sexta-feira, 29 de março de 2019

Palavras Esotéricas e seus Significados


CATÁBASE - Rito usado nas “Escolas de Mistérios Iniciatórios” onde o iniciado “descia aos infernos”, isto é: ao seu próprio inferno interior para eliminar as negatividades que ainda existisse no âmago de seu ser.

SEGUNDO NASCIMENTO - Estado em que ficava um iniciado após prolongados testes iniciatórios, atingindo uma ressurreição de consciência.

O FRUTO DO BEM E DO MAL - A maçã. Contem em seu interior um pentagrama. Tê-la em mãos, após iniciações, era receber o símbolo do homem perfeito.


O pentagrama dentro da maçã.

LIBAÇÃO -  Jogar na terra o restante de uma bebida ingerida, querendo dizer ao solo; “eis aqui Mãe terra o que consegui fazer com a riqueza que me destes”. Na Afro Brasileira este rito é chamado de “dar bebida ao santo”.

MÔNADA - A centelha divina, em nós. A primeira unidade de consciência colocada num ser. Fagulha que incorpora formas do reino mineral, vegetal, animal e humano num processo de involução, para depois retornar numa subida evolutiva, atingindo novamente a unidade.

O ANCIÃO DE UMA FACE SÓ - Representação de Deus, segundo antigos rabinos e filósofos caldeus. Teoria pela qual de Deus só vemos uma face apenas.

FILHO UNIGÊNITO - Primeiro átomo nascido num indivíduo, chamado de “átomo crístico” e trás em si o nosso modelo de perfeição. Quando um iniciado era considerado perfeito recebia o título de “Cristos” ou “filho unigênito” isto é: o primeiro nascido. A Igreja chama Jesus de unigênito porque recebeu este título.

ABLUÇÃO - Ato de lavar-se antes de praticar um rito ou entrar num local santo. Podendo ser a lavagem apenas dos pés, ou das mãos, ou do corpo todo.

ORÓBORO - Representa a volta de um ser à sua origem divina, simbolizada numa serpente que morde a sua própria cauda. Simboliza a unidade final entre Deus e o homem.

Oroboro, a serpente que morde a cauda.

CARMA - Efeito de um ação ou de uma soma total de ações passadas.

SAMADHI - O êxtase total de consciência que um místico pode atingir durante uma prática da meditação.

ÁRVORES DE JESSÉ - A genealogia do Cristo a partir de seu ancestral Jessé pai de Davi.

CHACRA - Palavra sânscrita que significa roda. Centros energéticos que vitalizam nossos corpos.

NIRVANA - A bem-aventurança total atingida pela eliminação de todos os erros quando alguém chega ao estado de Buda.

RELIGARE - Origem da palavra “religião”. União com o Sagrado.

ASCENSÃO - Estado atingido por indivíduos muito evoluídos que, tornando-se mestres espirituais, são chamados de Iluminados ou Ascensionados.

GUNAS - As três qualidades da matéria, isto é: energias que estão por trás de todos os nossos atos materiais. Em sânscrito são chamadas de Tamas, Satwa e Rajas.

MONTES SAGRADOS - Locais montanhosos onde se desenrolaram episódios religiosos ou milagrosos. São eles: Ararat, Moriá, Sinai, Carmelo, Tabor, Gólgota e Oliveiras.


Jesus meditando no Monte das Oliveiras.

ECTOPLASMA - Energia vinda do corpo vital (etérico) que propicia fenômenos de materializações.

BODHISATWAS - Seres ascencionados ou Avatares que se dedicam a reforma espiritual dos homens. Muito citados no Budismo Mahayana.

CONSAGRAÇÃO - Transmissão de energias sagradas a objetos, através de ritos, objetos que servirão de defesa e proteção a necessitados, como se fazia na sagração das armas e utensílios dos cavaleiros medievais.

DHARMA - Lei espiritual. Força que nos chama a cumprir as vontades divinas e que entram em confronto com nossos desejos materiais.

CORDÃO DE PRATA - Fia de luz que liga o Eu Real ao Eu inferior a partir do chacra pituitário. É também conhecido como “Fio Aka”.

ALGÓIDES - Aura humana original ainda não trabalhada, também chamada de “Ovo Áurico”. Quando já trabalhada, torna-se o chamado “Momentum”. Reserva colorida de conhecimentos internos que podemos ascensar em  necessidades.

SHAMBALA - Local místico situado ,segundo a mitologia budista, nas redondezas do Tibete, frequentado por homens muito evoluídos que preparam ali um futuro reino universal de muita paz e bem-aventurança.

ÁGUA BENTA  - Água santificada por energias divinas, usadas em várias religiões. A Igreja a usa em ritos batismais e em pias de abluções manuais na entrada de seus templos. No Candomblé, é chamada de “água de Oxalá” com a qual se lavam pedras e fazem ritos purificadores. Na Índia é chamada de Prakti, a raiz da vida.

HIPERBÓREOS - Segundo a mitologia grega ,uma terra paradisíaca situada além dos gelados ventos boreais , onde viviam homens de grande sabedoria.

OLHO QUE TUDO VÊ - A visão superior que ultrapassa tempo e espaço. Símbolo da clarividência também chamado de “Terceira Visão”. Na Índia o chamam de “Olho de Shiva”.

