segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Livro de Janeiro

Símbolos e crenças como uma expressão do homem
no entendimento de sua realidade e da criação!

Valor: R$ 30,00 cada
Informações e vendas pelo e-mail: helyetterossi@gmail.com 

Discipulado


O intercâmbio entre Mestre e discípulo...


Discipulado é uma das mais caras aquisições que nos proporciona a Espiritualidade. Baseia-se em que a Unicidade entre os seres, que é uma meta nossa, nos possibilita ajudarmos e sermos ajudados uns aos outros a bem de evoluirmos. Alguém mais evoluído que nós pode nos servir de modelo e poderá ser o nosso mestre, orientando-nos no uso de nossos próprios poderes.
   Esta orientação sempre visará nos tornar alguém melhor e mais sábio, pois jamais um bom professor, orientador e mestre ensinará e concordará com algo que prejudique a formação ética do discípulo.
   É lícito neste intercâmbio com bilhões de seres da humanidade, entre os quais nos inserimos, buscarmos a orientação daqueles que já atingiram uma mais perfeita evolução espiritual. Para isso, contamos com o princípio da Telepatia que nos permite apelar por alguém mesmo que se encontre distante de nós.
   Para que tal relacionamento se dê, é necessário que exista uma afinidade de comportamento entre ambos, mestre e discípulo, No caso de uma iniciação espiritual, as atitudes comportamentais do discípulo são importantíssimas, pois elas são o que detectará se é realmente um verdadeiro mestre, alguém que na Espiritualidade chamamos de “Mestres da Luz”, quem está realmente a nos orientar. Tais mestres expressarão através de seus alunos sua própria simplicidade de viver e respeito humano.


   O discípulo passará pouco a pouco a manifestar uma invulnerabilidade ao desejo de domínios financeiros e à vulgarização dos instintos. Também, uma afinidade de propósitos e interesses é necessária a que um relacionamento entre discípulo e mestre mantenha-se. Para este último só existe um objetivo: A evolução espiritual de quem orienta. Para o discípulo é ir conseguindo, com sua ajuda, uma evolução consciente.
   Exemplificando: Suponhamos que o discípulo crie um grupo de ensinamentos esotéricos ou de curas espirituais. Enquanto este conseguir manter o padrão de pureza requerido pelo mestre, o grupo se manterá vivo, mas se passar a desvirtua-lo em atitudes perniciosas, simplesmente o elo entre ambos é rompido, o mestre se afastará, pela falta de afinidade vibratória entre ambos. Eventualmente, pode se dar a continuidade do trabalho grupal e até este tornar-se de proporções notórias, porém será sempre uma ilusão ou em caso mais graves, uma fraude, um embuste, atribuir à orientação de algum “Mestre de Luz” por trás de tal trabalho.
  Cada homem traz em si um dom peculiar a desenvolver a que os espiritualistas chamam de “Raios Individuais”. Sejam eles para uns o da liderança, para outros o da arte, o da ciência, o da cura, o do trabalho social e assim por diante. O mestre, aliás como todo orientador, é um especialista no dom peculiar ao seu discípulo. Contudo, estes serão sempre diminuídos ou paralisados no caso de desvios comportamentais, como por exemplo, o dom da cura: Estas, se conseguidas, virão da Fé que eventualmente os pacientes à curas possuam, geralmente até aumentada pelo poder de persuasão daqueles que já estão desvirtuados e afastados de qualquer verdadeiro mestre. Lembremos sempre a Jesus nos dizendo: “Se tiverdes fé do tamanho de um grão de mostarda direis a este monte: Move-te, e ele se moverá”. 
   Contamos, sobretudo com uma consciência mental abstrata espiritual e superior que, se bem desenvolvida, dominará a forma como tais dons que possuímos serão por nós manifestados O papel do mestre é desenvolvê-la. Caberá a ele nos inspirar e intuir para que o relacionamento entre nós e todos os seres da humanidade nos leve até aquela Unicidade harmoniosa, respeitosa, que o espiritualista busca alcançar.
   Enfim, fazermos um discipulado correto é como subirmos uma encosta íngreme, cheia de tentações que ás vezes nos querem levar aos mais variados desvios, mas tendo a certeza de estarmos dando a mão à alguém que não dos deixa entrar em atalhos perigosos e sem retorno.

