sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Mitos do Feminino

Nós, mulheres, reveladas nos mitos das deusas.
   
    Os gregos arcaicos durantes séculos de matriarcado dedicaram-se ao culto da Deusa, que unificava em si inúmeras qualidades. Ela era sua religião. No entanto, quando foram invadidos por um povo guerreiro,viram introduzidos em suas regiões o culto a Zeus e seu patriarcado.
    A deusa rendeu-se a Zeus. E, o seu antigo poder, a bem de ser preservado, foi desmembrado na devoção à várias deusas. Cada uma delas uma facção, uma virtude daquela fonte de energia feminina original, cultuada.
    Hoje, em nossa modernidade, acreditamos que nós, mulheres, carregamos em nosso inconsciente estas forças energéticas arcaicas. Psicólogos preferem chama-las de “arquétipos femininos”. Vemos pós Junguianos nos atribuindo e nos trabalhando segundo características de seis principais deusas: Hera, Demeter, Afrodite, Artemis, Atená e Perséfone. 
    Essas divagações que se seguem abordarão alguns destes arquétipos nos relacionando com os mitos femininos destas deusas. Estarei as pondo aqui como pertencentes a dois grupos: Aquelas mais vulneráveis, cujo viver está conectado a relacionamentos com companheiros, como Demeter, Hera, Afrodite, e Perséfone, e as deusas virgens mais independentes como Atená e Artemis.
    Relacionando-nos às deusas, nos chamarei de mulher/Artemis, ou mulher/ Afrodite etc, etc..   

ATENÁ, deusa da Justiça, comporta-se com firmeza e impulsividade perante os desrespeitos humanos, mas apesar de sua beleza severa, tem o coração aberto a depois também perdoar. Senão, vejamos um mito seu:
    O jovem Tirésias ouve numa mata o barulho de uma cascata e se aproxima dela. Porém, é lá que Atená costuma banhar-se. Deslumbrado pela nudez da deusa permanece ali parado, com seus olhos insistindo em contempla-la. Atená se encoleriza e, como castigo, o torna imediatamente cego. Porém Cárilo, mãe de Tirésias, amargurada pela infelicidade do filho, lamenta-se à Atená. Esta apieda-se e sente que fora demasiado rígida. Resolve então conceder a Tirésias a visão interna, lhe dando o dom de adivinhar. Fez de Tirésias o mais famoso adivinho da Grécia.
    Será apenas Tirésias que já então velho e cego, mas sempre capaz de adivinhar passado e futuro, quem desvendará na tragédia mitológica de Édipo, o mistério do assassinato do rei Laio. Dirá a Édipo: Matastes vosso próprio pai!  Sois o criminoso matador que tanto procurais!
    Os pensamentos de uma mulher/Atená, influenciada pela deusa, que é também a da Sabedoria, sempre ultrapassará as fronteiras do lar, porque ela percebe e tem sensibilidade voltada ao mundo social que a rodeia. Tem sonhos de reformar instituições e lutar pelas condições de minorias injustiçadas. A política ou pesquisas científicas que possam melhorar a saúde e diminuir a ignorância de populações, geralmente a atraem como campos de ação.
    Quer sempre a verdade, uma visão que desnude o que está por trás dos problemas sociais. Por isso, em representações mitológicas, Atená aparece carregando seu símbolo: Uma coruja. Animal que caracteriza a reflexão que domina as trevas, tão perspicaz que enxerga no escuro.
    A sabedoria de Atená- nos revela o mito- supera qualquer presunção competitiva, vinda de conhecimentos. É pura. É humilde. Está a salvo de concorrências.  Este mito a seguir nos conta que a deusa Atená irritava-se quando via a vaidade intelectual ou artística tomar conta de alguém, levar rivalidade às pessoas.
    Aracne era uma exímia tecelã. Porém, tão presunçosa ficou por tantos elogios recebidos que resolveu um dia desafiar a deusa Atená para ver qual das duas era a mais habilidosa. Ora, Atená sempre fora conhecida no céu do Olimpo, como aquela tecelã que ornava as paredes de seus palácios com os mais belos bordados que tramava sobre tecidos e telas, com fios de prata e ouro. Não gostou nada daquela falta de modéstia exibida por Aracne que, enquanto tecia, declarava-se  a única  e insuperável bordadeira. Tentou fazê-la desistir daquela rivalidade disfarçando-se numa velha senhora de cabelos brancos que aconselhou-a  a não vangloriar-se tanto, tentou fazê-la ver que era a suprema vaidade mortal quererem se igualar a imortais. Contudo, Aracne não aceitou tais conselhos. Ao contrário, passou a desafiar mais a deusa. Pôs em seus bordados episódios que representavam os defeitos dos deuses olímpicos, bem sabendo que Atená  os enaltecia em suas telas, mostrando nelas  tudo o que os deuses faziam pela evolução dos homens.
    Veio então da deusa justiceira a lição: Transformou Aracne  numa aranha, condenou-a a trabalhar pendurada nas alturas. É de lá que  tecerá suas teias delicadas que os ventos podem destruir com a maior facilidade. Mostrou a Aracne quão frágeis são as criações humanas.
    Assim nasceram as aranhas que hoje vemos tecendo suspensas.
    Como os gregos viam a sábia Atená como fonte de inspirações artísticas e culturais, contavam com um magnífico  festival em sua honra. Nele, eram promovidas apresentações de poesias, músicas, cantos e danças. Aos vencedores  eram dadas ânforas cheias de azeite de oliveiras, a planta sagrada de Atená.
    Em geral, as mulheres/Atená gostarão de reunir amigos em saraus caseiros onde aqueles podem externar seus talentos artísticos.