SABÁ - Ritual onde se reuniam feiticeiras na noite de sábado, liderado pela presença diabólica de um bode negro.

Sabá das feiticeiras do pintor espanhol Goya.

SARÇA ARDENTE - A manifestação de Deus em um determinado local em forma de fogo, apenas vista por um iluminado, como foi o caso de Moisés no Monte Sinai.

ZUMBI - Superstição de um fantasma que, segundo a afro brasileira e as crenças haitianas, vaga sem rumo, durante as noites, por locais ermos.

CURUPIRA -. Entidade que tem os pés virados às avessas, e amedronta os homens amazônicos por seus assobios estridentes, mas que é um grande protetor da floresta.

CAMARINHA - Local fechado onde ficam isoladas iniciantes religiosas durante seu aprendizado, seja na Afro Brasileira, seja em outros ritos.

RESSURREIÇÃO - Termo muito contravertido. É visto tanto como um ressurgimento não só do espírito, mas também do corpo, como apenas uma ressurreição de consciência.

HIDROMEL - Mistura de água e mel, tanto para o antigos Celtas como para tribos africanas é visto como a bebida dos deuses. Seu uso leva à participação nos conhecimentos divinos.

Psiquismo, Espiritualidade, Discipulado & Mediunidade


Resumo de uma aula dada 
ao meu grupo em 14 de março...

Quero aqui abordar o acontecido na cidade de Abadiânia. Sem querer julgar o médium João de Deus, pois nada sou para julgá-lo. Não sabemos se  ele foi de início alguém muito honesto e casto e com a fama que obteve depois, decaiu. Porque a fama é um teste muito raro de alguém vencer. O Poder é o raio mais difícil de alguém transpor sem se corromper. Apenas temos de lastimá-lo e desejar que seja perdoado e que evolua muito com os sofrimentos porque passa agora. Quero apenas ver se tiramos do que se passou ali algum ensinamento para nós. Vamos começar pelo Psiquismo.

Ramana Maharshi e seu doce olhar,
um verdadeiro Mestre espiritual.

  Bem sabemos que possuímos sete corpos ou consciências: O físico, o etérico, o emocional e o mental. Que chamamos de “quaternário inferior” e três corpos superiores: Átmico, Búdico e Causal. Se dividirmos estas três consciências superiores na divina Trindade, isto é, em três categorias, as veremos assim:
  O corpo Átmico é o mais espiritual. É a Vontade de criar, o impulso criativo e o representamos na cor azul. O Búdico é a consciência que nos leva à bem aventurança, à tranquilidade e consequentemente à Sabedoria. Representamos esta consciência na cor Amarela.  No Causal, está o nosso modelo individual de perfeição, que buscamos alcançar, o nosso código genético divino e o representamos na cor rosa.
  Já os corpos inferiores físico, emocional e mental são nossos instrumentos, eles trabalham as maneiras, as atividades materiais como arte, ciência, cura, instrução, trabalho social etc, com as quais manifestamos as potências das consciências superiores.
 O etérico é o nosso corpo vital, a energia que vitaliza todas as nossas ações.
 Os corpos inferiores são os responsáveis pelos fenômenos do Psiquismo. O que é o Psiquismo? É a facilidade de obtermos através dos corpos inferiores os fenômenos conhecidos como ”paranormais”. Quando acontecem os fenômenos psíquicos? Quando o corpo vital está vitalizando demasiadamente os corpos inferiores, quando estes estão sendo muito solicitados. Como exemplos, temos o período posterior a um parto, ou à atividades braçais muito pesadas.
  Podemos considerar o paranormal alguém já evoluído, espiritualizado? Absolutamente não. Temos os chamados “magos negros”, que lidam muito bem com o psiquismo, mas são muito pouco evoluídos.  As vezes, algumas pessoas se comprazem em exibir tais poderes psíquicos, causando o deslumbramento naqueles que os cercam, que os confundem então com grandes mestres. Isto leva geralmente estes pretensos mestres à muita vaidade. Por isso Helena Blavatsky diz que “o Psiquismo é o atoleiro da Espiritualidade”.

Levitação, um fenômeno psíquico.

