quinta-feira, 4 de setembro de 2014

As Virgens do Sol


As Virgens do Sol
 
Os religiosos antigos aproveitavam a sensibilidade feminina para acalmar e agradecer os deuses. E, poucos povos o fizeram com tanta persistência como o povo Inca.

     “Em todas as cidades do Tahuantinsuyo (o império Inca dos quatro cantos) havia os santuários chamados “Casas das Escolhidas”,” “Casas das Virgens do Sol”, (Aquillawasi) onde residiam as Aqllas.

     Estas chegavam ali meninas, a partir de tenra idade, até com apenas 10 anos, escolhidas a serem preparadas para consagrar suas vidas ao deus solar Inti (do qual os primeiros habitantes de Cusco acreditam descender), ao deus Viracocha e ao soberano Inca.

     Eram selecionadas a partir de sua origem social, que as encaminhariam a função que exerceriam e principalmente por suas excepcionais qualidades físicas e morais. Moças belíssimas e de grande retidão. Seu número era imenso. Só Cusco, cidade sagrada, umbigo do mundo Inca, contava com 1500 Aqllas.  Eram respeitadas porque consagradas ao deus Inti e (assim nos afirma Victor Angles Vargas em sua “História do Cusco Incaico”) mesmo o seu serviço ao soberano era “apenas para confeccionar trajes, acessórios e adornos para a família imperial”, nada se entendendo então que deveriam servir o soberano em relações íntimas. Vargas discorda de escritores, quando estes dizem que os soberanos faziam com elas um harém. Pensa, ao contrario, que elas não seriam tocadas sexualmente , porque pelas crenças incaicas eram respeitadas e até temidas como “ Esposas do Sol.”

     Sua castidade era rigorosa. O grande complexo arquitetônico da “Casa das Escolhidas!”, na praça central de Cusco, que  depois, na invasão espanhola, foi ocupado , em parte,  pelo Convento de Santa Catarina, com interiores  que eram na época  incaica revestidos de placas de ouro, tinha suas portas fortemente guardadas. Mesmo os homens servidores que mantinham a limpeza e conservação das “Casas” eram castrados e não era incomum serem mutilados no nariz e orelha para não pareceram atraentes aos olhos das Aqllas.

     Caso se desse algum relacionamento que resultasse em gravidez, a Escolhida seria enterrada viva, seu bebê sacrificado em holocausto a Inti e o seu par torturado.

     Não se compreenda, contudo que nestes santuários as escolhidas viviam apenas para orações e cultos. Eles eram centros culturais e artísticos, onde as Aqllas se dedicavam a atividades diversas.

     Eram exímias dançarinas, cantoras, artistas e habilidosas tecelãs que teciam vestimentas riquíssimas com que a nobreza se apresentava em dias solenes; plantadoras de flores que enfeitavam as ruas da cidade nos Solstícios.

     No IntiRaymi (festa do sol), mostravam sua habilidade culinária e só as suas mãos consagradas podiam fazer os deliciosos Sankhu (pães de milho) de grande simbolismo litúrgico, para que distribuídos entre a população a fizesse comungar com as riquezas da Pachamama (mãe terra) e também a bebida Chicha que em jarro de ouro seria oferecida ao imperador, que após bebê-la, faria a Ablução. Quando –assim pensavam- a mãe terra recebesse e bebesse também parte da gostosa Chicha, feita pelas Aqllas, ela ficaria contentada ao ver o que era possível fazer-se com as suas doações.

     Porém, entre as escolhidas havia aquelas Virgens, já consagradas, mas não ainda Esposas do Sol, casadouras, que podiam ser dadas em matrimônio a chefes guerreiros que houvessem feito façanhas notáveis que as merecessem ou a chefes de províncias vizinhas, cujo casamento proporcionaria união política com Cusco.

     Do santuário de Machu Picchu é dito que suas Aqllas se diferenciavam das demais, pois tais como as antigas pitonisas gregas, dedicavam-se a adivinhações e oráculos e eram também feiticeiras, o que marcaria Machu Picchu como local propenso a bruxarias. Teriam sido estas Aqllas que em 1532 durante as lutas entre os dois irmãos imperadores Atahuallpa e Huáscar, teriam conseguido fugir para região do Wilcabamba que se manteve depois como o último baluarte ante os invasores espanhóis até 1572, ,quando finalmente, com a resistência vencida, as Aqllas de todos os santuários foram naturalmente mortas.

     As “Virgens do Sol” e suas famosas Mamacunas, mulheres de grande saber espiritual e artístico que as conduziam, são hoje apenas lembranças históricas que vivem como uma saudade , naqueles modernos peruanos que cultuam tanto as suas origens.

Palenque


Pirâmide na qual se localiza o túmulo de Pacal Votan.

Sempre existiram locais sagrados onde o peregrino acredita estejam concentradas energias divinas. Geralmente neles viveram iluminados, homens santos, neles se realizaram cultos para homenagear deuses, onde a fé foi demonstrada com fervor. Um destes lugares santos aqui será lembrado:

      Palenque situa-se no México. Foi um grande centro político da civilização Maia, florescendo a mais de mil anos. Desde o século VII tornou-se um local de peregrinação, pois ali viveu o maior dos sacerdotes Maias: Pacal Votan.

     Pacal transformou Palenque em um centro cerimonial muito prestigiado. Hoje, encontramos ali uma pirâmide em cujo interior está o chamado “Templo das Inscrições”. Lembremos que as pirâmides Maias são truncadas, isto é, não têm pontas como as do Egito. São cortadas acima por uma plataforma  onde se edificava um templo.

     Em 1952 foi descoberto um túnel que saía de dentro do seu templo e descia o interior da pirâmide até a profundidade de sua base. Conduzia a um túmulo que continha o corpo de Pacal Votan, usando uma máscara de jade. Estava coberto por uma lápide trabalhada em desenhos. Tal desenho, estudado, levantou hipóteses diversas sobre o seu significado. Até aquela tão estranha de que ali estaria representado um astronauta conduzindo uma nave.

     Espiritualistas afirmam que sua tumba, colocada interiormente na base interna da pirâmide, representaria o corpo do recém desencarnado Pacal Votan, posto nos níveis mais profundos do mundo dos mortos, de onde sua alma ascensionaria até o ápice da pirâmide onde está o templo, para ali encontrar a Divindade Suprema.  Pacal completaria, enfim, a apoteose da subida aos céus de um grande chefe iluminado Maia.

     Palenque constitui-se por isso, num dos grandes centros místicos de peregrinação da América Central.