    Do Matriarcado nos vem também a face de AFRODITE , a sedutora:
     Para sabermos se pessoalmente retemos em nós as energias de Afrodite veremos o seu mito: 
    Quando Páris, o príncipe troiano, foi chamado a arbitrar  a disputa entre as três deusas Hera,Atená e Afrodite quando seria dada a apenas uma delas uma maçã de ouro, com os dizeres “a mais bela”, sua decisão causou a guerra de Troia. Na ocasião, as três deusas, cada uma se achando com direito à maçã, ofereceu a Páris uma recompensa, caso fosse a escolhida.
    Hera disse a Páris:  - A ti darei uma esposa fiel, que te acompanhará em todos os teus atos criativos, administrativos,que será para ti a companheira que te ajudará em todos os problemas que surgirem no reino de teu pai que por ventura vieres a herdar.
    Atená lhe promete: - farei de ti um guerreiro justo, e garantindo-te a vitória em todas tuas batalhas, te tornarei o mais renomado herói que Troia já conheceu.
    Porém,o que lhe prometeu Afrodite pareceu-lhe a recompensa mais tentadora: - Darei a ti, Páris, a mulher mais  cativante de toda a Grécia.
    Paris fez de Afrodite a vencedora,deu a ela a maçã de ouro. Qual a razão de tê-la privilegiado
assim? Porque imaginou na mulher que lhe seria dada ,os mesmos atributos  que via em Afrodite. Embora as três deusas fossem todas belas , ele via Afrodite mais faceira no vestir-se e principalmente  com uma forte e inigualável sensualidade, característica a qual poucos homens resistiam. Mostrava isso em seu jeito de sorrir,de olhá-lo e de caminhar.
    Na verdade,para Afrodite, não importava muito que a mulher que estava pensando em dar-lhe já fosse casada com o  rei de Esparta. Porque, para Afrodite, nenhum ato sexual levava a ela própria qualquer resquício de culpa. Até quando eventualmente traia  seu companheiro,o fazia sem remorsos, pois resistir a sua forte tendência sexual lhe era quase impossível. Os instintos, o sexo, lhe era realmente vital. Assim, havia traído com o deus Marte, o seu marido ,o deus Vulcano, o maior artista do Olimpo ,que a cobria de joias que ele mesmo forjava ,para atender o grande pendor de Afrodite por  requintes.
    Hoje, em nossa modernidade ,este seu gosto por requintes  aparece naquelas mulheres que  se envolvem com artes joalheiras, e modas ,sem que necessariamente assimilem dela também seu irreprimível instinto.
     A inconstância era outra característica de Afrodite. O mito nos conta:
    Helena ,a mulher mais cativante da Grécia,influenciada que foi por Afrodite, abandonara seu
marido para seguir Páris à Troia. Porém, sua paixão por ele durou apenas enquanto a guerra se desenrolava, pois, logo que esta acabou, voltou novamente aos braços de seu marido Menelau.  E, este, perdoou-a? Certamente. Quem não perdoaria e amaria sempre, alguém com tantas qualidades  como uma Afrodite?  Convenhamos que não são apenas tendências sensuais que determinam alguém que seja à semelhança desta deusa. O próprio desejo por requintes das mulheres/Afrodite a fazem tornar o seu lar aconchegante, cheio de flores e adornos. Quererá sempre levar beleza aos locais onde vive. Além disso, ligada à figura masculina como é,  dedica-se com carinho a preparar  saborosos alimentos  com que mimará o companheiro. Geralmente as mulheres/Afrodite aprimoram-se como ótimas cozinheiras. Contando com uma personalidade quase dupla, maleável, lhe será também muito amiga durante situações adversas que ele por ventura vier a sofrer.  É também muito atenciosa com pessoas humildes apesar da sua própria aparência requintada.
  Aquela inconstância  sexual de Afrodite  a faria um dia ter um filho com os dois sexos. Assim nos conta o mito:
  Afrodite relacionou-se também com Hermes. Ao filho que geraram juntos chamaram de Hermafrodito, fundindo assim num só nome Hermes e Afrodite, prova de quanto era grande sua paixão no momento. Contudo,muito prontamente cansou-se de Hermes e querendo esquecer aquele adultério,enviou Hermafrodito para um monte aos cuidados de  Ninfas. Criado como foi apenas entre mimos femininos, quando rapaz, Hermafrodito passou a recusar seu próprio sexo.
   Herdara a beleza da mãe e um dia despiu-se para  banhar-se num lago. Salmácida, que por ali passava, viu-o e foi tocada por grande paixão. Despiu-se também e entrou nas águas.Tudo fez para tê-lo,mas Hermafrodito timidamente recusava-se. Humilhada,Salmácida abraçou-o fortemente no intuito de jamais perdê-lo.Rogou aos deuses que os tornassem um único corpo. E, foi assim que Hermafrodito pela segunda vez fundido num só, ficou para sempre com dois sexos.
    Aquela carência de Afrodite por encontros amorosos por vezes a deixava vulnerável a vinganças. Assim  aconteceu-segundo o mito-quando Zeus quis castiga-la por trair seu marido Vulcano com Marte. Desejou sobretudo humilha-la. Fez Afrodite encontrar por acaso e apaixonar-se pelo pastor Anquises, que, embora sendo belíssimo ,era afinal apenas um humilde mortal.
    Quando o encontrou, por magia de Zeus, a face de Afrodite foi transformada no de uma jovem também linda ,mas absolutamente diversa da sua. Sem reconhecer a deusa, mas tocado  pela  beleza daquela falsa jovem, Anquises lhe fez a proposta de dividir o leito com ele aquela noite. Afrodite, que não era imune a presença de um homem tão belo e atiçada por sua irreprimível sensualidade , aceitou. Após muitos momentos de prazer ,quando acordaram pela manhã, também por magias de Zeus, lá estava novamente Afrodite revelando sua face  radiosa.
     Quando Anquises  a olhou, reconheceu-a e transtornou-se, amargurado. A pior coisa que lhe poderia ter acontecido é estar apaixonado por uma deusa. Aquele era um relacionamento sem esperanças e futuro pois enquanto ele iria envelhecer pouco a pouco, encaminhando-se para a inevitável decrepitude e morte, ela ,como imortal que era, continuaria eternamente deslumbrante como ele agora a via. Além disso, Anquises tomou-se de pânico, temeroso de que recebesse uma punição por sua ousadia.
    Afrodite serenou-o. Disse-lhe que o perdoaria sob uma condição:  Que jamais  contasse para alguém sobre aquela sua noite de amor. Na verdade, Afrodite nunca sentira tanta vergonha e humilhação. Afinal, ela, uma mulher que já fora desejada pelos mais afamados deuses do Olimpo, havia se entregado a um simples mortal.
  Em geral, Afrodite ,tão sedutora, dominava um relacionamento, mas eventualmente sua predileção por refinamentos a jogava aos braços de homens  poderosos  e vis que a usavam, expondo-a à situações constrangedoras.
    Também as mulheres /Afrodite que não têm a firmeza das deusas virgens, independentes do homem como Artemis e Atená, quando passam por tais  decepções,sofrem e eventualmente  amadurecem e evoluem muito espiritualmente.

     Já a mulher/HERA tende a administrar com rigor e disciplina tanto um lar ou em âmbito maior até um país.  Para o grego antigo, Hera representava a administração cotidiana do Olimpo, aquela que garantia que os adornos magníficos forjados por Vulcano estivessem limpos e lustrosos ; que as telas bordadas por Atená nunca faltassem para adornar paredes;  que Hebe, a deusa da juventude ,sempre desse aos deuses a ambrosia ,o néctar que lhes conservaria a imortalidade. Com autoridade, Hera sempre  mantinha a união dos deuses em sua convivência diária.
    Os artistas da Renascença a retratariam depois como uma mulher bela, de corpo escultural, destacando nela uma aparência de dignidade e severidade. Porém, em que pesasse o seu rigor, Hera não era desligada, nem  tão independente em suas emoções de uma presença masculina como o eram as deusas Atená e Artemis. Mesmo naquela relação amorosa como a que tinha com o seu namorador marido Zeus, ao ser traída, sempre procurava trazê-lo de volta, chamando-o a  amá-la novamente,  mas também às responsabilidades do lar. Não era ligada ao aspecto amor instinto insaciável, tal como o sentia Afrodite, mas dava uma fidelidade constante ao companheiro ,vendo o amor como um compromisso assumido.
   Hera não suportava as mulheres que o quebravam. Deusa ciente de que devia exemplificar a mulher como mantenedora das tradições familiares, achava que o primeiro sinal da decadência de uma sociedade era a decadência da mulher, por isso, usava de rigor  com aquelas que infringiam suas leis morais.  Vejamos o que nos conta o mito:
    Eco era uma ninfa que testemunhava e sabia dos namoros de Zeus com outra ninfa do bosque onde vivia. Um dia, Hera lá apareceu em busca de seu marido. Eco, que tinha muita facilidade em expressar-se e era bastante tagarela, tentou entreter Hera numa longa conversa  envolvendo-a para dar tempo  a que Zeus  fugisse do bosque ,escapulindo-se de um flagrante. Hera porém, percebendo sua intenção, resolveu penalizar aquela menina tão falante que queria enganá-la.Deu-lhe logo um defeito na fala que a fazia repetir sempre a última palavra que alguém dizia.
     Eco ,humilhada, pois  todos  passaram a debocha-la, foi  esconder-se em cavernas e locais murados , onde ninguém a visse. Não pode mais viver no espaço aberto , amplo  do bosque.           Por esta razão ainda hoje ,sempre que  adentrarmos um local murado que nos oponha uma parede, e dissermos algo, o som de nossa voz voltará a nós, pois lá estará Eco a nos repetir.
    Hera não concordava com todos aqueles que davam aos namoros  de Zeus esta finalidade: Multiplicar o números de mortais agraciados  com atributos maravilhosos, semideuses  e semideusas gerados entre Zeus e as filhas dos homens. Não os aceitava. Com o mesmo rigor que caracteriza todas as mulheres/Hera, via estes frutos dos namoros de  seu marido, apenas como uma evidência de sua grande licenciosidade. Perseguia-os para que sumissem. Assim fez com o possante Hércules -segundo o mito:
    Hércules escapou de sua fúria quando bebê, mas, ao fazer-se adulto, submeteu-se a cumprir as “ 12 Tarefas” que o rei Eristeu lhe impôs para que se redimisse do crime de infanticídio que fizera quando Hera provocara nele, com magias, acessos de loucura.
    Hera imaginava que tais tarefas ,tão terrivelmente difíceis, o faria senão morrer, pelo menos ser humilhado por um fracasso, vencido em sua tão admirada fortaleza.
    Contudo, como toda a mulher/ Hera , ela podia também mostrar-se por vezes generosa. Assim o mito nos conta que, ao reconhecer o valor de Hércules, seus   incríveis  esforços para cumpri-las, o compensou largamente. Recebeu no Olimpo , sua própria  moradia,aquele  filho espúrio de seu marido; deu-lhe como esposa a encantadora Hebe,e ainda mais: Agraciou-o com o nome de Héracles, que significa “A gloria de Hera”.
    Também Dionísio ,outro filho bastardo de Zeus, foi desterrado  por Hera para as distantes terras da Arábia. Porém foi lá, que  encontrou uma plantinha nativa , a videira,  e com ela fez o vinho que o tornou famoso, arrastando multidões para o seu séquito.
    Hera, tão rigorosa, foi justa.  Quando percebeu que o vinho não era apenas aquela  bebida que propiciava a orgia dos bacanais, mas que  sorvida numa medida certa , controlada, trazia inspirações aos poetas,levava os homens a êxtases espirituais ,podendo ser usada em cultos para homenagear os deuses, foi novamente generosa: Colocou também Dionísio entre os deuses para torná-lo o grande e insubstituível auxiliar de Demeter em suas lidas agrárias.
    Muito severa com suas rivais, amava contudo, intensamente seu marido, como só as mulheres/Hera, fortes como ela, sabem amar e, invariavelmente, o perdoava. Zeus voltava sempre a seus braços, ficava  desorientado quando ela eventualmente o deixava ,pois via nela o único aconchego amado ,seguro e fiel.