 Os fenômenos psíquicos são inúmeros. Com este poder fazemos coisas assombrosas. Entre elas: Levitações, levantar objetos de um lugar a outro, combustões, materializações, domínio da temperatura corporal. Com os corpos muito vitalizados, podemos perceber ruídos vindos de ondas vibratórias ambientais como rachaduras em madeiras, em cristais etc. Fenômenos vêm também do corpo emocional. Percepções de ondas de tristezas acontecendo à distância. Ainda do corpo mental, por exemplo, temos a Telepatia, acontecendo entre cérebros transmissores e receptores. Já os corpos superiores vitalizados produzem fenômenos espirituais também.
 A Cabala judaica fala muito bem da diferença entre um fenômeno psíquico e um espiritual. Exemplos disso são: a Preconização e a Intuição.  Ambos falam de um acontecimento por vir. Parecem ser iguais, mas não o são. É diferente se preconizar um acontecimento e se intuir um acontecimento.
 A Cabala explica assim: No gráfico da Árvore da Vida cabalística, temos os corpos inferiores representados por: Malkuth, Netzach, Hod e Yesod.  Respectivamente os corpos físico, emocional e mental e Yesod o vital. Yesod é chamado “a caixa de imagens”. Qualquer fenômeno onde vemos imagens é psíquicos, vindos da vitalização de Yesod.
 Assim, na Preconização, vemos a imagem do acontecimento por vir. Já na Intuição, sendo ela um fenômeno espiritual, sem vermos imagem alguma, inconscientemente, agimos como se estivéssemos nos preparando para algo que, sem sabermos, depois acontecerá. Por exemplo: Alguém irá embarcar num avião que cairá. Então, por alguma razão é impedida ou desiste de embarcar. Mas jamais verá antecipadamente a imagem do avião caindo. Outro exemplo: Alguém irá sem saber, viver um sofrimento e, é levada a ler um livro que fala no sofrer, é conduzido a assistir uma palestra cujo tema é o sofrimento. Tudo como se estivesse sendo preparada para ir vivê-lo depois. Isto é Intuição, são as nossas consciências superiores agindo a nosso favor.

Intuição, um fenômeno espiritual.

 Quanto às curas: Aquelas onde o recebedor não está muito imbuído de se melhorar espiritualmente e cuja fé é apenas uma crença cultural sem muita intensidade, geralmente a cura é provisória. Quando a causa que gerou a doença  é novamente feita, a doença retorna. A cura permanente é conseguida através das mudanças em nossas emoções e comportamentos. A cura geralmente requer um objeto de devoção.  Devoção a um santo, a um deus, à alguém ou a um local com grande energia devocional.
  Vejamos o caso de Abadiânia. O local tinha tudo para que curas acontecessem. Contava com alguém que era um objeto de devoção, por sua fama de médium que recebia espíritos de luz. Havia a devoção a um santo. Acreditava-se estar ali o espírito de santo Inácio de Loyola, um santo muito prestigiado na Igreja, escolhido para dar nome à casa de trabalhos mediúnicos. Era também um local onde a força votiva de centenas de pessoas era imensa. Muita gente já sentia isto ao entrar na cidade. Era, além disso, feita uma corrente de pessoas devotas, unidas para auxiliar voluntariamente o trabalho.
 A Fé é a grande energia espiritual da qual Jesus dizia: “Se tiverdes Fé do tamanho de um grão de mostarda, direis a este monte: Move-te! E ele se moverá” (naturalmente que o monte aqui se referia a obstáculos). A Fé verdadeira é uma confiança nas graças divinas.
 Acho que em Abadiânia eram oferecidos dois tipos de fenômenos. O Psíquico (fenômenos de cortes sem sangue e indolores, inclusive também remoções cirúrgicas de tecidos doentes do corpo através de incisões que se curavam imediatamente), práticas vistas as vezes em Yogas indianos, mas que eram dominadas pelo enorme poder psíquico de João de Deus, independentemente dos seu comportamento errôneo.
  Paralelamente a esta acontecia as curas espirituais. Estas conseguidas através da potente Fé de centenas de pessoas ali presentes.

O poder transformador da Fé.

  Bem, agora falemos sobre o relacionamento entre mestre e discípulo, que chamamos de Iniciação ou Discipulado. São votos, e desejos pessoais de conscientemente, dia a dia, nos dedicarmos a obter, a desenvolver a tranquilidade para obter a Sabedoria.
 É possível sempre apelarmos e contatarmos, através de um processo telepático, alguém mais evoluído que nós, mesmo estando à nossa distância. Porém, para tanto, é necessário existir uma afinidade entre nós e quem será o nosso mestre. Podemos com o seu auxílio atuarmos em qualquer campo de atividade escolhido. Seja elas a arte, a ciência, a instrução, a cura, etc. O importante neste relacionamento é termos, nós e o mestre, um objetivo igual quanto a atividade que iremos realizar.
  O propósito daqueles mestres que no esoterismo chamamos de “Mestres da Luz” é sempre a evolução pessoal do seu discípulo. Então, o comportamento externo do discípulo é importante nesta relação, pois  ele é o que vai determinar se é realmente um” Mestre da Luz” que o está orientando.  Um objetivo puro e o  seu comportamento é o que nos manterá ligados ao mestre.
Exemplificando: Digamos que algum de nós queira abrir um grupo espiritualista. Apelará como guia do trabalho algum mestre. Ele será um patrono para o grupo. Enquanto o grupo se mantiver puro, isto é, livre de concorrências com outros grupos, livre de desejos de ganhos financeiros e de vulgarizações do sexo, nosso orientador estará nos facilitando o trabalho. Porém, se o discípulo enveredar por estes atalhos perniciosos, o mestre se afastará. O relacionamento é rompido por falta de igualdade de propósitos.


O Mestre Buda e seus discípulos.

