônica história e poesia.

    A mais importante lenda do Caminho é aquela que gerou o seu próprio símbolo: A concha. Era já um grande símbolo no tempo do Paganismo, naquele em que o culto as deusas era intenso.

   A carne da concha (as Conquilles de São Jaques, iguaria tão apreciada na França), eram secas e servidas como filtro do amor, uma dádiva da deusa Vênus Afrodite nascida numa concha do mar. A Igreja, na época, lutou muito contra esta união do santo (Tiago) com a deusa, mas acabou cedendo a um culto que dura até hoje.

   As pessoas que cometiam delitos na Europa podiam fazer uma peregrinação à Compostela e assim seriam perdoados. Porém, ao retornarem tinham que trazer um comprovante de que chegaram lá. Traziam então conchas. Assim, tornou-se elas o símbolo do Caminho e a origem da Compostelana.

   O primeiro grande Rito do caminho é feito no Alto da Abaneta, em Rocenvalles. É o chamado “ritual das cruzes“. Geralmente, os peregrinos levam consigo pequeninas cruzes que ali deixam enterradas num simbolismo de que largam para trás suas mágoas e tristezas antigas, antes de começarem a caminhada. Chegar, enfim, de coração leve.

   Outro Rito, este bem emocionante, acontece na Cruz de Ferro. Ali era um antigo local de um rito pagão feito ao deus Mercúrio. Porém, os peregrinos cristãos durante séculos, levaram pequeninas pedras e virados de costas as atiravam dali. Hoje temos um monte de pedrinhas circundando a cruz.

    O conjunto delas representa uma nova humanidade tendo então cada peregrino contribuído com isso. Esta tradição provêm de uma lenda grega que assim nos conta:

   Quando o dilúvio assolou a terra, sobrou um casal grego: Decalião e Pirra. Perguntaram então ao oráculo do templo de Delfos, que ficara intato: Como viveremos agora nesta terra devastada? O oráculo respondeu: Pegue os ossos de sua mãe e atirem de costas.  Compreenderam eles então que a única mãe que agora tinham era a Mãe Terra e que as pedras eram os seus ossos. Dando as costas, foram atirando para trás muitas pedras. A umidade do dilúvio pôs sobre elas um limo que transformou-se em carne. O deus Apolo enviou um raio de luz que transformou-se na luz do espírito. Quando Decalião e Pirra se voltaram, viram surpresos uma quantidade de homens surgindo. Aparecia assim então a civilização Helênica.

O caminhante de Santiago.

   Outro Rito do Caminho é feito no Monte do Gozo, onde o peregrino, com prazer, já avista a cidade de Compostela. Faz ali uma ablução para chegar à sua catedral purificado.

   O último Rito será feito no Pórtico da Glória (entrada da catedral) onde o peregrino porá as mãos no pórtico e sente o lugar que possui a maior força telúrica do mundo.

   No setor da arte arquitetônica, não podemos deixar de citar o Gótico tão bem representado nas catedrais de Burgos e Léon.  Na de Burgos encanta-nos a porta do Sarmental, com sua belíssima escultura do Cristo instrutor cercado pelos quatro evangelistas e dos quatro animais do Apocalipse (touro, leão, águia e homem) simbolizando persistência, coragem, liberdade e consciência. Este tímpano é considerado como um dos mais perfeitos da arquitetura gótica.

   A catedral de Léon é a grande explosão de luz da arquitetura gótica com seus vitrais coloridos, suas 125 janelas de vitrais que nos dizem: “O homem medieval não é mais aquele humilhado, sombrio, do período Românico”. Deus é no novo homem luz, procura do alto, abertura.

   Importantes são, sem dúvida, as construções, geralmente de um teor místico, aquelas feitas pelos Templários. (já expulsos da França pela Igreja, enriqueceram de arte o percurso com capelas, ermidas, castelos, com hospitais de atendimento aos peregrinos. Em suas construções, deixaram o simbolismo místico com o qual desejavam encobrir da Inquisição os seus conhecimentos esotéricos).