    ARTEMIS é uma deusa  virgem. É arisca e temerosa em matéria de amor. Teme sobretudo as dores da maternidade. Isto é justificado no mito de sua mãe Lete:
    Esta, amante de Zeus, estava para parir os gêmeos Apolo e Artemis, filhos dele. Porém Hera, esposa de Zeus,a fez viver um grande sofrimento. Pediu a deusa dos partos Ilítia ,que foi parteira de todos os deuses do Olimpo, para que cruzasse as pernas direita sobre a esquerda. Enquanto elas estiveram assim cruzadas, o caminho dos nascimentos estavam fechados.  Isso durou nove dias e nove noites de dores dilacerantes para Lete.
    Horrorizada pelos sofrimentos que sua mãe passara no parto, Artemis jurou nunca se relacionar com homens para  jamais  ter filhos. No entanto, tornou-se a grande protetora  das mulheres grávidas. As jovens esposas consagravam a ela  inúmeros  cultos porque contavam com sua proteção na hora do parto. Artemis iria energizar e guiar , desde os velhos tempos mitológicos gregos , as  mãos das velhas parteiras, que durante séculos  e séculos conseguiram chegar até a modernidade propiciando nascimentos.
    Artemis pediu a seu pai Zeus que lhe desse  arcos e flechas e ao deus Pan uma matilha de cães e recolheu-se à natureza selvagem. Solitária, e independente dos homens, foi dedicar-se à caça.
    Tornou-se aventureira , atlética, prática, amante da vida ao ar livre, protetora dos animais, como serão depois todas as mulheres/Artemis que recebem suas energias. Virá dela o pensamento daquelas que se atraem pela Ecologia, querem preservar o meio ambiente .
    Sua função como caçadora e ao mesmo tempo amiga dos animais  nos parece contraditória. Porém, Artemis representa a caça feita unicamente pela sobrevivência dos homens, jamais a caça predatória , protegia os animais em sua época de reprodução. Perseguia todos aqueles que maltratavam as fêmeas prenhas, em gestação. Caçava garantindo a continuidade de vida das espécies animais.
    Enquanto seu gêmeo Apolo é o deus relacionado ao sol, ela é a deusa da lua. Como tal, segue as suas fases  mutantes tanto estará ligada à  Selene ou à Hécate ,ser ora propícia ao bem ora a ser a feroz destruidora.
    A mulher /Artemis sofre esta inconstância não em sua vida amorosa mas em seu humor. No templo de  Éfeso, Artemis ,ligada à Selene, tinha seu culto estendido aos animais  que mais amava: o cervo, o javali, o touro, a vaca, e o cão e também às árvores de nogueira e de cedro.
    Quando ligada à Hécate, Artemis é a guerreira mais eficiente  da Grécia, senhora de poderes destruidores. Consagrou-se como tal, quando lutou bravamente ao lado de Zeus, na primitiva guerra da Gigantomaquia, ocasião em que seu pai tornou-se o todo poderoso senhor do Olimpo, após vencer os primeiros homens que- segundo os mitos gregos- habitaram a terra: os Titans  gigantes. Hécate , quando ligada à lua nova, é a senhora da magia ,bruxaria, sortilégios e Amuletos . Influencia  as mulheres que se dedicam à feitiçaria quando estão voltadas  à finalidades maléficas.
    Apesar da resistência a ter parceiros, amores frustrados podem acontecer à mulheres/ Artemis, nos diz a mitologia:  A única vez que Artemis apaixonou-se não foi bem sucedida. Quando viu o caçador Orion de porte forte e belo, aquela que queria ser a eterna virgem, logo apaixonou-se.
    Um dia porém, Orion foi banhar-se  no mar e se distanciou muito nele, até que sua figura  tornou-se apenas uma minúscula mancha na águas longínquas. Ali, chegaram à praia Apolo e sua irmã Artemis. Enxergaram a mancha no mar e Apolo, que é o deus solar com olhar abrangente, soube logo que se tratava do caçador Orion. Porém, preocupado  em zelar pela castidade de Artemis, nada lhe disse e quis aproveitar o momento para elimina-lo. Desafiou-a então ,em sua grande habilidade de exímia caçadora, propondo-lhe acertar uma flecha naquela distante mancha. Sem imaginar que iria ferir o próprio amado, com toda a sua capacidade de arremessar flechas, Artemis abre seu arco e lança a primeira. Estarrecida, viu chegar à praia o corpo morto de Orion
    Desconsolada ,vai a Zeus e pede-lhe que torne o amado numa das mais belas constelações que enfeitaria o céu. Assim ,estará lá sempre a brilhar em noites estreladas, sobre as nossas cabeças ,Orion, a magnífica constelação. Tal mito quis dizer as mulheres/Artemis que precisam sempre observar melhor o alvo, a meta que desejam atingir.

    Quanto à PERSÉFONE, seu primitivo nome era Core. Solitária, inadaptada ao mundo objetivo, vivia ensimesmada a pensar e sentir-se atraída pelos mistérios da vida e da  morte. Saber as razões do destino e das dores humanas era tudo o que mais lhe importava.  Porém, tais mistérios lhe pareciam tão imensos e indevassáveis que ao mesmo tempo os temia. Então gostava de pensa-los abrigada no aconchego do regaço de sua mãe Demeter. Era imaginar o desconhecido, protegida.
   Quem vai fazer Core entrar na realidade de seus sonhos  e atrações pelo oculto –nos diz o mito- será Afrodite. Esta, percebendo a solidão em que  vivia o soturno senhor do mundo dos mortos Hades e como não suportasse  ver alguém solitário, pediu a seu filho Eros que o flechasse com sua seta do amor. E, então aconteceu de ser justamente a tímida Core a primeira jovem a ser avistada  por Hades após ter sido flechado. Logo apaixonou-se e a quer. Foi pedi-la à Demeter.  Esta , maternal  protetora que era, sabendo para que abismos sombrios o deus da morte a levaria, prontamente  recusou dar-lhe Core.
   Enlouquecido de paixão, Hades só tem um recurso: Rouba-la à força. Foi o que fez. De nada adiantaram os gritos angustiados de Core chamando sua mãe, quando se viu arrebatada em seus poderosos braços. Demeter, por sua vez, iria viver seu pior período de vida: o da ” Mater Dolorosa”. Separada de sua meiga  e insegura filha, vagaria em prantos pelos campos à sua procura.Tira a atenção  de seus trabalhos com o solo,  este se resseca e deixa de frutificar. Sem a força da fertilidade de Demeter  a terra recusa-se a dar alimento aos homens.  Tal situação iria durar até  que Zeus, preocupado  com a fome que já grassava no mundo, forçou Hades a um acordo. Modificação benfazeja para a nova vida de Core:  Ela passará parte do ano com Hades no mundo dos mortos e parte do ano com sua mãe Demeter na superfície da terra.  Esses períodos de seu retorno, serão aqueles quando a deusa mãe terra ficará jubilosa, o solo ressecado umedece e fertiliza. A natureza toda  manifesta a alegria de Demeter dando novamente aos homens  alimentos.
    No entanto, na primeira vez em que Core retorna à superfície, Hades lhe dará para comer antes de deixar o Tártaro, um gomo de romã. Este fruto que tem o poder de unir casais, de firmar matrimônios, será para Hades a garantia de que ela retornará  sempre aos seus braços conforme o acordo com Zeus.
   Na verdade, nem tanto precisaria se preocupar Hades, pois  algum tempo depois, tal como nos revela o  mito de Orfeus, quando este cantor sublime desce ao Tártaro, lá estará Core recebendo-o ao lado de seu  marido, como uma mulher já madura, feliz, como rainha coroada do reino dos mortos, do mundo oculto. E, terá, além disso, já recebido outro nome: Perséfone.
    Por estes mitos, a vida de uma mulher/Perséfone poderá ser dividida em  dois períodos: Um  em que era alguém dependente, introvertida,  que desejava  o conhecimento das coisas veladas, ocultas da existência, mas sem dar-se conta de não estar chegando a sua profundidade; e  o segundo em que, após sofrimentos e dificuldades, vai devassando os mistérios sonhados, aprofundando-se neles, equilibrando-se até tornar-se uma mulher sábia, segura e realizada. No mito. só quando Perséfone deixou de ser Core,  compreendeu que ela era  como o grão, que, durante as sombrias  estações do outono e inverno, entrava  para as profundezas da terra para depois voltar pleno de energias, e manifestar-se  no mundo tal como uma florescente primavera. Ela, Perséfone, não somente  pensara mas também vivenciara  aqueles mistérios que  buscara.
    Tais mulheres/Perséfone  nós as vemos representadas nas cartomantes curiosas, nas bruxas medievais sofredoras queimadas, mas também em poetisas inspiradas, que tentam pôr em versos as belezas do ser , do destino e da vida e ainda nas grandes espiritualistas  que enriqueceram de ideias profundas os século dezenove e vinte.