 Poderá acontecer que o trabalho grupal, sem mais o mestre, até tenha continuidade e venha a atingir até grandes proporções, como se constata em alguns gurus que mesmo já desviados do Bem, reúnem centenas de seguidores a seu redor. Estes geralmente continuam presos à lembranças de belas palavras ditas em livros, e palestras enganosas.  Porém, não se trata mais de um Discipulado, pois ali nenhum Mestre da Luz atua mais.
  O Discipulado nem sempre é fácil de levarmos adiante, porque usando de nosso livre arbítrio pode nos desviar do caminho proposto. Porém, é também gratificante, pois vivemos com a certeza de termos dado a mão à alguém que tenta evitar entramos em atalhos perigosos e sem retornos.
 Quanto à Mediunidade, que foi o trabalho de Abadiânia, o médium era, como sempre, o medianeiro entre o guia espiritual e quem buscava melhoria. Só que a Mediunidade é diferente do Discipulado. Neste, o aluno já chega com o desejo apenas de se melhorar, evoluir espiritualmente, então já conta com um bom mestre. Já o médium é mais frágil, pois podem receber as entidades tão boas quantas aquelas maléficas. Não creio que um guia, uma entidade de luz permitisse comportamentos de desrespeitos às pessoas e a exploração da Fé como o acontecido em Abadiânia.
  Para completar esta exposição, quero me referir à minha própria experiência com Abadiânia. Li livros muito elogiosos ao médium João de Deus e pus então muita Fé nele. Tomei então água magnetizada vinda de lá, e me senti com ela bem melhor de saúde.
  Porém, depois que perdi a Fé, principalmente nas entidades que o médium recebia, responsabilizei-as também pelos comportamentos errôneos do médium. Não acreditei mais na presença do espírito de santo Inácio no local.  Acho que seu nome foi usado para dar prestígio à casa mediúnica. Raciocinei assim: que seria impossível exatamente a um antigo sacerdote, que passou uma encarnação inteira fazendo votos de castidade, depois de quinhentos anos passados, não ter evoluído nada, e vir até orientar um aluno para desrespeitar justamente a energia sexual. Deixei então imediatamente de tomar a água vinda de lá, pois sem a minha Fé ela de nada me adiantaria.
  Então, meus queridos, se vocês optarem por seguir um caminho de Discipulado ou por um trabalho mediúnico, meu conselho é que sigam a frase de Jesus “Orai e Vigiai” (não a vigia nos comportamentos alheios, mas os de si mesmos).
  O Afro Brasileira que pode ser tão sábia nos diz que a vigia nos deixa de “corpo fechado” (isto é: imunes à influências maléficas). Contudo, sempre teremos à mão os magníficos conselhos do grande mestre que foi Jesus.

terça-feira, 26 de fevereiro de 2019

Pequena Cronologia das Religiões no Brasil


     Quando os nossos descobridores aqui chegaram, rotularam os nossos índios de “selvagens sem alma nem deuses”. Erraram. Eles tinham, sim, seus ritos religiosos e deuses. Em sua rica mitologia, contavam com Tupã, deus criador dos céus e da terra, que se manifestava nos trovões. Jacy, a lua, esposa de Guaracy, o sol. Esta sempre zelava pelos casamentos, pondo no coração dos caçadores o desejo de voltarem vivos do enfrentamento com a caça, para retornarem às suas famílias. Mas, nas várias bacias dos rios amazônicos havia também deuses menores.  O poder do mal era temido, na figura de Anhangá, grande inimigo de Tupã.


    Já dali a uns anos por volta de 1550, quando já tínhamos o nosso primeiro governador geral, chegou aqui para a catequização dos índios, a Companhia de Jesus.
 Nela, tivemos figuras ímpares como os jesuítas José de Anchieta e Manoel da Nóbrega.
   Já em 1600, no tempo de Brasil colônia, recebemos uma grande quantidade de judeus os chamados Cristãos Novos, ou Marranos, que aqui encontraram refúgio contra as perseguições sofridas durante a Inquisição na Espanha. Oficialmente renunciavam ao Judaísmo, seu credo de origem, mas bem sabemos que ocultamente o professavam no recôndito de seus lares.
   Os escravos negros que aqui aportaram em 1580 para trabalharem em Pernambuco na cana de açúcar tiveram durante séculos seus cultos perseguidos pela Igreja, o que gerava muitas revoltas e mesmo quando já livres no século XIX, tivemos a grande revolta dos Malés, escravos de formação religiosa islâmica, oriundos da África Ocidental. Embora já então livres, atuando como carpinteiros, artesãos, mas ainda perseguidos, fizeram a maior revolta já acontecida no Estado da Bahia. Porém, a perderam ante as forças do governo baiano.
   A primeira grande manifestação religiosa organizada e permitida aos negros se deu neste mesmo século XIX na Bahia. Foram ali estabelecidos os três mais importantes terreiros do culto do Candomblé: Engenho Velho, Gantois e Opó Afonjá.  Hoje, ainda atuante, o Engenho Velho, o primeiro criado, tornou-se patrimônio histórico do Brasil. Entre eles se sobressaiu a carismática figura de Menininha do Gantois.

Lavagem das escadarias da igreja do Nosso Senhor do Bonfim.

