sábado, 11 de junho de 2016

Interpretação Esotérica do Mito de Orfeu


Orfeu acalma Cérbero com sua Lira.
Orfeu era filho de Apolo e herdou do pai o dom da arte, da música.  Assim, tornou-se o maior tocador de lira e cantor da Antiguidade.
     Orfeu é no mito o próprio homem, descendente do divino e que traz em si o dom da arte. Ele era apaixonado por Eurídice, e estava sempre a procura-la porque seu maior desejo era possui-la e jamais se separar dela. Eurídice representa a própria luz interna do homem, a sua alma. O amor verdadeiro a se realizar.
    Entre as suas atividades mundanas ele sempre a busca porque não quer se separar do seu interior, de sua própria alma. Porém, Orfeu traz em si algo negativo que sempre o faz perdê-la. Não sabe que algo negativo é este. Por que –pensa ele- toda vez que está quase a possui-la a perde? Chegou a marcar um casamento com ela, mas no dia do casamento Eurídice foi passear num bosque e foi mordida por uma serpente e morreu. A serpente é o símbolo do mal, no caso o mal que Orfeu não conseguia vencer.
     Morta, Eurídice vai para o mundo de Plutão. Para o espiritualista, o reino de Plutão representa o âmago mais profundo do nosso ser, no mito o âmago do próprio Orfeu. É lá que Eurídice vai se refugiar, sempre na esperança de que ele saia a busca-la.
     Orfeu começa então uma desesperada procura para ir ao seu encontro. Passa por atalhos sombrios, e depois pagos um preço muito alto para o barqueiro Caronte, condutor de um barco que vai por águas revoltas de um rio, até reino de Plutão (o âmago de Orfeu).
     Esses esforços de Orfeu representam aqueles que fazemos para encontrar nossa luz interna, a nossa Eurídice.  Os atalhos são aqueles nos quais nos desviamos antes de encontra-la. As águas revoltas do rio são as ansiedades que colocamos em cima de algo que desejamos, e que nos dificulta consegui-las.
Hades permite a saída de Eurídice do reino dos mortos.

Chegando ao reino de Plutão, Orfeu encontra o cão Cérbero.  O cão tem três cabeças. As três cabeças simbolizando os nossos três corpos inferiores, nossos instintos, emoções e pensamentos. Orfeu precisa vencer estas três cabeças, para entrar na posse de Eurídice, o amor. Porém, ele possuía um recurso, a sua arte.
      Já tinha desenvolvido este dom e sempre que cantava levava alegria às pessoas. Ele irá ajuda-lo.  Frente a Cérbero, pega a sua lira e passa a cantar. O cão foi se acalmando, acalmando, até adormecer. Aqui o mito nos fala no valor da arte para os corpos inferiores do homem.
     Finalmente Orfeu encontra Eurídice. O deus Plutão, contudo, lhe impõe uma condição para leva-la para sempre.  Propôs-lhe: Passariam o rio, ele indo num barco à frente e ela num noutro barco seguindo-o. Ele não deveria olhar para traz, se isso acontecesse ele a perderia de novo.  Assim fizeram. Porem, quando estavam à meio do percurso de volta a terra dos vivos ,a ansiedade, a descrença tomou conta de Orfeu. Pensava: Será que o deus Plutão está mesmo me entregando Eurídice? Será que é possível eu possuir a minha alma, o amor? Posso realmente confiar nos deuses?
   Ficou tão ansioso que não se conteve. Olhou par traz. Quando virou-se, Eurídice, que já estava se materializando num corpo denso, começou a desintegrar-se e foi pouco a pouco desaparecendo. Orfeu de novo a perdeu.
Caronte conduz Eurídice pelo rio Estige (rio das almas).

     O que o mito nos diz? Qual era o grande erro de Orfeu que sempre o fazia perder sua alma? Era a falta de Fé. O mito então nos afirma que jamais contataremos nosso âmago mais íntimo a nossa própria alma, se não tivermos Fé, se não acreditarmos nas coisas divinas representadas pelos deuses.
    Desde este dia, o canto de Orfeu se tornou triste, até que Eurídice lhe apareceu num sonho e lhe disse que ela continuava no reino de Plutão, mas que desejava se mostrar a ele num cone de luz. Mas, isso só se daria se ele se dedicasse a mostrar a luz divina à Grécia.  É então quando Orfeu vai tornar-se um grande iniciador, vai criar a primeira grande Escola de Iniciação Espiritual, o Orfismo. Recebeu nela o nome de Orfeu, que significa “O que cura pela luz”. Ele restaura na Grécia o templo de Apolo, o senhor do sol, da luz, da arte.
     Com o seu canto, Orfeu apaixonou mulheres na Trácia, mulheres muito sensuais, mas ele que vencera já os seus instintos e continuava apaixonado apenas por Eurídice, o verdadeiro amor, as recusou. Raivosas, elas então o mataram esquartejando-o. Atiraram o seu corpo num rio.
      Logo depois, contudo, a região se viu assolada por uma grande peste. Consultado o oráculo, este disse que ela só seria extinta se procurassem a cabeça de Orfeu, que era a sede de seus pensamentos tão espirituais e lhe dessem um sepultamento digno, com honras.
   Quando a encontraram, num milagre, ela permanecia intacta e cantava: Eurídice! Eurídice!  Nossa alma, Eurídice, pelo trabalho realizado por Orfeu, contata sempre com ele dentro de um cone de luz, como lhe prometera.
  Na Grécia antiga era dito que nas festas do equinócio da primavera , nos santuários das escolas de Orfismo, as liras do templo tocavam sozinhas. O mito de Orfeu e Eurídice inspirou, na Idade Média, o romance de Dante e Beatriz.