O Rigorismo das Deusas

Não é sem razão que a Cabala em sua árvore da vida coloca a essência feminina no lado do rigor e a vê como a força guardiã da moralidade e do comportamento. Também os gregos mitológicos representavam a vingança na figura da deusa Nêmesis.

   Foi Nêmesis que vingou-se do deus mais lindo da Mitologia, Narciso, por este desprezar todas as mulheres que o amavam. Jurou que ele haveria de amar alguém a quem jamais pudesse possuir.
    Levou-o então a uma fonte cristalina para beber. Ali, ao abaixar-se, ele viu sua belíssima imagem refletida. De pronto, se apaixonou por ela, sem saber que enamorava-se de si mesmo. Desejando agarra-la, cada vez que se aproximava para pega-la, a imagem nas águas desaparecia. Ficou ali tentando e tentando possui-la, mas via seus esforços inúteis.  Tanto tempo tentou até ficar esgotado e acabou por morrer nas margens da fonte por amor a si mesmo.  Hoje lembramos esta vingança de Nêmesis, chamando de narcisista a alguém cujo único objeto de amor é ele próprio.
  
   Também Deméter era cruel em suas vinganças. Como senhora da fertilidade da terra que era, amava muito a natureza e exasperava-se quando alguém a desrespeitava.
   Aconteceu que Erisícton, um homem muito rico, cortou para fazer moveis luxuosos um magnífico carvalho do bosque da deusa. Sabemos que o carvalho para os povos pagãos era uma árvore sagrada, reverenciada como tendo poderes mágicos. Quando Erisícton o abateu com o seu machado, Deméter ouviu de longe os gemidos que a árvore dava. Resolveu puni-lo. Para ela, como a Mãe terra que era, que alimentava generosamente a todos, nada melhor para punir alguém do que deixa-lo morrer de fome. Assim, Erisícton passou a ter uma fome voraz. Vendeu tudo o que possuía para comprar alimento, pois nenhum o saciava. Empobrecido, passou a entrar nas cidades para roubar alimentos, mas tudo em vão. Quando as cidades passaram a persegui-lo por seus roubos, ele, desesperado de fome, sem que alimento algum o satisfizesse, olhou o seu próprio corpo de carne e morreu devorando-se.

   A Discórdia vingativa também era representada por uma deusa: Éris.
  Foi Éris que apenas por não ser convidada para um banquete onde compareceriam muitas deusas, como vingança, apareceu repentinamente meio à festa, trazendo em mãos uma maçã de ouro. Ofereceu-a àquela deusa que fosse escolhida a mais bela da festa. Tal maçã foi um autêntico “Pomo de Discórdia”, pois gerou logo uma rivalidade e competição acirrada entre as deusas, todas se achando a mais bela. Esta vingança, feita através de uma discórdia bem planejada, teve como resultado a dramática “Guerra de Troia”.

   Hera, contudo, foi a recordista em rigor. Vingava-se de quem ousasse se intrometer entre ela e seu amado esposo Zeus. Vingou-se de Eco, ninfa de bosque, que tentou esconder dela os namoros de Zeus. Eco, tão tagarela que era, sofreu de Hera o castigo de, para sempre, repetir as últimas palavras que alguém dissesse. Tão envergonhada ficou Eco, ante as outras ninfas, que foi se esconder numa caverna. Então, é sempre em frente a um muro ou locais fechados que ouviremos o repetir humilhado de Eco.
   Já com a sua bela rival Io, Hera foi profundamente impiedosa. Para esconder de Hera a sua amante Io, sempre que a esposa o via com ela, Zeus transformava Io numa bela novilha branca.  Desconfiada, Hera elogiou a beleza da novilha e a pediu de presente a Zeus. Sem poder como recusar-lhe o pedido , ele a deu à esposa .Uma vez na posse  dela, Hera a pôs sob a guarda de Argos ,um ser que tinha cem olhos para vigia-la .
    Incomodado por não poder ver mais a amante, Zeus mandou Hermes matá-lo. Sem o seu guardião de confiança, Heras, contudo, planejou um terrível castigo à rival.
  Conservou o corpo de vaca de Io e mandou cobri-lo com um enxame de insetos terríveis, e de moscardos, espécies de moscas que comiam até a madeira mais rija, para mordê-la o tempo todo. Desesperada pelas constantes mordidas, a vaca Io fugiu da Grécia, tentando se libertar de Hera, mas passou anos a correr por vários lugares e só após muitos anos, com o corpo completamente mutilado, chegou finalmente um dia ao Egito. Foi quando, lá na Grécia, com Io muito distante, Zeus jurou a esposa que já a havia esquecido, que Hera então resolveu transforma-la novamente na forma humana que um dia tivera e suspender o castigo terrível que lhe dera.
   Hera perseguia igualmente os filhos bastardos de seu marido. Bons exemplos disso são Hércules e Dionísio. No berço de Hércules bebê, Hera colocou duas cobras. Porém, prenunciando que seria o homem mais forte da Mitologia, Hércules bebê as estrangulou com seus braços. Mais tarde, quando já estava rapaz, Hera exigiu dele fazer doze tarefas altamente perigosas, na certeza de que ele não iria sobreviver à elas.
    Já com Dionísio ela o desterrou para a longínqua e então desconhecida Arábia, certa de que jamais voltaria à Grécia. Porém, tal como o acontecido com Hércules, este conseguiu também o melhor: Foi na Arábia que ele encontrou a raiz de uma planta desconhecida: A parreira. Provou da uva e criou o vinho, que o tornou famoso. Voltou à Grécia cheio de glórias.

