sexta-feira, 18 de março de 2016

O Desenvolvimento da Crença em Deus - Parte I


Uma síntese baseada no livro

“Deus” de Frederic Lenoir

O Xamanismo
  
O desenvolvimento do homem e sua crença em Deus acompanhou o desenvolvimento do planeta. Vamos ver como estava o planeta há 100 mil anos. O planeta vivia grandes cataclismos. Era a época em que a sua superfície era assolada por terremotos, incêndios, maremotos, erosões. Então, o homem era obrigado a mudar constantemente seu local de moradia. Era nômade. Vivia da caça, pois plantar nem era possível.

Xamãs com seus tambores.

   Sua religião era apenas um deslumbramento e um temor diante daquelas forças naturais agressivas. Porém, as tribos contavam com indivíduos encarregados de interceder para obterem favores destas forças que eles achavam vir de um mundo invisível a eles: Os Xamãs. Estes conseguiam benefícios através de transes induzidos pelo auxílio de beberagens e principalmente pelo batimento ritmado de tambores.
   Havia já, sim, um início de religiosidade, porque os registros arqueológicos mostram sepulturas com cadáveres portando armas que deveriam proporcionar ao morto caçadas no além, entendidos como uma crença numa sobrevivência pós-morte.  Acreditavam, então, nesta sobrevida e também num mundo invisível.
   Era já a sua religião o que compreendemos por espiritualidade? Certamente, não. Se entendermos a espiritualidade como uma busca pessoal e íntima por respostas ao mistério do existir, indagações existenciais e intelectuais como: De onde vim? Que sentido tem o meu existir? Era apenas um respeito temeroso pela natureza a que davam a conotação de um sagrado mistério.
  
O Totemismo

Totem de um pássaro.
Vivendo da caça, os homens primitivos sentiam que dos animais lhes vinha a sua energia de sobrevivência. Geralmente escolhiam um animal que representasse a força que mais necessitavam para sobreviver, fosse uma agilidade para subir montanhas, uma de correr rapidamente por planícies, talvez uma presteza para subir em árvores. Ele tornava-se o seu Deus, o seu totem adorado. Em cultos, matavam um animal da mesma espécie, bebiam o seu sangue e sua carne era também distribuída na tribo. Acreditavam que assim estariam assimilando as forças de seu Deus/Totem.

A Grande Mãe – Matriarcado

  Mais tarde, chega-se a época em que o planeta lhes dá melhores condições, está mais aquecido e seu solo mais acalmado. O sedentarismo substitui o nomadismo. O plantio é acrescentado à caça. A mulher passa a ter um grande papel nas clãs, pois enquanto o homem sai para caçar, a mulher encarrega-se do plantio. Aparece então um fervoroso culto à uma deusa: a Mãe-Terra, a Grande Mãe. É do solo que agora lhes vem também a sobrevivência. A figura da mulher na realidade já era valorizada, pois havia um desconhecimento de que os nascimentos eram originados no ato sexual, atribuindo-se apenas à mulher o poder de dar nascimento. Havia então já um culto à fertilidade feminina. Vivia-se um Matriarcado.
Deusa da fertilidade
de Creta.
    Começam a surgir grandes sacerdotisas e feiticeiras substituindo os antigos Xamãs. Entre os antigos que cultuavam as deusas–mãe vamos encontrar os povos que habitavam a Gália (França) e que se intitulavam os Tuatha de Danan (Povo da deusa Ana).
   O Patriarcado irá sim, substituir depois o Matriarcado. Porém, teremos uma transição a este no Egito, onde veremos um grande culto à Isis equilibrado ao de Ozires. Ela é a margem do Nilo que lhe dá alimentos, Ozires é o próprio rio que a fertiliza Isis. Lá, teremos faraós homens e mulheres e grandes rainhas lembradas como Hatchepsut, Nefertiti e Cleópatra. A governança se equilibra no Egito.
  
Patriarcado e Politeísmo

Zeus, Poseidon e Hades.
Quando as tribos descobriram a participação do homem no nascimento, o homem retoma com vigor o seu poder Ele, afinal, é o grande macho criador. A sociedade muda com o aparecimento de sacerdotes que organizam a religião.  Dos antigos transes dos homens Xamãs , passa-se a cultos com leis religiosas estabelecidas a serem cumpridas . Do Matriarcado passa-se ao Patriarcado. Surge o Politeísmo com cada tribo adorando seus próprios deuses. Na Grécia, a crença em deuses segue firme em meio à épocas civilizatórias adiantadas. Porém, mesmo contando com muitas deusas, o mundo - segundo sua mitologia - continua regido por três deuses: A Zeus cabe o céu, a Hades o subsolo da terra, e a Netuno a imensidão dos mares.