   Uma das mais interessantes delas é a ermida de Eunates. Já seu nome fala sobre seu significado: “Eu Nato”, bem nascidos, renascidos, em latim. Tem a forma octogonal, sendo que o número 8 é o número da ressurreição. (lembremos que algumas igrejas na Europa tem a sua pia batismal em forma octogonal, fazendo referência aos bebês que ali renascem pelo batismo). Esta construção teve a influência octogonal da mesquita da Roca de Jerusalém, construída pelos Sufis no local do templo de Salomão.

  Está numa região repleta de tradições. Acredita-se que em seu subsolo passa uma corrente telúrica que vinda da França, cruza os Pirineus e a ermida de Eunates. Estas correntes energéticas da terra correspondiam a lugares de antigos cultos às divindades femininas, principalmente à Mãe Terra e as Virgens Negras da cor do telúrio.

Ao norte da ermida de Eunates, localizou-se o processo famoso das bruxas de Zagarramurdi, onde um quarto de mulheres da sua população foi queimada pala Inquisição.

O mapa do caminho.

   O Caminho é rico em história antiga medieval e moderna. Como história antiga lembremos-nos do Cristianismo primitivo, quando Tiago ,o grande apóstolo do Cristo, foi mandado a pregar suas mensagens na Espanha e o fez justamente em todo o percurso do Caminho. De volta à Jerusalém e sendo decapitado por Herodes, teve seu corpo enviado por seus seguidores de volta à Espanha.  Foi, porém, só na Idade Média, que seu corpo sendo achado, as peregrinações tiveram início.

   O nome Compostela vem de “Campo de estrelas” referido à chuva de estrelas vista sobre seu túmulo, o que o identificou.

   Quanto à história moderna do Caminho, além das grandes peregrinações feitas até hoje, temos o caso da capital de Astorga chamada de Maragataria. Ali vive um povo, os maragatos, que no século XVIII veio para o Uruguai e a Argentina e no século IX lutou na nossa revolução federalista como os Maragatos lutando contra os Chimangos. Segundo os historiadores, foram os Maragatos que trouxeram os costumes gaúchos para a nossa fronteira. Segundo se nota em sua região, os Maragatos espanhóis se vestem absolutamente iguais  à nossa indumentária gaúcha: Botas,  lenços no pescoço e na cintura, bombachas ,ponchos etc. Também são iguais quanto à alimentação, quanto ao jeito de preparar a carne para o churrasco.

   Ninguém melhor que um poeta para descrever os sentimentos de um peregrino do Caminho de Santiago. Assim temos:

                     Peregrinações 

“Polvo, barro, sol, lluvia

Es el caminho de Santiago

Milhares de peregrinos

I más de um milhar de años

 

Peregrino, quien te llama?

Que fuerza oculta te atrai?

Ni el caminho de las estrelas

Ni las grandes catedrales

 

No és la bravura  navarra

Ni  el vino de los Riojanos

Ni los mariscos galegos

Ni los campos castelhanos

 

Ni és la história e la cultura

Ni el gallo de la calzada

Ni el palácio de Gaudi

Ni el castelo ponferrada

 

Todo lo veo al passar

I és um gozo ver-lo todo

Mas la voz que a mi me llama

Lo siento mucho mas hond.

 

La fuerza que a mi empuja

La fuersa que a mi me atrai

No se explicaria  ni yo

Solo ele de arriba lo sabe

 

(Eugenio Gambay)


segunda-feira, 20 de junho de 2022

Discipulado - Intercâmbio entre Mestre e Discípulo

  


Discipulado é uma das mais caras aquisições que nos proporciona a Espiritualidade. Baseia-se em que a Unicidade entre os seres, que é uma meta nossa, nos possibilita ajudarmos e sermos ajudados uns aos outros a bem de evoluirmos. Alguém mais evoluído que nós pode nos servir de modelo e poderá ser o nosso mestre, orientando-nos no uso de nossos próprios poderes.

   Esta orientação sempre visará nos tornar alguém melhor e mais sábio, pois jamais um bom professor, orientador e mestre ensinará e concordará com algo que prejudique a formação ética do discípulo.