   Athena (Minerva) também não foi isenta do rigor feminino. Athena era a melhor bordadeira do Olimpo. Tecia e bordava com perfeição. Porém, a jovem Aracne também era uma excelente bordadeira. Tinha, contudo, um defeito: A vaidade. Resolveu competir com Atená e propôs um certame para ver quem bordava melhor.
   Athena então disfarçou-se em uma velha e foi até a sua casa e advertiu-a de que aos deuses ninguém devia desafiar. Aracne não lhe deu ouvidos e, ao contrário, fez um enorme desenho onde criticava os erros dos deuses imortais. Isto irritou Athena. O certame veio e a deusa para humilha-la, rasgou em pedaços tal desenho na presença de todos. Tão envergonhada ficou Aracne, que subiu perto ao teto e tentou se enforcar.   
   Athena resolveu então conserva-la viva, mas para sempre pendurada as próprias teias que tecia. Transformou-a numa Aranha. Hoje continuamos vendo Aracne nas alturas, tecendo sem parar, incansavelmente, as teias que a mantêm presa.

  Diana, a virgem casta que desejava sempre ficar virgem, não fugiu ao grande rigor feminino das deusas. Puniu com crueldade Ácteon porque ele inadvertidamente a surpreendeu tomando banho nua numa lagoa.
   Imediatamente ela transformou seus braços e suas mãos em patas, sua cabeça numa galhada. Enfim, num Cervo. Ele um caçador que muitas vezes perseguia fêmeas de Cervos que estavam prenhes, (contrariando um respeito aos animais que Diana exigia), fugiu a correr.  Chegando, porém, de volta à sua própria matilha de cães, estes não o reconheceram. Embora Ácteon quisesse dizer em desespero; Eu sou Ácteon! Eu sou Ácteon! Sua voz humana não mais lhe saía. Seus cães o estraçalharam.
Assim Diana ficou duplamente vingada; Por ter visto o seu corpo nu e por desrespeitar as fêmeas prenhes.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

O Dilúvio Grego

Muito conhecida é a história do dilúvio judaico, quando Noé aporta a sua arca no cume do monte Ararat. Porém, pouco divulgada é aquela do dilúvio grego. Vamos então lembrá-la:
   Quando Prometeu, o grande herói civilizador ensinou aos homens o uso do fogo, tal como previra o deus Zeus, os homens se acharam tão poderosos que esqueceram os deuses, a sua parte espiritual. Passaram a fazer desmandos mais desmandos e corromperam a humanidade.
   Então, os três irmãos olímpicos Zeus, Netuno e Plutão, irritados resolveram unir-se para criar um cataclismo que acabasse com aquela humanidade propiciando a vinda de outra melhor. Zeus, o senhor dos céus, fez despejar das nuvens chuvas torrenciais, Netuno enfiou o seu tridente no fundo dos mares fazendo as águas crescerem e os rios transbordarem e Plutão já preparou seu reino dos mortos para receber as almas que ali chegariam.
   O dilúvio veio. Porém, lá aos pés do monte Parnaso, morava um casal muito devoto e amante dos deuses: Decalião e Pirra. Prometeu o eterno protetor dos homens, então, os ensinou a fazer uma barca. Com ela, eles navegaram nove dias e noites dentro das águas revoltas e foram parar nos altos do monte Parnaso. Ali, desesperados, pediram um oráculo à deusa Geia para saberem o que fariam com aquela terra devastada. Entravam assim num sistema oracular, muito usado na Grécia antiga, onde o consulente fazia uma pergunta que era respondida não claramente, mas com uma proposição a ser decifrada.