    DEMETER, a mãe terra. Na Antiguidade, as mulheres tinham dupla função: Cuidar das crianças no lar  e manter a terra fertilizada, enquanto o  homem saía para a caça e a pesca.
    A mulher/Demeter trás em si as energias deste tempo. È mulher mãe, sobretudo. Sua dedicação principal são seus filhos. É neles que realmente se realiza. A gravidez é, para ela um tempo de embevecimento único de comunicar-se diretamente com os mistérios da concepção. Vê depois o filho que saiu de seu ventre como a terra que vai semear, arar, regar, proteger do sol, colher frutos. É a mãe educadora de ensinamentos básicos. Não importa que grau de instrução tenha, a ela cabe transformar os filhos como fazia com a terra; de terrenos virgens, áridos , duros  em um pó macio que pode receber e agasalhar o grão, as sementes que lhe lançar.
    Como deusa das colheitas e da fertilidade do solo, Demeter é a grande protetora das mulheres agricultoras e de todas aquelas que gostam de por suas mãos em contato com a terra. É profundamente intuitiva e sensitiva,( como o são todas as mulheres/Demeter). O mito nos conta que ouviu os gemidos dolorosos que a árvore do seu carvalho mais amado e imponente emitiu, quando Erisicton abateu nele o seu machado para transforma-la em mobília; ouviu também de uma distância incalculável os gritos de sua filha Perséfone quando foi sequestrada pelo sombrio deus Hades.
     Sua energia materna era tanta que se estendia a todos que eventualmente encontrasse em seu caminho. Uma das versões do mito de Triptólemo nos conta :
    Na ocasião em que Demeter procurava desesperada por sua filha, tão lastimoso era o seu estado que ninguém mais a reconhecia . Havia se transformado numa velha senhora alquebrada.
    Foi assim que Celeus e sua filha a encontraram, chorando, sentada em uma pedra. Penalizados, a levaram à sua casa. Lá, Demeter foi recebida com muito carinho e lá conheceu Triptolemo, o filho único de Celeus, uma criança adoentada. Com seu grande pendor maternal, o estreitou em seu colo e com suas carícias e o caldo de papoulas misturado a leite que lhe preparou, a criança sarou-se.
   Demeter, após identificar-se, agradecida à família pela hospitalidade, prometeu fazer daquela criança um homem útil e famoso .
    Quando o acordo entre Zeus e Hades  aconteceu, lhe devolvendo periodicamente sua filha, tornando Demeter de novo feliz, ela novamente encontrou Triptólemo já então adolescente. Viu nele a coragem de sair mundo afora. Transmitiu-lhe então todos os ensinamentos relativos ao solo. Ensinou-lhe a arte de semear, debulhar o trigo, armazená-lo, moer os grãos e transforma-los no alimento principal do homem: o pão.
   Saiu então Triptólemo, percorrendo as províncias gregas, orgulhoso pela missão lhe confiada pela deusa. Tornou muitos homens nômades famintos em camponeses fartos. E, realmente ficou famoso quando descobriu para a deusa o arado.
    Demeter mostrou ainda sua grande generosidade materna quando o rapaz morreu. Deu a Triptólemo  um carro alado e fez dele  o semeador celeste. Anualmente, em tempos de semeadura, ele surge no céu e lá, de seu carro alado, despeja  uma chuva de sementes e grãos que fecundam o solo da terra.
    Importantes foram por séculos os festivos e iniciáticos “Mistérios de Elêusis” referentes à Demeter e sua filha Perséfone. As mulheres vinham a eles descalças para se comunicarem   diretamente com a mãe terra através de seus pés. A eles ocorriam peregrinos vindos de longe para a cidade de Eleuses buscando iniciações. Estes, após se prepararem cumprindo vários dias de jejum, abstinências e orações, chegavam cantando, levando cajados  entrelaçados com galhos de plantas cheirosas.
    Em Elêusis, iriam iniciar-se,  estudando os ”Mistérios Menores“ sobre os quais não poderiam depois falar, pois comprometiam-se com votos de silêncio. Em um cerimonial protagonizado  pelos iniciantes, Perséfone, sempre  ligada ao ritos de Demeter, era também homenageada.
    Os iniciandos teatralizavam a ida de Core ao Tártaro. Seus temores ante as aparições das almas dos mortos; depois seu casamento sagrado e sua posterior transformação em Perséfone, senhora e rainha dos mortos.  Tais ”Mistérios” teatralizados queriam levar aos participantes gregos esta lição: todas suas carências e dependências podiam ser renovadas ; todos os seus questionamentos podiam ser respondidos. A marca principal dos” Mistérios de Elêusis” era a ressurreição , o eterno ciclo renovado da natureza que Demeter  cuidava.
    A mulher/Demeter terá , tal como a deusa, forte sentido maternal. Naturalmente que lhe sendo este sentido tão espontâneo, ela possivelmente irá estendê-lo ao próprio companheiro. Caso encontre nele alguém com carências de afeto materno ,terá conseguido em seu relacionamento a troca perfeita.
    Seu maior desafio será quando seus filhos por  ânsias de conhecimentos e relações outras que o mundo externos ao lar  pode lhes dar, o deixam. Testando ali a experiência de suas ausências, a mulher/Demeter irá imagina-los sempre frágeis,pois- segundo pensará - não estarão contando com sua proteção. Se não levarem tal desafio à contendo, poderão  repetir o mito da deusa  que  por um longo período transformou-se em “Mater Dolorosa”.
    Se é certo que cada um destes atributos das deusas  em seus mitos vivem  intensamente no inconsciente de nós mulheres, influenciando nossas atitudes, será certo também que hoje, quando  lutamos por ter uma participação ativa em nosso mundo e por  conservar aquelas que já alcançamos, queiramos novamente atingir cada uma de nós a inteireza da antiga Deusa da era matriarcal.
    Contudo, querer reunir tal esfacelamento feito pelo poder patriarcal, é nos pedirmos algo de monta: Dar guarida  às variadas e as vezes até oponentes  vozes que, dentro de nós, tentariam se harmonizar .
    Seria discernirmos sobre a voz da bela AFRODITE exigindo nos entregarmos à primeira solicitação  instintiva e sensual .
    Seria sentir a oposição a isso , acontecendo em nós, quando a  rígida e fiel HERA nos  lembrar da obediência aos princípios morais da cultura em que estivermos inseridas.
    Seria ainda colocar nossos pensamentos além dos limites da família , tal como só ATENÁ sabia fazer, e nos voltarmos generosamente  para ver o que acontece às pessoas e nações externas a nós; escolhermos entre ser humildes ou vaidosas como Aracne, a aranha.
    Seria também ouvirmos ARTEMIS nos chamando a atenção para os nascituros ,para percebermos se o prazer  de um ato de amor gerará um ser relegado ao descuido e ao abandono.
    Seria olhar a natureza como fazia DEMETER, vendo nela algo sagrado, um prolongamento nosso que ,em sendo desrespeitado, causaria nosso próprio extermínio.
    Seria por fim ouvir a voz da meiga PERSÉFONE a nos atrair para o oculto, a levantar o véu dos mistérios mais profundos e espirituais da vida e da morte.

    Ambicionar ter novamente em cada uma de nós a plenitude, a união das variadas características destas seis deusas, como as tinha a única e grande Deusa matriarcal, é uma idealização que poderá nos parecer perfeita, mas  que pelo momento continua sendo apenas fantasiosa e hipotética.

sábado, 12 de setembro de 2015

Arquétipos e Símbolos

Muitas vezes lemos em livros esotéricos: “Evoluir é concretizar arquétipos”. Isto é: o homem evolui na medida em que consegue captar e desenvolver arquétipos. O termo arquétipo vem da composição grega Archais + tipos que significa o tipo, o modelo arcaico, primitivo, original.
   Para entendermos o que é um arquétipo temos que saber que a cada um de nossos corpos corresponde um plano, no qual a consciência daquele corpo vive. Então, contamos com este plano físico, com o astral, o mental e também aquele que corresponde ao nosso mental abstrato que é o intuitivo, chamado então de plano arquetípico. Com ele nossa consciência abstrata faz contato para nos trazer aquilo que chamamos de intuições e revelações.