   É lícito neste intercâmbio com bilhões de seres da humanidade, entre os quais nos inserimos, buscarmos a orientação daqueles que já atingiram uma mais perfeita evolução espiritual. Para isso, contamos com o princípio da Telepatia que nos permite apelar por alguém mesmo que se encontre distante de nós.

   Para que tal relacionamento se dê, é necessário que exista uma afinidade de comportamento entre ambos, mestre e discípulo, No caso de uma iniciação espiritual, as atitudes comportamentais do discípulo são importantíssimas, pois elas são o que detectará se é realmente um verdadeiro mestre, alguém que na Espiritualidade chamamos de “Mestres da Luz”, quem está realmente a nos orientar. Tais mestres expressarão através de seus alunos sua própria simplicidade de viver e respeito humano.

   O discípulo passará pouco a pouco a manifestar uma invulnerabilidade ao desejo de domínios financeiros e à vulgarização dos instintos. Também, uma afinidade de propósitos e interesses é necessária a que um relacionamento entre discípulo e mestre mantenha-se. Para este último só existe um objetivo: A evolução espiritual de quem orienta. Para o discípulo é ir conseguindo, com sua ajuda, uma evolução consciente.

   Exemplificando: Suponhamos que o discípulo crie um grupo de ensinamentos esotéricos ou de curas espirituais. Enquanto este conseguir manter o padrão de pureza requerido pelo mestre, o grupo se manterá vivo, mas se passar a desvirtua-lo em atitudes perniciosas, simplesmente o elo entre ambos é rompido, o mestre se afastará, pela falta de afinidade vibratória entre ambos. Eventualmente, pode se dar a continuidade do trabalho grupal e até este tornar-se de proporções notórias, porém será sempre uma ilusão ou em caso mais graves, uma fraude, um embuste, atribuir à orientação de algum “Mestre de Luz” por trás de tal trabalho.

   Cada homem traz em si um dom peculiar a desenvolver a que os espiritualistas chamam de “Raios Individuais”. Sejam eles para uns o da liderança, para outros o da arte, o da ciência, o da cura, o do trabalho social e assim por diante. O mestre, aliás como todo orientador, é um especialista no dom peculiar ao seu discípulo. Contudo, estes serão sempre diminuídos ou paralisados no caso de desvios comportamentais, como por exemplo, o dom da cura: Estas, se conseguidas, virão da Fé que eventualmente os pacientes à curas possuam, geralmente até aumentada pelo poder de persuasão daqueles que já estão desvirtuados e afastados de qualquer verdadeiro mestre. Lembremos sempre a Jesus nos dizendo: “Se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda direis a este monte: Move-te, e ele se moverá”. 

   Contamos, sobretudo com uma consciência mental abstrata espiritual e superior que, se bem desenvolvida, dominará a forma como tais dons que possuímos serão por nós manifestados O papel do mestre é desenvolvê-la. Caberá a ele nos inspirar e intuir para que o relacionamento entre nós e todos os seres da humanidade nos leve até aquela Unicidade harmoniosa, respeitosa, que o espiritualista busca alcançar.

   Enfim, fazermos um discipulado correto é como subirmos uma encosta íngreme, cheia de tentações que ás vezes nos querem levar aos mais variados desvios, mas tendo a certeza de estarmos dando a mão à alguém que não dos deixa entrar em atalhos perigosos e sem retorno.


domingo, 24 de abril de 2022

Saudações às Luas

 

LUA NOVA

Ò deusa anciã desta fase Nova recebe-nos em teu seio!

Deixa que repousemos nele!

Tu és descanso, quietude e paz! Deixa que nesta paz nos abasteçamos em teu regaço materno,

para que possamos trazer na fase crescente as sementes que em ti acumulamos.

Tu és sombria! A inativa Lua Nova que nos repousa e revigora.

Nós nos ligamos a ti, ó deusa senhora do aconchego e do descanso.

Abençoada, Abençoada sejas!

LUA CRESCENTE

Ò lua que passa teu corpo pelos céus!

Ó Silene, Ó Cibele, Ó, Ó Diana, ó deusa de tantos nomes!

Ó deusa desta fase crescente recebe-nos em teu seio!

Abastece-nos em tudo que vens trazendo do Logos Solar!