Decalião e Pirra atirando pedras sobre
os ombros, dando origem a nova humanidade.

   Geia lhes disse: Sem olharem para trás, atirem os ossos de sua mãe para além dos seus ombros. Muito tempo levaram para interpretá-la, pois nenhum osso de qualquer mãe havia mais.  Acabaram, porém, por compreender que a única mãe que possuíam agora era a Mãe Terra e que seus ossos eram as suas pedras.
   Pegaram pedrinhas e as atiraram para trás das suas costas e logo o limo que fora deixado pelo dilúvio envolveu as pedras tornando-se carne e transformaram-se em homens. Quando o casal virou-se ali viram uma nova humanidade que surgia.
  Contudo, das profundezas da terra, levantou-se uma serpente ameaçadora. Mas logo, lá do alto céu, o deus solar Apolo, que havia reaparecido, a matou flechando-a com os seus quentes raios. Tal serpente é interpretada pelos mitólogos como todos os nossos instintos inferiores que querem nos dominar quando queremos melhorar evoluir, mas que acabam sempre vencidos pela nossa parte espiritual, nossa luz solar interna.
   Na verdade, após o dilúvio grego surge a maravilhosa civilização helenística. Decalião teve um filho de nome Heleno que dará nome de Hélade àquela terra reconstruída e nomeará de Helenos a seus habitantes.
   Assim, temos na Grécia antiga uma incomparável civilização que se espalhou numa vasta área desde o Mediterrâneo à Ásia. Desenvolveu-se no início do reinado de Alexandre o Grande pelo século IV A.C. Este difundiu aquela cultura rica em todos os tipos de Arte, em Filosofia, e Ciência Astronômica.
Esta cultura Helenística, segundo a Mitologia, é um resultante da intermediação punitiva dos deuses imortais através do Dilúvio Grego. No entanto, foi uma das civilizações mais espetaculares que o mundo já conheceu!

domingo, 4 de novembro de 2018

Mitos Brasileiros

O imaginário popular com seus mitos é riquíssimo em nosso país. Aqui estão alguns deles:

Mula Sem Cabeça - O cristão convicto, rigoroso e ingênuo não poupou os sacerdotes que traiam o seu voto de castidade. Porem, segundo o pensamento católico, a mulher será sempre a grande sedutora, maior pecadora. Tornaram então suas amásias em Mulas sem Cabeça. Também chamadas de ”Burrinha do Padre”, em certa altura da vida, elas os abandonam e numa noite de quinta feira perdem a beleza de seu rosto transformando-se neste animal decapitado.


   Sua sina é correrem troteando desabaladamente, sem rumo, perdidas pelos campos. Sem a intenção de agredirem alguém, dão, porém, fortes coices a tudo que lhes passar pela frente. Só voltam a serem mulheres, caso os seus amantes sacerdotes as amaldiçoarem diante do altar, antes de iniciarem as suas missas. Não são poupadas nem depois da morte, pois suas almas tornam-se assombrações cuja presença muitos latidos contínuos de cães anunciam.

Bicho Papão e Tutú – Mitos que assustavam imprimiram antecipadamente terríveis medos nas mentes infantis. As mães de cinquenta a cem décadas atrás, sem o preparo psicológico para a educação de seus filhos como as atuais, costumavam embalar para o sono os seus bebês amorosamente no colo e caminhando incansavelmente de um lado a outro. Porém, os amedrontavam com canções deste teor: “Bicho Papão lá de cima do telhado, pega esta criança que não quer dormir calada”. Depois então, ingênuas, pediam o afastamento de outro ser imaginário, igualmente terrível, cantando ainda: “Tutu Marambaia não venha mais cá, que o pai do menino te manda matar”.
   Talvez pensassem depois, que só a segurança de um pai protetor daria um perfeito descanso, livraria suas crianças dos seres imaginários nos quais acreditava.