A Roda do Dharma e suas oito sendas.

   Este plano arquétipo contém gravado em sua substância as matrizes, os modelos, as leis divinas, os princípios divinos também chamados pelos indianos de Dharma. São os arquétipos que vamos trazendo às manifestações neste plano em que vivemos, como uma maneira de evoluirmos o nossos habitat, a cada um de nós, as raças, os países, enfim a todos os grupos e a todo o conjunto da humanidade. Para cada uma dessas coisas, existe então um plano, um arquétipo estabelecido. Cada vez que entramos em contato com estas idéias arquetípicas, damos um passo em prol do nosso evoluir. Quando alcançamos o plano intuitivo através da nossa mente abstrata, que é a menos desenvolvida em nós, teremos tido um dos chamados momentos de revelações, momentos intuitivos. Para trazer à manifestação esses arquétipos, estes princípios divinos, usamos o recurso dos símbolos.
   O que são símbolos? São recursos para se chegar a arquétipos. Exemplifiquemos: Na formação das primeiras raças, os homens através de suas mentes abstratas, que eram muito pouco desenvolvidas, (mas com o auxílio de seres que os orientavam para que pudessem levar adiante as civilizações e também através de sonhos), recebiam rudimentos de idéias arquetípicas destes princípios divinos, destas matrizes. Trazia-as então à manifestação pelo recurso de símbolos. Suponhamos que um homem primitivo houvesse captado, num lampejo rápido, até através de um sonho, a existência das sete notas musicais que seriam as bases da música do seu mundo futuro, (que ele depois iria desenvolver) ele poderia então desenhar ou ter a ideia de moldar uma estátua de cerâmica de sete braços. Caso captasse o princípio da Trindade (vontade, sabedoria e amor), que ele também teria de desenvolver, ele poderia criar um objeto de três pontas. Suas criações teriam sido um representação simbólica de uma matriz do plano arquetípico que ele entrou em contato. Então, cada vez que ele olhasse estas representações, sua mente voltava a contatar o plano arquetípico, até que um dia, após estar mais evoluído, conseguindo contatar com mais freqüência sua mente abstrata, captaria o princípio divino totalmente. Assim, foi através de símbolos que desenvolvemos nossa mente abstrata para usar em nosso mundo as matrizes do plano arquetípico. Hoje sabemos que o princípio da Trindade, o número três, representa o equilíbrio. Porém, não conhecemos toda a potência deste arquétipo. Na medida em que evoluímos, as cabeças científicas vão percebendo que muito mais coisas materiais podem ser criadas, usando este princípio do equilíbrio. Intimamente, vamos nos tornando também cada vez mais equilibrados.



   Hoje sabemos que os princípios que captamos não só trazem a nós conhecimentos, como nos transmitem também tipos de energias, como é o caso do princípio dos sete sons, pois cada um deles, ao serem tocados, atuam em nosso corpo emocional. Outra coisa que observamos é que também a natureza, os animais manifestam arquétipos. O princípio divino da ressurreição, de que nada morre permanentemente, está refletido na mudança das estações. Podemos, nós homens, chegar à matrizes do plano arquetípico, apenas observando o comportamento da natureza.

Labirinto, um dos atalhos para chegar ao arquétipo.

   Voltemos à afirmação inicial que dizia “Evoluir é concretizar arquétipos.” Observemos como o homem primitivo se comportava: O Totemismo era o costume tribal que atribuía a sua ancestralidade a um animal. Isto é, a tribo teria se originado num animal, que era então o totem. Para evoluírem, usavam também o princípio do arquétipo. O totem seria o símbolo do princípio, da energia que a tribo necessitava desenvolver para sobreviver e crescer. Se a tribo vivia perto do mar,  provavelmente seu totem seria um animal marinho que lhes traria a energia para dominar o principal desafio da tribo: o mar. Se a tribo vivesse na montanha o seu totem poderia ser um cabrito montês com destreza suficiente para galgá-la. Em seus ritos comiam ou banhavam-se na carne e no sangue do totem para obterem a sua energia. Confirmamos assim a máxima esotérica que diz que assimilamos a energia dos arquétipos através dos símbolos. Também nós, homens modernos, fazemos de pessoas os nossos arquétipos. Para os islâmicos, Maomé é o seu modelo de comportamento que eles seguem para evoluir. Nós, cristãos, temos nosso modelo em Jesus. Inclusive, à semelhança do que faziam os tribais, nos é oferecido na eucaristia cristã o corpo e o sangue do Cristo, para obtermos as suas energias santas.  No simbolismo da última ceia, ao distribuir pão e vinho, Jesus teria dito: “Comei e bebei da minha carne e do meu sangue.”.
   Seguimos também ideias de líderes-modelos políticos e sociais para elaborarmos nossas doutrinas. Enfim, é sempre na busca de um arquétipo, de um modelo, que buscamos o recurso para evoluirmos.
   O arquétipo e a psicologia: O analista C. G. Jung via nas fábulas mitológicas que criamos, a manifestação popular e literária de arquétipos, dos sentimentos que precisamos desenvolver ou dominar. Por isso, foi um grande estudioso de mitos. Também dizia que os sonhos também escondem arquétipos que desejamos alcançar e que nos causam ansiedade.
   Profetas: Existem homens extremamente evoluídos que têm facilidade de entrar em contato com o plano arquetípico, devido a terem uma mente abstrata muito desenvolvida. Os profetas do Antigo testamento seriam alguns deles. Ao contatarem o plano intuitivo, desvendariam as matrizes dos acontecimentos que estavam por vir. Assim, previram a vinda do Messias. Assim também Jesus teria predito a queda de Jerusalém. Assim Nostradamus teria previsto as guerras modernas. Nas matrizes imprimidas na substância do plano arquetípico está a explicação para previsões que podemos fazer sobre o futuro.

Santa Ceia, consagração do simbolismo do pão e do vinho.

   Arquétipo individual e o livre arbítrio: As crenças esotéricas dizem que para o planeta, para a ciência, para as raças, para as nações, para tudo existe um arquétipo a ser realizado mas que para cada um de nós também existe um arquétipo individual em acordo ao nosso tipo de mônada, nosso tipo de individualidade.
   “A matriz individual de cada um de nós -dizem os arquivos ocultistas- é chamado de “átomo Crístico” ou Santo ser Crístico”.  É representado simbolicamente por um bebê miniatura, dourado, que dorme em nosso chacra cardíaco.
   A cada vez que entramos em contato , através da meditação, com este símbolo, conhecemos um pouco do nosso arquétipo individual, isto é: Do nosso papel na vida, e recebemos a energia da nossa individualidade monádica, da nossa mônada.
   O dia que cumprirmos o nosso papel, o plano designado para nós, este bebê crescerá e nos tornaremos o homem-Cristo tal como aconteceu com Jesus e outros mestres.
  Cumprir arquétipos não significa determinismo. O Arquétipo nunca se choca com o nosso livre arbítrio. Os arquétipos marcam para nós a linha geral de um acontecimento, de um plano, porém a forma como chegamos a cumprir este acontecimento ou este plano depende de nós, também o tempo que levamos para concretizá-lo depende de nós. Exemplificando: Nosso arquétipo nos estabelece um plano que diz que teremos como guia espiritual um mestre de determinada linha.  Um dia, chegaremos a ele, porém os atalhos que percorreremos, a forma como vamos fazer para chegarmos a ele, o tempo que isto nos demandará, depende de nós. Se por teu tipo de mônada, tens determinado papel a cumprir dentro da ciência, um dia obrigatoriamente o cumprirás. Porém, os livros que vais ler para tuas pesquisas, quais os trabalhos científicos que farás, o tempo que demorarás a cumprir tal plano dependerá de teu esforço, de teu livre arbítrio ao executá-lo. Isto também é válido em relação ao plano das nações. A forma como chegarão a cumpri-lo depende dos esforços da totalidade dos grupos nacionais.