Monoteísmo

   A primeira ideia de um Deus único nos vem do Egito, com o faraó Akenathon (1.300 AC) com seu Deus Athon. Mas, o Egito volta ao Politeísmo após a sua morte, cultuando três deuses: Osires, Isis e Horus e ligado ainda a Fitolatria e Zoolatria. Na Fitolatria, cultuando-se muito o Lotus, (símbolo dos quatro elemento da natureza), e o Papiro a grande garantia comercial externa do Egito. Na Zoolatria, principalmente o culto ao gato.
Faraó Akenathon.
   Temos depois os Judeus adorando seu Deus único Jeová (ou Javé), Deus que estabelece leis comportamentais muito rigorosas e especialmente em relação à obediência da mulher ao homem, num sistema bastante patriarcal que o Cristianismo, apesar das ideias do próprio Cristo, também levará adiante.
  Paralelamente, na antiga Persa (hoje Irã) também o Zoroastrismo cultua um Deus único Ahura Mazda, religião que desaparece com o tempo.
    Quando, em nossa idade moderna, aqui chegaram da África os escravos negros, estes nos puseram à par da crença que vinham levando por séculos em seu Deus único Olurum. Olurum é um Deus bastante misericordioso, pois - segundo creem- do alto céu manda à terra os seus mensageiros, os Orixás, apenas para auxiliar os homens.
 
 A Índia Bramânica

   O Bramanismo volta-se para o homem, com a sua ideia de Reencarnação. Esta resultou, porém, num determinismo que estabeleceu o sistema cruel de castas que persiste na Índia até hoje. Quanto à visão de Deus, é profunda e voltada ao Cosmos. Deus cria, mantem e destrói contínua e ciclicamente o universo e todos os seres dentro dele. Uma visão absolutamente fora ,adiantada para um contexto de 4.000 atrás. Brama, Vishinu e Shiva ilustram estas energias de criação, manutenção e destruição. Temos nos Vedas bramânicos a mais bela epopeia religiosa.
   O Bramanismo apesar de seus erros, foi a grande abertura para chegarmos à visão de um Deus tal como a que temos hoje.

Deus no Judaísmo

A Bíblia é a palavra de Deus para o Judaísmo. Moisés teria recebido por doação divina “Os Dez Mandamentos”. Também teria escrito o Pentateuco, cinco livros (Gênese, Exílio, Levítico, Número, e Deuteronômio) que formam a Torá, a sua escritura sagrada. A Torá hoje é a parte antiga da Bíblia (Velho testamento) enquanto a nova é o “Novo Testamento, época de Jesus”. O nome Bíblia – segundo Lenoir - se origina da cidade fenícia de Bibelôs onde eram adquiridos o papiro, vindo do Egito para se fizer os manuscritos. A visão do judeu antigo a respeito de Deus era ainda aquela de um velho barbudo que lá do alto céu castigava ou premiava os homens. Outra visão que o Cristianismo também levaria adiante por séculos.

Espiritualidade

Lao Tsé.
Entre os séculos VI e VI surgem grandes correntes filosóficas e depois espiritualistas que se voltam para reflexões e indagações íntimas. Na Filosofia, Sócrates nos dizendo: “Conhece-te a ti mesmo e conhecerás o universo e os deuses” na Espiritualidade, teríamos, na China, Lao Tsé com sua teoria do Tao, o Caminho, onde cada astro do céu e cada ser busca seu próprio Caminho, corre para concretizar um papel, um objetivo final. Para a indagação: o que estou fazendo aqui neste mundo? Responderíamos: buscando o meu papel dentro do universo. Surge também Sidarta Gautama, o Buda, investindo sua doutrina na busca íntima por felicidade, pela bem-aventurança de um Nirvana.
   Pratica-se na Grécia as experiências iniciatórias nos Templos de Mistérios, onde cada iniciando busca a evolução de sua consciência.

Budismo e Deus

Ainda no sec.VI o Budismo se difunde sem grandes preocupações quanto a existência de Deus. Fixado que está apenas em debelar as dores humanas, o que tenta fazer através de sua doutrina das “Quatro Nobres Verdades.”


(Na próxima postagem estarei dando continuidade a este mesmo tema, a iniciar-se pelo Cristianismo e sua visão de Deus).