O Anhangá - Nossos índios também não foram isentos (com certeza ainda não o sejam) do temor a estes tipos de seres fantasmagóricos.
    Muitas tribos opunham Anhangá, ser mau que era, à bondade de Tupã, para muitos o deus do Brasil.
    Os primeiros Jesuítas aqui chegados falaram muito deste temor que os índios tinham a esta espécie de Duende que trazia maus agouros para quem tivesse a infelicidade de vê-lo.


   Anhangá, ser espiritual, é fantasma maligno que se encarna com a aparência de um grande veado que ataca caçadores principalmente nas noites de sexta feira. Todos os males das tribos eram atribuídos a este maligno ser e muitos locais na mata eram evitados por estarem “mal assombrados”. Conta-nos Câmara Cascudo, em seu belíssimo livro sobre a geografia dos nossos mitos, que existe ainda a crença de que um recém casado deve evitar adentrar este lugares, pois se caso encontre Anhangá, morrerá.
   O mito de Anhangá me faz recordar uma canção escolar que crianças cantavam no dia do índio.
   Dizia ela: “Oh! manhã de sol! Anhangá fugiu! Ah! Ah! foi você! Que me fez sonhar e me lembrar da minha terra!”.
   Seguia-se depois um apelo à Tupã que assim dizia:
 “Oh! Tupã, deus do Brasil, que o céu enche de sol, de estrelas, de luar e de esperança. Oh! Tupã tirai de mim esta saudade! Anhangá me fez sonhar com a terra que eu perdi!”

As Bruxas - Sua crença está em todos os recantos de nosso país. Porém, em Florianópolis com seus muitos descendentes das ilhas portuguesas dos Açores, que de lá trouxeram esta lenda, ela é muito forte.
   Contamos hoje com os magníficos escritos de Franklin Cascais que nos conta “causos e mais causos” atribuídos a bruxas e relatados por gente humilde e contadora de histórias.
   Geralmente trata-se de idosas que foram a sétima filha de partos de mães que deram a luz sete filhas mulheres uma após outra. São vistas voando em bando, desenrolando os fios de um novelo que determinará pela maior metragem do fio desenrolado quem será a chefe do bando.
   Mas trabalham também individualmente em toda parte da ilha principalmente em Cacupé, na Lagoa e em Santo Antônio de Lisboa.


   O temor de alguns ingênuos habitantes afirmam que com suas bruxarias chupam o sangue de criancinhas e lhes provocam diarreias até deixa-las em pele e osso: infernizam a vida de pescadores quando estão a tarrafarem, equilibrando-se sobre o balanço das ondas transvestidas em formas assustadoras.
   Em dias passados os cavalos foram as suas maiores vítimas. Faziam elas tranças em seus rabos com nós tão apertados que deixavam os pobres animais sangrando e as vezes os faziam voar depois com elas sobre o rancho de seus donos, exibindo a estes descaradamente, em deboche, aquele malefício. Para os seus donos havia apenas o recurso de leva-los nas noites de Sexta feira Santa para banharem-se no mar para afastar deles possíveis bruxedos.
   Acreditam ingênuos ilhéus que suas façanhas são conduzidas pelo “Capeta”, pois, já quando algumas bruxas nascem já lhes coloca como sinal um dente canino no céu da boca e as fazem sempre acompanhar por morcegos que dão voos rasantes e por corujas.
   O antídoto mais usado contra bruxarias é sem dúvida o cheiro do alho, por isso ainda usa-se nos ranchos mais humildes pendurar-se réstias de alho nas paredes.
  Franklin Cascais, porém, distingue bruxas de feiticeiras. Essas últimas são as famosas e benquistas benzedeiras, muito requisitadas, que também afastam desavenças familiares e resultados de “mal olhado”. Ainda hoje são muito procuradas em Ribeirão da Ilha e Monte Ratone. Costumam benzer uma casa endemoninhada com a queima de cascas de alho. Também a água recolhida numa fonte antes que o sol se ponha na Sexta Feira da Paixão, também é acreditada como um recurso espiritual muito eficaz contra estes tipos de maldades.
   Assim é, na forte ingenuidade das crenças catarinenses, o grande medo causado por estas imaginárias bruxas.