Deixa que entremos em todas as riquezas espirituais que carregas e elas irão assim desabrochar para nós na lua cheia!

Tu és a branca, a luminosa, que agora em seu crescente nos traz todas as bênçãos!

Nós nos ligamos somente a ti, ó deusa intermediária da luz!

LUA CHEIA

Ò lua que passa teu corpo pelos céus! Ò Silene, Ò Cibele, Ò Diana, ó deusa de tantos nomes!

Ò deusa desta fase cheia recebe-nos em teu seio!

Abastece-nos com tua pujança! Na intensidade deste teu fulgor!

Deixa que entremos em todas as riquezas que desabrocham em ti nesta fase!

Tu és agora o reflexo mais perfeito do glorioso brilho de Hélios, trazes para nós o seu.

esplendor.

Nós ligamos a ti e assimilamos de ti todas as bênçãos

Que do logos solar acumulaste para nós. Ò deusa intermediaria da luz!

LUA MINGUANTE

Ò lua que passa tu corpo pelos céus!

Ò Silene, Ò Cibele Ò Diana, ó deusa de tantos nomes!

Ò deusa desta fase minguante recebe-nos em teu seio!

Guarda em ti nossos problemas e questionamentos, os entregue depois ao Logos Solar.

Em tua fase nova e que possamos vê-los solucionados quando retornares branca, cheia.

Destrua e faça minguar em nós agora, ó deusa minguante, todas as desarmonias para que.

 possamos renascer renovados e evoluídos no completar-se de mais este ciclo lunar!

Nós nos ligamos a ti neste momento, ó deusa intermediaria entre nós e a luz do grande Logos Solar!


domingo, 13 de março de 2022

Lua Balsâmica

 (Ritual para ser feito nos três dias que antecedem à Lua Nova)

 

Ó Senhora Balsâmica da noite que confortas é és esperança!

Ouça as vozes que clamam em meu peito!

Entrego-te minhas visões e sonhos!

Por minha espera tranquila transforme-os em criações reais!

Adormeça nessa minha entrega os turbilhoes da minha mente!

Que só vozes espirituais internas sejam por mim ouvidas!

Ó Senhora da Luz Balsâmica ouve meus rogos!

Acalma-me! Silencia-me!

Retornes trazendo-me as sementes do Logos Solar que intermedias!  


Consagração do Ambiente

Traçando-se com a mão uma cruz em cada canto da casa (Da frente para os fundos) afirma-se:

“Dentro do círculo da Divina presença que me envolve inteiramente eu afirmo: Há só uma presença aqui, a da harmonia que faz vibrar todos os corações com a força do entendimento e união. Quem quer que aqui entre, sentirá a presença de uma divina harmonia. Eis aqui a cruz do arcanjo Miguel! Há só uma presença aqui, a do amor. No amor todos aqui vivem, movem-se e existem. Quem quer que aqui entre sentirá a presença de um amor mais sublime. Eis aqui a cruz do arcanjo Miguel! Eu sou aqui a presença da verdade. Tudo quanto aqui se pensar e se falar será a expressão da verdade. Quem quer que aqui entre sentirá a força da verdade. Eis aqui a cruz do arcanjo Miguel!  Há só uma presença aqui a da justiça. Todos os atos aqui realizados serão inspirados pela justiça. Eis aqui a cruz do arcanjo Miguel! Eu sou aqui a presença da prosperidade material e espiritual. Ela fará a matéria e o espírito crescer e prosperar. Quem quer que aqui entre sentirá a presença desta prosperidade. Eis aqui a cruz do arcanjo Miguel!  Há só uma presença aqui a da cura, este recinto está cheio da energia da cura. Eis aqui a cruz do arcanjo Miguel!

   O mal nunca terá guarida nestes recintos, pois pela força de meu pensamento estou atraindo para aqui as correntes universais do Bem. “Em nome da presença divina de cada habitante deste local, esteja este lar consagrado à proteção do grandioso arcanjo Miguel”.