   A Roda do Dharma budista: Dharma quer dizer plano divino, lei e arquétipos a serem cumpridos. É simbolizada por uma roda dividida em 8 partes. Elas representam 8 sendas, 8 caminhos. Em cada um deles cumpriríamos uma lei divina, que nos levaria num dia futuro a cumprir o arquétipo do Nirvana, que é o princípio da paz e da bem-aventurança. Cada vez que completamos uma das sendas, fazemos um giro na roda da nossa vida, impulsionamos o nosso Dharma, a nossa lei individual. Enfim, chegamos mais perto do nosso arquétipo, do nosso nirvana.

Oração aos Ancestrais

Em nome de Deus, em nome do nosso Eu, que hoje desperta para a sabedoria das leis, trazemos a vós, antepassados, agradecimentos por todos os fatores hereditários que transmitistes a nós.
  Agradecemos a vós, ancestrais tão longínquos a perderem-se nas infinitas eras atrás.
  A vós ancestrais desencarnados, enviamos esta mensagem:

  Se não achastes Deus no tumulto do mundo físico, buscai-O agora nas leis do plano em que hoje estais. Afastados do mundo físico, transcendei a ele, esqueçais receios e agitações. Não vos apressais a agir segundo moldes terrenos, buscai orientadores. Buscai-os com a pertinácia de quem deseja um facho de luz em noite escura. Eles vos conduzirão para cumprirdes vosso papel na manifestação de Deus, neste universo que nós e vós, antepassados, habitamos. Nós vos amamos!

   A vós, ancestrais que viveis ao nosso lado:

   Sirvamos juntos à nossa família, ao nosso país, aos nossos companheiros de evolução com a mesma humildade com que Jesus lavou os pés de seus discípulos. Façamos finalmente juntos a ação glorificada pelo amor impessoal. Gratos muito gratos vos somos por este reencontro!

  Graças vos damos mãe, avó, bisavó, por vosso ventre, pelo tabernáculo no qual abrigastes em embrião o nosso grupo familiar. (Aqui, façamos uma pausa no falar para pensarmos em suas figuras).
  Graças vos damos pai, avô bisavô pelo gene criativo que expressou-se através de vós. (Aqui, paremos a fala para pensarmos em suas figuras).
  Em nome do arquétipo divino que nosso Eu busca alcançar, agradecemos a todos vós, nossos inumeráveis e amados antepassados, por nosso corpo, por este templo que abriga o Espírito Eterno em nós e em vós.
  Por todas as experiências que vivemos juntos ,cumpra-se em nós a grande” Lei da Unicidade Universal”.
 Neste momento, com gratidão, emprestamos luz de nossa própria consciência crística para ajuda-los. Nós vos amamos!

segunda-feira, 17 de agosto de 2015

O Retrato

À Minha Filha Vânia (Lembranças)


Ela queria ir ao baile. Ao primeiro baile. Mil vezes desfilou uma vivacidade de quinze anos de lá para cá, frente ao espelho...  Rodopiou, cantarolou sons que iam desde os mais românticos vienenses, até os mais frenéticos e atuais.
   Rodopiou enrolada em lençóis brancos que refletidos no espelho logo se transformavam para ela em esvoaçantes vestidos. Antecipou minuto a minuto a noite que queria. A noite esperada veio e passou. Agora, dela possui lembrança que buscará muitas vezes repisar. Vânia faz culto à alegria. Na falta de algum presente se servirá até das já vividas. Ela é assim mesmo. É tudo isso: vibração, riso, vida querendo expandir-se.
    Para nós que a tudo assistimos, há agora o retrato lá sobre a estante de livros. Retrato que a mim alegra, entristece e deixa confundida.
    Nele, o tema nada contém de novo. É nada singular . É apenas o de uma adolescente sorrindo infindavelmente em seu vestido puro e alvo. Mas há o olhar e além disso o seu nariz minúsculo e petulante. Neles há algo que me prende e fascina.


    Chavão tão velho é escrever sobre retratos que falam. Não vou fugir a ele. Por que ser original se é justamente o que acontece? Cada vez que passo pela estante , nele está Vânia me chamando, dizendo e afirmando: “Viver intensamente! Movimentar-me consonante ao mundo que não para! Amor, alegria! É tudo o que eu quero. Para mim é neste instante que o mundo nasce, tem início!” Não resisto e sento-me frente ao retrato para melhor escutá-la. Mas logo tanto entusiasmo leva-me, num paradoxo, a ficar triste.
    Lembro-me precisamente pelo contraste que encerra, de outro olhar que há dias vi...
    Era um recorte de revista. Ali, uma cena de guerra, tão longínqua quanto brutal, servia bem ao sensacionalismo ou ao realismo , como queiram, do jornalista. Havia nele fotografado um menino paquistanês. Tão velho em idade quanto Vânia, 14 ou 15 anos, nada mais. Fazia parte de um grupo de fugitivos, repatriados de sua cidade nativa em escombros, para fazer lar agora entre repugnantes canos de esgotos...
    O olhar impressionava como o dela , embora absolutamente inverso. Nada dizia, nada contava. Olhar inexpressivo como se conduzido apenas pelo instinto de seguir o grupo. Como se houvesse feito justamente o contrário de Vânia. Ao invés de fazer o mundo renascer para si, já o tivesse enterrado, sem chance de sobrevivência, sem nem cogitar mais numa forma de vivê-lo. Olhar vazio de futuro. Incapaz de interrogar á tanta adversidade: Por quê?
    Olhar de menino sem revolta, pois o único viver que conhece é esse mesmo: uma sucessão de desditas que inexoravelmente vão se acumulando. Não imagina possa existir em outro lado dos continentes , juventude plena de vigor, esperanças e planos.
    Muitas vezes quando passo frente à estante, lá está teimoso, lado a lado com a radiosa figura de Vânia, o trágico adolescente paquistanês...
    Fico acabrunhada. Procuro então serenar-me. Tento fazer como aquela geração passada que, por falta de comunicações rápidas como as de agora, pouco sabia do que se passava longe, fosse China, Índia ou Paquistão. Quero ignorar. Restringir minha felicidade às paredes do lar, numa indiferença omissa.


   “O rapaz está tão longe-digo de mim para mim- e a garota que é minha está tão feliz” Não é possível aquietar-me. Não consigo por o limite de minha alegria em meus filhos, meus amigos, meu próprio país. Sou exigente. Quero nada menos do que a estabilidade da humanidade inteira.
    Confusa, aturdida, resolvo apelar para a esperança ainda intocada de Vânia que lá do retrato continua falando-me. Nariz petulante , posto para o alto como a desafiar-me afirma: Para mim toda a história passada já era... E seus olhos decididos vão repetindo: Já era... Já era...
     Nessa afirmação que ela e os jovens “salvos do incêndio” que se propaga ao mundo encontraram, parece estar a promessa de algo melhor e positivo.
     Lutas que colocarão depois Vânia face à face com ganâncias, negatividades, que sua atual ingenuidade nem pode ainda calcular, com certeza a esperam. Mas tenho uma intuição : Seja o que for que venha a enfrentar, a vitória já é dela.
    Nem em livros elaborados por filósofos e eruditos, onde tanto busco e procuro, achei mais esperança que neste seu retrato. Menina entusiasta e feliz, com muitos sonhos e propósitos, dançando sob olhar protetor de pais e irmãos... Menina segura de si, em condições de prometer-me muito. Prometer vencer o mundo. Pega-lo entre as mãos, tal como se fosse terra gasta e ressequida. Cultiva-lo amorosamente, semeando nele sua beleza e alegria. E, um dia ir dá-lo ao menino paquistanês finalmente desabrochado em flores, muitas flores de paz. 

Família

     Seres individuais que somos, podemos, contudo, ser agraciados tendo uma família biológica e outra que por não saber como defini-la vou chamar de “espiritual”.
     A família biológica desenvolve e troca afetos pela convivência amiúde. Com ela, experienciamos nossos mais importantes momentos de alegria e de tristeza. Compartilhamos nossas vitorias e nossos fracassos.
   A família biológica é rica em personalidades distintas. Seus membros em geral são de temperamentos diversificados.
  Nela, encontram-se elementos naturalmente afins, cujo entendimento se dá com facilidade, onde admirações mútuas acontecem. Porém, encontram-se nesta família também aqueles que parecem estar inseridos juntos num mesmo grupo, com a finalidade única, última, de, por um esforço mútuo, atingirem um princípio maior, misterioso, talvez sublime de unicidade entre seres. O relacionamento entre eles é um exercício de ajustamento contínuo para que a convivência harmoniosa se preserve.
    Porém, dentro da família biológica, aconteçam que divergências possam acontecer o próprio dividir vivências conjuntas, as lembranças das grandes datas familiares compartilhadas sempre gerarão um amor que falará mais alto no caso da família, como um todo, ser sacudida por alguma adversidade.