O Lobisomem - Seu mito percorre todas as regiões de nosso país com poucas variações entre eles. Segundo a tradição, origina-se de uma doença milenar de nome Licantropia. Conta-nos Câmara Cascudo, o grande mitólogo, que a Licantropia nos leva até um rei da Grécia antiga chamado Licaon que tentou matar Zeus lhe acabando com a imortalidade. Este então o castigou transformando-o, pondo nele a maldição de um lobo voraz.  Já a visão católica moderna atribui a origem do mito a castigos contra relações sexuais incestuosas.
   O mito nos diz que depois de sete filhos machos, o último deles poderá tornar-se um Lobisomem. Não havendo, pois, nenhum indício de que isto acontece à mulheres.
   Como homem, ele apresenta uma aparência de cor amarelada e tem no rosto uma palidez cadavérica. Como personalidade é geralmente melancólico, dado a esquivar-se à convivências, retraído e apático. Apresenta as vezes os joelhos e cotovelos esfolados, pois quando transformado, corre sobre eles numa imitação de patas.
   Transformado, é uma espécie de vampiro cuja voracidade por sangue o faz dar dentadas nas carótidas de suas vítimas. Essas são geralmente animais novos como porquinhos, novilhos, cabritos e as vezes até crianças recém nascidas.
   Sua transformação dá-se habitualmente nos primeiros minutos de uma sesta feira. É então quando procura um lugar que lhe dê estrumes de animais nos quais irá se deitar, buscando ali energias animais. Então, tirará a roupa dando sete nós nelas. Acontecendo tudo isto em noites de lua cheia, quando então uiva como um lobo.
   Tal maldição lhe durará até as duas da madrugada, hora em que voltará ao lugar em que se transformou. Tirando os nós das roupas, veste-as retornando à aparência humana. Se alguém desejar fazer-lhe mal, buscará suas roupas e tirará delas os nós, pondo-o para sempre na condição de um lobo voraz por sangue.  Estas histórias são contadas e acreditadas do norte ao sul do Brasil.

 O Boitatá - Esse mito refere-se ao desconhecimento do que produz o Fogo Fátuo, aquela espécie de emanação que surge luminosa, fruto da decomposição de corpos animais. Era já muito temido pelos Tupis-Guaranis no Séc. XVI, logo após nosso descobrimento. É cultuado especialmente no Sul onde é conhecido como Cobra de Fogo.



   Sua aparência é vista como uma espécie de Jiboia que emite clarões. Vive geralmente nos pântanos e muito nos cemitérios, devido as decomposições naturais ali acontecidas.
   Se alguém avistar o Boitatá, o mito aconselha a permanecer parado, não provoca-lo com uma corrida, pois a velocidade desta cobra sempre o vencerá para comê-lo, melhor dizendo comer-lhe os olhos, parte visada sempre pelo Boitatá. Em geral, o Boitatá ataca as pessoas que desrespeitam as matas, entrando nelas para destruí-las. Olhar a Cobra de Fogo nos olhos - diz o mito - é sempre perigoso, pois pode cegar o incauto.

Alguns locais também receberam a crença de serem encantados. Provocam o temor de serem adentrados. Assim temos no Sul a Salamanca do Jarau e no Norte a Alamoa de Fernando de Noronha.

A Salamanca do Jarau - Trata-se de uma caverna, uma furna em Quarai no Rio Grande do Sul chamada de Cerro do Jarau. Esta caverna estaria cheia de tesouros e riquezas, mas guardada por um grande lagarto encantado.
   Seria ele em sua origem uma princesa moura que chegara aqui quando da expulsão dos mouros na Espanha. Trouxera com ela um tesouro que escondera na caverna. Aqui, porém, foi transformada pelo diabo indígena Anhangá num grande lagarto, com uma cabeça que emite fogo de uma pedra em sua cabeça. Então o lagarto passou a guardar a entrada da caverna cegando o incauto que o encontrar.

Cerro do Jarau, no município de Quaraí

    O mito nos conta ainda que um sacristão do tempo da catequese Jesuítica no Sul conseguiu domar o lagarto. Leva-o então para o seu quarto, aprisionado. Porém, quando já sonhava com as grandes riquezas da caverna das quais seria dono, subitamente o lagarto se transforma numa linda mulher, o que de fato era. Seduzido por sua beleza, acaba sucumbindo a seus encantos e vive com ela em grande paixão.
   Tendo sido, contudo, descoberto o seu deslize contra votos de castidade que havia feito, iria ser executado, mas justamente no momento em que seria morto aparece o lagarto e cega a todos os seus executores. Foram depois os dois se esconderem na caverna onde vivem sua paixão. Guardam até hoje as riquezas da Salamanca do Jarau, intocadas, pois todos que pretendem visita-la terão que enfrentar a potência cegante do lagarto encantado cujo nome é Teiniaghá.