   Conta-se que foram três negras que lhes deram início, caracterizando em todos eles um forte matriarcado, onde só as mulheres tinham acesso à iniciações. Administrados pelas Yalorixás, aos homens competia os toques dos atabaques, a tiragem de búzios (pequenos caramujos que na África serviam de moeda de troca) para adivinhações. Eram chamados de Ogans. Apesar de hoje os Candomblés terem como dirigentes já homens, os Babalorixás, ainda os terreiros contam com os Ogans externos, que auxiliam na sua manutenção financeira. Geralmente artistas como Caetano Veloso, Jorge Amado, Gil, o cineasta Glauber Rocha e outros, dão uma imensa contribuição ao Candomblé baiano.
   Em sua mitologia cultuam o deus supremo Olurum, mas seus deuses mais usados são seus orixás.
   Após aquelas perseguições aos cultos afros, a Igreja resolveu criar as Irmandades de Negros como as de nossa Senhora do Rosário e São Benedito, com a intenção de cristianizá-los. Porém, com algumas restrições raciais, como missas apenas para negros, e igrejas divididas internamente, com uma parte para fieis brancos outra para fieis negros.
O século dezenove foi excelente para a religiosidade brasileira. Tivemos nele o trabalho da Maçonaria, incentivando nossa Independência e, também dando uma eficaz contribuição oculta para a soltura dos rebeldes da Revolução Farroupilha, que se encontravam em presídios do Rio de Janeiro. 

Chico Xavier, o maior médium brasileiro de todos os tempos.

    Chegou depois aqui o Espiritismo Kardecista vindo da França, que grassou principalmente entre intelectuais cariocas. A literatura ganhou importantes obras deste credo, como aquelas de Chico Xavier, um dos médiuns mais queridos e eminentes aparecido entre nós.
   Logo depois surge em Niterói no Estado do Rio, a Umbanda que fará um sincretismo com Cristianismo e Espiritismo. Esta, com um forte teor de Candomblé, é muito difundida entre as populações negras. Porém, diverge dele pois além do culto aos orixás contam também com entidades de Caboclos, tantos os africanos de Luanda como os caboclos brasileiros descendentes de nossos índios.  Divergiram também do Candomblé, pois nascendo numa zona urbana como Niterói, tiveram de abdicar de certos ritos como toques de atabaque, plantios de árvores sagradas, iniciações em lagoas, mais apropriados de serem feitos em zonas rurais como as dos Candomblés baianos.
    Impossível esquecer que o Cristianismo havia já se enriquecido com a vinda dos Franciscanos Capuchinhos que desde o século XVI instruam os nossos índios. Mas no século XIX atuaram principalmente no seminário de Mariana em Minas Gerais e, com a sua música litúrgica, marcaram para sempre o mundo artístico religioso daquela cidade.
   Com a chegada da família real ao Brasil, recebemos membros das Igrejas Protestantes como os Evangélicos, Metodistas, Batistas, Presbiterianos, Adventistas, Luteranos. Hoje, o Protestantismo é o segundo maior grupo religioso do Brasil. Suas crenças são semelhantes ao do Cristianismo Católico Romano, mas se diferenciam quando eliminam de seus templos a adoração à imagens e a devoção à figura de santos.
   No século vinte aqui chegou o Pentecostalismo, também chamado de “Cristianismo Renovado” como a Assembleia de Deus, a Igreja Universal, a Congregação Cristã, o Evangelho Quadrangular etc. etc. Hoje contamos com os Neo- Pentecostais e seus inúmeros ramos e pequenas capelas por todo o país.
   Chegados dos Estados Unidos temos os Testemunhas de Jeová com suas originais pregações de casa em casa, de rua em rua, dedicados a difundir os preceitos bíblicos.
   Aqui estão também os Mórmons com seus grandiosos templos. No século XX reapareceu entre nós o culto islâmico com o trabalho dos Baha’ís iranianos, além dos cultos orientais como o Budismo chegado em 1908 com os imigrantes japoneses responsáveis por plantios nas lavouras de café paulistanas.
   Com a chegada dos orientais, proliferaram entre nós as academias de Yoga e fomos também beneficiados pelo aprendizado de técnicas de meditações.

Yoga prática física e espiritual.

   Muitos movimentos esotéricos como a Teosofia, a Gnose, O Martinismo, o Rosacruz, a Antroposofia, dedicaram-se a expandir a espiritualidade oriental.
   Os Judeus brasileiros livres das perseguições inquisitoriais de quatro séculos atrás, hoje recebem nas sinagogas orientações de seus mestres, os rabinos. Até a arcaica Cabala judaica veio à tona com muitos apreciadores.
   O Cristianismo brasileiro conta hoje com várias Igrejas Ortodoxas, mas a Igreja Católica Romana mantem-se sempre a mais numerosa com santuários muito procurados como o de Juazeiro do Norte que atrai milhares de devotos ao culto do “Padin Ciço” e o gigantesco santuário de Nossa Senhora Aparecida (padroeira do Brasil) em São Paulo.
  O Brasil foi honrado com a visita de três papas: João Paulo II, Bento VI e Papa Francisco. Este visitou o Rio de Janeiro em 2013 para atender a Jornada Mundial da Juventude. Para quem a assistiu, era comovente ver a fé, o silêncio respeitoso com que milhares de jovens vindos de toda a parte do Brasil e dos países de nossa América, o ouviam, posicionados frente a ele nas areias de Copacabana. Papa Francisco com seu inigualável carisma e sua grande perspicácia, abriu para os cristãos católicos uma onda de devoção e principalmente de esperança quanto ao futuro de uma Igreja melhorada, pois pouco a pouco, ele começa libertá-la de seus seculares erros.
   Nós brasileiros nos orgulhamos de sermos um país de religiosidade laica, recebendo em nosso seio uma variedade imensa de cultos, impossíveis de serem todos aqui enumerados. Sinagogas, Igrejas, templos, mesquitas, professam hoje livremente seus credos, sendo aqui proibidas quaisquer formas de intolerância religiosa.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Livro de Janeiro

Símbolos e crenças como uma expressão do homem
no entendimento de sua realidade e da criação!