(O local poderá ser consagrado a outro ser de Luz. No trabalho para a consagração do local à Virgem Maria, ao invés da cruz usa-se uma rosa branca para abençoar os cantos da casa e se dirá: Eis aqui a rosa branca, símbolo de Mãe Maria. A casa deverá ser consagrada da frente para os fundos, passando o símbolo em todos os seus cantos).


sexta-feira, 29 de outubro de 2021

Símbolos Natalinos


   Na época que antecede o natal, quando corremos para a compra dos presentes, para a preparação da ceia, pensamos que aquela alegria que temos depois com a reunião familiar, com a troca de presentes, etc, é toda a alegria que o natal pode nos dar. Não imaginamos  então que não estamos alcançando toda a intensidade de sentimentos que um natal bem compreendido poderia nos trazer. Nesta data, geralmente repetimos a grande falha da nossa época: Viver os nossos momentos mais importantes superficialmente. Às vezes, os estamos vivendo sem nos dar conta de sua importância, só vemos que foram importantes quando já passaram. Vulgarizamos circunstâncias, datas que poderiam fazer de nós pessoas muito mais entusiastas, profundas e felizes. Poderíamos então encontrar no natal, assim como em outras datas, valores que enriqueceriam nossa vida e que consequentemente tornariam sem relevância coisas que nos angustiam as quais atribuímos uma importância que na realidade elas não têm. Todas as datas comemorativas querem por em relevância, assinalar um sentimento, uma energia que são importantes para a nossa evolução; dia das mães, dia da pátria, etc.

   O natal cristão, tradição do ocidente, comemora uma das mais tocantes mensagens que o mundo já recebeu de uma líder. Como todas as datas comemorativas ela vem acompanhada de seus componentes simbólicos: A ceia, o presépio, os magos, pinhas, etc. Vamos estudar então cada um destes símbolos:

   A CEIA: A ceia é a mais antiga das tradições natalinas. No primeiro ano após a morte de Jesus, ela é feita pela primeira vez por seus discípulos, que relembravam assim os últimos momentos em que numa ceia, estiveram reunidos com o seu Mestre. Para os 12 discípulos, enquanto eles viveram, esta decisão de relembrá-lo passa a ser mantida anualmente. Pouco a pouco, cada novo seguidor do Cristianismo passa a fazer em seu próprio lar uma ceia com a participação de todos os familiares, como uma afirmação de que haviam aceitado as mensagens deixadas pelo nazareno.

   Mais de dois mil anos após esta tradição é o ponto máximo da noite de natal. A ceia tem principalmente um sentido grupal. Quando nos sentamos frente à mesa natalina, o que deveríamos na verdade nos conscientizar é que participamos de um grupo que se identifica por ter aceitado todas as propostas que nos foram sugeridas pelo líder da Galileia, a quem dizemos seguir como cristãos que dizemos ser. Assim, o sentido grupal da Ceia poderia tirar de nós sentimentos de solidão, nos dando a felicidade de nos sabermos inseridos nas tradições de uma família, de um pais, de um credo religioso.

   Aquele gesto do mestre Galileu de na última ceia pegar um pedaço de pão e repartir com um grupo por si só contém toda a idéia de ceia: O distribuir, o repartir afeto com os participantes de um todo.

   Desde as primeiras horas anteriores ao encontro de natal ,quando caprichamos na arrumação de nossas casas ,pomos a nossa melhor roupa para a noite natalina, já devíamos viver cada um destes passos dando a eles uma conotação de sagrado, já vivê-los intensamente como se estivéssemos nos preparando para um momento importante: O de manifestar aquilo que há de mais sublime em nós: trocar afeto, dar e receber amor. Dando à Ceia um sentido solene transformaremos as energias que gastamos nela ,pois o importante certamente não é fazermos uma ação,mas achar o seu sentido, sermos  dentro dela.O importante afinal não é o fazer,mas o ser.

   O PINHEIRO.    O pinheiro é uma árvore de intensa vitalidade, de muita resistência, resiste à aridez de climas gelados. Enquanto outras árvores queimam-se, morrem, ela permanece verde. Presente dentro do nossos lares ela representa a força que a fé cristã nos dá perante qualquer adversidade. Enfim ela representa a durabilidade,a resistência do Cristianismo.

