quinta-feira, 14 de agosto de 2014

A Itália em sua Origem Mítica



      Enéias é o único dos grandes guerreiros troianos a escapar com vida da mitológica Guerra de Troia.
     Herói semideus, pois é filho de Afrodite, será o personagem central da epopeia Eneida, escrita por Virgílio, maior poeta do mundo romano do 1º século antes de Cristo, é o símbolo da continuidade das gerações. Deixa Troia incendiada, com seu pai velhinho, seu filho pequeno Ascânio, levando nas mãos um Penate. Penate, um gênio protetor da alma da pátria, da família, do Estado, que os protegerá e a seu pequeno grupo de companheiros, numa frota, na longa jornada que irá empreender pelo mar para formar o país que hoje conhecemos como Itália. Esta saída, temos magistralmente representada na escultura do renascentista Bernine.
 
Troia incendiada.
 
     Diz-nos Virgílio em sua Eneida (12 cantos): “Foge, filho da deusa, escapa destas chamas, já fizestes bastante pela pátria e por Príamo, seu rei. Troia recomenda-te seus objetos sagrados, seus Penates. Toma-os como protetores de teu destino, procura para eles outras muralhas que construirás depois de teres vagado sem rumo pelo mar”.
     Desesperado por largar sua terra e a esposa que morrera em Troia, a vê aparecer em uma visão e lhe afirmar que os seus descendentes viveriam e reduziriam todas as nações a seu jugo.
    Juno, esposa de Zeus, no entanto, resolve matar esta esperança dos troianos em fuga. Vai para Eólia, o pais dos ventos, e suplica ao deus dos ventos para fazer naufragar os navios de Eneias e seus companheiros, dando-lhe como recompensa doze lindas Ninfas.
    Quando os ventos furiosos balançam as velas e quebram os remos estabelece-se o pânico. Três navios são despedaçados sobre os rochedos. Netuno, o deus do mar, porém irrita-se com aquela invasão em seu império marítimo, vem à superfície e acalma as águas revoltas. Com a mesma força com que ele perseguirá Ulisses que teve a ousadia de com seu cavalo de madeira derrubar a muralha que ele, o deus, havia dado à Troia, agora, ele protegerá Enéias, uma das vítimas daquele estratagema de Ulisses.
    Contudo, será sempre Zeus, o grande senhor do Olimpo, quem terá a última palavra. Aparecerá em sonho a Enéias e lhe ordenará tomar o compromisso de buscar uma terra de nome Hespéria para ali formar uma raça.
    Todos os sofrimentos e peripécias vividas no mar são por Enéias esquecidos, quando ele aporta em Cartago e ali se apaixona por sua rainha Dido. Vive ali vários anos de uma intensa paixão, até que Zeus lhe aparece para lhe lembrar do compromisso assumido. Enéias larga então a amada por obediência a Zeus. Esta, vendo desaparecer na linha do horizonte a embarcação que o levava, mata-se na beira da praia, numa das grandes cenas trágicas da Eneida.

Enéias fugindo de Troia carregando o pai e o filho.
 
    Chegando ao território da Hespéria (antiga Itália) Enéias, muito saudoso de seu velho pai que morrera na viagem, vai à Cumas procurar a “Sibila de Cumas”. Quer que ela o leve ao reino dos mortos. Esta era a mais famosa das pitonisas.  Com inigualáveis poderes, previu com minúcias os destinos do Império Romano, que constam nos famosos “Livros Sibilinos”, guardados no templo de Júpiter Capitolino.  Virgílio, em sua epopeia nos conta como são as regiões infernais e os campos Elíseos do reino dos mortos. Mais do que nos relatos homéricos vão ali surgir as ideias de reencarnações influenciadas pelos intercâmbios com o oriente dos tempos de Virgílio. A Sibila de Cumes mostra a Enéias os indivíduos que irão nascer na raça que ele criará, e lhe mostra o rio Lete, onde as almas beberão o esquecimento das vidas passadas, antes de nascerem na futura Roma. Hoje, esta conhecida Sibila aparece retratada nos magníficos afrescos de Miguel Ângelo, na Capela Sistina do Vaticano.
    Chegando finalmente em suas proximidades, encontrou o chefe de uma tribo de nome Latino (que daria nome a futura raça). Pai de uma jovem de nome Lavínia, num sonho, Latino havia sido advertido pelos deuses que guardasse sua filha para um estrangeiro que formaria com ela uma raça que dominaria o mundo.
   Casando-se com Lavínia, Enéias conta entre seus descendentes uma Vestal de nome
Réa Silvia por quem o deus Marte se apaixonara. Desta ligação nasceram dois gêmeos: Rômulo e Remo.  As Vestais eram sacerdotisas da deusa Vesta, guardadoras do fogo sagrado que protegia o local onde hoje é Roma. Obedeciam a um rigoroso voto de castidade e eram punidas com a morte se o transgredissem.
 
A loba romana amamentando Rômulo e Remo.
 

    Quando Réia Silvia, virgem casta, aparece grávida, um tio seu leva os gêmeos que lhe nasceram para um monte e ali os abandonou. O deus Marte, no entanto, preserva a vida de seus filhos mandando uma loba para alimenta-los. Crescendo com o sangue do deus da guerra Marte, Rômulo e Remo lutam depois entre si pelo lugar onde construiriam Roma. Rômulo acaba por matar seu irmão e funda a cidade.
    Falta-lhe contudo mulheres para procriar filhos que viessem habitá-la. Invade então uma cidade vizinha e lá rouba as suas mulheres. Episódio este conhecido na História como “O Roubo das Sabinas”. Fundada por um filho do deus da guerra, Marte, Roma nasce sob a égide da violência. Torna-se um dos povos mais conquistadores, violento e invasor da Antiguidade.