Valor: R$ 30,00 cada
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Discipulado


O intercâmbio entre Mestre e discípulo...


Discipulado é uma das mais caras aquisições que nos proporciona a Espiritualidade. Baseia-se em que a Unicidade entre os seres, que é uma meta nossa, nos possibilita ajudarmos e sermos ajudados uns aos outros a bem de evoluirmos. Alguém mais evoluído que nós pode nos servir de modelo e poderá ser o nosso mestre, orientando-nos no uso de nossos próprios poderes.
   Esta orientação sempre visará nos tornar alguém melhor e mais sábio, pois jamais um bom professor, orientador e mestre ensinará e concordará com algo que prejudique a formação ética do discípulo.
   É lícito neste intercâmbio com bilhões de seres da humanidade, entre os quais nos inserimos, buscarmos a orientação daqueles que já atingiram uma mais perfeita evolução espiritual. Para isso, contamos com o princípio da Telepatia que nos permite apelar por alguém mesmo que se encontre distante de nós.
   Para que tal relacionamento se dê, é necessário que exista uma afinidade de comportamento entre ambos, mestre e discípulo, No caso de uma iniciação espiritual, as atitudes comportamentais do discípulo são importantíssimas, pois elas são o que detectará se é realmente um verdadeiro mestre, alguém que na Espiritualidade chamamos de “Mestres da Luz”, quem está realmente a nos orientar. Tais mestres expressarão através de seus alunos sua própria simplicidade de viver e respeito humano.


   O discípulo passará pouco a pouco a manifestar uma invulnerabilidade ao desejo de domínios financeiros e à vulgarização dos instintos. Também, uma afinidade de propósitos e interesses é necessária a que um relacionamento entre discípulo e mestre mantenha-se. Para este último só existe um objetivo: A evolução espiritual de quem orienta. Para o discípulo é ir conseguindo, com sua ajuda, uma evolução consciente.
   Exemplificando: Suponhamos que o discípulo crie um grupo de ensinamentos esotéricos ou de curas espirituais. Enquanto este conseguir manter o padrão de pureza requerido pelo mestre, o grupo se manterá vivo, mas se passar a desvirtua-lo em atitudes perniciosas, simplesmente o elo entre ambos é rompido, o mestre se afastará, pela falta de afinidade vibratória entre ambos. Eventualmente, pode se dar a continuidade do trabalho grupal e até este tornar-se de proporções notórias, porém será sempre uma ilusão ou em caso mais graves, uma fraude, um embuste, atribuir à orientação de algum “Mestre de Luz” por trás de tal trabalho.
  Cada homem traz em si um dom peculiar a desenvolver a que os espiritualistas chamam de “Raios Individuais”. Sejam eles para uns o da liderança, para outros o da arte, o da ciência, o da cura, o do trabalho social e assim por diante. O mestre, aliás como todo orientador, é um especialista no dom peculiar ao seu discípulo. Contudo, estes serão sempre diminuídos ou paralisados no caso de desvios comportamentais, como por exemplo, o dom da cura: Estas, se conseguidas, virão da Fé que eventualmente os pacientes à curas possuam, geralmente até aumentada pelo poder de persuasão daqueles que já estão desvirtuados e afastados de qualquer verdadeiro mestre. Lembremos sempre a Jesus nos dizendo: “Se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda direis a este monte: Move-te, e ele se moverá”. 
   Contamos, sobretudo com uma consciência mental abstrata espiritual e superior que, se bem desenvolvida, dominará a forma como tais dons que possuímos serão por nós manifestados O papel do mestre é desenvolvê-la. Caberá a ele nos inspirar e intuir para que o relacionamento entre nós e todos os seres da humanidade nos leve até aquela Unicidade harmoniosa, respeitosa, que o espiritualista busca alcançar.
   Enfim, fazermos um discipulado correto é como subirmos uma encosta íngreme, cheia de tentações que ás vezes nos querem levar aos mais variados desvios, mas tendo a certeza de estarmos dando a mão à alguém que não dos deixa entrar em atalhos perigosos e sem retorno.

O Rigorismo das Deusas

Não é sem razão que a Cabala em sua árvore da vida coloca a essência feminina no lado do rigor e a vê como a força guardiã da moralidade e do comportamento. Também os gregos mitológicos representavam a vingança na figura da deusa Nêmesis.