A Alamoa – Desde 1737 a ilha de Fernando de Noronha se transformou num presídio. Assim permaneceu por mais de 200 anos. É então desde este longínquo tempo que o imaginário dos detentos, que podiam circular pelo espaço da ilha, criou a lenda da Alamoa.

Morro do Pico, em Fernando de Noronha.

   É ela uma linda mulher loura vista em dias de tempestades aparecendo na praia com longos cabelos que lhe chegavam até os joelhos ,deixando apenas entrever uma sedutora nudez e ali bailava, bailava para o encanto dos detentos. Recolhia-se depois à sua moradia situada no Morro do Pico, grande elevação de pedra que se avista desde longe, tornando mais majestosa a deslumbrante beleza da ilha.
   Escutavam então em sonhos uma voz feminina que de lá os chamava para vir a seu encontro no Pico, presumivelmente para ajuda-la a desenterrar um tesouro. Seduzidos pelo tesouro e por um possível relacionamento amoroso com tal mulher, os prisioneiros iam até o Pico e perto dali esperavam que a noite de sexta feira chegasse, ocasião em que o Pico misteriosamente abria na pedra uma fenda, uma porta de entrada.
   Lá chegados, o pavor, porém, os tomava, pois ao invés daquela linda mulher, encontravam uma caveira ambulante assustadora, que imediatamente fechava a fenda da rocha os prendendo ali. Ninguém via mais estes homens.
    Muito tempo ainda depois do presídio fechado, este mito levou pescadores e marinheiros a não se aproximarem do Pico temendo a presença da Alamoa caveira.

O Boto - Muitas crianças na Amazônia são chamadas de “Filhas do Boto”. Isso deve-se a este mito cultuado por gente muito humilde.
   Em locais de festas nas pequenas comunidades, costuma aparecer um rapaz muito bem vestido todo em terno branco, que encanta com o seu charme as moças solteiras locais.
  Na verdade, ele é fruto do encantamento de um Boto rosa que vive nos rios amazonenses e que repentinamente transforma-se naquele sedutor rapaz. Nas festas, ele, muito galanteador acaba por convencer alguma moça jovem para acompanha-lo num passeio idílico nas margens do rio. É ali que ele as estrupa e as engravida.
   Esse mito vem a séculos justificando a gravidez de muita moça engravidada pelo próprio namorado, que foge assim à fúria de pais rígidos, mas ingênuos.

O Saci Pererê - É um negrinho baixo que tem uma perna só, andando aos saltos. Fuma um cachimbo e tem à cabeça um barrete vermelho, carapuça que lhe dá poderes mágicos como aparecer e sumir repentinamente. É muito brincalhão nada o que faz é por maldade, mas apenas para se divertir. Suas brincadeiras são incontáveis: Espalha cinzas de fogões apagados; tira das galinhas poedeiras ovos de seus ninhos; impede os cavalos de correrem puxando-lhes os rabos; dá assobios repentinos no ouvidos de viajantes ; mistura sal em recipientes de açúcar; enfim, faz tudo com uma grande gargalhada , em alegre diversão.
 O Saci foi aproveitado na literatura por Monteiro Lobato como personagem em seu “Sítio do Pica-Pau Amarelo”. Quando então este mito tornou-se muito conhecido.
   Está hoje espalhado em todo o Brasil, mas é mais cultuado na zona onde foi originado na região das missões. Entre os índios era chamado de “Yaci Yaterê”.

O Negrinho do Pastoreio - Uma das lendas mais caras aos gaúchos é sem dúvida esta do Negrinho.
   Foi muito contado pelo tempo em que no Séc. XIX em nosso país lutávamos pela abolição da escravatura, tentávamos mostrar a condição humilhante em que vivia os nossos escravos negros.
   Trata de um estancieiro muito cruel que possuía um menino negro de 14 anos como escravo. Este não fora batizado, então, como não tinha padrinho ele próprio se dizia afilhado da Virgem Maria. Também nem nome lhe deram sendo simplesmente chamado de Negrinho.