     Creio que o nascimento de crianças, suas presenças dentro da família biológica, terá sempre um grande peso aglutinador, pois a criança sempre é nela o objeto de afeto de cada um do grupo e torna-se mesmo quase como um objeto de culto agregador. Além disso, a criança sempre exige exemplos. Então, por ela, nos tornamos melhores.
     Estarmos inseridos no seio de uma família numerosa é uma das mais generosas dádivas que recebemos da vida.
     A família que chamo “espiritual” é um agrupamento cujos membros se atraem por interesses comuns. Sejam eles interesses religiosos, místicos, científicos, artísticos, filantrópicos. Existe já entre seus membros uma afinidade natural e supreendentemente pronta, estabelecida. Ela torna seus encontros muito prazerosos. O diálogo que flui fácil é uma constante neste tipo de grupo, pois sempre existe um tema comum para debate. Tal afinidade os faz reunirem-se assiduamente e serem solícitos para a necessidade de cada um.
     Como a família “espiritual” satisfaz nossas preferências individuais, nos tranquilizando, geralmente nos deixa mais aptos a um relacionamento harmônico com a família biológica, se qualquer dificuldade advinda das dificuldades do cotidiano e da diversidade de temperamentos entre o membro desta, se apresentarem.
     O melhor que nos pode acontecer é possuirmos ambas as famílias. Nossa individualidade estará assim sempre completamente assistida. Existem, porém pessoas cujo infortúnio é não possuir qualquer família. Penso que tal solitude deverá ser avassaladora para as emoções de alguém.
     As características que marcam cada um destes dois grupos a que podemos pertencer contribuem para a plena integridade do nosso ser. Assim, contar com ambos é então a felicidade maior que podemos obter.

sábado, 4 de julho de 2015

O Islã

Uma peregrinação à Caaba

  O início do islã trata da vida de um rapaz de 23 anos, Maomé, empregado em levar caravanas pelos desertos da Arábia até a Judeia, onde ele durante anos contata ideias do Judaísmo e do Cristianismo do Séc. VI DC. ( juízo final ,paraíso etc.)  Possui um temperamento místico e um dia já aos 40 anos recebe a visão de um anjo (Gabriel) que lhe diz que ele será o último dos profetas, que selará o trabalho dos líderes do Judaísmo e do Cristianismo, Moisés e Jesus. “Inicia então encontros com o anjo que lhe vai passando durante anos, ensinamentos, ditando o que será depois o livro sagrado do Islamismo que significa "Obediência”): O Corão Recitação) Este, segundo seus seguidores, selará a Torá e os Evangelhos.
    Daquelas noites muito claras e enluaradas do deserto, ele escolhe a bandeira que terá o novo credo: O emblema da lua crescente. Decreta também um dia santa na semana, que será a sexta feira, para distinguir do Sabah judaico e do domingo cristão.
    Maomé quer então implantar tais conhecimentos na cidade onde nasceu: Meca (na atual Arábia Saudita), mas encontra uma reação muito forte e é perseguido.
    Isto porque a cidade era politeísta e nela estava a “Pedra da Caaba”, monumento sagrado dos árabes antigos, anteriores ao Islã. Lá havia também um poço de abastecimento, onde as caravanas oriundas de toda a Arábia se abasteciam, cultuavam os deuses e faziam compras, dando imenso lucro à cidade. Uma crença monoteísta no Deus único Alá, como Maomé queria, viria em prejuízo do comércio local.

O crescente, símbolo do islã.

    Ele então foge junto a seguidores para a cidade próxima de Medina, e lá se torna um incomparável administrador e chefe religioso, implantando o Islã, o Corão (144 suratas).
    Estava-se em 622 D.C e dali é iniciado o ano 1 do calendário islâmico, que terá então a diferença de 622 anos a menos que o calendário cristão. Por fim, Maomé consegue a façanha de unir as tribos árabes espalhadas, criando uma nação voltada ao culto de Alá (O Clemente, Misericordioso).
    20 anos após sua morte, num trabalho surpreendente, como jamais acontecera em qualquer outra religião, o Islamismo está difundido por todo o Mediterrâneo, Ásia e África.
    Não sendo necessário se ter clero nem igreja, bastando ao crente ajoelhar-se voltado à Meca para orar e louvar a Deus, tal credo era bastante prático para os nômades do deserto e de qualquer lugarejo. Isto contribuiu para uma difusão tão rápida; também contribuíram os impostos cobrados pelos dois maiores impérios da época: o Persa e o Bizantino, enquanto que os islâmicos não os cobravam. Também a promessa de um paraíso aos guerreiros mortos e o objetivo único de propagação religiosa e não espoliação territorial.
    Como Maomé foi tanto um estadista como chefe religioso, assim se conservou a tradição de religião e Estado unidos, em todos os califados que viriam depois. Compreende-se porque até hoje os islâmicos não conseguem separa-los. Suas terras sempre foram uma Teocracia. Todas as leis políticas, sociais são ditadas pelo Corão. Esta é a grande diferença entre nós cristãos e os islâmicos. Nós separamos o Profano do Religioso. Para eles, as suas atitudes cotidianas são dirigidas pela religião, por seu livro sagrado. Enfim, vivem muito mais a religião do que nós.
    O único país islâmico que não é uma Teocracia, separando Estado e Religião é a Turquia, isto após a revolução republicana de Ataturk em 1920.
    Quando Maomé morreu, tiveram início as desavenças por sua sucessão. Desavenças que irão dividir o Islã em duas partes bem distintas que lutam entre si até hoje. Divisão que será a causa da maioria das lutas internas que se espalham por todo o Oriente Médio.
    Abriu-se a facção Xiita que aceitava e ainda aceita apenas os descendentes de Maomé como seus sucessores e representantes do verdadeiro islã. Também a facção Sunita que não os aceita e sim os que descendem dos chefes políticos, amigos do Profeta. Hoje, os Sunitas são maioria em todas as terras do islã com exceção do Iraque e Irã, países de maioria Xiita.
    Vou aqui priorizar entre as inúmeras lutas entre estas duas facções, pela grande importância que tiveram, apenas estas duas: A da Idade Média , o chamado “Massacre de Karbala”, onde os Sunitas massacraram quase toda a família de Hussein, um neto do Profeta, onde sobrou apenas uma criança ,escondida numa tenda, criança que veio dar continuidade ao Xiismo. Esse massacre resultou num dia consagrado , que é ainda até hoje lembrado pelos Xiitas, com teatralizações sobre o martírio de Hussein, jejuns e procissões, tal como nós cristãos comemoramos a Pascoa e teatralizamos o sofrimento de Jesus.
    Os Xiitas sempre foram mais emocionais e mais dramáticos do que os Sunitas. São messiânicos (esperam um Messias). Creem no Filho de Deus ; nestes aspectos se assemelhando ao Cristianismo.

Alcorão, o livro sagrado do islã.


   A outra grande luta foi na Idade Média, que durou 8 anos, de 1980 a 1988, entre Saddam Hussein (Sunita) e Khomeini (Xiita).
    Além das 5 obrigações estabelecidas pelo Corão ,obedientemente seguidas por todo islâmico, o Islã obedece também a Jihad ,que é um preceito dado não pelo Corão , mas por juízes e teólogos islâmicos. Jihad significa : “Esforço e Sacrifício no Caminho de Deus” que presume uma luta interna de cada homem consigo mesmo. Significa também “Guerra Santa” ou Jihad militar, justificada quando há invasão de território. Como foi na Antiguidade na libertação da cidade de Jerusalém , invadida pelos Cruzados ,feita por Saladino. O terrorismo surgiu da má interpretação dada a Jihad.
    Há entre os islâmicos igualdade , não existe distinção entre pobre e rico, entre classes sociais. O que distingue um homem do outro e ser um Fiel , isto é, um seguidor perfeito de Maomé ,ou ser um Infiel. A questão é que os Sunitas acham que os Xiitas não interpretam direito o Corão ,então não são Fieis e os xiitas pensam da mesma forma sobre os Sunitas. A causa das hostilidades porém, é sempre a sucessão .Quem deveria suceder Maomé? Parentes ou amigos?
    A sociedade antiga islâmica era escravista como foram todas as sociedades antigas, entre elas cristãs e judaicas. Raramente seus escravos eram islâmicos seguidores de Alá e esta seria a razão da escravatura das Américas terem recebido muito raramente escravos islâmicos mesmo os saídos dos países islamizados. A escravatura foi abolida entre eles no Séc. XIX e nos Estados independentes do Imperialismo no Séc. XX.
    Para mais complicar as lutas internas entre os próprios islâmicos do Oriente Médio, temos entre duas facções Xiitas os chamados “Filhos de Musa” e os chamados “Filhos de Ismael”. Os Filhos de Musa creem que em sua descendência estão 12 “Imans” (iluminados) . Como o próprio Musa desapareceu de modo misterioso (saiu a cavalo, e o cavalo voltou só e ele nunca mais foi visto) então seus filhos acham que um dia ele voltará como o duodécimo Iman , um messias que espalhará o Islã em todo o mundo (o ideal último de todo islâmico)
    Entre os Ismaelitas (também Xiitas) estão os Drusos , uma comunidade religiosa pouco conhecida que está na Síria , na Jordânia e em sua maioria no Líbano. Provavelmente existem desde o Séc. X. O sistema teológico é reservado, e eles não se envolvem em lutas. Têm como mestre principal Tariq Al Harkins que para eles é a encarnação do filho dileto de Deus, um descendente da linha Xiita , da filha de Maomé, Fátima.
    Só pode ser Druso os descendentes de um Druso. São muito místicos ,esotéricos, acreditam na Reencarnação. São também fechados , porém acredita-se que sejam um dos grupos mais puros e bem intencionados do Islã.
    Outro ramo dos Ismaelitas (hoje quase em extinção) são os Nazaritas chamados de “Assassinos” Este nome lhes vem de uma droga que usavam o “Hashishium”. Eram justiceiros , Seu chefe era conhecido como “O velho da montanha” .Um personagem misterioso que aliciava jovens , levando-os a um local paradisíaco , criado por ele numa montanha onde experimentavam e tinham uma antevisão de um futuro paraíso, que eles obteriam caso se dispusessem a serem justiceiros, matando a golpe de adaga todas as autoridades consideradas importunas e tiranas.