   Foi Nêmesis que vingou-se do deus mais lindo da Mitologia, Narciso, por este desprezar todas as mulheres que o amavam. Jurou que ele haveria de amar alguém a quem jamais pudesse possuir.
    Levou-o então a uma fonte cristalina para beber. Ali, ao abaixar-se, ele viu sua belíssima imagem refletida. De pronto, se apaixonou por ela, sem saber que enamorava-se de si mesmo. Desejando agarra-la, cada vez que se aproximava para pega-la, a imagem nas águas desaparecia. Ficou ali tentando e tentando possui-la, mas via seus esforços inúteis.  Tanto tempo tentou até ficar esgotado e acabou por morrer nas margens da fonte por amor a si mesmo.  Hoje lembramos esta vingança de Nêmesis, chamando de narcisista a alguém cujo único objeto de amor é ele próprio.
  
   Também Deméter era cruel em suas vinganças. Como senhora da fertilidade da terra que era, amava muito a natureza e exasperava-se quando alguém a desrespeitava.
   Aconteceu que Erisícton, um homem muito rico, cortou para fazer moveis luxuosos um magnífico carvalho do bosque da deusa. Sabemos que o carvalho para os povos pagãos era uma árvore sagrada, reverenciada como tendo poderes mágicos. Quando Erisícton o abateu com o seu machado, Deméter ouviu de longe os gemidos que a árvore dava. Resolveu puni-lo. Para ela, como a Mãe terra que era, que alimentava generosamente a todos, nada melhor para punir alguém do que deixa-lo morrer de fome. Assim, Erisícton passou a ter uma fome voraz. Vendeu tudo o que possuía para comprar alimento, pois nenhum o saciava. Empobrecido, passou a entrar nas cidades para roubar alimentos, mas tudo em vão. Quando as cidades passaram a persegui-lo por seus roubos, ele, desesperado de fome, sem que alimento algum o satisfizesse, olhou o seu próprio corpo de carne e morreu devorando-se.

   A Discórdia vingativa também era representada por uma deusa: Éris.
  Foi Éris que apenas por não ser convidada para um banquete onde compareceriam muitas deusas, como vingança, apareceu repentinamente meio à festa, trazendo em mãos uma maçã de ouro. Ofereceu-a àquela deusa que fosse escolhida a mais bela da festa. Tal maçã foi um autêntico “Pomo de Discórdia”, pois gerou logo uma rivalidade e competição acirrada entre as deusas, todas se achando a mais bela. Esta vingança, feita através de uma discórdia bem planejada, teve como resultado a dramática “Guerra de Troia”.

   Hera, contudo, foi a recordista em rigor. Vingava-se de quem ousasse se intrometer entre ela e seu amado esposo Zeus. Vingou-se de Eco, ninfa de bosque, que tentou esconder dela os namoros de Zeus. Eco, tão tagarela que era, sofreu de Hera o castigo de, para sempre, repetir as últimas palavras que alguém dissesse. Tão envergonhada ficou Eco, ante as outras ninfas, que foi se esconder numa caverna. Então, é sempre em frente a um muro ou locais fechados que ouviremos o repetir humilhado de Eco.
   Já com a sua bela rival Io, Hera foi profundamente impiedosa. Para esconder de Hera a sua amante Io, sempre que a esposa o via com ela, Zeus transformava Io numa bela novilha branca.  Desconfiada, Hera elogiou a beleza da novilha e a pediu de presente a Zeus. Sem poder como recusar-lhe o pedido , ele a deu à esposa .Uma vez na posse  dela, Hera a pôs sob a guarda de Argos ,um ser que tinha cem olhos para vigia-la .
    Incomodado por não poder ver mais a amante, Zeus mandou Hermes matá-lo. Sem o seu guardião de confiança, Heras, contudo, planejou um terrível castigo à rival.
  Conservou o corpo de vaca de Io e mandou cobri-lo com um enxame de insetos terríveis, e de moscardos, espécies de moscas que comiam até a madeira mais rija, para mordê-la o tempo todo. Desesperada pelas constantes mordidas, a vaca Io fugiu da Grécia, tentando se libertar de Hera, mas passou anos a correr por vários lugares e só após muitos anos, com o corpo completamente mutilado, chegou finalmente um dia ao Egito. Foi quando, lá na Grécia, com Io muito distante, Zeus jurou a esposa que já a havia esquecido, que Hera então resolveu transforma-la novamente na forma humana que um dia tivera e suspender o castigo terrível que lhe dera.
   Hera perseguia igualmente os filhos bastardos de seu marido. Bons exemplos disso são Hércules e Dionísio. No berço de Hércules bebê, Hera colocou duas cobras. Porém, prenunciando que seria o homem mais forte da Mitologia, Hércules bebê as estrangulou com seus braços. Mais tarde, quando já estava rapaz, Hera exigiu dele fazer doze tarefas altamente perigosas, na certeza de que ele não iria sobreviver à elas.
    Já com Dionísio ela o desterrou para a longínqua e então desconhecida Arábia, certa de que jamais voltaria à Grécia. Porém, tal como o acontecido com Hércules, este conseguiu também o melhor: Foi na Arábia que ele encontrou a raiz de uma planta desconhecida: A parreira. Provou da uva e criou o vinho, que o tornou famoso. Voltou à Grécia cheio de glórias.