   PINHA.  Fruto dos pinheiros, ela é outro importante símbolo natalino. .Representa o fruto que podemos obter para nossa evolução, se pudermos resistir dentro de uma dificuldade. Fazemos com a pinha enfeites, decorações, mas geralmente não fazemos correlação, não somos sequer tocados pelo seu significado simbólico. Ela é a representação da esperança.Num prato de enfeite, elas estão ali dizendo :dentro de um clima gélido eu sou o fruto da sobrevivência, da força ,da resistência.

   O PRESÉPIO. O primeiro presépio surgiu no séc. XIII. Em 1223 apareceu na Itália uma figura importantíssima para que a mensagem do líder Jesus não fosse deturpada: Francisco de Assis. Num tempo em que a igreja exibia um luxo excessivo, ele passou a lutar para que a simplicidade dos primeiros seguidores do Cristo fosse recuperada. Aproveitou então a humildade do ambiente em que o mestre Galileu viveu. Chamou então um proprietário de terras, seu amigo, e em seus bosques escolheu uma gruta e construiu nela uma manjedoura. Nela, pôs feno, colocou animais, reproduzindo quanto possível a gruta de Belém. Convidou todas as famílias do vale que vieram á noite para a gruta e ali ele fez uma pregação sobre simplicidade. Nascia assim o primeiro presépio. Caso pudéssemos fazer nossas crianças concluírem que por traz de uma aparência de simplicidade pode se esconder uma personalidade com força de sábia liderança, faríamos com que nossos jovens desassociassem uma aparência de ostentação da posse da sabedoria. O presépio é enfim o símbolo da simplicidade que nos pede o Cristianismo.

   Existe no presépio outros símbolos interessantes: A CAVERNA: As manjedouras sendo estábulos onde se dá comida aos animais eram no tempo de Jesus dentro de escavações, cavernas muito comum nos terrenos pedregosos da Judeia. Para entendermos o simbolismo esotérico da caverna é necessário que vejamos a pessoa do Cristo-menino como a representação de uma força que cada um de nós traz dentro de seu coração: a força crística. A manjedoura onde nasceu o Cristo é então o símbolo do nosso coração onde se abriga esta força que numa iniciação começamos a desenvolver. È na  caverna de seu coração que o iniciando sente o pulsar  da vida divina, vê e acompanha o nascimento do seu próprio Cristo interno .

   O Cristo menino representa uma espécie de consciência divina que começa a se desenvolver na caverna do coração. Na realidade, o germe desta força sempre esteve presente, mas oculta em todos os seres humanos. Mas em determinado momento da nossa evolução ela começa a manifestar-se. Por esta razão os discípulos que entram em iniciação, são chamados de pequeninos ou crianças, também de renascidos. As palavras de Jesus de que “Um homem deve se tornar uma criança para entrar nos reinos do céu” refere-se aos discípulos que nos templos iniciáticos do Egito buscavam o seu Cristo-menino. Então para um esotérico o dia do nascimento do Cristo na caverna simboliza e comemora o 1º degrau de iniciação de um discípulo.

   OS PASTORES Quando, numa iniciação, termina-se o degrau chamado probacionário, recebe-se um sinal que nos chama a buscar a força crística, Os pastores que encontraram um anjo lhes mandando ir a uma caverna buscar o menino cristo que nascia é o simbolismo deste chamamento iniciático.

   No presépio aparece os quatro reinos; o vegetal no feno, o mineral na rocha da caverna, o animal, naqueles que ali aparecem e o humano em José Maria e o menino.

   OS TRÊS REIS MAGOS Os três magos levam ao menino presentes. A tradição religiosa nos conta que eles atravessaram desertos, vindos de terras distantes. Vejamos se podemos dar uma consistência histórica a estes personagens. A região da palestina era na época, em termos de cultura sem expressão alguma, mas existiam grandes centros culturais espalhados pelo Egito, Pérsia e Etiópia de onde a tradição nos diz terem origem os nossos personagens. Neles, se estudava matérias como geometria, filosofia e astronomia. Muitos homens passavam suas vidas nestas terras a bem de estudarem, pois estamos falando de uma época em que escolas e faculdades quase não existiam em todas cidades . Sendo a educação assim tão rara, aqueles que a tinham eram respeitados, acatados. Aqueles que estudavam a difícil matéria da astronomia, considerada então mágica, levando-se em conta o pouco recurso de aparelhagem técnica para estudá-la, eram então chamados de magos.