A dança mística dos dervixes.

    Conseguiram levar o terror a todo o Oriente Médio nos séculos XII e XIII. As lutas entre estas duas facções Xiitas (Filhos de Musa e Filhos de Ismael) foi o que enfraqueceu O Xiismo, tornando os Sunitas maioria.
    Os Sunitas fundaram a belíssima cidade de Bagdá (Séc. VIII) (hoje quase toda destruída por guerras) e nela introduziram as famosas Madrasas (Escolas de Teologia e saber) . Fundaram lá também a “Casa da Sabedoria”. Desta, foram para a Espanha, para a região da Andaluzia, levando toda a beleza da arte arquitetônica que hoje vemos nela , a filosofia dos gregos antigos, a matemática de Pitágoras, a geometria de Euclides, instrumentos novos de navegação e Astronomia. Enfim, toda a sabedoria que os mouros introduziram na Andaluzia fez a riqueza de Córdoba, Sevilha, Granada, Toledo.
    Em Jerusalém estão os primeiros monumentos islâmicos: O Domo da Rocha (Mesquita de Omar) que situado no monte do Templo é também um local sagrado para os Judeus pois foi ali que aconteceu o episódio bíblico do “sacrifício de Isaac”. Também ali está a magnífica mesquita Aqsa.
    Tentemos agora entender o grande ódio que o Oriente Médio tem ao Ocidente. Isso vem de longe. Na Idade Média lá tivemos os horrores das Cruzadas com os cristãos fazendo massacres inimagináveis às populações judias e islâmicas. Isto porém é passado .Modernamente tivemos o imperialismo russo e britânico em posse do Irã .Só ao final do Séc. XIX a Grã-Bretanha e a Rússia reconheceram a independência do Irã. Nas Filipinas (local islâmico) os E.U. Fincaram pé. O presidente americano justificava a posse da Filipina islâmica dizendo que estavam ali para desenvolvê-la, civiliza-la e educa-la. Quando lá, guerrilhas internas começaram contra os E.U., o general MacArthur achou que as guerrilhas eram contra as leis de guerra e que prisioneiros não mereciam então quaisquer benefícios de guerra .Ordenou: Matem todos os prisioneiros maiores de 10 anos .Isto é, enfim todos. Tal episódio foi apenas há um século (1913). Diz nosso grande historiador Voltaire Shilling, em tom de ironia: “E os americanos dizem não saber por que são odiados pelos Muçulmanos!” (Ocidente X Oriente, pág. 115).
   O Islã conta com grupos fundamentalistas que se acham responsáveis pela pureza dos costumes islâmicos. São eles: o Taliban (Iraque), Irmandade Muçulmana (Egito), Hezbollah (Líbano) Hamas (Cisjordânia), República Islâmica (Irã). Suas atividades criminosas são em geral contra os costumes dos próprios Fieis dentro do Oriente Médio.
    Quando falamos em fundamentalismo, lembremos que temos entre nós também fundamentalistas de grupos cristãos , contudo, não tão radicais e nem sendo criminosos. Temos Batistas, Prebisterianos, Evangélicos, Adventistas que são contra costumes modernos como divórcio, aborto, células tronco etc. e são anti- Darwinistas, não aceitando a teoria evolucionista de Darwin.


Templo de Baha'i Flor de Lótus em Nova Delhi.

    Falemos um pouco sobre o atual “Grupo Estado Islâmico”. Saddan Hussein era um dirigente Sunita do Iraque, que agia segundo o fundamentalismo do Taliban. Foi deposto por uma invasão de países ocidentais aliados, liderados pelos E.U. em 2003 . Foi enforcado em 2006, sendo substituído por um governo Xiita ,sendo o Xiismo maioria no Iraque. Então a reação sunita contra Xiitas não se fez esperar. Em 2004 foi criado o ”Grupo Estado Islâmico” para vinga-lo. Naturalmente seus alvos são todos os Xiitas (que segundo eles são Infiéis que devem ser todos mortos) e também principalmente os cidadãos americanos e os de costumes ocidentais em geral. São chamados também de Jihadistas, isto é, da Jihad militar que tem a obrigação de lutar contra invasores. Visam pôr toda a Síria sob o controle do “Grupo Estado Islâmico”. Para isto, precisam derrubar o atual governo . Então, se uniram aos rebeldes que vêm há anos querendo derrubar o ditador presidente Bashar Al Assad. Contam com grandes recursos do petróleo. Na Nigéria o cruel ditador Bah Haram se juntou a eles. Pretendem depois tomar a Jordânia e a Arábia Saudita. O líder do Grupo Estado Islâmico é Abu-Bahr-Albagdade chamado fanaticamente de “o califa de todos os muçulmanos” Tem agentes em todo o ocidente aliciando jovens para sua causa.
   Todavia, com todo o terrorismo e horror que estamos assistimos vindo do Islã, acredito ainda na parte mística , boa do Islamismo. Quando pensamos nas atrocidades do nazismo que durou os anos da guerra (7 anos) mas que por fim terminou não podemos perder a esperança. Confio num movimento religioso , o Islã ,que conta entre seus membros grupos tão puros como os Sufis e os Bah’ais. O movimento Bah’ai foi fundado no Séc. IX pelo persa (iraniano) Bah’a Ullah. Propõe a união de todas as religiões .É universalista; profundamente devocional. Propõe também a igualdade entre homens e mulheres. È perseguido contudo dentro do próprio Irã e protegido pela ONU, tem seus membros encaminhados a outros países (Aqui no Brasil estão em grande número) São liberais e abertos a todos.
    Os Sufis provieram da facção Xiita, Fatimida . Creem que foi Fátima, filha do Profeta, que obteve as primeiras noções sufistas. Foram muito perseguidos porque o Islamismo ortodoxo só admite que se adore a Deus. Vê o interagir ,a experiência mística, pessoal homem-divindade como uma heresia feita pelos sufistas ,uma pretensão absurda.
    Do Afeganistão (antigamente Pérsia) nos veio o grande mestre do Sufismo Mevlana Rumi que o propagou na Ásia Menor (hoje Turquia) onde é ali até hoje desde o sec. XIII idolatrado, principalmente na cidade de Kônia , sede maior de sua pregação. É o inspirador dos Dervixes girantes (Ao rodopiarem chegam ao transe , por estarem em comunhão com Alah). É também um dos maiores poetas do Islã. Sua grande obra é Mathnavi (seis livros), considerada uma das obras primas da literatura persa. Seus ensinamentos vieram sempre através da arte poética, devocional (Busca Deus em toda parte ,mas o encontra em seu coração, segundo seus versos.)
    A característica marcante dos dervixes girantes é a evolução espiritual obtida sempre com o auxílio de um mestre. Segundo Rumi, o homem como parte da unicidade entre seres , jamais poderia evoluir sem o concurso de alguém, como ele próprio obteve, pela convivência com seu grande mestre Shamis Ad Din.
Vejo os Sufis e os Bah’ais como a grande perspectiva de um Islamismo puro e sagrado.