   Athena (Minerva) também não foi isenta do rigor feminino. Athena era a melhor bordadeira do Olimpo. Tecia e bordava com perfeição. Porém, a jovem Aracne também era uma excelente bordadeira. Tinha, contudo, um defeito: A vaidade. Resolveu competir com Atená e propôs um certame para ver quem bordava melhor.
   Athena então disfarçou-se em uma velha e foi até a sua casa e advertiu-a de que aos deuses ninguém devia desafiar. Aracne não lhe deu ouvidos e, ao contrário, fez um enorme desenho onde criticava os erros dos deuses imortais. Isto irritou Athena. O certame veio e a deusa para humilha-la, rasgou em pedaços tal desenho na presença de todos. Tão envergonhada ficou Aracne, que subiu perto ao teto e tentou se enforcar.   
   Athena resolveu então conserva-la viva, mas para sempre pendurada as próprias teias que tecia. Transformou-a numa Aranha. Hoje continuamos vendo Aracne nas alturas, tecendo sem parar, incansavelmente, as teias que a mantêm presa.

  Diana, a virgem casta que desejava sempre ficar virgem, não fugiu ao grande rigor feminino das deusas. Puniu com crueldade Ácteon porque ele inadvertidamente a surpreendeu tomando banho nua numa lagoa.
   Imediatamente ela transformou seus braços e suas mãos em patas, sua cabeça numa galhada. Enfim, num Cervo. Ele um caçador que muitas vezes perseguia fêmeas de Cervos que estavam prenhes, (contrariando um respeito aos animais que Diana exigia), fugiu a correr.  Chegando, porém, de volta à sua própria matilha de cães, estes não o reconheceram. Embora Ácteon quisesse dizer em desespero; Eu sou Ácteon! Eu sou Ácteon! Sua voz humana não mais lhe saía. Seus cães o estraçalharam.
Assim Diana ficou duplamente vingada; Por ter visto o seu corpo nu e por desrespeitar as fêmeas prenhes.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

O Dilúvio Grego

Muito conhecida é a história do dilúvio judaico, quando Noé aporta a sua arca no cume do monte Ararat. Porém, pouco divulgada é aquela do dilúvio grego. Vamos então lembrá-la:
   Quando Prometeu, o grande herói civilizador ensinou aos homens o uso do fogo, tal como previra o deus Zeus, os homens se acharam tão poderosos que esqueceram os deuses, a sua parte espiritual. Passaram a fazer desmandos mais desmandos e corromperam a humanidade.
   Então, os três irmãos olímpicos Zeus, Netuno e Plutão, irritados resolveram unir-se para criar um cataclismo que acabasse com aquela humanidade propiciando a vinda de outra melhor. Zeus, o senhor dos céus, fez despejar das nuvens chuvas torrenciais, Netuno enfiou o seu tridente no fundo dos mares fazendo as águas crescerem e os rios transbordarem e Plutão já preparou seu reino dos mortos para receber as almas que ali chegariam.
   O dilúvio veio. Porém, lá aos pés do monte Parnaso, morava um casal muito devoto e amante dos deuses: Decalião e Pirra. Prometeu o eterno protetor dos homens, então, os ensinou a fazer uma barca. Com ela, eles navegaram nove dias e noites dentro das águas revoltas e foram parar nos altos do monte Parnaso. Ali, desesperados, pediram um oráculo à deusa Geia para saberem o que fariam com aquela terra devastada. Entravam assim num sistema oracular, muito usado na Grécia antiga, onde o consulente fazia uma pergunta que era respondida não claramente, mas com uma proposição a ser decifrada.

Decalião e Pirra atirando pedras sobre
os ombros, dando origem a nova humanidade.

   Geia lhes disse: Sem olharem para trás, atirem os ossos de sua mãe para além dos seus ombros. Muito tempo levaram para interpretá-la, pois nenhum osso de qualquer mãe havia mais.  Acabaram, porém, por compreender que a única mãe que possuíam agora era a Mãe Terra e que seus ossos eram as suas pedras.
   Pegaram pedrinhas e as atiraram para trás das suas costas e logo o limo que fora deixado pelo dilúvio envolveu as pedras tornando-se carne e transformaram-se em homens. Quando o casal virou-se ali viram uma nova humanidade que surgia.
  Contudo, das profundezas da terra, levantou-se uma serpente ameaçadora. Mas logo, lá do alto céu, o deus solar Apolo, que havia reaparecido, a matou flechando-a com os seus quentes raios. Tal serpente é interpretada pelos mitólogos como todos os nossos instintos inferiores que querem nos dominar quando queremos melhorar evoluir, mas que acabam sempre vencidos pela nossa parte espiritual, nossa luz solar interna.
   Na verdade, após o dilúvio grego surge a maravilhosa civilização helenística. Decalião teve um filho de nome Heleno que dará nome de Hélade àquela terra reconstruída e nomeará de Helenos a seus habitantes.
   Assim, temos na Grécia antiga uma incomparável civilização que se espalhou numa vasta área desde o Mediterrâneo à Ásia. Desenvolveu-se no início do reinado de Alexandre o Grande pelo século IV A.C. Este difundiu aquela cultura rica em todos os tipos de Arte, em Filosofia, e Ciência Astronômica.
Esta cultura Helenística, segundo a Mitologia, é um resultante da intermediação punitiva dos deuses imortais através do Dilúvio Grego. No entanto, foi uma das civilizações mais espetaculares que o mundo já conheceu!