   Os três reis magos bem poderiam ser estudiosos de astronomia guiando-se em seu caminho como era costume pelas estrelas. Estranhamos o fato de virem três sábios tão de longe para adorarem uma criança. Vemos nisso lenda, fantasia, mas esquecemos de que a espera da vinda de messias que trariam reformas à humanidade era bastante comum na tradição dos povos antigos. Naturalmente que a vinda de um messias trazia indicadores, referências que uma vez conhecidas, dentro daqueles centros culturais, poderiam ter se enquadrado ao menino que nascia naquela família da Galileia. A adoração a um menino distante é perfeitamente compreensível na mentalidade da época.

   Estes três magos trazem em mãos três presentes: o ouro, o incenso e a mirra. Entender a simbologia destes presentes é enriquecedor para nós no natal. Para os povos antigos os elementos, as plantas, as resinas simbolizavam sentimentos humanos. Assim temos: O ouro significava o clímax de todo o esforço que um homem faz para sobreviver. Em resumo, a nossa energia física. O incenso é resultante da queima de uma planta aromática que volatizando-se sobe aos céus. Representava para os antigos as nossa energias emocionais que uma vez trabalhadas, queimadas, pode nos levar a um céu interno que, ao espalhar-se, beneficia outros. A mirra é uma goma resinosa, amarga, usada para mirrar, encolher materiais. Significava o encolhimento das amarguras de nossos pensamentos, tudo o que angustia a nossa mente, que pode ser encolhido, mirrado, para que cresçamos espiritualmente. É enfim a nossa energia mental purificada.

A tradição nos diz que os três magos chamavam-se Melquior, Gaspar e Baltazar. Que teriam vindo da Pérsia do Egito e da Etiópia. Que teriam vindo recepcionar o menino que julgavam fosse o messias esperado, oferecendo a ele sua energia física, emocional, e mental trabalhadas.  Podemos então imaginar os três a dizer ao menino: Trago a vós messias, ao vosso serviço, a minha energia física representada neste ouro. O outro: Trago ao vosso serviço a minha energia emocional purificada, representada neste incenso. O outro dizendo: Trago a vós, messias, o meu corpo mental que ponho a vosso serviço, representado nesta mirra.


   O PAPAI NOEL Não poderíamos completar qualquer estudo sobre o natal, sem analisar o papel que esta figura pode ter para as nossas crianças. Ela pode dar a elas algo que nosso mundo está perdendo: o poder de fantasiar, da imaginação. Aquela transcendência de imaginar que a figura de um velhinho bondoso, desce dos céus apenas para lhe ofertar um presente, abre à criança o caminho do abstrato, da transcendência. Porém nosso erro mais comum é fazer dele a figura de um justiceiro que não atenderá á criança se ela não for bem na escola, não se comportar etc. O Papai Noel deverá ser para uma criança um amor com que contará incondicionalmente, sempre. Abre-se assim para a criança a porta da fé nas graças divinas, no transcendente que ele levará consigo pela vida afora.

   Por que também não transformarmos os momentos em que dizemos a frase tão repetida nesta época, feliz natal, em momentos de amor? Ao invés de dizê-la mecanicamente, como um hábito de nossa cultura, não enviar a outrem um pensamento sincero, um desejo de que realize as suas aspirações mais íntimas?

Concluindo: Se me for perguntado qual entre os símbolos natalinos resume melhor o espírito de natal eu diria que é a frase: “Gloria a Deus nas alturas e paz na terra aos homens de boa vontade.” Ela contem todo o anti sectarismo que deveria existir nas nações cristãs. Nela não é dado louvor ao Deus deste ou daquele credo, simplesmente ao Deus das alturas e também não ao seguidor desta ou daquela religião, mas a todos os homens bem intencionados, de boa vontade, que desta forma encontrariam a tão sonhada paz.