  Impassível e humilde galopava pelas coxilhas treinando um cavalo baio muito lindo a vários outros.  Um dia o estancieiro o ordenou pastorear mais de trinta cavalos, mas num descuido, ele deixou justamente o cavalo baio soltar-se, se perdendo. Dando falta do baio, o estancieiro deu inúmeras chibatadas no Negrinho deixando-o a sangrar e depois o colocou preso sobre um formigueiro certo de que aquele enxame de formigas o mataria.
   Alguns dias depois foi até o formigueiro e o encontrou de pé com o corpo livre de qualquer marca e ao seu lado estava a Virgem Maria, testemunhando que o escravo menino já estava no céu, mas na companhia de sua madrinha. Desde então, é visto nos campos um negrinho montado num cavalo baio tocando um pastoreio. Dizem que ali ele está sempre procurando um objeto que alguém perdeu. Um objeto perdido requer de nós que façamos uma oração ao Negrinho e acendamos uma vela, que ele então vai pôr num altar à Nossa Senhora.  Logo, o objeto estará à vista de quem o perdeu.
Entre as canções gaúchas esta essa: "Negrinho do pastoreio, acende esta vela pra mim! Espero que me devolvas a querência que perdi!".

sexta-feira, 7 de setembro de 2018

Livros de Setembro

Os dois livros mais procurados neste último mês entre os meus editados são:


Sobre as diversas categorias dos mitos.
Romance sobre a Espanha do séc. XV e
as perseguições a árabes, judeus e ciganos.

Valor: R$ 30,00 cada
Informações e vendas pelo e-mail: helyetterossi@gmail.com 


Mitos e Ritos nos Terreiros da Afro-brasileira

Obá servindo sua orelha a Xangô
sob a influência de Oxum.

Ritos e mitos são inseparáveis no Candomblé. Diz o grande historiador Mircea Eliade que o mito revela a necessidade de um povo de tradição apenas oral de registrar seus feitos históricos. Por exemplo:
   Quando uma iniciada incorpora o orixá Obá, e dança escondendo a sua orelha e aquela que incorpora Oxum dança levantando os pés estão teatralizando uma estória de rivalidade entre as mulheres de Xangô.
   Xangô vivia com três mulheres. Iansã, Oxum e Obá na cidade de Oyá, na Nigéria e todas queriam agrada-lo. Porém, Oxum tinha mais conhecimento de cozinha e a comida que fazia contentava muito Xangô. Obá admirava muito este conhecimento de Oxum.
   Um dia Xangô ia dar um banquete para autoridades e Obá foi se aconselhar com Oxum e lhe disse: Tudo o que você faz agrada Xangô e eu não consigo agrada-lo. Gostaria que me ensinasse o segredo de seus temperos.
     Oxum pensou: a troco de que eu vou fazer o amor de Xangô aumentar por esta mulher? Então disse: Você não reparou que meus penteados sempre cobrem as minhas orelhas? É porque eu descobri que pedaços delas dá um gosto todo especial às comidas. Não fala o meu segredo para ninguém. Obá voltou para seu quarto, cortou uma orelha e padecendo dores em silêncio, colocou-a no prato que iria servir e pôs um turbante para esconder o ferimento.
Oxum à beira do rio
que leva o seu nome...
   Quando Oxum apresentou seu prato, os convidados disseram nunca haver comido nada tão saboroso. Porém, quando Obá ofereceu o seu, um convidado viu uma orelha boiando no molho, e horrorizados todos os convidados se despediram revoltados com Xangô.
   Xangô quis saber de Obá o que houve e ela respondeu: Oxum também costumava por pedaços de orelha nos pratos e ela achou que pondo uma inteira ainda ia ficar melhor. Fizera isto para agrada-lo. Mas quando o turbante da cabeça de Oxum foi levantado, viram as suas orelhas perfeitas e foi Obá quem passou por mentirosa e Xangô ficou furioso com ela. Assim, uma iniciada incorporada com Obá sempre esconderá as suas orelhas.
   Contudo, Obá foi contar para Iansã como Oxum a enganara. Iansã ficou com pena dela e prometeu que a iria vingar. Aconteceu nova festa e Oxum para chegar ao palácio de Xangô, precisava passar por um caminho de terra.
Iansã pôs então sob todo o caminho muitas brasas acesas e cobriu-o caminho com a terra. Quando Oxum passou por ele queimou os pés. Mas na festa era obrigada a dançar com os convidados de Xangô para homenageá-los. Então a cada passo e dança que dava  levantava com muita dor seus pés. Hoje, nos terreiros as iniciadas recebendo Oxum lembram e teatralizam esta estória capengando a cada passo dado.